JORGE LEITE DE
OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Amiga
leitora, o brasileiro continua sofrendo do complexo de vira-lata. Se alguém
joga um osso para ele, eis que abana o rabo, abocanha a dádiva e sai com ela na
boca, feliz da vida. Hélio Bicudo ajudou a fundar o canil, mas viu que um dos
vira-latas, que morava num barraco de 40m² e que dizia detestar ler, por um
misterioso poder dos deuses do Olimpo, tinha um extraordinário poder de
persuasão a seus caninos camaradas, com um objetivo nada altruístico: o poder.
Ficou milionário e, com apoio das empreiteiras, desviou bilhões para o
exterior. Dizem que é para manter-se no poder até o fim dos tempos, pois, com
essa fortuna, além de continuar utilizando-se de atos espúrios para continuar
dominando o país, finge-se de bom moço e tenta proibir os demais partidos políticos
de receberem doações empresariais.
Esqueçamos
um pouco a política e voltemos ao povo brasileiro. Em especial, ao seu
linguajar. Brasileiro adora falar inglês e capricha na pronúncia da língua
falada pelo Tio Sam. Mas desconhece a própria língua, e, por isso mesmo, o
cachorro mor da República, mesmo sem exercer, atualmente, qualquer cargo
público, faz até manifestos televisivos passando-se por uma nova espécie de
messias (com m), do pobre povo tupiniquim, que adora uma esmola, mas não gosta
de trabalhar.
Outro
dia, fiquei sabendo que um só trabalhador americano produz o equivalente a
quatro operários brasileiros. E ainda tem gente pregando a revolução do
proletariado... Aqui? Só se for para 200 milhões voltarem a viver da caça e da
pesca. Mas caçar o quê? Pescar só se for com a vara do vizinho, com o braço
alheio e com a isca colhida por outrem. Só tem um problema: todos terão a mesma
ideia. Então... Pobre país.
Eu
pedi aos deuses, outrora, para não deixarem o Brasil se tornar uma República.
Eles não me ouviram, e vejam no que deu...
Conforme
dizia, acima, vamos à linguagem.
Comentarista
de futebol, técnico e jogador, que também, salvo raras exceções, não gostam de
ler, adoram "falar difícil”. Desse modo, é comum ouvirmos, numa
entrevista, o seguinte:
—
Como você se sente, jogando pelo time A?
—
Sinto-me muito venturoso e almejo fazer muitos gols, para enaltecer o nome
desse clube no porvir...
O
jogador ouviu do "professor" que venturoso é o mesmo que bem, almejo
é sinônimo de desejo, quero e porvir significa futuro. Então, "gasta o
verbo"...
O
apresentador de esportes lê uma mensagem não muito confiável, em seu notebook e
diz que vai deletá-la. O vocábulo apagar, aos poucos, vai sendo trocado pelo
inglês deletar... "Chic no último"... Ops!
Ao
tomar o elevador, leio o seguinte alerta: “Antes de entrar no elevador,
verifique se o mesmo encontra-se neste andar”. E eu pergunto: Por que o mesmo?
Por que não ele? Corrigindo: "Antes de entrar no elevador, verifique se
ele está neste andar".
Eu
escreveria assim: “Ao abrir a porta do elevador, cuidado para não cair no
fosso”.
O
susto de quem ler isso será tão grande que você, leitor amigo, antes de entrar,
sempre vai conferir se vai para o fosso ou para o elevador.
Entro
no mercadinho da rua do meu bloco, para comprar pães, e vejo, acima destes, a
placa com o seguinte aviso: "Por favor!! Não deguste".
Primeira
pergunta: Por que razão duas exclamações? A gramática criou esse sinal já com a
finalidade de expressar grande, enoooooorme espanto! E o sinal de interrogação
serve para exprimir pergunta direta... Quanto ao "deguste", por que
não dizer "Não coma"? Não há quem não entenda. Já o
"deguste"...
Isso
me lembra um cartaz que li na simpática Lisboa portuguesa em frente a um
estacionamento: "Proibido estacionar". E acima, estava escrito:
"Obrigatório ler".
Vai entender...
Acaba
de chegar o simpático espírito Casimiro Cunha, poeta que tantos poemas publicou,
desta nossa dimensão, pela mão abençoada de Chico Xavier. Pede para deixar um
recado ao leitor amigo e à bela leitora.
Ah,
sim, é uma nova versão do seu poema intitulado Simplifica, publicado na obra
Antologia dos imortais, psicografada por Chico Xavier e Waldo Vieira e editada
pela FEB.
Com
a palavra final, Casimiro Cunha.
—
Amigos, ante a imensa dificuldade de nós, os defuntos escritores, escrevermos
para os mortos-vivos da Terra, pois as ideias são nossas, mas os formatos são
deles, peço-lhes desculpas, antecipadamente, se este esforçado Joteli não
conseguir sintonizar a sua com a minha mente, nestas ondas hertzianas que
cruzam nossas distintas dimensões. O título do atual poema amplia um pouco
aquele, psicografado pelo Chico Xavier, uma das criaturas mais doces que
conheci, tanto aí como aqui.
Eis
o poema:
Simplifica... simplisfica...
Quer
esclarecer alguém
Sobre
a dúvida que fica
Ante
um ponto literário?
Quem
explica simplifica.
O
que escreve, quando é lido,
Quase
nada significa
Em
sua língua erudita?
Não
inventa, simplisfica...
O
que fala não entendem
Se
você não lhes explica?
Use,
então, palavras fáceis,
Não
complica, simplifica.
Não
tenha mágoa de quem
De
você sempre futrica,
O
Cristo sempre exaltou
Quem
perdoa e simplisfica...
Seu
desejo é ensinar
E
até nisso se complica,
Por
lhe faltar a clareza?
Quem
ensina simplifica.
Diz
você que quer um tempo
Para
seguir minha dica,
Então
repito o brocardo:
Vive
mais quem simplifica.
Não
gaste tudo o que tem
No
armazém da dona Chica,
Pois
quem pensa no futuro
É
quem sempre simplisfica.
Não
corra atrás do supérfluo
Nos
excessos da botica,
Quem
só pensa na matéria
Morre,
mas não simplifica...
Se
você já aprendeu
Uma
parte do que explica
Não
procure resultados,
Faz
o bem e simplisfica.
Após
existência inútil,
A
alma que prevarica
Implora
ao Cristo por luz
E
Jesus diz: simplifica.
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