Comunicações
mediúnicas entre vivos
Ernesto
Bozzano
Parte
22
Damos
prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos,
de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J.
Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos
que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada
parte do estudo compõe-se de:
a)
questões preliminares;
b)
texto para leitura.
As
respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para
leitura.
Este
estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões
preliminares
A.
Um ou dois fatos são suficientes para que tiremos conclusões definitivas acerca
da explicação de um fenômeno como as “correspondências cruzadas”?
B.
Que consideração Bozzano faz acerca dos erros de pequena monta que se verificam
em comunicações entre vivos autênticas?
C.
Pode um médium destro, sem nenhuma habilidade com a mão esquerda, psicografar
uma mensagem como se fosse canhoto?
Texto
para leitura
312.
Depois de inúmeras considerações sobre os fenômenos a que se referiu no item
anterior, Dr. Geley assim concluiu:
Perguntar-me-ão:
quais são, então, as suas conclusões? Ei-las: eu concluo, observando que, de
qualquer modo, as experiências de Wimereux constituem um documento metapsíquico
de primeiríssima ordem, que faz honra à questão das “correspondências
cruzadas”, questão caída em descrédito. A respeito da interpretação precisa a
extrair-se das mesmas experiências, acho supérfluo indicar quais são as minhas
preferências pessoais, tanto mais que elas não poderiam ser formuladas, no
momento, com suficiente caráter de certeza. Pouco importa, aliás. Mais do que
nunca eu creio que a explicação isolada de um fato ou de um grupo de fatos, no
domínio da Metapsíquica, é coisa de pouca importância e quase sempre ilusória.
Mais do que nunca eu creio na necessidade de uma interpretação sintética ou
global dos fatos, a única filosoficamente concebível. Mais do que nunca eu
creio que tal interpretação sintética seja profunda e inabalavelmente
idealista. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo F)
313.
Estas são as principais considerações que os fatos expostos sugerem ao Dr.
Geley e folgo muito - diz Bozzano - em achar-me de acordo com uma das
inteligências mais rigorosamente lógicas que têm honrado o campo das pesquisas
metapsíquicas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo F)
314.
Caso 32 – Transcrevo-o dos Annales des Sciences Psychiques (1917,
págs. 29/30). O Sr. Bredmester-Maurer envia de Giromagny (Belfort) a seguinte
carta ao diretor da supracitada revista, Sr. C. de Vesme:
Ilmo.
Sr. Diretor:
Como
assinante dos Annales, submeto à sua apreciação o caso que se segue:
–
Há algumas semanas, por ocasião da partida de um nosso amigo com o qual eu
realizava experiências psíquicas e que designarei pela inicial Y., nós lhe
pedimos que nos enviasse uma mensagem por meio da mesinha mediúnica, no dia
seguinte à sua chegada na nova residência, que dista de Giromagny cerca de 17
quilômetros.
No
dia e hora marcados (9 da noite), minha esposa e eu nos sentamos à mesa e aguardamos.
Convém notar que, sem o Sr. Y., nunca tínhamos conseguido fazer mover-se a
mesa. Ao contrário, desta vez, quase imediatamente uma forte pancada fez-se
ouvir no interior da mesa, que depois disso deu meio giro. Então perguntamos:
–
Está presente algum espírito?
–
Sim.
–
Quem o envia?
–
Y.
–
Porventura estás encarregado de alguma mensagem para nós?
–
Sim.
–
Qual é a mensagem?
–
“Jacqueline” está apaixonada pelos “dragões”.
–
Onde se encontra Y.?
–
Em um café em X.
–
Em companhia de quem?
–
De três oficiais.
–
Quantos galões têm os oficiais?
– O
primeiro um, o segundo e o terceiro, dois.
–
Acham-se à mesa para começar experiências mediúnicas?
–
Não.
–
Que fazem?
–
Bebem.
–
Que bebem?
–
Cerveja.
Na
manhã seguinte recebemos do Sr. Y. uma carta em que ele nos comunicava a
mensagem que nos havia remetido na noite precedente, a qual era literalmente
idêntica à que recebemos mediunicamente. Pedimos esclarecimentos ao Sr. Y.
sobre as respostas dadas ao nosso interrogatório e ficamos sabendo que todas
eram verdadeiras, salvo uma inexatidão sobre a qual o Sr. Y. nos escreveu: “Os
três oficiais falaram realmente em mandar vir cerveja e demorar mais, porém eu
me despedi e fui-me deitar. O caso parece tanto mais estranho, porquanto
recebestes informações independentes de minha vontade, isto é, as que se
referem ao lugar em que me achava.”
(O
diretor da revista acrescenta: “A meu pedido, o Sr. Bredemester-Maurer teve a
gentileza de enviar-me os papéis referentes ao caso narrado, isto é, os dois
bilhetes postais e as notas tomadas durante a sessão”.) (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
315.
O episódio supracitado é interessante do ponto de vista das “comunicações
mediúnicas entre vivos”, mas é, ao contrário, um tanto fraco do ponto de vista
da intervenção, na mensagem aqui considerada, de uma entidade espiritual
extrínseca. Em favor desta última interpretação, notam-se duas circunstâncias,
porém, que são de ordem resolutiva: uma, que a personalidade comunicante não
disse ser o Sr. Y. e sim o seu mensageiro espiritual, afirmação que só adquire
certo valor pelo fato de existirem realmente os mensageiros espirituais de tal
natureza, como já vimos; e outra, que o Sr. Y. se havia proposto enviar somente
uma breve mensagem, enquanto que os destinatários submetem a entidade
comunicante a um interrogatório longo, obtendo informações suplementares
verídicas que o agente não havia pensado enviar e que não teria podido mandar
na forma do interrogatório que se desenvolveu, a menos que ele se achasse
presente em espírito ou houvesse conversação a distância entre duas
personalidades integrais subconscientes.(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo F)
316.
Ora, em ambos os casos, o agente deveria ter caído em estado de sono claro ou
disfarçado durante o período inteiro da conversação que se desenvolveu, pois
que, se houvesse permanecido todo o tempo em estado de completa vigília, então
o caso em exame deveria ser considerado como espírita, mas infelizmente faltam
a tal propósito os informes necessários e, portanto, não é possível chegar-se a
uma conclusão. Quanto à pequena inexatidão ocorrida na transmissão telepática
da mensagem, em que o fato de mandar vir cerveja para beber no local se
transformou no outro fato de beber cerveja não apresenta valor teórico, pois
que se trata, evidentemente, de um dos erros comuns de transmissão, dos quais
não podem escapar as mensagens mediúnicas, porque, para se realizarem, devem,
necessariamente, passar através do “comutador” cerebral de uma terceira pessoa.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
317.
Caso 33 – Extraio do Journal of the American S. P. R. (1919, pág.
276) este caso que Mary H. Jacob relatou ao diretor da citada associação, nos
seguintes termos:
Quando
meu filho partiu, como soldado, para a França, eu não podia saber a data de sua
partida, nem de sua chegada, até que o governo dos Estados Unidos houvesse
recebido um telegrama do comando militar anunciando a chegada, a salvo, do
transporte em que ele embarcara. Depois desse telegrama é que deixariam sair os
postais para as famílias, escritos pelos soldados antes da partida e nos quais
eles próprios anunciavam sua chegada à França.
Depois
que meu filho partira, estava eu sentada certa noite na biblioteca, quando a
minha mão esquerda pôs-se a fazer curiosos movimentos automáticos semelhantes
aos dos telegrafistas no exercício das suas funções. Minha filha trouxe logo
papel, lápis e a mesinha, e minha mão começou imediatamente a escrever. Era um
aviso de que o meu filho havia chegado, são e salvo, naquele momento, à França
e o tal aviso era assinado por um outro filho meu, já falecido.
Tomamos
logo nota do dia e da hora em que havíamos recebido e mensagem e, no devido
tempo, recebemos cartão postal de meu filho, que, como disse acima, escrevera e
entregara ao comando militar, antes de partir. Algumas semanas após chegou uma
carta dele, na qual descrevia as peripécias da viagem e nos informava haver
chegado são e salvo à França, justamente na hora em que recebêramos a mensagem
mediúnica.
Note-se
que o meu falecido filho, que se serviu de minha mão esquerda para escrever a
mensagem, era canhoto em vida, e que eu nunca fui capaz de escrever,
normalmente, com a mão esquerda. A mensagem do Além fora mais rápida do que a
mensagem do Aquém. (Assinado) Mary H. Jacob.
(A
filha da relatora confirma assim: “A mensagem, de que trata a narração de minha
mãe, foi recebida nas condições exatas por ela descritas. (Assinado) Mary K.
Jacob.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo
F)
318.
Também o caso exposto é teoricamente fraco do ponto de vista da intervenção
presumível de uma entidade de morto na comunicação mediúnica entre vivos e,
naturalmente, eu não o teria classificado neste subgrupo se não existissem
outros tantos episódios desse gênero, genuinamente espíritas, que nos induzem a
presumir o mesmo também para os casos menos notoriamente espíritas. De qualquer
modo, o episódio da médium que, na ocasião, escreve com a mão esquerda, o que
coincide com o fato de ser o seu falecido filho canhoto, não é privado de certo
valor, do ponto de vista da identificação pessoal do morto comunicante. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) (Continua
no próximo número.)
Respostas
às questões preliminares
A.
Um ou dois fatos são suficientes para que tiremos conclusões definitivas acerca
da explicação de um fenômeno como as “correspondências cruzadas”?
Claro
que não. Pelo menos é isso que investigadores respeitados como o Dr. Geley
pensam. Sobre o assunto, Dr. Geley escreveu: “Mais do que nunca eu creio que a
explicação isolada de um fato ou de um grupo de fatos, no domínio da
Metapsíquica, é coisa de pouca importância e quase sempre ilusória. Mais do que
nunca eu creio na necessidade de uma interpretação sintética ou global dos
fatos, a única filosoficamente concebível”. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo F)
B.
Que consideração Bozzano faz acerca dos erros de pequena monta que se verificam
em comunicações entre vivos autênticas?
Tais
erros não têm, segundo Bozzano, nenhum valor teórico, porque não chegam a
invalidar o conteúdo da mensagem e são perfeitamente explicáveis. Aliás, erros
assim verificam-se às vezes nas mensagens mediúnicas, visto que, para se
realizarem, devem elas passar, necessariamente, através do “comutador” cerebral
de uma terceira pessoa. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo F)
Pode, sem dúvida. Foi o que aconteceu
com a médium Mary H. Jacob, citada por Bozzano nesta
obra (caso 33). Ela havia recebido uma mensagem do seu falecido filho e,
referindo-se a isso, deu a seguinte declaração: “Note-se que o meu falecido
filho, que se serviu de minha mão esquerda para escrever a mensagem, era
canhoto em vida, e que eu nunca fui capaz de escrever, normalmente, com a mão
esquerda”. Comentando o fato, Bozzano viu nisso um elemento importante a favor
da comprovação da identidade pessoal do comunicante desencarnado. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
Observação:
Para acessar a Parte 21 deste estudo, publicada na semana passada,
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