JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Amigo leitor, hoje vou falar-lhe sobre a
importância da literatura em sua formação cultural. Oscar Niemeyer criticava os
acadêmicos que somente se interessam por assuntos relacionados à sua formação e
atuação profissional. Se é certo que se pode perfeitamente viver sem muita
leitura, vive bem melhor quem desenvolve o gosto de ler. Está sempre bem
informado, é admirado e não passa vergonha quando a conversa muda do futebol
para a poesia, dos acontecimentos cotidianos para a crônica, dos casamentos
para os romances, dos políticos fracassados e ditadores para a história, da
linguagem popular ou coloquial para a culta, sem os exageros do eruditismo...
Há excelentes profissionais que, como
desculpa para sua insipiência, dizem que não faz muita diferença deixar de
acentuar uma palavra ou trocar um e
por um i ou um s por um c numa petição
ou numa receita.
– Fas
cim, ocê podi mata de reiva o meretríssimo juiz ô desqualifica o dotô...
Quem disse isso não fui eu e, sim, o
estrupício do meu secretário. É que ele lecionou português, redação,
linguística e sociolinguística durante 22 anos... E admite que, na literatura,
a representação de sua fala, quando morou no morro da Penha, no Rio de Janeiro,
é plenamente justificável no ato comunicativo. Traduzindo:
– Faz, sim, você pode matar de raiva o
meritíssimo juiz ou desqualificar o doutor...
– Calma aí, “Machado”, também não é assim.
Fui e sou pobre, mas nem por isso falava “errado”. Mamãe dizia, mesmo, que eu
gostava de falar “difícil”.
– Esse é um outro equívoco linguístico, o de
se considerar apenas a norma culta como a correta e as demais “erradas”. Todas
as línguas: popular, coloquial e culta são variações da linguagem que dependem
de quem, onde e quando se fala ou escreve. Daí ser considerado pelos estudiosos
da linguística um baita preconceito você dizer que fulano ou sicrana falam
“errado” por não utilizarem a norma culta em sua conversa sobre a pintura de
sua sala ou a lavagem de sua rica louça burguesa.
O que não se pode é redigir o texto de um
relatório médico ou administrativo, por exemplo, de uma obra didática, ou de
uma petição jurídica que estejam repletos de desvios gramaticais, como o do uso
da palavra houveram, opondo-se a existiram, este
no lugar de esse, menas em vez de menos, mais no lugar de mas, mau
em vez de mal, uso da segunda pessoa
na concordância com o tratamento V.Sa. ou V.Ex.ª, erros de concordância, de
regência, de pontuação, ortografia. Ou seja, tudo o que esteja em desacordo com
a gramática oficial.
– Você quer dizer que fora desses casos
“oficiais” a linguagem pode, como se diz na gíria, “soltar a franga”?
– Não, energúmeno, na literatura, há
momentos em que todas as modalidades linguísticas têm seu espaço. Entretanto,
ninguém pode se expressar como bem entender, em especial nas correspondências
administrativas e oficiais, nas obras didáticas, mas também nos e-mails, blogs, twitters, etc.
Porque as palavras, o vento leva, entretanto, “escreveu, não leu, pau comeu”.
Você só não precisa é se preocupar em “falar difícil”...
– Já entendi. A linguagem deve ser culta,
mas não necessariamente erudita... E como falar e escrever na língua culta?
– Comece pela leitura das revistas em
quadrinhos...
– Inclusive Chico Bento?
– Inclusive Chico Bento... Mas vá além,
leia os clássicos e os escritores atuais. Por fim, escreva, reescreva, corte o
supérfluo e mantenha a essência. Leia e escreva sempre criticamente.
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