sábado, 5 de dezembro de 2015

O eterno movimento da porta


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Amiga leitora e paciente leitor. Como vocês puderam observar, em minha crônica nº 185, de futebol eu não entendo nada... Também pudera! O que ali está nada mais é do que a representação do meu pseudo pessimismo. Nunca joguei em minha vida, nem mesmo apostei em corridas de cavalos. Não poderia, realmente, se concretizar o que disse daquele jogo Brasil 3 X 0 Peru, como já ocorrera em “previsão” que eu fizera em crônica anterior, durante a Copa do Mundo de futebol no Brasil. O que ali está nada mais é do que uma constatação: o futebol brasileiro, ganhando ou perdendo, está decadente e os 7 a 1 que a seleção alemã nos aplicou deixou marcas para sempre. Por isso, não é preciso ser entendido de futebol para dizer que vai ser dura a classificação do futebol brasileiro nas eliminatórias para o mundial da Rússia, pois qualquer comentarista de botequim sabe disso.
Entremos, agora, na porta aberta para esta crônica, antes que ela se feche, como ocorre com a porta de Margaret Atwood desde sua primeira estrofe:
A porta se abre de repente,
Você espia.
Está escuro lá dentro,
Provavelmente aranhas:
Nada que você queira.
Sente medo.
A porta se fecha de repente.[1]

Quanto a mim, estou como diz Pseudo-Makaire: “(...) ces hommes sont loin d’eux-mêmes, comme ivres de boisson, ivres em esprit de mystère et de Dieu.”[2]  Entretanto, em seu estudo sobre meu “testamento estético”, Eugênio Gomes[3] chega a uma conclusão que me não faz justiça ao temperamento. Afirma o nobre crítico que minha ironia “desaconselha, porém, qualquer afirmativa antecipada e concludente” a respeito de minhas “intenções”, em especial “quando a religião esteja em causa”, em virtude de minha “atitude agnóstica [...] na linha de Renan”, que eu teria mantido sempre. Não leu, por certo meu texto intitulado “A paixão de Jesus” publicado no Jornal do Comércio em 1 de abril de 1904. Nele, faço um resumo de tudo o que há de mais importante na vida de Cristo, com base nos escritos de seus evangelistas, nos quais deposito minha fé e concluo dizendo o seguinte: “A doutrina produzirá os seus efeitos, a história será deduzida de uma lei, superior ao conselho dos homens”. A frase final é condicional: “Quando nada houvesse ou nenhuma fosse, a simples crise da Paixão era de sobra para dar uma comoção nova aos que leem neste dia os evangelistas”. Em carta a Joaquim Nabuco, de 20 de novembro de 1904, na qual relato o meu pesar pelo falecimento de minha adorável Carolina, digo-lhe o seguinte: “Tudo me lembra a minha meiga Carolina. Como estou à beira do eterno aposento, não gastarei muito tempo em recordá-la. Irei vê-la, ela me esperará”. Não afirma tal coisa quem é agnóstico. Hoje, que reencontrei Carola, continuamos trabalhando literariamente, “pelas mãos de Joteli”, para desvendar ao mundo a verdadeira natureza de seus habitantes.
A porta se abre de repente. A porta se fecha de repente. A porta se abre. A porta se fecha. A porta se abre... A vida é eterna, leitor amigo, crê nisso, aproveita bem a vida, e sê feliz!






[1]  ATWOOD, M. A porta. Trad. Adriana Lisboa, Rio de Janeiro: Rocco, 2013, p. 123.
[2] Pseudo-Makaire. Homélies spirietuelles. In: LACARRIÈRE, J. Les hommes ives de Dieu. France: Librairie Artehème Fayard, 1975. Epígrafe. Tradução livre de Joteli: “Esses homens estão longe de si mesmos, como embriagados pelo álcool, ébrios em espírito do mistério e de Deus”.
[3] GOMES, E. O testamento estético de Machado de Assis. In: ASSIS, M. de. Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973, v. 3, p. 1.097.




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