JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Quando Joteli fora
militar – me informa ele –, certa ocasião, o capitão comandante de sua unidade
foi substituído por um major gaúcho, com o qual Joteli, seu soldado, se
comunicara pelo serviço de rádio-operação entre os dois Rios: o de Janeiro e o
Grande do Sul. Na época, o soldado Joteli era o único com tal graduação na
escala de rádio-operadores do seu quartel do Rio de Janeiro. Os demais eram
cabos e sargentos. Mas isso são detalhes que só exaltam o ego de quem não
conhece a frase crística: “Aquele que se exaltar será rebaixado, aquele que se
rebaixar será exaltado”.
– Como ser rebaixado,
se, sendo soldado, embora tendo sido aprovado em primeiro lugar no curso para
cabos, na chamada QM 11-074, rádio-operador, não me promoveram? Protesta meu
inútil secretário.
– Deixemos isso para
lá, meu caro, e continuemos o relato desta crônica. O fato é que o novo
comandante, que, a distância, conversara amigavelmente com seu soldado,
passados alguns dias, viajou do Rio gaúcho para o carioca e assumiu o comando
do quartel.
No primeiro dia de
seu posto, na unidade militar, o major reuniu a tropa a seu comando e deu-lhe
uma chamada “ordem unida”. Pôs os comandados na posição de sentido e ordenou:
– Companhia, sentido!
Ordinário, marche! (Juro que senti vontade de usar a segunda frase no plural,
mas em respeito a Joteli me contive.)
– E lá fomos nós –
diz Joteli, que também estava em
forma. Logo em seguida, veio nova ordem:
– Direção à direita,
marche. E todo o pelotão se dirigiu à direita. Entretanto, seja pelo nervosismo
em comandar sua companhia no primeiro dia, seja por ter simplesmente esquecido
de mandar seguir em frente, todos ficamos marchando na direção ordenada, mas em
círculo...
Ninguém se atreveu a
rir da ordem do comandante, quando ele ordenou, após, perplexo, observar a
companhia dar sete voltas no mesmo lugar:
– Pelotão, alto.
Sem qualquer crítica
a seus comandados, o simpático major mandou que ficássemos à vontade e, com
breves palavras, falou da sua satisfação em assumir o comando da 1ª Companhia
de Comunicação Blindada.
Se isso tivesse
ocorrido com um subordinado, dir-se-ia que este “enfiou o pé na jaca”, não é
mesmo, amiga leitora? Ou não? Ah, não? Também os chefes “enfiam o pé na jaca”?
Vai falar isso para o major, leitor, pra ver se ele não te enfia é o pé na...?
– Mas, Joteli, por
que ninguém, antes, avisou ao homem que ele precisava dar nova ordem, para que
a tropa não bancasse o caracol?
– E o medo? Afinal, o
homem era nosso comandante e o regulamento era rigoroso: “somente não se
executam ordem absurdas”.
– E o que ele ordenou
não era absurdo?
– Absurdo, não.
Ridículo. E quem garante que ele não estaria testando a tropa para ver até que
ponto seus subordinados lhe eram obedientes?
Na vida profissional,
concordo com meu secretário, o bom empregado jamais deve deixar seu chefe de
“calças curtas”. Afinal, como se diz há algum tempo, neste país, “manda quem
pode, obedece quem tem juízo”. Porém será mesmo assim?
Há certos
comportamentos profissionais que depõem contra o subordinado e mostram
claramente o tipo de pessoa que se é. Outros, já escancaram o mau caráter e
predileção injustificável do chefe. Uma dessas atitudes é a do chamado
puxa-saco, que tanto pode agradar como desagradar a chefia. Exemplifiquemos.
Nas comemorações de
“amigo oculto”, nos finais de ano, por exemplo, o melhor presente é sempre o
que é dado à chefia. E nem é preciso ser bajulador para isso. É atitude normal,
e mesmo de preservação ou melhoria do conceito para com a diretoria. O problema
é quando isso se torna corriqueiro, por parte de um/a empregado/a...
O ideal, nas
confraternizações de fim de ano, é que se estipule um valor mínimo e outro
máximo do presente a ser dado, além de se propor uma relação com as opções
possíveis; assim, ninguém poderá desconfiar de nosso presente à chefia. A não
ser que o “felizardo” amigo da diretora, num “estudo de caso”, se resolva a
sair com esta:
– Chefa, foi
combinado que o presente de amiga oculta seria de cinquenta reais, mas como
nossa empresa duplicou seu faturamento este ano, graças à sua excelente
atuação, inteligência extraordinária e competência inigualável, resolvi
infringir a norma e lhe ofertar este belo colar de pérolas, que pertenceu à
minha bisavó, cujo valor é inestimável. Calculo que custe por volta de três mil
reais, mas você (Olha a intimidade!) merece muito mais...
A isso, a chefa e
suas colegas não terão outras reações senão estas:
– Oh!
– Uh!
– Ai!
– Carácolis!
E não faltará quem,
mordendo o lábio, diga, baixinho: – Puxa-saco sem-vergonha...
Outras vezes, é a
chefia que importuna o/a empregado/a. Certa vez, li uma piada em que o gerente
dizia para a lindíssima secretária, recém-contratada, enquanto esta digitava um
documento:
– Muito bem, só dois
errinhos. Agora vamos à segunda palavra...
Para evitar tais
constrangimentos, resolvi publicar um decálogo de ética, na relação com os
colegas de trabalho, clientes, fornecedores e chefia de sua instituição ou empresa:
1º Mandamento: não
atacarás, falsa ou maliciosamente, a reputação profissional de teu colega ou
chefe.
2º Mandamento: não
assediarás sexualmente teu colega de trabalho, subordinado ou chefe.
3º Mandamento: não
agirás de modo desleal ou descortês com teu chefe, colegas, clientes e
fornecedores de tua empresa ou instituição.
4º Mandamento: não
desrespeitarás os direitos autorais do teu próximo (Lei nº 9.610/1998).
5º Mandamento: não
depreciarás a honra, a dignidade e a integridade moral ou física de teu colega
ou categoria profissional.
6º Mandamento: não
deixarás de cumprir os prazos estipulados por tua chefia, assim como a
recíproca é verdadeira, principalmente nos acordos coletivos ou não de
trabalho.
7º Mandamento: não
serás individualista; lembra-te de que o trabalho em equipe é essencial ao
sucesso de tua empresa ou instituição.
8º Mandamento: não
serás o do contra com expressões como: – Isto não vai dar certo. – Não concordo
com mudanças. Etc. etc. etc.
9º Mandamento: não
serás egocêntrico; todos têm o direito de ter seu trabalho reconhecido.
10º Mandamento:
aprenderás a conviver, amar e servir a todos, sem distinção de classe social,
etnia, ideologia, sexo ou credo.
– Então, meu caro,
nem sempre o bom amigo é o que sempre elogia. Ou não conheces o ditado que diz:
“Quem avisa amigo é”?
Leia o livro:
PAROLIN, Sonia Regina Hierro; MORAES, Helder Boska de; PONTES, Reinaldo Nobre.
Organizadores. Conviver para amar e servir (baseado em Mário da Costa Barbosa).
Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2013.
Visite o blog Jorge, o sonhador: http://www.jojorgeleite.blogspot.com.br/
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