Os moinhos de Anemoon
CÍNTHIA
CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De
Londrina-PR
Quanto
mais vento, mais as hélices dos moinhos se movimentavam, elas se impulsionavam
querendo alcançar o horizonte assim como Anemoon queria partir para os lugares
criados por sua imaginação.
Ele era
um menino habitante de uma pequena e calma cidade da Holanda, morava com seus
avós; seus pais, por algum motivo, foram para outro país a fim de encontrarem
uma vida mais tranquila e próspera, mas nunca voltaram para a pequena cidade,
nem para visitar o filho que há pouco completara doze anos. E Anemoon sentia a
falta dos pais, no entanto, não compartilhava essa dor com os avós que ele
tanto amava e os avós o amavam mais e mais, costumavam dizer que os amavam até
o infinito do vento dos moinhos. Anemoon sorria.
O avô
tinha um pedaço de terra, equivalente a uma chácara simples, onde plantava, em
pouca quantidade, muitos alimentos para a família de três pessoas consumir. A
avó, ótima cozinheira, fazia comidas muito saborosas. Não eram comidas sofisticadas,
mas muito nutritivas e deliciosas; Anemoon sempre elogiava sua avó-cozinheira
predileta. Ainda havia um gato branco de nome Zank, já era da família, pois
presenciara boa parte da história dessas pessoas. Ele era muito observador e
parecia compreender o que ocorria naquele lar. Era já um velho gato.
Anemoon
perdia a hora de tanto contemplar os moinhos próximos de sua casa. Eram moinhos
antigos e estavam lá só como preciosidades, pois outras máquinas mais modernas
já os haviam substituído para a captação de energia. Entretanto, existiam,
estavam conservados; suas hélices giravam e, para o menino, eles eram
importantes demais: davam realidade à sua imaginação.
E numa
tarde de céu azul anil claro, o menino estava sentado num banquinho sob a
sombra de uma árvore de pequeno tamanho olhando para seus inspiradores moinhos,
quando algumas pessoas com roupas diferentes começaram a sair de dentro deles e
a caminhar para perto do menino que não acreditava no que via, coçou os olhos
para tentar melhorar a visão, mas era uma imagem verdadeira e as pessoas mais
se aproximavam dele.
Os
moinhos passaram a rodar mais rápido, pois o vento também estava mais forte.
Anemoon não piscava e seus olhos diziam não acreditar. E quando se deu conta,
as pessoas estavam bem à sua frente. Sorriram para ele com ternura. O pequeno
não teve condições para fugir, pois suas pernas estavam trêmulas e não poderiam
sustentar o corpo de menino. E eles abaixaram e sorriram para Anemoon. Havia
homens e mulheres; todos estavam vestidos com roupas muito diferentes das que
ele conhecia.
Os
olhinhos estavam prontos para piscar. “Quem sabe com algumas piscadas, a mágica
pudesse se desfazer e tudo voltaria ao normal”, o menino pensou. Mas ele piscou
muitas vezes e coçou forte os olhos, mas aquelas pessoas com aparência de
bondade continuavam ali e após o pensamento do menino, eles sorriram mais e
Anemoon percebeu. Na verdade, sorriram porque...
‒ Vocês
sabem o meu pensamento? ‒ Anemoon perguntou espantado.
‒ Sim,
podemos saber o seu pensamento – um dos homens respondeu.
‒ E
agora? Vocês saberão tudo o que penso! ‒ o menino concluiu insatisfeito. ‒ O
pensamento é de cada um! ‒ falou um pouquinho bravo.
‒ Calma,
Anemoon! ‒ uma das mulheres pediu com muita ternura. ‒ Você já sabe o meu nome? ‒ tornou a perguntar.
‒ Sim...
e também sabemos muito sobre você, menino dos moinhos – a mulher completou.
Decididamente,
Anemoon não falou mais nenhuma palavra... para quê? Eles podiam ler o
pensamento do menino.
Entre
homens e mulheres, contavam cinco: três delas e dois deles. “Eram muito
diferentes, mas de um jeito bonito e não assustador”, pensou o menino. Suas
roupas eram de um cinza bem clarinho e cobriam quase todo o corpo deixando
apenas as mãos, o pescoço e a cabeça à mostra. “E seus rostos eram tão bondosos!”,
mais uma vez, ele pensou.
“Mas
como eles saíram dos moinhos?”
‒ Se
você quiser podemos conversar de forma comum com perguntas e respostas em voz
alta – o homem, que já havia falado antes, sugeriu.
Anemoon
olhou para o homem e concordou com a cabeça.
‒ Então,
precisamos nos apresentar. Sou Trada – o homem se apresentou.
‒ Trada?
Que nome esquisito!
‒ Sou
Dren ‒ o outro homem se apresentou.
Anemoon
estava muito surpreso.
‒ Sou
Medra – a mulher que já havia conversado antes falou.
‒ Sou
Cetra – também a outra.
‒ E sou
Hadre – a terceira mulher falou.
O menino
preferiu não fazer nenhuma observação, simplesmente falou:
‒ Prazer
em conhecê-los.
‒ A
alegria é muito grande em estarmos aqui com você – Trada falou.
Anemoon
estava surpreso, curioso e ao mesmo tempo feliz.
Os cinco
também estavam felizes.
‒ E os
moinhos... Como vocês saíram de lá? ‒ o menino perguntou.
‒
Anemoon, precisávamos chegar a você e como é encantado pelos moinhos, nada
melhor do que ter toda sua atenção por meio de algo de que tanto gosta – o
homem começou a explicação.
Trada
era o mais falante e, sem nenhuma vaidade, parecia ser o líder pelas
explicações dadas.
‒ E por
que eu? ‒ o menino quis saber.
Os dois
homens e as três mulheres olhavam para ele com imensa bondade. E em banquinhos
como o de Anemoon, eles se sentaram.
‒ Porque
você, meu querido, sempre tem bons pensamentos e tanto deseja um mundo mais
feliz – Medra falou. ‒ Observamos você todos os dias quando está aqui admirando
seus moinhos. Pois bem, e o movimento que as hélices fazem cria energia e por
meio do seu olhar se transforma em bondade em seu coração que é lançada para
muitas direções... para muitas pessoas. E mesmo com a dor da ausência de seus
pais, você ama e tanto amor há em seu coração.
E
Anemoon observava com seus olhinhos tão brilhantes e surpresos, pois esse
sentimento ele nunca compartilhara, estava em seu interior... pensava que
estivesse só em seu coração e o pequenino não imaginava que seu pensamento e
sentimento pudessem ser desvendados assim, tão perfeitamente. E seus olhinhos
permaneciam brilhantes.
‒ Mas...
quem são vocês? ‒ ele insistiu. ‒ Não apenas os nomes... de onde vieram e o que
fazem? ‒ o menino insistiu.
‒
Anemoon, somos cinco habitantes de um lugar onde a bondade é o maior
sentimento, onde o bem é vivenciado. E continuamente observamos os
diversificados lugares e conhecemos quem são as pessoas que criam essas luzes
cintilantes, pois a bondade possui uma luz muito radiante, é o oposto de
sentimentos não muito bons que emitem uma nuvem triste e acinzentada. Em muitos
casos, as pessoas desconhecem que pensamento e sentimento emitem formas e cores
‒ Trada fez uma observação.
‒ Mas
sou apenas um menino – ele tentou explicar.
‒ Mas
seus sentimentos são inteiramente brilhantes e bons – Trada falou.
‒ E o
que querem de mim? ‒ o menino perguntou.
‒
Quisemos conhecê-lo porque é muito jovem e amoroso e isso nos sensibilizou.
Também viemos para fortalecê-lo a continuar nesta caminhada de bondade que você
já trilha para ajudar ainda inúmeras pessoas, animais e flores...
O menino
suspirou e soltou um leve sorriso.
‒ Sim,
penso muito em ajudar as pessoas e penso em como posso fazer. Meu avô me falou
que não sou como os outros meninos... que pareço de outro mundo, mas ele não me
falou de qual mundo – sorriu.
Os dois
homens e as três mulheres também sorriram, eles sabiam que Anemoon, como os
moinhos de vento, levaria adiante o sopro da bondade e do amor. Talvez Anemoon
também fosse do mesmo mundo que eles.
E os
cinco voltaram por onde vieram e os moinhos de vento levaram todos ao seu
destino.
O menino
acordou de seu hipnotizante cochilo. Esfregou os olhos. Olhou para os moinhos
que giravam com o vento. Lembrou-se de alguma coisa, mas não dos detalhes.
Sorriu... sorriu feliz, mas não por se lembrar, sorriu por olhar os moinhos e
por algum motivo sentir-se com mais vontade ainda de querer ajudar o mundo, na
verdade, de realizar o compromisso assumido antes de vir para o plano destes
moinhos terrenos de vento.
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