quinta-feira, 7 de maio de 2015

Pérolas literárias (97)



Ouça, mãezinha

Maria Dolores

Quero lembrar, mamãe, a vida de criança
quando você me punha de mãos postas
e ensinava-me a oração:
– “Pai nosso, que estais no Céu,
santificado seja o vosso nome…”
Depois da prece, ao desunir-me as mãos,
você me esclarecia:
– “Todos somos irmãos,
a lei de Deus é praticar o bem,
perdoar e servir sem perguntar a quem.”
 No entanto, logo após, se alguém
me molestava, você perdia o rosto amigo
e protestava incontinenti:
– “Quem ferir a você há de se haver comigo!”

Se me entregava à rebeldia,
quebrando o prato ou rasgando a lição,
você me recolhia junto ao peito,
e se os vizinhos nos aconselhavam
a fugir da superproteção,
você justificava com seu jeito:
– “Ninguém nasce perfeito,
eu só sei que sou mãe…”

Se parentes e amigos me acusavam
pelos erros que fiz,
você me defendia revoltada,
mostrando-se infeliz…
E depois, a fitar-me enternecidamente,
você falava assim:
– “Não creia nas intrigas dessa gente
que nada vale para mim.
Tenho em você um anjo que não erra,
que apareceu na Terra
para grande missão…
Será você em nossa casa
o nosso apoio e a nossa salvação!”

Eu tudo ouvia num deslumbramento…
Depois, mamãe, o tempo, igual ao vento,
veio e varreu as suas profecias.
Quando cresci, cheguei a acreditar
que você fosse
egoísta e antiquada, de ânimo violento.
E, acalentando estranhas fantasias,
troquei o nosso lar por estradas sombrias…
Tudo o que então sofri não sei contar.
Muitas vezes chorei
meditando em você, triste sozinha,
nas aflições e mágoas que lhe dei,
a humilhar-se e lutar por culpa minha!

Um dia regressei
sobre os meus próprios passos.
Tive saudade de você…
Você me abriu os braços…
Não quis saber o que eu fizera,
nem como nem por quê…
E ao relatar meus grandes infortúnios,
vi pranto nos seus olhos.
Seu carinho enlaçou-me e você me falou,
cariciosamente,
no mesmo antigo e doce tom de voz:
– “Nunca perca a esperança, meu tesouro!
Deus terá novo rumo para nós.”

Hoje, passado tanto tempo,
venho vê-la e beijá-la, mãe querida!
Não preciso explicar que não fui anjo,
nem gênio salvador.
Quero apenas dizer que o seu imenso amor
fortaleceu-me a fé e iluminou-me a vida!
E se posso pedir algo de novo,
embora não mereça,
abrace-me e perdoe… perdoe e esqueça
as lâminas e espinhos
que lhe finquei no peito
em forma de aflição.
E depois da oração
que você me ensinava,
diga, mamãe, enquanto estamos sós:
– “Nunca perca a esperança, meu tesouro!
Deus terá novo rumo para nós.”


Do cap. 18 do livro Astronautas do Além, de autoria de Francisco Cândido Xavier, J. Herculano Pires e Espíritos Diversos.


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