JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Amiga
leitora e paciente leitor. Como vocês puderam observar, em minha crônica nº
185, de futebol eu não entendo nada... Também pudera! O que ali está nada mais
é do que a representação do meu pseudo
pessimismo. Nunca joguei em minha vida, nem mesmo apostei em corridas de
cavalos. Não poderia, realmente, se concretizar o que disse daquele jogo Brasil
3 X 0 Peru, como já ocorrera em “previsão” que eu fizera em crônica anterior,
durante a Copa do Mundo de futebol no Brasil. O que ali está nada mais é do que
uma constatação: o futebol brasileiro, ganhando ou perdendo, está decadente e
os 7 a 1 que a seleção alemã nos aplicou deixou marcas para sempre. Por isso, não
é preciso ser entendido de futebol para dizer que vai ser dura a classificação
do futebol brasileiro nas eliminatórias para o mundial da Rússia, pois qualquer
comentarista de botequim sabe disso.
Entremos,
agora, na porta aberta para esta crônica, antes que ela se feche, como ocorre
com a porta de Margaret Atwood desde sua primeira estrofe:
A
porta se abre de repente,
Você
espia.
Está
escuro lá dentro,
Provavelmente
aranhas:
Nada
que você queira.
Sente
medo.
A
porta se fecha de repente.[1]
Quanto
a mim, estou como diz Pseudo-Makaire: “(...) ces hommes sont loin d’eux-mêmes,
comme ivres de boisson, ivres em esprit de mystère et de Dieu.”[2] Entretanto, em seu estudo sobre meu
“testamento estético”, Eugênio Gomes[3] chega a uma conclusão que
me não faz justiça ao temperamento. Afirma o nobre crítico que minha ironia
“desaconselha, porém, qualquer afirmativa antecipada e concludente” a respeito
de minhas “intenções”, em especial “quando a religião esteja em causa”, em
virtude de minha “atitude agnóstica [...] na linha de Renan”, que eu teria
mantido sempre. Não leu, por certo meu texto intitulado “A paixão de Jesus”
publicado no Jornal do Comércio em 1 de abril de 1904. Nele, faço um resumo de
tudo o que há de mais importante na vida de Cristo, com base nos escritos de
seus evangelistas, nos quais deposito minha fé e concluo dizendo o seguinte: “A
doutrina produzirá os seus efeitos, a história será deduzida de uma lei,
superior ao conselho dos homens”. A frase final é condicional: “Quando nada
houvesse ou nenhuma fosse, a simples crise da Paixão era de sobra para dar uma
comoção nova aos que leem neste dia os evangelistas”. Em carta a Joaquim
Nabuco, de 20 de novembro de 1904, na qual relato o meu pesar pelo falecimento
de minha adorável Carolina, digo-lhe o seguinte: “Tudo me lembra a minha meiga
Carolina. Como estou à beira do eterno aposento, não gastarei muito tempo em
recordá-la. Irei vê-la, ela me esperará”. Não afirma tal coisa quem é
agnóstico. Hoje, que reencontrei Carola, continuamos trabalhando
literariamente, “pelas mãos de Joteli”, para desvendar ao mundo a verdadeira
natureza de seus habitantes.
A
porta se abre de repente. A porta se fecha de repente. A porta se abre. A porta
se fecha. A porta se abre... A vida é eterna, leitor amigo, crê nisso,
aproveita bem a vida, e sê feliz!
Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com
[1]
ATWOOD, M. A porta. Trad.
Adriana Lisboa, Rio de Janeiro: Rocco, 2013, p. 123.
[2]
Pseudo-Makaire. Homélies spirietuelles.
In: LACARRIÈRE, J. Les hommes ives de
Dieu. France:
Librairie Artehème Fayard, 1975. Epígrafe. Tradução livre de Joteli: “Esses
homens estão longe de si mesmos, como embriagados pelo álcool, ébrios em
espírito do mistério e de Deus”.
[3] GOMES, E. O
testamento estético de Machado de Assis. In: ASSIS, M. de. Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973, v. 3, p.
1.097.
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