Revista Espírita de 1865
Allan Kardec
Parte 13
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1865, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1865 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Pode um
Espírito prever quem vencerá uma corrida de cavalos?
B. Que meios
mais eficazes há para a propagação da crença no Espiritismo?
C. De que
derivam os sonhos?
Texto para leitura
143. Uma
curiosa carta atribuída ao Espírito de Dante, publicada no jornal Charivari,
de Florença, recebeu de Kardec um comentário seco. Segundo o Codificador, não
se deveria ver na carta “mais que um simples produto da imaginação apropriado à
circunstância”, a menos que Dante tenha vindo ditá-la sem que o autor o
soubesse. De fato; a carta não possui qualquer conteúdo que justificasse sua
publicação. (Págs. 186 e 187.)
144. O número
de julho começa examinando um fato relatado em 4 de junho pelo Grand Journal,
de Paris, segundo o qual o pianista N. G. Bach, bisneto do grande João
Sebastião Bach (1685-1750), sonhou com uma pessoa que, aparecendo-lhe durante o
sono, lhe disse: “A espineta que possuis me pertenceu. Muitas vezes me serviu
para distrair meu senhor, o rei Henrique III”. (N.R.: Espineta é um instrumento
de cordas percutíveis e teclado, com mecânica e técnica iguais às do cravo.) (Págs. 189 e 190.)
145. Segundo a
aparição, o rei Henrique III, quando moço, havia composto uma ária em homenagem
a uma mulher que encontrara numa caçada e pela qual se apaixonara. Era com
referida espineta que o seu possuidor executava a ária referida. (Pág. 190.)
146. O fato
mais extraordinário ocorreu, porém, na manhã seguinte quando, ao despertar, o
Sr. Bach encontrou sobre a cama uma página de música, coberta com uma escrita
muito fina e notas microscópicas: era a peça musical que Bach ouvira durante o
sono. (Págs. 190 e 191.)
147. Albéric
Second, o autor da reportagem, acrescentou ao relato a informação de que,
segundo o jornal da Estoile, o rei Henrique III tivera, efetivamente,
uma grande paixão por Marie de Clèves, marquesa de Isles, morta ainda jovem em
15 de outubro de 1574. Por essa ocasião, um músico italiano, chamado
Baltazarini, mudou-se para a França e tornou-se um dos favoritos do rei. Teria
a espineta pertencido a ele? (Pág. 191.)
148. Kardec
comenta os fatos e esclarece que a página musical só veio às mãos do Sr. Bach
três semanas depois, quando o mesmo Espírito lhe apareceu segunda vez.
Baltazarini fora efetivamente o possuidor da espineta e o responsável pelos
fatos relatados pelo jornal parisiense, como esclareceu pessoalmente, por
intermédio do médium Sr. Morin, em reunião realizada a 9 de junho na Sociedade
Espírita de Paris. (Págs. 192 a 194.)
149. Em sua
comunicação, Baltazarini informou que o papel de música ele o tirara de uma
peça vizinha ao quarto do Sr. Bach, mas a música fora grafada no papel pelo
próprio Bach, em Espírito, o qual se serviu de seu corpo como meio de
transmissão. A letra da canção fora realmente composta pelo rei Henrique III,
que fora amigo íntimo do Sr. Bach. (Págs. 194 a 197.)
150. Um
Espírito pode prever quem vencerá uma corrida de cavalos? Essa questão foi
focalizada numa reportagem publicada também no Grand Journal, de 4 de
junho de 1865. Segundo o jornal, uma médium, tendo evocado o Espírito de um dos
mais célebres desportistas da França, obteve pelas batidas o nome do vencedor:
o cavalo Gontran. Kardec comenta o caso e diz que fatos dessa natureza não são
os que melhor servem à causa do Espiritismo. Primeiro, porque são muito raros;
segundo, porque falseariam o seu espírito, fazendo crer que a mediunidade é um
meio de adivinhação. (Págs. 197 e 198.)
151. O
Espiritismo não tem esse propósito. Os Espíritos vêm para nos tornar melhores e
não para nos revelar ou nos indicar os meios de ganhar dinheiro na certa e sem
correr perigo. Todos os que, de desígnio premeditado, julgaram encontrar no
Espiritismo um novo elemento de especulação, equivocaram-se: as mistificações ridículas
e, por vezes, a ruína, em vez da fortuna, têm sido o fruto do seu engano. (Pág. 199.)
152. Para
propagar a crença no Espiritismo há meios mais eficazes e mais morais: as
consolações que ele proporciona, o bem que faz, a coragem que dá nas aflições.
Diremos, assim, aos que querem servir utilmente à causa e fazer uma propaganda
verdadeiramente frutífera: Mostrai que o Espiritismo vos tornou melhores. Fazei
que, em vos vendo transformados, cada um possa dizer: “Eis os milagres desta
crença; é, pois, uma coisa boa”. A verdadeira propaganda de uma doutrina
essencialmente moral se faz tocando o coração e não visando a bolsa. (Pág.
200.)
153.
Reportando-se à previsão relativa à corrida de cavalos, observa Kardec que os
fatos de previsão desse gênero são muito raros e podem ser considerados
excepcionais. Aliás, as predições para dia certo, ou com um caráter de precisão
muito grande, devem ser sempre tomadas com suspeitas. Diferentemente se dá com
as previsões que os Espíritos fazem acerca dos grandes acontecimentos futuros,
as quais têm sua utilidade, para nos manter alertas e nos induzir a marchar no
bom caminho. (Págs. 200 e 201.)
154. Falando
sobre os sonhos, Kardec diz que é verdadeiramente estranho que um fenômeno tão
vulgar tenha sido objeto de tanta indiferença de parte da Ciência e que ainda
hoje se esteja a perguntar a sua causa. O sonho, o sonambulismo, o êxtase, a
dupla vista, o pressentimento, a intuição do futuro, a penetração do pensamento
– afirma o Codificador – não passam de variantes e graus de um mesmo princípio:
a emancipação da alma, mais ou menos desprendida da matéria. (Pág. 202.)
155. É evidente
– reconhece Kardec – que o Espiritismo não dá conta precisa de todas as
variedades que os sonhos apresentam, mas nos oferece o princípio deles, o que
já é muito, porquanto os que podemos explicar nos põem na via dos outros.
Segundo as explicações dadas por um dos melhores médiuns da Sociedade Espírita
de Paris, em estado de sonambulismo, os sonhos podem-se dividir em três
categorias:
1ª – os sonhos
provocados pela ação da matéria e dos sentidos sobre o Espírito, ou seja,
aqueles em que o organismo representa um papel preponderante pela mais íntima
união entre o corpo e a alma: a pessoa se lembra claramente do que ocorreu e
conserva disso uma impressão durável.
2ª – os sonhos
chamados mistos, isto é, que participam ao mesmo tempo da matéria e do
Espírito: o desprendimento é aí mais completo e a pessoa se lembra dos fatos ao
despertar, para os esquecer quase que instantaneamente, a menos que uma
particularidade venha despertar a lembrança.
3ª – os sonhos
etéreos ou puramente espirituais, isto é, produzidos apenas pelo Espírito, que
está desprendido da matéria tanto quanto o pode estar no estado de encarnação:
a pessoa não se recorda, ou tem somente uma vaga lembrança de que sonhou e
nenhuma circunstância pode trazer à memória os incidentes do sono. (Págs. 202 a
204.)
Respostas às questões propostas
A. Pode um
Espírito prever quem vencerá uma corrida de cavalos?
O fato é
possível, mas, ao comentar tal assunto, Kardec disse que fatos dessa natureza
não são os que melhor servem à causa do Espiritismo, primeiro porque são muito
raros; segundo, porque falseariam o seu espírito, fazendo crer que a
mediunidade é um meio de adivinhação. O
Espiritismo não tem esse propósito. Os Espíritos vêm para nos tornar melhores e
não para nos revelar ou nos indicar os meios de ganhar dinheiro na certa e sem
correr perigo. Todos os que, de desígnio premeditado, julgaram encontrar no Espiritismo
um novo elemento de especulação, equivocaram-se: as mistificações ridículas e,
por vezes, a ruína, em vez da fortuna, têm sido o fruto do seu engano. (Revista
Espírita de 1865, pp. 197 a 199.)
B. Que meios
mais eficazes há para a propagação da crença no Espiritismo?
Segundo Kardec,
os meios mais eficazes são as consolações que ele proporciona, o bem que faz, a
coragem que nos dá nas horas de aflições. Aos que querem servir utilmente à
causa e fazer uma propaganda verdadeiramente frutífera, recomenda Kardec:
“Mostrai que o Espiritismo vos tornou melhores. Fazei que, em vos vendo
transformados, cada um possa dizer: ‘Eis os milagres desta crença; é, pois, uma
coisa boa’. A verdadeira propaganda de uma doutrina essencialmente moral se faz
tocando o coração e não visando a bolsa”. (Obra citada, pág. 200.)
C. De que
derivam os sonhos?
O sonho, o
sonambulismo, o êxtase, a dupla vista, o pressentimento, a intuição do futuro,
a penetração do pensamento não passam de variantes e graus de um mesmo princípio:
a emancipação da alma, mais ou menos desprendida da matéria. É evidente –
reconhece Kardec – que o Espiritismo não dá conta precisa de todas as
variedades que os sonhos apresentam, mas nos oferece o princípio deles, o que
já é muito, porquanto os que podemos explicar nos põem na via dos outros. (Obra
citada, pp. 202 a 204.)
Observação:
Para
acessar a Parte 12 deste estudo, publicada na semana passada, clique
aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/05/revista-espirita-de-1865-allan-kardec_01973650226.html
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