sábado, 28 de dezembro de 2013

O Natal de Machado


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Este é um dia especial, é Natal e, como tal, todos os peitos palpitam de emoções, os abraços efusivos são constantes, juntamente com os votos de felicidade, saúde, paz e prosperidade, principalmente monetária, pois, se o dinheiro não lhe traz felicidade, amigo leitor, deposite-o em minha conta e seja feliz.
Rebusquei meus textos sobre a data e trago-lhe as duas únicas flores, dentre meus poemas e crônicas, que fiz desabrochar nesta data tão metafísica quanto os restos arrancados da terra que nos viu passar unidos, eu e Carolina.
Uma dessas pétalas raras em minha produção literária intitulei:

Soneto de Natal

Um HOMEM, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”

(ASSIS, Machado. Ocidentais (1879). In: _. Machado de Assis: obra completa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973, p. 167.)
     
Esse único soneto, que dediquei, segundo Manuel Bandeira (Op. cit., p. 14) à “melancolia de não encontrar mais, numa noite de Natal, as sensações da idade antiga”, parece ter-se tornado profético. Atualmente, o espírito natalino é substituído pelo excessivo consumo de bebidas alcoólicas e comilanças. Poucas famílias lembram-se de buscar a presença do aniversariante em sincera oração de agradecimento por sua incomparável exemplificação do amor entre nós.
À atual Sociedade protetora dos animais, faço um apelo para que oremos também em prol da alma de um leitão que foi sacrificado, no Natal citado em minha crônica publicada no periódico A Semana de 1893; ou seja, há exatos 120 anos. Mas o que são 120 anos, senão, por vezes, o tempo entre uma e outra reencarnação?
É bem verdade que alguns espíritos, como o meu, costumam ficar séculos ou milênios nesta outra dimensão da vida, observando e interferindo no orbe terrestre, buscando aperfeiçoá-lo; mas somos minoria. Talvez uns 0,00001% de toda a população terráquea atual.
Que mais dizer do leitão? Triste leitão, pobre leitor. Se desejar ler mais sobre o assunto, clique em www.dominiopublico.gov.br e leia, na íntegra, a crônica citada. Afianço-lhe, de antemão, amiga leitora, que, de tudo o que ali está, sobrou apenas esse parágrafo, que não vou reproduzir para não lhe tirar da língua o gosto do pernil.
O fato é que, de tanto comerem leitão e peru no Natal, essa pobre ave nem ao menos comemora o dia do advento do Senhor. Morre na véspera.
Não sejamos perus, amigos; ante os desafios da vida, ainda que venhamos a perecer, que o seja durante o combate.
Mas que também tenho um grande dó do peru, lá isso tenho. Pobre peru, triste ser penado.
É um dó que dá cada pena ou cada pena de dar um dó? Você decide...
Enfim... que o Natal nos traga a doce reflexão sobre a vida do Cristo, que trouxe consigo a “mensagem da verdadeira fraternidade e, revelando-a, transitou vitorioso, do berço de palha ao madeiro sanguinolento”.
Concluamos, pois, com a continuação desta mensagem de meu amigo Emmanuel:

Irmão, que ouves no Natal os ecos suaves do cântico milagroso dos anjos, recorda que o Mestre veio até nós para que nos amemos uns aos outros.
Natal! Boa-Nova! Boa-Vontade!...
Estendamos a simpatia para com todos e comecemos a viver realmente com Jesus, sob os esplendores de um novo dia. (XAVIER, F. C. Fonte viva. Ed. FEB.)

Feliz Natal, amigo, e não se esqueça de que cerveja cria pança; cuidado para não engordar, amiga... E que o espírito da tolerância, a fraternidade e o amor do Cristo possam nos tornar melhores e saudáveis, desde já.

Visite o blog Jorge, o sonhador: http://www.jojorgeleite.blogspot.com.br/


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