Comunicações
mediúnicas entre vivos
Ernesto
Bozzano
Parte
24
Damos
prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos,
de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J.
Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos
que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada
parte do estudo compõe-se de:
a)
questões preliminares;
b)
texto para leitura.
As
respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para
leitura.
Este
estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões
preliminares
A.
Nos episódios relacionados ao Capitão L., a participação mediúnica de “Carrie”
revelou-se um fato indiscutível?
B.
Não seria possível atribuir ao fenômeno da “leitura do pensamento” ou à
“clarividência telepática” o caso do Capitão L.?
C.
É realmente possível a um sensitivo “ler” o pensamento de uma outra pessoa
igualmente encarnada?
Texto
para leitura
329.
Concluindo seu relato, o Sr. T. J. T. disse o seguinte:
Alguns
dias depois da data do último telegrama, “Carrie” nos disse que os cirurgiões
tinham novamente operado o doente, mas que tudo ia bem. Depois nos informou da
transferência do ferido, do hospital de campanha para outro hospital muito
estranho e muito original (verificou-se que se tratava do hospital naval de
Yokohama). Em setembro, o Capitão Henry achava-se em condições de escrever à
sua progenitora, anunciando-lhe que no dia 27 de outubro partiria de Yokohama
para repatriar-se, mas, já na noite de 17 de outubro, “Carrie” nos comunicava
que ele estava em viagem e que se avizinhava da pátria. Observamos-lhe que, a
julgar pela sua própria carta, ele só partiria no dia 27 do mês, mas ela
insistiu em afirmar que o navio em que embarcara já se avizinhava das costas
americanas e, de fato, no dia seguinte, 18, a Sra. Willa L. recebia um
telegrama do filho anunciando-lhe que havia desembarcado no porto de S.
Francisco. Ficara impaciente por regressar à pátria e se aproveitara de outro
navio, embarcando logo.
Quando
chegou em casa, estávamos, como é natural, ansiosos por verificar o que havia
de exato, nas comunicações mediúnicas recebidas e ficamos sabendo que as
informações a respeito de suas condições de saúde e da mudança de um hospital
para outro eram inteiramente verdadeiras. Verificamos também que, depois de
ferido, ele percorrera três milhas para chegar ao hospital de campanha,
atravessando a nado um canal cheio de cadáveres em putrefação, e quando foi
colocado na mesa de operações, desmaiou por excesso de sangue perdido. Em
consequência disso só foi operado oito dias depois, de modo que, no momento em
que recebemos a primeira comunicação de “Carrie”, o braço do ferido ainda não
havia sido amputado. No oitavo dia, manifestou-se a gangrena, e a operação foi
feita. Poucos dias depois a gangrena reapareceu nas bordas da ferida e
tornou-se necessária a segunda amputação.
A
perda de sangue foi tal, que determinou um estado profundo de anemia cerebral,
de forma que ele não se achava em condições de afirmar se, naquele instante,
havia refletido sobre a figura que faria com um braço de menos. Em seguida foi
transportado para o hospital de Yokohama.
O
capitão negou que houvesse sido ferido na coxa direita e, em vista disso, a
informação mediúnica a respeito parecia totalmente inexata, mas um dia em que
eu o ajudava a despir-se, ele me chamou a atenção para a cicatriz existente na
parte interna da sua coxa direita. Tinha as proporções de uma palma de mão e a
aparência de uma profunda queimadura. Explicou-me que, quando desmaiara na mesa
de operações, no mesmo dia em que fora ferido, foram aplicados sobre seu corpo
vários recipientes especiais cheios de água quente e que um deles, introduzido
entre as pernas, ficara esquecido e por isso a coxa direita resultou
literalmente cozida e se formara no local uma chaga dolorosíssima. Compreendi
então que a “impressão” de “Carrie” sobre uma ferida recebida pelo capitão, na
coxa direita, indubitavelmente se originara do incidente exposto.
Concluindo:
estou convencido de que a série de comunicações mediúnicas por nós recebidas
eram o que afirmavam ser, isto é, uma série de mensagens provenientes,
positivamente, de um espírito desencarnado. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo F)
330.
No caso supracitado, em última análise, tudo é verídico, mesmo as inexatidões,
como aquela da queimadura interpretada como uma ferida. E até esta última
resulta teoricamente mais sugestiva do que as informações precisas, pois que,
por ela, fica confirmada a asserção da personalidade mediúnica comunicante, que
não via diretamente os fatos, mas que vinha a conhecê-los pela “impressão”. Daí
a possibilidade de frequentes inexatidões nos informes obtidos desse modo, como
é o caso na circunstância referida. E, uma vez admitido que a personalidade
mediúnica de “Carrie” apreendia positivamente os informes, sob a figura de “impressão”,
ficam com isto eliminadas as hipóteses da telepatia e das comunicações entre
vivos, pois que, tanto em um como no outro caso, não deveriam ter-se verificado
inexatidões da natureza exposta. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo F)
331.
Estamos, portanto, obrigados, necessariamente, a admitir que no caso em apreço
a personalidade mediúnica de “Carrie” era realmente o que ela dizia ser, isto
é, o espírito de uma moça amiga da família do Capitão L. e que, nessa circunstância,
fazia o papel de mensageiro entre o filho ferido e a mãe ansiosa por notícias.
Em suma, trata-se de outro caso de manifestações positivamente espíritas. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
332.
Recordo, de fato, que, quando os opositores observam que, se se chegasse a
provar que o médium retira das subconsciências alheias os informes verídicos
que fornecem em nome de personalidades de vivos, então dever-se-ia presumir que
consiga obter, das mesmas fontes, também os informes verídicos que fornecem em
nome de personalidades de mortos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo F)
333.
Relembro que, quando os opositores observam tudo isso, formulam uma objeção com
certa aparência de verdade e de força, conquanto efetivamente as suas induções
em tal sentido sejam fruto de uma análise superficialíssima dos fatos, que
demonstram, ao contrário, que nas comunicações mediúnicas entre vivos, longe de
tratar-se de “clarividência telepática” ou de “telemnesia” (como presumem os
opositores), o caso é de próprias e verdadeiras conversações entre duas
personalidades espirituais subconscientes, demonstração esta que basta para
subverter completamente os termos da questão, transformando as comunicações
mediúnicas entre vivos em ótimas provas em favor da autenticidade das
comunicações mediúnicas com os mortos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo F)
334.
De qualquer modo, a solução da tese em tal sentido reclama ainda ser ela
submetida a uma prova ulterior de análise comparada que lhe confira a
necessária solidez e, para fazê-lo, deve-se deslocar um tanto os termos do
debate, produzindo os fenômenos afins da “leitura do pensamento” e da
“clarividência telepática” sobre os quais se fundam as induções dos opositores.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
335.
Procedendo assim, chegaremos a alcançar o escopo de circunscrever os limites
das faculdades subconscientes, provando incontestavelmente que não existem
faculdades supranormais capazes de selecionar, a distância, tais informes nas
subconsciências alheias e, ainda menos, de selecioná-las sem limite de tempo,
de espaço e de condições, fazendo ainda observar que, nas comunicações entre
vivos, as personalidades fornecem elementos destinados a identificá-las. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
336.
Os fenômenos da “leitura do pensamento” e da “clarividência telepática” são
constituídos de um complexo variado de manifestações, mas não ocorre
considerá-los aqui nos seus múltiplos aspectos, e sim nas suas fases máximas de
manifestação. Recorramos, portanto, a exemplos extremos de cada uma das
categorias em exame. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo F)
337.
Veremos na sequência dois exemplos, entre os mais extraordinários, de leitura
do pensamento nas subconsciências alheias. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo F)
338.
Eis o primeiro, relatado pela Srta. Goodrich Freer, a conhecida sensitiva, a
quem se deve um estudo magistral sobre as suas próprias experiências de “visão
no cristal”. Seu relato foi extraído dos Proceedings of the S. P. R.
(vol. XI, págs. 114/44):
Eu
devia visitar certa amiga que se casara recentemente. Não conhecia o marido
dela, mas, pelo que havia ouvido dizer, esperava encontrar um perfeito
cavalheiro de alma nobre e elevada posição social. Quando me foi apresentado,
notei que ele estudava os meios de ser agradável e de demonstrar delicada hospitalidade
às pessoas reunidas em sua casa; contudo, desde o primeiro momento em que tive
ocasião de observá-lo com alguma atenção, fui perturbada por uma curiosa forma
de alucinação que me pôs perplexa a respeito dele. Em qualquer situação que ele
se achasse, fosse à mesa, na sala ou ao piano, no fundo do ambiente que o
circundava, a sua pessoa desaparecia para ser substituída por uma visão na qual
eu divisava o mesmo senhor na infância, olhando-me com a expressão do mais
abjeto terror, com a cabeça baixa, as costas altas, os braços estendidos, como
que para se defender de uma tempestade de murros que lhe caíssem sobre as
costas.
Como
era natural, eu me dispus a fazer indagações a seu respeito, conseguindo saber
que a cena por mim vista lhe havia realmente ocorrido em sua infância, em uma
escola civil, em consequência de uma baixa ação de fraude devido à qual fora
vergonhosamente expulso e se empenhara em violenta discussão com os seus
colegas.
Como
explicar semelhante forma de visão verídica? Penso que seria simbólica e que
representaria uma espécie de aviso prévio a respeito da atmosfera moral que
circundava o homem que se achava defronte de mim, como amostra de suas
qualidades de cavalheiro, e tal impressão minha foi justificada, porque as
desconfianças que geraram em mim a tal visão foram amplamente confirmadas por
fatos desagradáveis que se seguiram.
As
visões desse gênero me parecem análogas às que são evocadas por meio da
“psicometria”, as quais não são visões telepáticas e sim “impressões”
psíquicas. E parece-me absurdo pretender-se que a cena por mim vista, ocorrida
dez anos antes, naquele momento se achasse presente na memória do seu
protagonista. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo F)
339.
Assim diz a relatora, que tem plena razão em não admitir que sua visão tivesse
origem no pensamento consciente do protagonista, que se houvesse recordado,
naquele momento, do episódio vergonhoso sucedido em sua meninice. Eliminada tal
hipótese, eis-nos frente a um exemplo de conformidade com aquele a que se
referem os opositores da hipótese espírita, exemplos em que o sensitivo colhe
informações existentes, em estado latente, na subconsciência de um terceiro.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
340.
Para as conclusões teóricas que teremos, a seu tempo, de extrair do episódio em
exame, convém notar nele estas duas circunstâncias essenciais: em primeiro
lugar, que o incidente em questão era relativo à experiência pessoal do
protagonista e não se tratava de coisas de um terceiro qualquer por ele
conhecido; em segundo lugar, que o incidente visto pela sensitiva, embora
afastado no tempo, era de natureza tal a imprimir-se indelevelmente na alma de
quem o havia suportado. Não era insignificante, como quase sempre são os
informes fornecidos pelos mortos com o fim único de provarem a sua identidade
pessoal. As duas circunstâncias indicadas são de importância decisiva na
interpretação teórica dos fatos, como dentro em breve demonstraremos. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F) (Continua
no próximo número.)
Respostas
às questões preliminares
A.
Nos episódios relacionados ao Capitão L., a participação mediúnica de “Carrie”
revelou-se um fato indiscutível?
Sim.
Tudo nas comunicações de “Carrie”, a entidade desencarnada, mesmo as
inexatidões, revelou-se procedente. Diz Bozzano que, diante dos fatos apurados,
estamos obrigados, necessariamente, a admitir que no caso em apreço a
personalidade mediúnica de “Carrie” era realmente o que ela dizia ser, isto é,
o espírito de uma moça amiga da família do Capitão L. e que, nessa
circunstância, fazia o papel de mensageiro entre o filho ferido e a mãe ansiosa
por notícias. Trata-se, como se vê, de outro caso de manifestações
positivamente espíritas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo F)
B.
Não seria possível atribuir ao fenômeno da “leitura do pensamento” ou à
“clarividência telepática” o caso do Capitão L.?
Não.
Os fenômenos da “leitura do pensamento” e da “clarividência telepática” são
constituídos de um complexo variado de manifestações, mas não cabe
considerá-los no caso mencionado, em face do processo adotado e da natureza das
informações transmitidas mediunicamente pela entidade designada pelo nome
“Carrie”. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo F)
C. É realmente possível a um sensitivo “ler” o pensamento
de uma outra pessoa igualmente encarnada?
Os fatos mostram que sim. O relato
feito pela Srta. Goodrich Freer, conhecida sensitiva, a quem se deve um estudo
magistral sobre suas próprias experiências de “visão no cristal”, é exemplo
desse fenômeno. Extraído dos Proceedings of the S. P. R. (vol. XI, págs.
114/44), Bozzano transcreveu-o nesta obra. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo F)
Observação:
Para acessar a Parte 23 deste estudo, publicada na semana passada,
clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/07/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos_0506838441.html
To read in English, click here: ENGLISH |
Gostaria de saber se "ver"dentro do corpo de uma pessoa, regiões doentes entram nesta categoria.
ResponderExcluirSaber sobre a pessoa ao atender um telefonema?
Ver o presente, passado e futuro também?
O que determina está capacidade estar atuante ou não atuante?
Há como recuperar a capacidade?