Revista Espírita de 1865
Allan Kardec
Parte 14
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1865, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1865 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. O estado
moral de um indivíduo pode ser um obstáculo à sua cura?
B. Por que a
educação moral dos desencarnados é mais fácil que a dos encarnados?
C. Como o
cardeal Wiseman definiu o Espiritismo?
Texto para leitura
156. São esses
sonhos inconscientes que proporcionam essas sensações indefiníveis de
contentamento e de felicidade de que não nos damos conta e que são um antegozo
daquilo de que desfrutam os Espíritos felizes.
(Pág. 204.)
157. O
esquecimento do sonho é um dos caracteres do sonambulismo. Ora, do primeiro
grau de lucidez, por vezes o Espírito passa a um grau mais elevado, que é
diferente do êxtase, e no qual adquire novas ideias e percepções mais sutis.
Saindo desse segundo grau, para entrar no primeiro grau, não se lembra do que
disse nem do que viu. Em seguida, passando para o estado de vigília, há novo
esquecimento. Existe, pois, grande analogia entre os dois estados sonambúlicos
e as diversas categorias de sonhos. Para cada degrau que sobe, o Espírito
eleva-se acima de uma camada de garoa e suas percepções tornam-se mais claras.
A vontade do magnetizador pode por vezes dissipar essa garoa, esse véu
fluídico, e propiciar a lembrança. (Págs. 204 e 205.)
158. Por que a
educação moral dos desencarnados é mais fácil que a dos encarnados? Essa
questão foi suscitada na Sociedade Espírita de Paris pelo seguinte fato: um
jovem cego há 12 anos tinha sido recolhido por um espírita dedicado, que se
propôs curá-lo pelo magnetismo, pois os Espíritos haviam dito que isso era
possível. Ocorre que o jovem, em vez de se mostrar reconhecido pela bondade do
amigo, só teve ingratidão e mau procedimento, dando provas do pior caráter.
(Pág. 205.)
159. A
enfermidade do rapaz não era incurável, explicou São Luís. Uma magnetização
espiritual praticada com zelo, devotamento e perseverança certamente teria
êxito, ajudada por um tratamento médico destinado a corrigir seu sangue
viciado. Sua visão teria sensível melhora, se os maus fluidos de que estava
cercado não opusessem um obstáculo à penetração dos bons fluidos. “No estado em
que se encontra – ajuntou São Luís –, a ação magnética será impotente enquanto,
por sua vontade e sua melhora, não se desembaraçar desses fluidos perniciosos.
É, pois, uma cura moral que se deve obter, antes de buscar a cura física.”
(Págs. 205 e 206.)
160. Um retorno
sério sobre si mesmo era a única coisa que poderia tornar eficazes os cuidados
de seu magnetizador; do contrário, perder-se-ia o pouco de luz que lhe restava
e novas provações o acometeriam. Os maus Espíritos que o assediavam só agiam
assim porque eram atraídos pela afinidade com os seus maus pendores. À medida
que se melhorasse, eles se afastariam e a ação magnética produziria o efeito
desejado. (Pág. 206.)
161. A
instrução precedente revela um fato importante: o obstáculo oposto, em certos
casos, pelo estado moral de um indivíduo à cura dos males físicos. E foi esse
fato que motivou a pergunta inicial proposta aos Espíritos na Sociedade
Espírita de Paris (veja o item 23). (Pág. 206.)
162. Seis
respostas foram obtidas, todas concordantes entre si. A Revue transcreve duas
delas, as que foram assinadas por Erasto e Lamennais, que assim se exprimiram:
I – Como o desencarnado vê manifestamente o que se passa e os exemplos
terríveis da vida, compreende mais rapidamente o que lhe dizem e recomendam. II
– A adversidade amadurece o pensamento: é o que se dá com os Espíritos, que
veem de perto as consequências de seu passado, o que não ocorre com os
encarnados, envolvidos que estão pelas ilusões e quimeras da existência
corpórea. III – Entre os encarnados, uns e outros são arrastados pela vida
mesma, ao passo que os desencarnados veem, escutam e se arrependem com melhor
vontade. IV – Os desencarnados aos quais a matéria não mais impõe suas leis e
não mais fornece meios de satisfazer seus maus apetites e, por isso, não têm
mais desejos inconfessáveis, são mais aptos a aceitar os conselhos que lhes são
dados. (Págs. 206 a 208.)
163. Aludindo à
morte de vários companheiros da Sociedade Espírita de Paris, assunto suscitado
em reunião realizada em maio, São Luís grafou linda mensagem em que, pedindo
que não os lamentassem, informa que novos companheiros viriam em substituição
dos que partiam. No final, ele recomenda aos espíritas que estudem de maneira
séria e digna a doutrina e, sobretudo, modifiquem o que ainda tragam de imperfeição,
porquanto a morada que os aguarda é muito bela, mas é preciso tornar-se digno
para habitá-la. (Págs. 208 e 209.)
164.
Koenigsfeld, uma comuna de apenas 400 habitantes, situada perto de Villingen,
na Floresta Negra, jamais registrou em cinquenta anos de existência um caso
qualquer de ofensa às leis, constituindo exemplo de comunidade em que a
solidariedade e a caridade imperam. Lamennais diz, em mensagem na Sociedade
Espírita de Paris, que a pequena cidade é, em miniatura, o que o mundo poderá
ser um dia, quando a caridade for praticada por todos os homens. Kardec
concorda e observa que é o egoísmo que causa a maior parte dos males da Terra,
porque mata a benevolência, a condescendência, a indulgência e todas as
qualidades que fazem o encanto e a segurança das relações sociais. (Págs. 209 e
210.)
165. Tudo – diz
o Codificador – está submetido à lei do progresso. Os mundos também progridem
física e moralmente e, de mundo de expiação e provas, a Terra tornar-se-á
também um mundo feliz, um lugar de repouso para os bons Espíritos, um mundo não
mais de punição, mas de recompensa. (Págs. 210 e 211.)
166. Após
transcrever carta de um correspondente da Revue, o qual relata alguns casos de
aparições espontâneas de Espíritos, Kardec diz que fatos dessa natureza são
numerosos e só o Espiritismo dá a respeito deles uma explicação racional. É
preciso, porém, cuidado para verificar a sua autenticidade, evitando-se
atribuir cegamente aos Espíritos tudo o que ocorre ao nosso redor. (Págs. 211 a
213.)
167. Segundo o
periódico A Patrie de 18/3/1865, o cardeal Wiseman, que acabara de
falecer na Inglaterra, acreditava no Espiritismo. De acordo com o jornal Spiritualist
Magazine, o cardeal havia permitido que dois sacerdotes continuassem
seus estudos e servissem como médiuns, dizendo-lhes: “Eu mesmo creio firmemente
no Espiritismo e não poderia ser um bom membro da Igreja se tivesse a menor
dúvida a respeito”. Depois de desencarnar, valendo-se da sra. Delanne como
médium, Wiseman confirmou a informação. Sim, ele fora espírita convicto porque
o Espiritismo é a realização de todas as profecias, o desenvolvimento da
religião, o esclarecimento dos mistérios, o caminho reto que conduz ao
verdadeiro objetivo e à perfeição. (Págs. 213 e 214.)
168.
Manifestando-se sobre o assunto, Lamennais adverte: “A religião espiritualista
é a alma do Cristianismo: é preciso não esquecer. Em meio do materialismo, do culto
protestante e do católico, o cardeal Wiseman ousou proclamar a alma antes do
corpo, o espírito antes da letra”. “Essas espécies de coragem são raras nos
dois cleros, e é um espetáculo incomum, com efeito, o ato de fé espírita do
cardeal Wiseman.” (Pág. 216.)
Respostas às questões propostas
A. O estado
moral de um indivíduo pode ser um obstáculo à sua cura?
Pode, sim, ser
um obstáculo. Foi o que ocorreu com um jovem cego que um espírita dedicado se
propôs curar por meio do magnetismo. Ocorre que o jovem, em vez de se mostrar
reconhecido pela bondade do amigo, só teve ingratidão e mau procedimento, dando
provas do pior caráter. Segundo São Luís, a enfermidade do rapaz não era
incurável. Uma magnetização espiritual praticada com zelo, devotamento e
perseverança certamente teria êxito. Sua visão teria sensível melhora, se os
maus fluidos de que estava cercado não opusessem um obstáculo à penetração dos
bons fluidos. “No estado em que se encontra – explicou São Luís –, a ação
magnética será impotente enquanto, por sua vontade e sua melhora, não se desembaraçar
desses fluidos perniciosos. É, pois, uma cura moral que se deve obter, antes de
buscar a cura física.” Um retorno sério sobre si mesmo era a única coisa que
poderia tornar eficazes os cuidados de seu magnetizador; do contrário,
perder-se-ia o pouco de luz que lhe restava e novas provações o acometeriam. Os
maus Espíritos que o assediavam só agiam assim porque eram atraídos pela
afinidade com os seus maus pendores. À medida que se melhorasse, eles se
afastariam e a ação magnética produziria o efeito desejado. (Revista
Espírita de 1865, pp. 205 e 206.)
B. Por que a
educação moral dos desencarnados é mais fácil que a dos encarnados?
Esta questão
foi proposta por Kardec na Sociedade Espírita de Paris e os Espíritos de Erasto
e Lamennais a elucidaram da seguinte forma: 1) Como o desencarnado vê
manifestamente o que se passa e os exemplos terríveis da vida, compreende mais
rapidamente o que lhe dizem e recomendam. 2) A adversidade amadurece o
pensamento: é o que se dá com os Espíritos, que veem de perto as consequências
de seu passado, o que não ocorre com os encarnados, envolvidos que estão pelas
ilusões e quimeras da existência corpórea. 3) Entre os encarnados, uns e outros
são arrastados pela vida mesma, ao passo que os desencarnados veem, escutam e
se arrependem com melhor vontade. 4) Os desencarnados aos quais a matéria não
mais impõe suas leis e não mais fornece meios de satisfazer seus maus apetites,
e, por isso, não têm mais desejos inconfessáveis, são mais aptos a aceitar os
conselhos que lhes são dados. (Obra citada, pp. 206 a 208.)
C. Como o
cardeal Wiseman definiu o Espiritismo?
O cardeal
Wiseman, segundo notícia publicada pelo jornal A Patrie de 18/3/1865 por
ocasião do seu falecimento, acreditava firmemente no Espiritismo. De acordo com
o jornal Spiritualist Magazine, o cardeal havia permitido que dois
sacerdotes continuassem seus estudos e servissem como médiuns, dizendo-lhes:
“Eu mesmo creio firmemente no Espiritismo e não poderia ser um bom membro da
Igreja se tivesse a menor dúvida a respeito”. Depois de desencarnar, valendo-se
da Sra. Delanne como médium, Wiseman confirmou a informação. Sim, ele fora
espírita convicto, porque – segundo ele - o Espiritismo é a realização de todas
as profecias, o desenvolvimento da religião, o esclarecimento dos mistérios, o
caminho reto que conduz ao verdadeiro objetivo e à perfeição. (Obra citada, pp.
213 e 214.)
Observação:
Para
acessar a Parte 13 deste estudo, publicada na semana passada, clique
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