Estudamos semanalmente no
Centro Espírita Nosso Lar, de Londrina (PR), o livro “No Invisível”, um dos clássicos do
Espiritismo, de autoria de Léon Denis. São duas as turmas de estudo, uma na
terça à noite, a outra na quinta-feira à tarde.
Reproduzimos, em seguida,
o texto de mais um módulo concluído, cuja publicação tem por finalidade
proporcionar, a quem se interessar, a oportunidade de acompanhar o mencionado
estudo.
Questões para debate
A. Podemos dizer que a emancipação da
alma é a causa dos sonhos?
Sim. A alma
se desprende do corpo carnal durante o sono e se transporta a um plano mais ou
menos elevado do Universo, onde percebe, com o auxílio de seus sentidos
próprios, os seres e as coisas desse plano. Nesse fato é que se encontra a
origem dos sonhos. (No Invisível - O
Espiritismo experimental: Os fatos - XIII - Sonhos premonitórios -
Clarividência – Pressentimentos.)
B. Que devemos entender por sonhos
profundos, ou etéreos?
Sonhos
profundos, ou etéreos, são aqueles em que o Espírito se subtrai à vida física,
desprende-se da matéria, percorre a superfície da Terra e a imensidade, onde
procura os seres amados, seus parentes, seus amigos, seus guias espirituais.
Vai, não raro, ao encontro das almas humanas, como ele desprendidas da carne
durante o sono, com as quais se estabelece uma permuta de pensamentos e
desígnios. Dessas práticas conserva o Espírito impressões que raramente afetam
o cérebro físico, em virtude de sua impotência vibratória. Essas impressões se
gravam, todavia, na consciência, que lhes guarda os vestígios, sob a forma de
intuições, de pressentimentos, e influem, mais do que se poderia supor, na
direção da nossa vida, inspirando os nossos atos e resoluções. Daí o provérbio:
“A noite é boa conselheira.” (Obra citada
- O Espiritismo experimental: Os fatos - XIII - Sonhos premonitórios -
Clarividência – Pressentimentos.)
C. Pode haver fenômenos de premonição
associados aos sonhos?
Sim. Com
frequência, nos sonhos costumam ser registrados fenômenos de premonição, isto
é, comprova-se a faculdade que possuem certos sensitivos de perceber, durante o
sono, as coisas futuras. São abundantes os exemplos históricos e Léon Denis
menciona vários casos nesta obra. (Obra
citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XIII - Sonhos premonitórios -
Clarividência – Pressentimentos.)
Texto para leitura
531. XIII -
Sonhos premonitórios - Clarividência – Pressentimentos – Os sonhos, em suas
variadas formas, têm uma causa única: a emancipação da alma. Esta se desprende
do corpo carnal durante o sono e se transporta a um plano mais ou menos elevado
do Universo, onde percebe, com o auxílio de seus sentidos próprios, os seres e
as coisas desse plano.
532. Podem
dividir-se os sonhos em três categorias principais: Primeiramente, o sonho
ordinário, puramente cerebral, simples repercussão de nossas disposições
físicas ou de nossas preocupações morais. É também o reflexo das impressões e
imagens arquivadas no cérebro durante a vigília; na ausência de qualquer
direção consciente, de toda intervenção da vontade, elas se desenvolvem
automaticamente ou se traduzem em cenas indecisas, destituídas de coordenação e
de sentido, mas que permanecem gravadas na memória. O sofrimento em geral e,
particularmente, certas enfermidades, facilitando o desprendimento do Espírito,
aumentam ainda mais a incoerência e intensidade dos sonhos. O Espírito, obstado
em seu surto, empuxado a cada instante para o corpo, não se pode elevar. Daí o
conflito entre a matéria e o princípio espiritual, que reciprocamente se
influenciam. As impressões e imagens se chocam e confundem.
533. No
primeiro grau de desprendimento, o Espírito flutua na atmosfera, sem se afastar
muito do corpo; mergulha, por assim dizer, no oceano de pensamentos e imagens,
que de todos os lados rolam pelo espaço, deles se impregna e aí colhe
impressões confusas, tem estranhas visões e inexplicáveis sonhos; a isso se
mesclam às vezes reminiscências de vidas anteriores, tanto mais vivazes quanto
mais completo é o desprendimento, que assim permite entrarem em vibração as
camadas profundas da memória. Esses sonhos, de infinita diversidade, conforme o
grau de emancipação da alma, afetam sobretudo o cérebro material, e é por isso
que deles conservamos a lembrança, ao despertar.
534. Por
último vêm os sonhos profundos, ou sonhos etéreos. O Espírito se subtrai à vida
física, desprende-se da matéria, percorre a superfície da Terra e a imensidade,
onde procura os seres amados, seus parentes, seus amigos, seus guias
espirituais. Vai, não raro, ao encontro das almas humanas, como ele
desprendidas da carne durante o sono, com as quais se estabelece uma permuta de
pensamentos e desígnios. Dessas práticas conserva o Espírito impressões que
raramente afetam o cérebro físico, em virtude de sua impotência vibratória.
Essas impressões se gravam, todavia, na consciência, que lhes guarda os
vestígios, sob a forma de intuições, de pressentimentos, e influem, mais do que
se poderia supor, na direção da nossa vida, inspirando os nossos atos e
resoluções. Daí o provérbio: “A noite é boa conselheira.”
535. Na
“Revue Spirite” de 1866, pág. 172, Allan Kardec fala do desprendimento do
Espírito de uma jovem de Lião, durante o sono, e de sua vinda a Paris, em meio
de uma reunião espírita em que se achava sua mãe: O médium, em estado de
transe, vai a Lião, a pedido de uma senhora presente, ao aposento de sua filha,
que descreve fielmente. A moça está adormecida; seu Espírito, conduzido por um
guia espiritual, se aproxima de sua mãe, a quem vê e ouve, para ela um sonho,
diz o guia do médium, de que, ao despertar, não guardará lembrança clara;
conservará apenas o pressentimento do bem que se pode auferir de uma crença
firme e pura.
536. Ela
faz sentir a sua mãe que, se pudesse recordar-se tão bem de suas precedentes
encarnações, no estado normal, como se lembra agora, não permaneceria muito
tempo na situação estacionária em que se encontra. Porque vê claramente e
sente-se capaz de progredir sem hesitação; ao passo que no estado de vigília
nós temos uma venda sobre os olhos.
537.
“Obrigada – diz ela aos assistentes – por vos terdes ocupado comigo.” Em
seguida, abraça sua mãe. O médium acrescenta, ao terminar: “Ela sente-se feliz
com esse sonho, de que se não há de lembrar, mas que nem por isso lhe deixará
de produzir salutar impressão.”
538.
Algumas vezes, quando suficientemente purificada, a alma, conduzida por
Espíritos angélicos, chega em seus transportes a alcançar as esferas divinas, o
mundo em que se geram as causas. Aí paira, sobranceira ao tempo, e vê
desdobrarem-se o passado e o futuro. Se acaso comunica ao invólucro humano um
reflexo das sensações colhidas, poderão estas constituir o que se denomina
sonho profético.
539. Nos
casos importantes, quando o cérebro vibra com demasiada lentidão para que possa
registrar as impressões intensas ou sutis percebidas pelo Espírito, e este quer
conservar, ao despertar, a lembrança das instruções que recebeu, cria então,
pela ação da vontade, quadros, cenas figurativas das imagens fluídicas,
adaptadas à capacidade vibratória do cérebro material, sobre o qual, por um
efeito sugestivo, as projeta energicamente. E, conforme a necessidade, se é
inábil para isso, recorrerá ao auxílio dos Espíritos mais adiantados, e assim
revestirá o sonho uma forma alegórica.
540. Entre
os sonhos desse gênero, há alguns célebres, como, por exemplo, o sonho do Faraó,
interpretado por José. Muitas pessoas
têm sonhos alegóricos, os quais nem sempre traduzem as impressões recebidas
diretamente pelo Espírito do indivíduo adormecido, mas, na maior parte das
vezes, revelações provenientes das almas, que todos temos, prepostas a nossa
guarda.
541.
Achando-me gravemente enfermo e quase desenganado, obtive, sob significação
figurada, o aviso de minha própria cura. No sonho, eu percorria com muita
dificuldade um caminho coberto de escombros; à medida que me adiantava, os obstáculos
se me acumulavam sob os pés. Súbito, um riacho largo e profundo surge à minha
vista, e sou obrigado a interromper a marcha. Sento-me, cheio de angústia, à
beira d'água; mas da outra margem mão invisível estende-me uma prancha, cuja
extremidade se inclina a meus pés. Não tenho mais que me firmar nela e, por
esse meio, consigo transpor o curso da água. Do lado oposto o caminho é livre e
desembaraçado, e eu sigo com o passo mais firme, em meio de aprazível planície.
542. Eis
aqui o sentido desse sonho: Informado, algum tempo depois, por uma mulher
imersa em sono magnético, da causa de minha enfermidade, causa assaz vulgar,
com que nenhum médico havia podido atinar, nem com os remédios aplicáveis,
readquiri pouco a pouco a saúde e pude recomeçar os meus trabalhos.
543. Nos
sonhos são, com frequência, registrados fenômenos de premonição, isto é,
comprova-se a faculdade que possuem certos sensitivos de perceber, durante o
sono, as coisas futuras.
544. São
abundantes os exemplos históricos: Plutarco (“Vida de Júlio César”) faz menção
do sonho premonitório de Calpúrnia, mulher de César. Ela presenciou durante a
noite a conjuração de Brutus e Cassius e o assassínio de César, e fez todo o
possível por impedir este de ir ao Senado. Pode-se também ver em Cícero o sonho
de Simônides (“De Divinatione”, I, 27); em Valério Máximo, o sonho premonitório
de Atério Rufo (VII, par. I, 8) e o do rei Creso (VII, par. I, 4),
anunciando-lhe a morte de seu filho Athys.
545. Em
seus “Comentários”, refere Montlue que assistiu, em sonho, na véspera do
acontecimento, à morte do rei Henrique II, traspassado por um golpe de lança,
que num torneio lhe vibrou Montgommery. Sully, em suas “Memórias” (VII, 383),
afirma que Henrique IV tinha o pressentimento de que seria assassinado em uma
carruagem.
546. Fatos
mais recentes, registrados em grande número, podem ser comprobatoriamente
mencionados: Abraão Lincoln sonhou que se achava em uma calma silenciosa, como
de morte, unicamente perturbada por soluços; levantou-se, percorreu várias
salas e viu, finalmente, ao centro de uma delas, um catafalco em que jazia um
corpo vestido de preto, guardado por soldados e rodeado de uma multidão em
pranto. “Quem morreu na Casa Branca?” – perguntou Lincoln. “O presidente –
respondeu um soldado – foi assassinado!” Nesse momento uma prolongada aclamação
do povo o despertou. Pouco tempo depois morria ele assassinado.
547. Em seu
livro “O Desconhecido e os Problemas Psíquicos”, Camille Flammarion cita 76
sonhos premonitórios, dois dos quais por sua mãe (cap. IX). Na maior parte eles
revestem o caráter da mais absoluta autenticidade. Um dos mais notáveis é o
caso do Sr. Berard, antigo magistrado e deputado (cap. IX). Obrigado, pelo
cansaço, durante uma viagem, a pernoitar em péssima estalagem, situada entre
montanhas selváticas, ele presenciou, em sonho, todos os detalhes de um
assassínio que havia de ser cometido, três anos mais tarde, no quarto que
ocupava, e de que foi vítima o advogado Vitor Arnaud. Graças à lembrança desse
sonho é que o Sr. Berard fez descobrir os assassinos. Esse fato é igualmente
referido pelo Sr. Goron, Chefe de Polícia, em suas “Memórias” (t. II, pág.
338).
548.
Pode-se também citar:
a.) O sonho
da mulher de um mineiro, que vê cortarem a corda do cesto que servia para
descerem os operários aos poços de extração. Logo no dia seguinte o fato se
verificou e muitos mineiros deveram a vida a esse sonho (cap. IX).
b.) Uma
jovem irmã de caridade (Nièvre) viu em sonho o rapaz, para ela então
desconhecido, com quem depois haveria de casar-se. Graças a esse sonho ela se
tornou Mme. de la Bédollière (cap. IX).
c.)
Conscritos veem em sonho os números que tiraram no dia seguinte ou dias depois
(cap. IX).
d.) Muitas
pessoas veem em sonho cidades, sítios, paisagens, que realmente visitaram mais
tarde (cap. IX).
e.) O Sr.
Henri Horet, professor de Música em Estrasburgo, viu certa noite, em sonho,
saírem cinco féretros de sua casa. Pouco depois se deu aí um escapamento de gás
e cinco pessoas morreram asfixiadas (cap. IX).
549. Aos
sonhos etéreos pode-se juntar o fenômeno de êxtase ou arroubo. Considerado por
certos sábios, pouco competentes em matéria de Psiquismo, como estado mórbido,
o êxtase é em verdade um dos mais belos apanágios da alma afetuosa e crente,
que, na exaltação de sua fé, reúne todas as suas energias, se desembaraça
momentaneamente dos empecilhos carnais e se transporta às regiões em que o Belo
se ostenta em suas infinitas manifestações.
550. No
êxtase o corpo se torna insensível; a alma, libertada de sua prisão, tem
concentradas toda a sua energia vital e toda a sua faculdade de visão em um
ponto único. Ela não é mais deste mundo, mas participa já da vida celeste. A
felicidade dos extáticos, o júbilo que experimentam, contemplando as
magnificências do Além, seriam só por si suficientes para nos demonstrar a
extensão dos gozos que nos reservam as esferas espirituais, se as nossas
grosseiras concepções nos não impedissem muitíssimas vezes de os compreender e
pressentir.
551. A
clarividência ou adivinhação é essa faculdade, que possui a alma, de perceber
no estado de vigília os acontecimentos passados e futuros, no mundo intelectual
como no domínio físico. Esse dom se exerce através do tempo e da distância,
independentemente de todas as causas humanas de informação.
552. A
adivinhação foi praticada em todos os tempos. Seu papel na antiguidade era
considerável e, qualquer que seja a parte de alucinação, de erro ou fraude que
se lhe deva atribuir, já não é possível, depois das recentes comprovações da
psicologia transcendental, rejeitar em massa os fatos dessa ordem atribuídos
aos profetas, aos oráculos e às sibilas.
553. Essas
estranhas manifestações reaparecem na Idade Média:
a.) João
Huss anuncia, do alto da fogueira, a vinda de Lutero.
b.) Joana
d'Arc havia predito, desde Domrémy, o livramento de Orleães e a sagração de
Carlos VII. Anuncia também que será ferida defronte de Orleães.
c.) Uma
carta escrita pelo encarregado de negócios de Brabant, a 22 de abril de 1429,
quinze dias antes do acontecimento e conservada nos arquivos de Bruxelas,
contém esta passagem: “Ela predisse que será ferida por uma seta durante o
assalto, mas que não morrerá; que o rei será sagrado em Reims, no próximo
verão”.
d.) Ela
profetiza seu encarceramento e morte. Junto aos fossos de Melun, suas “vozes” a
haviam advertido de que seria entregue aos ingleses antes do dia de São
João. Durante o processo, anuncia a
completa expulsão dos ingleses, antes de sete anos. Sucedem-se depois, em toda
essa vida maravilhosa, profecias de ordem secundária: em Chinon, a morte de um
soldado que a escarnecia, o qual, na mesma noite, se afogou no riacho de
Vienne; em Orleães, a morte do capitão Glasdale; o livramento de Compiègne
antes de Saint-Martin-d'Hiver, etc.
554. Os
casos de clarividência são numerosos em nossa época. Citaremos alguns deles. Os
“Annales des Sciences Psychiques” (1896, página 205) refere que Lady A., tendo
sido vítima de um roubo em Paris, conseguiu descobrir, por intermédio de uma
vidente, o autor do delito, que ela estava longe de suspeitar, com todas as
particularidades complicadíssimas do fato. O culpado não era outro senão
Marchandon, um de seus criados, que, por suas boas maneiras, havia captado a
inteira confiança de sua patroa e veio a ser mais tarde o assassino da Sra.
Cornet.
555. O
pressentimento é a vaga e confusa intuição do que vai acontecer. J. de Maistre
fez notar que “o homem é informado naturalmente de todas as verdades úteis”.
Soldados e oficiais têm, na manhã do dia em que se vai travar uma batalha, o
nítido sentimento de sua morte próxima. Por uma averiguação procedida em tal
sentido, ficou provado que uma religiosa de S. Vicente de Paulo, na véspera do
incêndio do Bazar de Caridade, havia predito que aí morreria queimada.
556. Essa
faculdade se encontra com frequência em certos países, como, por exemplo, nas
regiões altas da Escócia, na Bretanha, na Alemanha, na Itália. Um pouco, porém,
por toda a parte, em torno de nós, podemos coligir fatos de pressentimentos,
baseados em testemunhos inequívocos. São tão numerosos que julgamos supérfluo
insistir nisso.
557.
Citemos apenas os três seguintes casos: “O Coronel Collet, no “Bulletin de la
Société d'Etudes Psychiques de Nancy” (fevereiro de 1902, pág. 6), refere que
seu sogro, o Sr. Vigneron, emérito caçador e pescador, saía quase todos os dias
para se entregar a seus prazeres favoritos, sem que por esse motivo sua mulher
de modo algum se inquietasse. Um dia, entretanto, ela o quis impedir de ir à
pesca, tendo o pressentimento de que ele se afogaria. O marido, porém, não fez caso
e, ao regressar à noite, pôs-se a gracejar da puerilidade dos seus temores. No
dia seguinte confessava em particular a seu genro que, tendo o seu barco
soçobrado, ele conseguira sair da água e do lodo, em que se ia afundando,
graças a um ramo de salgueiro a que se agarrara a tempo. Havia posto as roupas
a secar e as limpara antes de entrar em casa.”
558. O Dr.
Max Simon, no “Monde des Rêves”, narra um fato da mesma natureza: “Um jovem
doutor alemão, voltando de uma visita a seus pais, encontrou dois oficiais e
com eles combinou tomarem um carro. No momento de subir ao veículo, sentiu-se
tolhido por uma estranha influência, que o fez recusar-se terminantemente a
partir, apesar das instâncias dos oficiais. Mal se haviam posto a caminho, a
influência dissipou-se. O jovem doutor aproveitou então a primeira ocasião para
continuar a viagem. Ao chegar às margens do Elba, notou um ajuntamento: – Os
dois oficiais se haviam afogado no rio, onde tombara a carruagem.”
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