terça-feira, 16 de maio de 2017

Contos e crônicas


Os moinhos de Anemoon

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

Quanto mais vento, mais as hélices dos moinhos se movimentavam, elas se impulsionavam querendo alcançar o horizonte assim como Anemoon queria partir para os lugares criados por sua imaginação.
Ele era um menino habitante de uma pequena e calma cidade da Holanda, morava com seus avós; seus pais, por algum motivo, foram para outro país a fim de encontrarem uma vida mais tranquila e próspera, mas nunca voltaram para a pequena cidade, nem para visitar o filho que há pouco completara doze anos. E Anemoon sentia a falta dos pais, no entanto, não compartilhava essa dor com os avós que ele tanto amava e os avós o amavam mais e mais, costumavam dizer que os amavam até o infinito do vento dos moinhos. Anemoon sorria.
O avô tinha um pedaço de terra, equivalente a uma chácara simples, onde plantava, em pouca quantidade, muitos alimentos para a família de três pessoas consumir. A avó, ótima cozinheira, fazia comidas muito saborosas. Não eram comidas sofisticadas, mas muito nutritivas e deliciosas; Anemoon sempre elogiava sua avó-cozinheira predileta. Ainda havia um gato branco de nome Zank, já era da família, pois presenciara boa parte da história dessas pessoas. Ele era muito observador e parecia compreender o que ocorria naquele lar. Era já um velho gato.
Anemoon perdia a hora de tanto contemplar os moinhos próximos de sua casa. Eram moinhos antigos e estavam lá só como preciosidades, pois outras máquinas mais modernas já os haviam substituído para a captação de energia. Entretanto, existiam, estavam conservados; suas hélices giravam e, para o menino, eles eram importantes demais: davam realidade à sua imaginação.
E numa tarde de céu azul anil claro, o menino estava sentado num banquinho sob a sombra de uma árvore de pequeno tamanho olhando para seus inspiradores moinhos, quando algumas pessoas com roupas diferentes começaram a sair de dentro deles e a caminhar para perto do menino que não acreditava no que via, coçou os olhos para tentar melhorar a visão, mas era uma imagem verdadeira e as pessoas mais se aproximavam dele.
Os moinhos passaram a rodar mais rápido, pois o vento também estava mais forte. Anemoon não piscava e seus olhos diziam não acreditar. E quando se deu conta, as pessoas estavam bem à sua frente. Sorriram para ele com ternura. O pequeno não teve condições para fugir, pois suas pernas estavam trêmulas e não poderiam sustentar o corpo de menino. E eles abaixaram e sorriram para Anemoon. Havia homens e mulheres; todos estavam vestidos com roupas muito diferentes das que ele conhecia.
Os olhinhos estavam prontos para piscar. “Quem sabe com algumas piscadas, a mágica pudesse se desfazer e tudo voltaria ao normal”, o menino pensou. Mas ele piscou muitas vezes e coçou forte os olhos, mas aquelas pessoas com aparência de bondade continuavam ali e após o pensamento do menino, eles sorriram mais e Anemoon percebeu. Na verdade, sorriram porque...
‒ Vocês sabem o meu pensamento? ‒ Anemoon perguntou espantado.
‒ Sim, podemos saber o seu pensamento – um dos homens respondeu.
‒ E agora? Vocês saberão tudo o que penso! ‒ o menino concluiu insatisfeito. ‒ O pensamento é de cada um! ‒ falou um pouquinho bravo.
‒ Calma, Anemoon! ‒ uma das mulheres pediu com muita ternura. ‒ Você já sabe o meu nome? ‒ tornou a perguntar.
‒ Sim... e também sabemos muito sobre você, menino dos moinhos – a mulher completou.
Decididamente, Anemoon não falou mais nenhuma palavra... para quê? Eles podiam ler o pensamento do menino.
Entre homens e mulheres, contavam cinco: três delas e dois deles. “Eram muito diferentes, mas de um jeito bonito e não assustador”, pensou o menino. Suas roupas eram de um cinza bem clarinho e cobriam quase todo o corpo deixando apenas as mãos, o pescoço e a cabeça à mostra. “E seus rostos eram tão bondosos!”, mais uma vez, ele pensou.
“Mas como eles saíram dos moinhos?”
‒ Se você quiser podemos conversar de forma comum com perguntas e respostas em voz alta – o homem, que já havia falado antes, sugeriu.
Anemoon olhou para o homem e concordou com a cabeça.
‒ Então, precisamos nos apresentar. Sou Trada – o homem se apresentou.
‒ Trada? Que nome esquisito!
‒ Sou Dren ‒ o outro homem se apresentou.
Anemoon estava muito surpreso.
‒ Sou Medra – a mulher que já havia conversado antes falou.
‒ Sou Cetra – também a outra.
‒ E sou Hadre – a terceira mulher falou.
O menino preferiu não fazer nenhuma observação, simplesmente falou:
‒ Prazer em conhecê-los.
‒ A alegria é muito grande em estarmos aqui com você – Trada falou.
Anemoon estava surpreso, curioso e ao mesmo tempo feliz.
Os cinco também estavam felizes.
‒ E os moinhos... Como vocês saíram de lá? ‒ o menino perguntou.
‒ Anemoon, precisávamos chegar a você e como é encantado pelos moinhos, nada melhor do que ter toda sua atenção por meio de algo de que tanto gosta – o homem começou a explicação.
Trada era o mais falante e, sem nenhuma vaidade, parecia ser o líder pelas explicações dadas.
‒ E por que eu? ‒ o menino quis saber.
Os dois homens e as três mulheres olhavam para ele com imensa bondade. E em banquinhos como o de Anemoon, eles se sentaram.
‒ Porque você, meu querido, sempre tem bons pensamentos e tanto deseja um mundo mais feliz – Medra falou. ‒ Observamos você todos os dias quando está aqui admirando seus moinhos. Pois bem, e o movimento que as hélices fazem cria energia e por meio do seu olhar se transforma em bondade em seu coração que é lançada para muitas direções... para muitas pessoas. E mesmo com a dor da ausência de seus pais, você ama e tanto amor há em seu coração.
E Anemoon observava com seus olhinhos tão brilhantes e surpresos, pois esse sentimento ele nunca compartilhara, estava em seu interior... pensava que estivesse só em seu coração e o pequenino não imaginava que seu pensamento e sentimento pudessem ser desvendados assim, tão perfeitamente. E seus olhinhos permaneciam brilhantes.
‒ Mas... quem são vocês? ‒ ele insistiu. ‒ Não apenas os nomes... de onde vieram e o que fazem? ‒ o menino insistiu.
‒ Anemoon, somos cinco habitantes de um lugar onde a bondade é o maior sentimento, onde o bem é vivenciado. E continuamente observamos os diversificados lugares e conhecemos quem são as pessoas que criam essas luzes cintilantes, pois a bondade possui uma luz muito radiante, é o oposto de sentimentos não muito bons que emitem uma nuvem triste e acinzentada. Em muitos casos, as pessoas desconhecem que pensamento e sentimento emitem formas e cores ‒ Trada fez uma observação.
‒ Mas sou apenas um menino – ele tentou explicar.
‒ Mas seus sentimentos são inteiramente brilhantes e bons – Trada falou.
‒ E o que querem de mim? ‒ o menino perguntou.
‒ Quisemos conhecê-lo porque é muito jovem e amoroso e isso nos sensibilizou. Também viemos para fortalecê-lo a continuar nesta caminhada de bondade que você já trilha para ajudar ainda inúmeras pessoas, animais e flores...
O menino suspirou e soltou um leve sorriso.
‒ Sim, penso muito em ajudar as pessoas e penso em como posso fazer. Meu avô me falou que não sou como os outros meninos... que pareço de outro mundo, mas ele não me falou de qual mundo – sorriu.
Os dois homens e as três mulheres também sorriram, eles sabiam que Anemoon, como os moinhos de vento, levaria adiante o sopro da bondade e do amor. Talvez Anemoon também fosse do mesmo mundo que eles.
E os cinco voltaram por onde vieram e os moinhos de vento levaram todos ao seu destino.
O menino acordou de seu hipnotizante cochilo. Esfregou os olhos. Olhou para os moinhos que giravam com o vento. Lembrou-se de alguma coisa, mas não dos detalhes. Sorriu... sorriu feliz, mas não por se lembrar, sorriu por olhar os moinhos e por algum motivo sentir-se com mais vontade ainda de querer ajudar o mundo, na verdade, de realizar o compromisso assumido antes de vir para o plano destes moinhos terrenos de vento.

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/





Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: http://goo.gl/OJCK2W, e verá como utilizá-lo e os vários recursos que ele nos propicia.




Nenhum comentário:

Postar um comentário