Revista Espírita de 1865
Allan Kardec
Parte 18
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1865, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1865 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Que é que os
Espíritos dizem a respeito do futuro do Espiritismo?
B. Que fato
inabitual ocorreu durante as exéquias do Sr. Nant?
C. Gabriel
Delanne, aos oito anos de idade, foi protagonista de um curioso fenômeno. Como
se deu o fato?
Texto para leitura
208. Depois de
refletir a respeito, Kardec retificou seu pensamento de que certos objetos –
copos, garrafas, vidros, placas metálicas etc. – são absolutamente
desnecessários à produção do fenômeno de vidência, isto é, que todo indivíduo,
vendo com o concurso deles, poderia ver perfeitamente bem sem eles. O
ensinamento recebido então de parte dos Espíritos mostra que essa ideia é
errônea. Eis a explicação: Estando o olhar do vidente concentrado no fundo do
copo, o reflexo brilhante deste age sobre os olhos, depois sobre o sistema
nervoso, e provoca uma espécie de meio sonambulismo, um sonambulismo desperto,
no qual a alma, desprendida da matéria, adquire a clarividência e a segunda
vista. Além disso, existe uma certa relação entre a forma do fundo do copo e a
forma exterior ou disposição de seus olhos. (Págs. 279 a 284.)
209. Para o
vidente de Zimmerwald, o copo era, assim, um meio de desenvolver e fixar sua
lucidez, e absolutamente necessário, porque nele, não sendo o estado de lucidez
permanente, necessitava ser provocado. Um outro copo não poderia substituí-lo,
porquanto um objeto que produz numa pessoa esse efeito pode nada produzir em
outra. (Pág. 284.)
210.
Complementando o estudo dos chamados espelhos psíquicos, Kardec conclui, então:
I – Que o emprego de agentes artificiais é inútil ou desnecessário aos
indivíduos cuja visão psíquica seja espontânea ou permanente. II – Que esses
agentes são necessários quando a faculdade necessita ser superexcitada. III –
Que, devendo esses agentes ser apropriados ao organismo da pessoa, o que
provoca ação sobre uma nada provoca sobre outras. É por isso que a carta posta
debaixo do copo, em vez de facilitar o fenômeno, o perturbava, visto que
modificava a natureza do reflexo que lhe é próprio. IV – Que os corpos
vulgarmente chamados espelhos mágicos não passam de agentes hipnóticos,
indefinidamente variados em suas formas e efeitos, conforme a natureza e o grau
das aptidões dos indivíduos. (Págs. 284 a 286.)
211. A Revista
transcreve carta de um correspondente em que este narra o diálogo mantido com o
Espírito de um sacerdote católico – o padre D. – recentemente desencarnado, o
qual fora, em vida, um adversário declarado do Espiritismo. (Pág. 287.)
212. Evocado no
grupo espírita, o padre D. se disse convencido da realidade das manifestações
espíritas. “Sim – reconheceu ele –, os Espíritos se comunicam, e não são apenas
os demônios, como nós ensinamos.” O padre mantinha, no entanto, curiosamente,
sua opinião de que a expansão do Espiritismo não seria um bem, mas um mal para
a sociedade. As divisões operadas no seio dos espíritas constituíam, a seu ver,
um perigo e indicavam que o Espiritismo, como as doutrinas filosóficas que o
precederam, não teria vida longa. (Págs. 287 a 291.)
213. Kardec
analisa em profundidade os argumentos do sacerdote desencarnado e tece a
respeito diversas considerações, adiante resumidas: I – Dizer que o Espiritismo
é bom por sua essência e mau por seus resultados, como afirmou o padre D., é ir
contra a lógica, é esquecer a máxima do Cristo, tornada proverbial: “Uma árvore
boa não pode dar maus frutos”. II – Não foi o Espiritismo quem inventou a
manifestação dos Espíritos, nem é a causa de sua comunicação. Ele apenas
constata um fato, que se produziu em todos os tempos, porque está na natureza.
III – Para que o Espiritismo deixasse de existir, fora preciso que os Espíritos
cessassem de se manifestar. IV – A influência dos maus Espíritos faz parte dos
flagelos a que o homem está sujeito neste mundo, como as doenças e os acidentes
de toda sorte. Mas, como ao lado do mal Deus sempre põe o remédio, o
Espiritismo vem indicar o remédio para esse flagelo, ensinando que para neutralizar a influência dos maus Espíritos é preciso
tornar-se melhor, dominar as más inclinações, praticar as virtudes ensinadas
pelo Cristo: a humildade e a caridade. V – Aprovar a oposição da Igreja ao
Espiritismo porque a aceitação deste seria a ruína do clero é atitude
inconcebível. O clero seria movido assim por sentimentos tão mesquinhos?
Ignorariam os sacerdotes as palavras do Cristo: “Meu reino não é deste mundo”?
Prefeririam manter as aparências na Terra, para assegurar seus interesses
terrenos, a aceitar a realidade espírita e suas consequências? VI – Se as
divisões operadas entre os espíritas tivessem como consequência a ruína do
Espiritismo, por que isso não se deu com o Cristianismo? Ignora o padre a
multiplicidade de seitas que têm dividido e muitas vezes ensanguentado a
doutrina cristã e cujo número não se eleva a menos de trezentos e sessenta? VII
– O Espiritismo não é uma teoria especulativa, baseada em ideias preconcebidas.
É uma questão de fato e, por consequência, de convicção pessoal. E ele é forte
precisamente porque se apoia sobre um conjunto formidável de vozes cuja
concordância universal vale bem a de um concílio ecumênico. VIII – O padre D.
predisse o seu fim próximo, mas inúmeros vultos encarnados e desencarnados
também fizeram seu horóscopo, num outro sentido, e suas previsões se sucedem
ininterruptamente e se repetem em todos os pontos do globo. (Págs. 291 a 299.)
214. Fechando
sua resposta ao padre D., Kardec reporta-se a uma das muitas mensagens
pertinentes ao futuro do Espiritismo, de que destacamos os tópicos seguintes:
A) O Espiritismo continuará sua marcha através dos embustes e dos escolhos,
inabalável como tudo o que está na vontade de Deus, porque se apoia nas leis da
natureza. B) Pela luz que lança sobre os pontos obscuros e controvertidos das
Escrituras, ele conduzirá os homens à unidade de crença e fundará o reino da
verdadeira caridade cristã, que é o reino de Deus sobre a Terra, predito por
Jesus. C) Muitos ainda o repelem porque não o conhecem ou não o compreendem.
Mas quando reconhecerem que ele realiza as mais caras esperanças do futuro da
humanidade, aclamá-lo-ão e, da mesma maneira que o Cristianismo encontrou um
suporte em Paulo de Tarso, ele também encontrará defensores entre os
adversários da véspera. (Págs. 299 e 300.)
215. A passagem
pela Europa dos irmãos Davenport, dois jovens de 24 e 25 anos, nascidos em
Buffalo, estado de Nova York (EUA), é noticiada pela Revista. A faculdade dos
médiuns americanos era limitada a efeitos físicos, dos quais o mais notável
consistia em se fazerem amarrar com cordas de maneira inextricável e se
desatarem instantaneamente, por uma força invisível, a despeito de todas as
precauções tomadas para verificar como o fato se dá. O transporte de objetos, o
toque espontâneo de instrumentos musicais e a aparição de mãos luminosas
constituíam também parte do seu repertório. Apesar disso, a apresentação deles no
dia 12 de setembro de 1865, na sala Hertz, em Paris, foi deplorável e quase
terminou em tragédia. (Págs. 300 a 303.)
216. A polêmica
suscitada a respeito do fato levou o Codificador a fazer, valendo-se da Revista,
diversas considerações sobre a mediunidade em geral, adiante resumidas: I – A
necessidade da obscuridade nas sessões de efeitos físicos presta-se,
indubitavelmente, à suspeita e facilita as fraudes. É preciso, no entanto,
compreender que em química há também combinações que não se podem operar à luz.
Ora, sendo os fenômenos espíritas o resultado de combinações fluídicas, e sendo
os fluidos matéria, não é de admirar que, em certos casos, o fluido luminoso
seja contrário a essas combinações. II – A mediunidade é uma aptidão natural
inerente ao médium, mas para que o médium produza efeitos mediúnicos são
precisos os Espíritos, que vêm quando querem e quando podem. III – O médium sério é modesto, não se envaidece do que não é
produto do seu talento, nem promete o que de si não depende. IV – As
condições inerentes à mediunidade não podem, pois, prestar-se à regularidade e
à pontualidade, que são fatores indispensáveis às sessões pagas, onde é
preciso, a qualquer preço, satisfazer o público. V – De todos os fenômenos
espíritas, os que melhor se prestam à imitação são os efeitos físicos. VI - Um
exame escrupuloso permite distinguir a trapaça da mediunidade real; mas a melhor
de todas as garantias é o respeito e a consideração de que desfrute o médium,
sua moralidade, sua notória honorabilidade e seu desinteresse absoluto,
material e moral. (Págs. 303 a 305.)
217. Concluindo
seu comentário sobre o caso Davenport, Kardec faz no final duas advertências
que continuam oportunas e atuais: A) De duas uma: ou os Davenport são hábeis
prestidigitadores ou verdadeiros médiuns. Se charlatães, devemos ser gratos a
todos os que ajudarem a desmascará-los. B) Se são médiuns verdadeiros, as
condições em que se apresentam não podem servir utilmente à causa. Num caso,
como no outro, o Espiritismo não tem nenhum interesse em tomar partido em seu
favor. (Págs. 305 a 309.)
218. Nas
exéquias do Sr. Nant, um dos companheiros da Sociedade Espírita de Paris,
Kardec pronunciou breves palavras, transcritas, a pedido da família, pela Revista. No momento em que fechou os olhos, seu neto
de dez anos, tomado de violenta emoção, foi subitamente adormecido pelos
Espíritos e, no seu êxtase, viu a alma de seu avô, acompanhada por uma porção
de Espíritos, elevar-se no espaço, embora presa ainda ao corpo pelo cordão
fluídico. A morte – disse Kardec – é apenas a entrada da alma na verdadeira
vida, e não passa de uma separação corporal de alguns instantes, pois o vazio
que deixa no lar da família é apenas aparente. (Págs. 310 a 312.)
219. Um fato
curioso ocorrido com o filho de oito anos do Sr. Delanne – o menino Gabriel,
que anos depois se tornaria um dos mais importantes autores espíritas – é
relatado pela Revista. Trata-se de uma experiência de tiptologia que o menino
Gabriel, auxiliado por três crianças de sete, cinco e quatro anos, realizou a
pedido de uma senhora. Gabriel, após a evocação, pediu a ela que perguntasse
quem respondia. A mulher interrogou e a mesa soletrou duas palavras: Teu pai.
Na sequência, a pedido dela, o Espírito deu três provas de que era seu pai quem
ali se manifestava. (Págs. 312 a 314.)
220. Kardec diz
que não era a primeira vez que a mediunidade se revelava em crianças e o que
ocorreu fora já anunciado numa célebre profecia: Vossos filhos e vossas filhas
profetizarão. (Atos, 2:17.) (Pág. 314.)
Respostas às questões propostas
A. Que é que os
Espíritos dizem a respeito do futuro do Espiritismo?
Várias foram as
mensagens recebidas na Sociedade Espírita de Paris a respeito do assunto. Eis
alguns tópicos extraídos dessas mensagens: A) O Espiritismo continuará sua
marcha através dos embustes e dos escolhos, inabalável como tudo o que está na
vontade de Deus, porque se apoia nas leis da natureza. B) Pela luz que lança
sobre os pontos obscuros e controvertidos das Escrituras, ele conduzirá os
homens à unidade de crença e fundará o reino da verdadeira caridade cristã, que
é o reino de Deus sobre a Terra, predito por Jesus. C) Muitos ainda o repelem
porque não o conhecem ou não o compreendem. Mas quando reconhecerem que ele
realiza as mais caras esperanças do futuro da humanidade, aclamá-lo-ão e, da
mesma maneira que o Cristianismo encontrou um suporte em Paulo de Tarso, ele
também encontrará defensores entre os adversários da véspera. (Revista
Espírita de 1865
, pp. 299 e
300.)
B. Que fato
inabitual ocorreu durante as exéquias do Sr. Nant?
Nas exéquias do
referido confrade, companheiro de Kardec na Sociedade Espírita de Paris, o
Codificador pronunciou breves palavras, transcritas, a pedido da família, pela Revista. No momento em que fechou os olhos, um dos
seus netos, de dez anos, tomado de violenta emoção, foi subitamente adormecido
pelos Espíritos e, no seu êxtase, viu a alma de seu avô, acompanhada por uma
porção de Espíritos, elevar-se no espaço, embora presa ainda ao corpo pelo
cordão fluídico. (Obra citada, pp. 310 a 312.)
C. Gabriel
Delanne, aos oito anos de idade, foi protagonista de um curioso fenômeno. Como
se deu o fato?
O fato ocorrido
com o filho de Alexandre Delanne – o menino Gabriel, que anos depois se
tornaria um dos mais importantes autores espíritas – é relatado pela Revista.
Foi uma experiência de tiptologia que Gabriel, auxiliado por três crianças de
sete, cinco e quatro anos, realizou a pedido de uma senhora. Após a evocação,
Gabriel pediu a ela que perguntasse quem respondia. A mulher interrogou e a
mesa soletrou duas palavras: Teu pai. Na sequência, a pedido dela, o Espírito
deu três provas de que era seu pai quem ali se manifestava. Kardec diz que não
era a primeira vez que a mediunidade se revelava em crianças e o que ocorreu
fora já anunciado numa célebre profecia: Vossos filhos e vossas filhas
profetizarão. (Atos, 2:17.) (Obra citada, pp. 312 a 314.)
Observação:
Para
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