Comunicações
mediúnicas entre vivos
Ernesto
Bozzano
Parte
20
Damos
prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos,
de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J.
Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos
que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada
parte do estudo compõe-se de:
a)
questões preliminares;
b)
texto para leitura.
As
respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para
leitura.
Este
estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões
preliminares
A.
Bozzano reproduz nesta obra interessante relato feito pelo Cel. Collet em que
fica patente a participação de uma entidade espiritual na comunicação entre
vivos. Por que Bozzano defende essa ideia?
B.
No seu relato, o Cel. Collet reporta também um caso de predição que depois se
confirmou. Como a entidade espiritual “Rupont”, que fez a predição, explicou o
fenômeno?
C.
Há nesta obra um longo relato da experiência conhecida pelo nome de
“correspondência cruzada”. Em que consiste esse fenômeno?
Texto
para leitura
294.
Passando a tratar de episódios do segundo grupo das manifestações em exame,
devo fazer notar que se pelas aparências exteriores tais episódios pertençam
ainda à categoria das comunicações mediúnicas entre vivos, na realidade não se
mostram tais, porquanto nelas já não se trata de duas ou mais personalidades
vivas que conversam entre si, quer telepaticamente, quer por intervenção da
personalidade espiritual de um deles, mas que se trata de duas pessoas ou de
dois grupos de pessoas que se comunicam mediunicamente a distância, por meio de
uma entidade espiritual que se faz de mensageiro entre ditos grupos ou pessoas.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
295.
Assim sendo, claro é que os fenômenos de tal natureza possam ainda ser
considerados como pertencentes à categoria das comunicações mediúnicas entre
vivos quando não se demonstrou realmente a sua gênese espírita, pois se a isto
se chegasse um dia, então deveriam classificar-se entre as manifestações de
mortos, faltando nelas a característica essencial nas comunicações entre vivos,
que é a comunicação direta entre duas personalidades espirituais encarnadas.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
296.
Caso 30 – Aparece na Revue Scientifique et Morale du Spiritisme,
1909, págs. 6/11 e 39/47. O Coronel Collet refere uma longa série de
interessantes experiências mediúnicas, obtidas em seu seio familiar por
intermédio da tiptologia, entre as quais se encontram algumas da natureza aqui
considerada. Escreve ele:
A
fim de conferir caráter científico a nossas experiências, registramo-las
escrupulosamente, anotando-lhes os resultados, tanto positivos como negativos.
Durante certa viagem, tentamos algumas experiências de “telegrafia sem fio”,
prestando-se a ela “Rupont”, nosso “guia espiritual”, com resultados medíocres.
Sexta-feira,
6 de setembro de 1907, eu e a minha esposa nos encontrávamos em Constança. Pela
noite, no hotel, recordamos que, naquele dia e hora, em Nancy, nossos amigos, o
casal C. F., faziam a sua sessão semanal, pelo que resolvemos enviar-lhes uma
mensagem tiptológica. Na falta de um tripé, servimo-nos de uma cadeira. Não
tardou a manifestar-se “Rupont”, que nos informou que na casa do casal C. F. se
achavam cinco pessoas reunidas e que a sessão já havia começado. O número de
cinco nos surpreendeu, porque, com a nossa partida, o número de componentes do
grupo se havia reduzido a quatro. Devido à incomodidade do nosso aparelho
tiptológico, não pedimos explicações e nos limitamos a pedir a “Rupont” que
transmitisse àqueles amigos uma saudação firmada com o meu nome: Collet.
Quando,
nos princípios de outubro, voltamos para Nancy, o casal C. F. nos disse:
“Durante vossa ausência recebemos uma mensagem curiosa assim concebida:
“Pensamos sempre em vós. Saudações afetuosas a cada um. Collet em Bon...” Esta
última palavra não foi terminada, porém não podia significar “Bondy”, aonde
pretendia ir, pois os julgávamos na Suíça. O agente misterioso não se deu a
conhecer”.
Pois
bem, tais palavras eram a expressão exata, mas concisa, da nossa mensagem
enviada de Constança e, comparando as notas tomadas de uma e outra parte,
verificou-se a perfeita concordância do dia e hora, como a presença de cinco
pessoas, e não de quatro, na sessão. Quanto à palavra inacabada – Bon... –
certamente que representava o começo da palavra Constança, em que a letra B foi
registrada erradamente em lugar da letra C, sua vizinha.
Não
indica tudo isto a ação inteligente, voluntária e livre de um ser consciente,
que só poderia ser um “espírito”? (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo F)
297.
Prossegue o Coronel Collet:
Tivemos,
porém, ainda outra surpresa. Regressados a Nancy, de Paris, última etapa da
nossa viagem, encontramos na rua o Sr. R., o qual se mostrou surpreso ao
ver-nos, e perguntou:
–
Já de volta? Vosso genro não os esperava antes de domingo!
–
Chegamos ontem à noite, 10 de outubro. Voltamos uns dias antes do combinado.
–
Pois isto é extraordinário. Há um mês, minha filha assistiu a uma sessão em
casa da Sra. M. N., durante a qual se perguntou a “Rupont” em que dia
regressariam a Nancy e ele respondeu: “Quinta-feira, 10 de outubro”, e a
predição se realizou.
Fui
à casa da Sra. M. N., que me fez ler a ata da sessão de 7 de setembro, na qual
o incidente em questão se achava narrado nos seguintes termos: “Pedimos a
“Rupont” para dizer em que dia o casal Collet estaria de regresso a Nancy, ao
que respondeu: “Em 10 de outubro, que cai numa quinta-feira”.
Na
próxima sessão em casa da Sra. M. N., perguntei a “Rupont”:
–
Conhece, então, o futuro?
–
Só Deus o conhece. Não fiz outra coisa senão sugerir à Sra. Collet a ideia de
regressar a Nancy a 10 de outubro e isso a fim de que se realizasse a minha
predição.
–
Quando e onde a sugestionaste em tal sentido?
–
Achava-se ela na casa do Comandante F. na rua Lécluse, na noite de 9 de
outubro.
Pois
bem, verdade é que nos encontrávamos na casa do referido militar, que,
cumprimentando-nos, perguntou a minha esposa:
–
Quando voltaremos a ver-nos?
–
Somos esperados em Nancy no próximo domingo, porém, neste momento, estou
pensando que será melhor partirmos amanhã mesmo, pois o bom tempo já não deve
durar muito, de modo que nos despedimos.
Tão
imprevista decisão de minha esposa não deixou de surpreender-me, porém,
pensando bem, me pareceu razoável.
Tal
incidente absolutamente certo, unido a outros análogos, por nós obtidos, não
indica a existência de uma influência extrínseca, inteligente e voluntária,
capaz de sugestionar nossa mente para o bem ou para o mal? Os pensadores de
todos os tempos se referem com frequência a tal possibilidade e observo que,
com a mesma, poderia explicar-se a gênese de certas induções misteriosas, de
certos impulsos súbitos, como de tantas inspirações geniais que a
psicofisiologia materialista não chegará a elucidar nunca, por esforçar-se em
sustentar hipóteses gratuitas e inverossímeis.
A
30 de março de 1908 eu me encontrava em Nice, com minha esposa, e na hora
aproximada àquela em que se realizava a sessão em Nancy, na casa do casal M.
N., sentamo-nos ao redor de uma mesinha encontrada no hotel e logo “Rupont” nos
ditou o seguinte comunicado:
“Pensamos
em vós. Quando voltareis?” (firmado M. N. e C. N.).
Pedimos
a “Rupont” que transmitisse a seguinte resposta:
“Voltaremos
na quarta-feira.”
Poucos
minutos depois, “Rupont” se manifestou de novo, ditando as seguintes palavras:
“Não pude transmitir a resposta, porque o casal M. N. já havia terminado a
sessão.”
Em
nossa volta a Nancy pudemos verificar que a mensagem do casal M. N. havia sido
corretamente transmitida a nós, mas que a nossa resposta não chegara ao seu
destino, pois que os meus amigos haviam suspendido a sessão logo após haverem
encarregado “Rupont” de transmitir a mensagem. A experiência, pois, foi
magnífica.
Antes
de deixar Walchwil para ir a Lugano, havíamos encarregado “Rupont” de
transmitir ao casal C.F. algumas palavras em latim (com o fim de enviar um
comunicado imprevisível para eles), porém ignorando o êxito da experiência.
No
dia 11 de setembro, na hora em que o referido casal devia realizar a sua sessão
em Nancy, “Rupont” se manifestou e ditou-lhes, pelo “cartão alfabético”, as
seguintes palavras: “Amanhã recebereis a prova escrita de que eu transmiti a
vossa mensagem, mas eles não entenderam nada e não me deixaram terminar”.
Com
efeito, a 14 de setembro recebíamos um cartão postal da Sra. C. F., no qual
informava-nos de que “Rupont” lhes havia transmitido, a nosso pedido, umas
palavras incompreensíveis.
Outra
noite, na casa do casal M. N., nos transmitiu esse princípio de frase: “Os usos
e costumes de antigamente serão um dia...”. Nesse ponto, parou e disse: “A
continuação, quinta-feira. Boa noite”. E assim terminou a sessão, antes da hora
habitual.
Na
quinta-feira seguinte, na sessão em casa da Sra. M. T., com grande surpresa dos
assistentes, que nada sabiam a respeito, uma personalidade mediúnica se
manifestou para ditar estas palavras, que aparentemente não tinham sentido
algum... “a verdade da nova religião por vós preconizada”. Era a continuação da
frase de “Rupont”, começada em outro local e entre outros assistentes. Eu então
juntei as duas partes da frase, fazendo notar seu sentido e o assombro de todos
se converteu em grande admiração.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo F)
298.
Tal é o interessante relato do Cel. Collet. Se se consideram em conjunto os
vários episódios que nele se contêm, parece-me difícil evitar a conclusão de
que a melhor explicação dos ditos episódios é a de reconhecer sua origem
genuinamente espírita, pois neles se notam circunstâncias de fatos
inexplicáveis com a comunicação mediúnica entre diversos grupos de
experimentadores. Assim é, por exemplo, quando o espírito mensageiro “Rupont”,
encarregado de transmitir a Nancy uma dada resposta, volta dizendo que não
havia podido transmitir a resposta, porque o casal M. N. havia terminado a
sessão. Como explicá-lo pela comunicação mediúnica entre vivos? Uma mensagem
telepática, pura e simples, segue fatalmente o caminho que, física ou
psiquicamente deve seguir, e nunca pode voltar atrás para dizer: “Aviso-os de
que não encontrei a pessoa à qual devia transmitir o vosso pensamento”. Um ato
assim não pode ser realizado senão por uma autêntica personalidade espiritual.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
299.
De tal ponto de vista, mostra-se igualmente interessante a transmissão
fragmentária de uma frase a dois círculos diversos e a um tempo diferente,
indício da presença, nas sessões, de uma vontade extrínseca, que pensa sempre
em novos métodos experimentais, a fim de melhor convencer os assistentes acerca
de sua própria existência independente. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo F)
300.
É também interessante a predição do dia do regresso dos Collet a Nancy,
realizada por sugestão de “Rupont”, que exorbita dos limites assinalados nas
comunicações mediúnicas entre vivos, tendendo a confirmar ulteriormente a
hipótese da presença real, nas sessões, de uma entidade espiritual
independente. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo F)
301.
Caso 31 – Tiro-o dos Annales des Sciences Psychiques (1914, págs.
1/11), que é relatado pelo Dr. Gustave Geley, ex-diretor do Instituto
Metapsíquico Internacional, com sede em Paris. Trata-se de um longo e
interessantíssimo relato, de um gênero de experiências conhecidas pelo nome de
“correspondência cruzada” (1). Ocupa ele 22 colunas da referida revista,
portanto terei de limitar-me a narrar alguns episódios, fazendo-os seguir dos
comentários do Dr. Geley, que assim escreve:
Devo
o conhecimento dos fatos que vou narrar a uma pessoa muito conhecida no campo
das pesquisas psíquicas: a Sra. De W.; tais fatos se deram sem ser provocados,
de modo absolutamente espontâneo e inesperado. A principal protagonista deles é
a Sra. De W., que é uma espírita convicta, conquanto as suas convicções não
tenham a mínima influência sobre o seu espírito crítico. Sua atual contribuição
ao estudo da “correspondência cruzada” merece a gratidão de todos os
investigadores das pesquisas psíquicas, qualquer que possa ser a opinião deles
a respeito da gênese desse fenômeno.
A
Sra. De W. não possui faculdades mediúnicas e vale-se de duas sensitivas, cujos
nomes não são citados por motivo de uma consideração especial e somente são
designadas pelas iniciais, de Sra. T. e Srta. R.
Na
ocasião das experiências em causa, a Sra. T. achava-se em Paris, onde reside
também a Sra. De W., ao passo que a Srta. R. estava em férias à beira-mar, em
Wimereux. Ambas são médiuns escreventes e a Sra. T. é também vidente, de modo
que a ouviremos descrever, com exatidão, cenas que, no momento, vê se
desenvolverem a distância.
Durante
as sessões, percebe ela as personalidades mediúnicas sob a forma de “núcleos
luminosos”. Participam das sessões apenas três entidades: a principal, que
inicia e dirige os trabalhos, chama-se “Rodolfo” e diz que é ajudado por um
outro espírito chamado “Carlos”, que desenvolve uma ação muda, e finalmente
outra personalidade espiritual que só se manifestou uma vez e que se chama
“Emília”. É a Sra. De W. quem redige os relatos dos fatos, no fim de cada
sessão, e o faz de modo preciso e completo. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo F) (Continua no próximo número.)
Respostas
às questões preliminares
A.
Bozzano reproduz nesta obra interessante relato feito pelo Cel. Collet em que
fica patente a participação de uma entidade espiritual na comunicação entre
vivos. Por que Bozzano defende essa ideia?
Na
comunicação feita entre dois grupos de experimentadores, tendo como
intermediário o mensageiro “Rupont”, este disse que não foi possível transmitir
determinada mensagem porque o casal M. N., destinatário da comunicação, havia
terminado a sessão. Ora, uma mensagem telepática, pura e simples, segue fatalmente
o caminho que, física ou psiquicamente, deve seguir, e nunca pode voltar atrás
para dizer: “Aviso-os de que não encontrei a pessoa à qual devia transmitir o
vosso pensamento”. Um ato assim não pode ser realizado senão por uma autêntica
personalidade espiritual. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo F)
O
casal M. N. havia pedido a “Rupont” que informasse em que dia o casal Collet
estaria de regresso a Nancy. Ele respondeu: “Em 10 de outubro, que cai numa
quinta-feira”. A viagem ocorreria alguns dias depois, mas a predição se
confirmou, pois o casal Collet regressou realmente no dia 10. Na sessão
seguinte, perguntaram a “Rupont”: – Conhece, então, o futuro? Ele respondeu: –
Só Deus o conhece. Não fiz outra coisa senão sugerir à Sra. Collet a ideia de
regressar a Nancy a 10 de outubro e isso a fim de que se realizasse a minha
predição. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo F)
C.
Há nesta obra um longo relato da experiência conhecida pelo nome de
“correspondência cruzada”. Em que consiste esse fenômeno?
Correspondência
cruzada (cross-correspondence) se diz da mensagem supranormal obtida por
diferentes médiuns, cada um dos quais obtém dela uma parte que por si só não
forma sentido e precisa da outra parte para se tornar inteligível. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
Observação:
Para acessar a Parte 19 deste estudo, publicada na semana passada,
clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/06/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos_01209419329.html
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