quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Pílulas gramaticais (36)


Muito utilizado na conversação comum, o verbo contar significa: descrever, referir, relatar, mas não tem o significado de dizer ou afirmar.
São corretas, portanto, frases deste tipo:
·        O náufrago contou como se salvou do acidente.
·        As mulheres contaram as torturas do cárcere.
·        Meu avô contava lindas histórias.
·        É preciso contar direitinho o que houve.
·        Ler e contar histórias faz bem.
Evitemos, contudo, por errôneas, construções deste tipo:
·        O João contou que o alarme estava desligado.
·        O deputado contou que não acredita no governo.
·        Conte a seu pai que estamos bem aqui.
·        Meu pai contou que quando aqui chegou era tudo mato.
O leitor deve ter percebido que o segredo, quanto ao uso correto do verbo contar, é evitar acrescentar-lhe o vocábulo “que”.  Quem conta, conta alguma coisa, mas jamais conta que...

*

Na língua portuguesa, o som das letras “e” e “o”, quando presentes em uma sílaba tônica, ora é aberto, ora é fechado. Nos vocábulos seguintes, o som da vogal tônica é fechado:
gafanhotos (ô)
ginete (ê)
globos (ô)
golfos (ô)
gostos (ô)
gozos (ô)
grumete (ê)
ledo (ê)
lobo e lobos (animal) (ô)
misantropo (ô)
molho (de tomate) (ô).


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O encanto da lua


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR

Nas noites, quando a lua podia ser vista, lá estava seu Gregório, encantado, com a luz do céu. E era mais uma dessas noites. Então, saiu do seu casebre - na área rural - e puxou uma cadeira, no quintal de terra, para apreciar a brilhante senhora.
Quanto encantamento havia em seu olhar!
Ficava minutos inteiros, sem piscar, totalmente vidrado nessa imagem do alto. Junto a esse fascínio, mil formas tomavam cor em sua lembrança.
O pensamento voltava desde sua tenra idade e alcançava os últimos acontecimentos do presente. Esse senhor fez um acordo consigo, de que tudo o que vivesse seria aprendizagem. Os fatos bem-sucedidos e de alegria seriam relembrados quando precisasse de um incentivo ou quando apenas quisesse animar o seu semblante; os não tão felizes seriam para reavaliar os procedimentos e, assim, aprender e aprimorar. Talvez os “recuerdos infantiles” lhe imprimiram essa lição.
Esse senhor, pobre apenas de dinheiro, teve um grande mestre. Seu avô sempre o levava ao quintal para ver a lua na noite. Não podia ser diferente, pois tudo o que é de bom coração se torna enriquecedor.
Na infância, seu avô o ensinou a aprender muito mais observando; outro tanto, ouvindo; e ainda, aprendendo com o exemplo alheio. E lhe dizia que não era necessário ter de sofrer na pele todos os efeitos da atitude incoerente; também era sábio progredir por meio da observação das ações do próximo, com resultados proveitosos e de crescimento, ou, também, com os nem tão bons assim.
E lá estava seu Gregório sob o luar, sentado na cadeira e admirando a grandeza do mundo. Uma ação apreendida que até hoje lhe favorece o coração.
A aprendizagem é constante e o seu bom uso, imprescindível.

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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Os cônjuges, regra geral, respiram em regime de influência mútua


Reiniciamos hoje à noite, no Centro Espírita Nosso Lar, o estudo do livro Nos Domínios da Mediunidade, de André Luiz (Espírito), psicografado pelo médium Chico Xavier, estudo esse que é realizado também às quintas-feiras à tarde, no mesmo local.
Três foram as questões propostas:
1. Que adjetivo aplicar à mulher que ameaçava o casamento de Jovino e Anésia?
2. Por que Anésia sentia mal-estar ao pressentir que havia, naquele caso, alguém a assediar o esposo?
3. Qual a explicação do problema que envolvia Jovino?

*

Depois de rápidas considerações acerca das questões citadas, foram lidas e comentadas as respostas, seguindo-se a leitura e o estudo do texto-base relativo ao tema da noite.

Eis as respostas dadas, de forma resumida, às questões propostas:

1. Que adjetivo aplicar à mulher que ameaçava o casamento de Jovino e Anésia?
Teonília (entidade desencarnada amiga de Anésia), referindo-se ao caso, disse que Jovino era um homem trabalhador ameaçado por perversa mulher.
Aulus pediu-lhe, no entanto, que não se referisse assim à mulher que dominava o esposo de Anésia. O adjetivo "perversa" ali não cabia. Era "imperioso aceitá-la por infeliz irmã", recomendou o Assistente. (Nos Domínios da Mediunidade, cap. 19, pp. 181 a 183.)

2. Por que Anésia sentia mal-estar ao pressentir que havia, naquele caso, alguém a assediar o esposo?
Contribuía para isso a força do seu próprio pensamento. Em determinada ocasião, Anésia articulou mentalmente, assim que Jovino saiu, frases deste tipo: "Negócios, negócios... Quanta mentira sobre mentira! Uma nova mulher, isso sim!... Mulher sem coração que não nos vê os problemas... Dívidas, trabalhos, canseiras! Nossa casa hipotecada, nossa velhinha a morrer!... Nossas filhas cedo arremessadas à luta pela própria subsistência!"
Enquanto essas reflexões se faziam audíveis para André Luiz, irradiando-se na sala estreita, viu-se de novo a mesma figura de mulher que surgira à frente de Jovino, aparecendo e reaparecendo ao redor da esposa triste, como que a fustigar-lhe o coração com invisíveis estiletes de angústia, porque Anésia, embora não a visse, passou a acusar indefinível mal-estar. (Obra citada, cap. 19, pp. 183 e 184.)

3. Qual a explicação do problema que envolvia Jovino?
Eis como Aulus se referiu a esse caso: "Jovino permanece atualmente sob imperiosa dominação telepática, a que se rendeu facilmente, e, considerando-se que marido e mulher respiram em regime de influência mútua, a atuação que o nosso amigo vem sofrendo envolve Anésia, atingindo-a de modo lastimável, porquanto a pobrezinha não tem sabido imunizar-se com os benefícios do perdão incondicional".
Aulus acrescentou que tal fenômeno é muito comum em nossos dias e, como tal, enquadra-se perfeitamente nos domínios da mediunidade. O fenômeno pertence à sintonia, onde se encontram as origens de muitos processos de alienação mental. (Obra citada, cap. 19, pp. 185 e 186.)

*

Na próxima terça-feira publicaremos aqui, como de hábito, as questões que forem estudadas na reunião da noite, para que o leitor, desde que o queira, possa acompanhar o desenvolvimento de nossos estudos.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

As mais lindas canções que ouvi (20)



Modinha

Sérgio Bittencourt

Olho a rosa na janela,
Sonho um sonho pequenino:
Se eu pudesse ser menino,
Eu roubava essa rosa
E ofertava, todo prosa,
À primeira namorada
e nesse pouco ou quase nada
Eu dizia o meu amor,
O meu amor...
Olho o sol findando lento,
sonho um sonho de adulto:
Minha voz, na voz do vento,
Indo em busca do teu vulto
E o meu verso em pedaços
Só querendo o teu perdão.
Eu me perco nos teus passos
E me encontro na canção.
Ai, amor, eu vou morrer
Buscando o teu amor...
Ai, amor, eu vou morrer
Buscando o teu amor... (bis)
Eu vou morrer de muito amor.



Clicando neste link -  http://www.youtube.com/watch?v=h12Kh9Ea0Ag  - você ouvirá a canção acima na interpretação do saudoso Taiguara. Outra interpretação que vale a pena ouvir devemos a dois cantores inesquecíveis: Altemar Dutra e Nelson Gonçalves. Eis o link: https://www.youtube.com/watch?v=fN3a61YrHEk

domingo, 27 de janeiro de 2013

O incêndio em Santa Maria



Somente no final da tarde é que soubemos, por meio de nossa esposa, o que havia acontecido na madrugada deste domingo na aprazível cidade gaúcha de Santa Maria, terra de nosso amigo e irmão Teltz Cardoso Farias.
Diante de acontecimentos assim, o que nos cabe fazer é somente orar por todas as pessoas atingidas por essa provação tão dura, não só pelos irmãos e irmãs que partiram para a vida espiritual, mas igualmente pelos familiares e amigos que aqui prosseguem em sua marcha.
Sabemos que a perda de um ente querido sempre foi, e certamente continuará sendo, um dos momentos mais tristes em nossa passagem pela experiência reencarnatória. Se, porém, algo possa servir de consolo, recordemos uma velha lição que nos vem desde Jesus, ou seja, que a morte não é o capítulo final de uma vida, porque esta prossegue sempre, ninguém morre, somos realmente imortais.
Os episódios de Santa Maria nos levaram a recordar, de modo automático, o incêndio do edifício Joelma, ocorrido no dia 1º de fevereiro de 1974 na capital paulista.
Aqueles momentos tristes, que a televisão mostrou ao vivo para vários Estados brasileiros, também comoveram, como a tragédia de Santa Maria, o País inteiro.
Chico Xavier, no livro Diálogo dos Vivos, publicado no início de 1974, disse que tão logo a notícia do incêndio lhe chegou pelo rádio, ele e mais três amigos se reuniram solicitando auxílio dos Benfeitores Espirituais para as vítimas do aflitivo acidente. Emmanuel, o Benfeitor Espiritual sempre atento, ali compareceu e escreveu uma linda prece, que abaixo transcrevemos, esperando que estas palavras sirvam de consolo aos nossos irmãos de Santa Maria:
“Senhor Jesus
Auxilia-nos, perante os companheiros impelidos à desencarnação violenta, por força das provas redentoras.
Sabemos que nós mesmos, antes do berço terrestre, suplicamos das Leis Divinas as medidas que nos atendam às exigências do refazimento espiritual. Entretanto, Senhor, tão encharcados de lágrimas se nos revelam, por vezes, os caminhos do mundo, que nada mais conseguimos realizar, nesses instantes, senão pedir-te socorro para atravessá-los de ânimo firme.
Resguarda em tua assistência compassiva todos os nossos irmãos surpreendidos pela morte, em plena floração de trabalho e de esperança e acende-lhes nos corações, aturdidos de espanto e retalhados de sofrimento, a luz divina da imortalidade oculta neles próprios, a fim de que a mente se lhes distancie do quadro de agonia ou desespero, transferindo-se para a visão da vida imperecível.
Não ignoramos que colocas o lenitivo da misericórdia sobre todos os processos da justiça, mas tocados pela dor dos corações que ficam na Terra – tantos deles tateando a lousa ou investigando o silêncio, entre o pranto e o vazio – aqui estamos a rogar-te alívio e proteção para cada um!...
Dá-lhes a saber, em qualquer recanto de fé ou pensamento a que se acolham, que é preciso nos levantemos de nossas próprias inquietações e perplexidades, a cada dia, para continuar e recomeçar, sustentar e valorizar as lutas de nossa evolução e aperfeiçoamento, no uso da Vida Maior que a todos nos aguarda, nos planos da União Sem Adeus.
E, enquanto o buril da provação esculpe na pedra de nossas dificuldades, conquanto as nossas lágrimas, novas formas de equilíbrio e rearmonização, embelezamento e progresso, engrandece em teu amor aqueles que entrelaçam providências no amparo aos companheiros ilhados na angústia. Agradecemos, ainda, a compreensão e a bondade que nos concedes em todos os irmãos nossos que estendem os braços, cooperando na extinção das chamas da morte; que oferecem o próprio sangue aos que desfalecem de exaustão; que umedecem com o bálsamo de leite e da água pura os lábios e as gargantas ressequidas que emergem do tumulto de cinza e sombra; que socorrem os feridos e mutilados para que se restaurem; e os que pronunciam palavras de entendimento e paz, amor e esperança, extinguindo a violência no nascedouro!...
Senhor Jesus!...
Confiamos em ti e, ao entregarmo-nos em Tuas mãos, ensina-nos a reconhecer que fazes o melhor ou permites se faça constantemente o melhor em nós e por nós, hoje e sempre”.  (Emmanuel)

*

Os acontecimentos do edifício Joelma suscitaram, além da oração acima, dois sonetos recebidos por Francisco Cândido Xavier, de autoria dos poetas Cyro Costa e Cornélio Pires.
Em ambos os poemas os autores lembraram que, apesar do sofrimento, da angústia, das cinzas aqui em nosso plano, os Benfeitores e amigos espirituais recebiam com hinos de vitória aqueles que dessa forma regressavam à verdadeira pátria, que a todos nos aguarda.
Eis como Cornélio Pires se referiu ao assunto:

Incêndio em São Paulo

Céu de São Paulo... O dia recomeça...
O povo bom na rua lida e passa...
Nisso, aparece um rolo de fumaça
E o fogo para cima se arremessa.

A morte inesperada age possessa,
E enquanto ruge, espanca ou despedaça,
A Terra unida ao Céu a que se enlaça
É salvação e amor, servindo à pressa...

A cidade magoada e enternecida
É socorro chorando a despedida,
Trazendo o coração triste e deserto...

Mas vejo, em prece, além do povo aflito,
Braços de amor que chegam do Infinito
E caminhos de luz no céu aberto...




Um apelo de Meimei em favor da criança


Quando lidamos com uma criança em tenra idade, dificilmente imaginamos para ela um futuro que não seja pelo menos igual ao nosso. Jamais nos passa pela mente que esse menino que hoje acalentamos, abraçamos e protegemos possa tornar-se amanhã um marginal perigoso. As notícias veiculadas pela mídia mostram-nos, contudo, que tais coisas são possíveis e soem acontecer em grande número no mundo em que vivemos.
Não é difícil entender esse fato. Mundo de provas e expiações, a Terra não é, por enquanto, morada de anjos. É uma escola, bendita como todas as escolas criadas por Deus, onde se matriculam criaturas necessitadas, pessoas difíceis, almas fracas e vacilantes, que necessitam por isso de forte estímulo para avançarem no caminho da evolução.
As páginas dos jornais retratam a vida de forma nua e crua.
Aqui, é o jovem imaturo que, movido por sentimentos insondáveis, matou pai e mãe, destruindo a paz do seu lar e a própria vida...
Ali, é o filho de um homem admirado em todo o mundo que, seduzido pelas ilusões do narcotráfico, trocou o lar pela penitenciária...
Acolá, é o garoto que, baleado pelos próprios comparsas, foi lançado no frescor da idade a uma cadeira de rodas, condenado à paraplegia...
Todos eles foram crianças um dia. Alguns tiveram vida abastada, moravam em mansões, ganhavam presentes caros. Outros nem tanto, mas a verdade é que o seu presente e o seu futuro, pelo menos na atual existência, tornaram-se bem amargos.

*

Encontrava-me assim pensando na vida, quando me veio às mãos uma mensagem bastante conhecida escrita por Meimei pelas mãos de Chico Xavier, na qual a amorável educadora interpreta os sentimentos da criança e apela para nós – nós que somos pais, avós, professores e, com certeza, as únicas pessoas que podem auxiliá-la:

“Dizes que sou o futuro.
Não me desampares no presente.
Dizes que sou a esperança da paz.
Não me induzas à guerra.
Dizes que sou a promessa do bem.
Não me confies ao mal.
Dizes que sou a luz dos teus olhos.
Não me abandones às trevas.
Não espero somente o teu pão.
Dá-me luz e entendimento.
Não desejo tão-só a festa de teu carinho.
Suplico-te amor com que me eduques.
Não te rogo apenas brinquedos.
Peço-te bons exemplos e boas palavras.
Não sou simples ornamento de teu caminho.
Sou alguém que te bate à porta em nome de Deus.
Ensina-me o trabalho e a humildade, o devotamento e o perdão.
Compadece-te de mim e orienta-me para o que seja bom e justo...
Corrige-me enquanto é tempo, ainda que eu sofra.”


sábado, 26 de janeiro de 2013

Pérolas literárias (20)


O surdo, o cego, o mudo

João Antônio Neto


Surdo... sem nunca ouvir o grito agudo
Ou a palavra, de perto, murmurada...
Cego... pensar em rosas de veludo,
E pisar nos espinhos da jornada!...

Surdo, sem som... Cego, sem luz... E mudo,
Sem voz que diga, numa frase alada,
Um pouco da tristeza que anda em tudo
E da alegria que não falta em nada!...

Saber, em vão, que o som de tudo espouca...
Sentir que há luz e nunca um raio achar-lhe...
Querer dizer, e a voz não vir à boca...

Passar, às vezes, pelo amor... sem vê-lo
Vê-lo passar... e não poder falar-lhe...
Sentir o amor falar... sem compreendê-lo!...


Soneto publicado no livro Poetas Mato-Grossenses, editado por Rubens de Mendonça em 1958.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O que podemos mudar em nossa vida?


O confrade Francisco nos pergunta se é realmente possível mediante a educação reformar o caráter de uma pessoa.
A resposta é: sim. Contrariamente ao que sempre se imaginou, descobertas recentes no campo da biologia e dos estudos da mente têm provado que tanto o cérebro como a mente humana podem rearranjar-se de maneira drástica e as pessoas podem mudar em qualquer estágio da vida.
Pesquisas recentemente divulgadas têm questionado até mesmo um dos dogmas da psicanálise segundo o qual os adultos carregam para sempre os traumas vividos na infância. Martin Seligman, docente da Universidade da Pensilvânia, afirma em sua obra intitulada “O que você pode mudar e o que não pode” que é possível à criatura humana mudar a timidez, o mau humor, o pessimismo, a depressão e quase todas as disfunções sexuais, como a frigidez e a impotência.
Sanjay Srivastava, um dos mais abalizados estudiosos nessa área, sustenta, com base em experiências por ele conduzidas, que as mulheres que sofrem de ansiedade na adolescência tendem a recuperar a autoconfiança entre os 30 e 40 anos.
Para nós, espíritas, não causam surpresa tais ideias, porque a evolução ou o progresso constitui um dos princípios fundamentais do Espiritismo e, ao tratar da infância, é peremptória a afirmativa constante da questão 385 d´O Livro dos Espíritos, que diz ser possível, por meio da educação, reformar o caráter e reprimir as más inclinações que a criança traz do passado, missão sagrada – acrescentam os imortais – que Deus confiou aos pais e da qual estes deverão prestar contas.
  

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Pílulas gramaticais (35)


Devemos ter bastante cuidado com o uso da locução “através de”, que normalmente utilizamos de forma errada.
É correto dizer: “Ela olhava através da janela” ou “Caminhou através de uma estrada abandonada”, textos nos quais “através de” significa “por dentro de”, “ao longo de”.
É, contudo, um equívoco usar a locução “através de” com o sentido de “por”, “por meio de”, “por intermédio de” ou locução equivalente, em frases como estas:
- Ela soube da notícia através do rádio.
- Os mudos se comunicam através de gestos.
- A questão foi decidida através de decreto.
- Esta mensagem foi psicografada através do Divaldo.
Em casos assim, no lugar de “através de”, usemos a preposição“por”, a locução “por meio de” ou algo equivalente:
- Ela soube da notícia pelo rádio.
- Os mudos se comunicam por meio de gestos.
- A questão foi decidida por decreto.
- Esta mensagem foi psicografada pelo Divaldo.

*

Com respeito à locução “posto que”, vejamos a lição de Napoleão Mendes de Almeida:
Posto que – É locução conjuntiva, de sentido concessivo, e não causal; significa ainda que, bem que, embora, apesar de: “Um simples cavaleiro, posto que ilustre” – “E, posto que a luta fosse longa e encarniçada, venceram”. (Dicionário de Questões Vernáculas, p. 242.)
Uma característica dessa locução conjuntiva e de algumas conjunções concessivas é levar o verbo para o subjuntivo.
Veja estes exemplos: Embora estude bastante, dificilmente ele conseguirá passar.  Conquanto lute muito, sua vitória é difícil. Posto que ganhe na loteria, não será fácil pagar todas as dívidas.



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Agora, um amado louro


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR



Presenciei uma situação comovedora. Da janela da cozinha do terceiro andar onde moro, posso ver um poleiro com um louro de asa cortada, na garagem da casa ao lado. Normalmente, faço uns ruídos para lhe chamar a atenção... e ele até me responde. Mas aquele momento foi distinto de todos os já vivenciados.
Um pássaro comum, porém com liberdade plena, foi ao poleiro no qual o lourinho –assim como eu o chamo – estava e fitou nele o olhar. Os dois se examinavam, faziam movimentos parecidos; o pardal ainda comeu um pouquinho da comida do “verdinho”.
Fiquei encantada com o acontecimento. O pardalzinho parecia querer falar, declaradamente, alguma coisa ao louro, e este o apreciava com toda atenção e alegria, pois estava na companhia de um ser que poderia se tornar seu grande amigo.
Eh, lourinho... observava tão feliz o outro. Compreendi que ele se sentia mais natural ao lado de um quase da mesma espécie.
Após o passarinho ter ficado uns minutinhos e aproveitado para comer uma comida saborosa e nutritiva, chegou a hora de partir para sua casa, ou seja, aonde ele quisesse ir: todos os lugares. Ele se foi.
Mais uma vez, as lágrimas encheram os olhinhos do louro. Mais uma vez, ele constatou suas asinhas cortadas.
– Meu lindo, cheguei. – uma voz de senhora soou se aproximando dele.
Ele se virou para ela. Era sua dona, uma senhora que o resgatou dos maus-tratos sofridos com o dono anterior.
– Ah, meu lindo. Por que está tristinho? A mamãe chegou. – com todo carinho, a senhora proferira as palavras.
A dona o pegou no colo e o acariciou infinitamente; conversava com ele e lhe dizia quanto ele era amado. Quanto mimo! Quanta ternura!
Em poucos minutos, o verde louro se esqueceu do sofrimento que veio à tona com a visita do pardal livre. Era passado. E sentindo todo amparo e amor e recebendo os cuidados da amorosa senhora, ele respirou fundo e comprovou, nas mãos da protetora, que aquele momento era o mais feliz da vida.
Ainda de olhinhos fechados, por tanto afago, pensou: – Estou, hoje, no melhor lugar onde poderia me encontrar.

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Felicidade


GEBALDO JOSÉ DE SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
De Goiânia-GO

(Para a Débora, aos 7 anos.)

“A felicidade é antes de tudo o sentimento tranquilo, contente e seguro da inocência.” -  Ibsen (1828-1906).

Nas madrugadas insones, às vezes me pergunto se mereço a alegria e a ternura que se apossam de mim, ao ver, à noite, compenetrada, séria, a olhar ora para o caderno, ora para a tarefa escolar, a filhinha de sete anos.
E me pergunto se está certo, se é justo, humano, se não erramos agindo assim: dando-lhe obrigações, deveres e trabalhos, tão precocemente.
Ela – que me sorri belamente ao ver-me, sem saber no que penso, fitando-a – tampouco entende o sentido deste meu sorriso.
Rio-me ao vê-la, séria, a contar nos dedos – belíssima e esquecida por mim, essa função dos dedos!
E rio mais de vê-la em dúvida, desacreditando dos próprios cálculos, a me perguntar, confirmando suas contas, numa confiança infinita em minhas palavras, em minhas respostas, se 3 + 4 “é” 7.
E ainda rio, quando me propõe questões difíceis, a imaginar, na sua doce inocência, que tudo sei; pois desconhece que ignoro quase tudo, que minha ignorância só é menor do que a enorme presunção que me acompanha – esta última, fruto da primeira e de sua mãe, a tola vaidade.
E rio de sua candura, de sua pureza, da inocência mesma de suas malícias pueris.
São breves minutos que se eternizam nestes registros e na memória inapagável de minh’alma! Em momentos assim, quero, egoisticamente, perpétuo o instante! Eis que, no dizer de Goethe (1749-1832), “Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira.”
Em texto lido nos tempos escolares, o autor comparava a felicidade às muitas pausas de viajante, em caminhada pelo sol ardente, a refazer as forças às sombras das árvores, à margem da estrada.

*

Volvendo o pensamento ao Pai de Amor, rogo a Ele que a abençoe pela vida afora! E àqueles com quem convive hoje e aos que virão no seu caminho, nos infinitos amanhãs! Que a enriqueça de boas experiências; do aprendizado daquilo que é nobre e digno; que aprenda a compartilhar o pão e o saber; que aprenda a ser grata a Deus, pela vida e por todas as dádivas que receber!
Mirando-a, ainda em preces, peço por todas as crianças da Terra, de todas as pátrias e de todos os tempos, para que lhes não faltem o carinho, o aconchego de um lar, o pão e o medicamento; a escola e o lazer; a pureza e a bondade! Que não lhes faltem as lições sublimes de Jesus, que nos são sustentáculos nas tribulações da vida!
Ao acordar dessas divagações, concluo que também para ela espero a ternura e a pureza de filhos, para que, no amanhã, tenha, como eu, seus momentos reais da mais doce felicidade!


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

"Estou mais vivo do que nunca!"


ARTHUR BERNARDES DE OLIVEIRA
tucabernardes@gmail.com
De Guarani, MG

Milton Claudino era um moço forte de Astolfo Dutra. Motorista de caminhão, passava a maior parte de sua vida cruzando as estradas deste País. Numa época em que nem se sonhava com asfalto!
Era materialista. Ateu, não acreditava em nada. Mas era um moço bom, útil à sociedade, trabalhador.
Um dia, retornando de uma viagem ao Nordeste, na subida da serra de Muriaé, o caminhão desce pela ribanceira e ele morre na hora!
Dias depois, minha mãe é acordada de noite, com alguém batendo na janela e chamando pelo Amaury, meu irmão, a quem pedia em voz alta as chaves do caminhão acidentado. Minha mãe, pensando tratar-se de meu cunhado que pudesse estar pedindo socorro para a esposa em trabalho de parto, abre a janela e leva o maior susto! Era o Milton, espírito, que, ignorando sua condição de desencarnado, vinha buscar as chaves do caminhão que o Amaury recolhera, logo após o acidente. Ele pensava, então, que pudesse continuar dirigindo.
Na noite seguinte, reunidos na Cabana Espírita Abel Gomes, casa-máter do Espiritismo em minha terra, nem precisamos evocá-lo. Lá já estava ele, levado pelos mentores da casa.
Sua comunicação foi muito interessante. Ele batia no peito da médium que lhe servia de instrumento e dizia, com convicção: - "Que é isso, Arthur?! Estou mais vivo do que nunca! A mesma capacidade de ver, de ouvir, de andar, de querer! Isso é morte? Que é isso?"
Levado à recordação do acidente, um dado plenamente revelador emerge dos fatos que ele próprio nos relata: Pouco antes da subida da serra, ele parara para abastecer o caminhão e tomar um café, espantando o sono que começava a chegar. Nisto um jovem desencarnado entra na cabine, como carona, e, inconscientemente vai minando as energias do caminhoneiro já cansado.
No ponto mais crítico da subida da serra, nosso amigo cochilou. E o inevitável aconteceu.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

As mais lindas canções que ouvi (19)


As rosas não falam

Cartola

Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão,
Enfim

Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim

Queixo-me às rosas,
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai

Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim.


Clicando neste link - http://letras.mus.br/cartola/44898/ - você ouvirá a canção acima na interpretação do próprio Cartola. Se quiser, pode também ouvi-la na voz de Beth Carvalho, que foi a primeira pessoa a gravar “As rosas não falam”. Eis o link - https://www.youtube.com/watch?v=Zu-P8jeH4iY

domingo, 20 de janeiro de 2013

A eutanásia e o valor do último minuto


Quando o Parlamento holandês aprovou o projeto de lei que tornou legais naquele país o suicídio e a eutanásia, a medida, que repugnou a todos nós, apenas formalizou o que os médicos holandeses vinham praticando desde 1993. E a Holanda, uma nação em que 54% da população se diz cristã, inscreveu-se como o primeiro país do mundo a legalizar a eutanásia.
Segundo dados divulgados na época pelos jornais, 2.216 holandeses morreram em 1999 – antes portanto da aprovação da lei – com a ajuda dos profissionais da Medicina, que conhecem muito bem o juramento de Hipócrates, reiterado na colação de grau dos formandos em Medicina, o qual afirma que cabe ao médico lutar pela vida, nunca pela morte.
Diversas tentativas têm sido feitas no mundo todo para legalizar a eutanásia, um tema que vem produzindo polêmicas desde 1903, quando o Parlamento da Alemanha vetou proposta nesse sentido.
Uma década antes da legalização da eutanásia na Holanda, o Estado americano do Oregon aprovou iniciativa semelhante, mas a Suprema Corte dos Estados Unidos impediu que o assunto prosperasse, dada a sua flagrante inconstitucionalidade.
Os defensores da eutanásia dizem que a lei holandesa é importante e é mesmo muito boa porque, segundo seus termos, só alcança os adultos com doenças incuráveis e que estejam sofrendo de forma insuportável. Por que, então, negar-lhes atendimento, se esse é o seu desejo?
O argumento é, não há dúvida, irrespondível no campo do materialismo, que apenas vê o corpo e não se dá conta da alma nem dos destinos do homem na Terra.
No livro O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 5, item 28, São Luís (Espírito) trata do assunto e lembra que o espírita, que sabe o que se passa além-túmulo, “conhece o valor do último pensamento”. Ora, as vicissitudes, as amarguras e os sofrimentos existem não para nos abater, mas para serem vencidos. Se não forem suportados com coragem e resignação até o fim, a prova deverá ser repetida. É isso que desejamos para os nossos pais e amigos? Será justo, por causa dos sofrimentos de algumas horas ou alguns dias, que eles percam a prova toda? Não. Certamente que ninguém deseja isso para o seu ente querido.
Eis aí, pois, a razão que levou São Luís a escrever, reportando-se à pessoa que padece, sem muitas esperanças, sofrimentos amargos: “Suavizai os últimos sofrimentos tanto quanto vos seja possível fazê-lo; mas guardai-vos de encurtar a vida, ainda que seja apenas por um minuto, pois esse minuto pode poupar muitas lágrimas no futuro”.


sábado, 19 de janeiro de 2013

Pérolas literárias (19)

Refazimento

Epifânio Leite

Vejo-te, soberana, aos painéis da memória!
O trono te emoldura a face de outras eras…
Oprimes sem temor, espancas onde imperas,
Fulges no fausto vão de vaidade ilusória!…

A paixão te esfogueia a fome de vanglória,
Exilas e destróis, humilhas e encarceras…
Vem a morte, no entanto, entre forças austeras,
E largas sob a cinza a pompa transitória!

Foi-se o tempo… Hoje achei-te em catre duro e estreito,
Paralítica e só, parafusada ao leito!…
Chorei ao ver-te a choça e o triste quarto em ruínas!

Mas louvo o fel de agora ante o sol do futuro…
Pela dor subirás ao reino do amor puro
Em teu carro estelar de açucenas divinas!


Soneto psicografado por Francisco Cândido Xavier, publicado no livro Astronautas do Além. Segundo o poeta, o soneto foi dedicado a uma venerável irmã que conheceu na realeza terrestre quatro séculos antes. Culta, não espalhou os benefícios da inteligência; amiga incondicional dos amigos e inimiga implacável dos adversários; generosa para com os áulicos abastados e indiferente às vítimas da penúria. Agradecida aos vassalos obedientes, perseguia até à morte quantos não lhe observassem as diretrizes. Amada e odiada, alcançou o Mais Além e, à frente da verdade, preocupou-se com a redenção própria. Regressou à Terra, várias vezes, apagando-se devagar quanto ao brilho terreno que ostentava, até que rogou a prova final, habilitando-se no corpo enfermo e disforme, em acentuada penúria, para a ascensão próxima à Espiritualidade Superior.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Sacrifício de animais enfermos


Uma leitora enviou-nos as seguintes perguntas relacionadas com as criaturas do reino animal:
1) Uma irmã tem uma cachorra cega que, devido a uma enfermidade, não está conseguindo levantar-se nem comer. O veterinário decidiu sacrificá-la. Temos o direito de tirar a vida desse animal?
2) Quando autorizamos o sacrifício de um animal, por ele estar em sofrimento e doente, teremos responsabilidade por esse ato?
3) Não tendo os animais consciência dos próprios atos e não sendo dotados de razão e discernimento, eles não sofrem expiação. Em que, então, esses sofrimentos os ajudariam?
Com relação ao problema da dor que acomete os animais, o assunto já foi tratado por nós na seção “O Espiritismo responde” da edição 186 da revista espírita “O Consolador”, que os interessados podem ler clicando em http://www.oconsolador.com.br/ano4/186/oespiritismoresponde.html
Os animais não estão realmente sujeitos à expiação, e a dor por que passam é explicada num dos textos contidos na obra Ação e Reação, de André Luiz, na qual o Instrutor Druso diz que podemos identificar na experiência terrestre três tipos de dores:  a dor-evolução, a dor-expiação e a dor-auxílio.
Referindo-se diretamente ao caso dos animais, Druso afirma: "A dor é ingrediente dos mais importantes na economia da vida em expansão. O ferro sob o malho, a semente na cova, o animal em sacrifício, tanto quanto a criança chorando, irresponsável ou semiconsciente, para desenvolver os próprios órgãos, sofrem a dor-evolução, que atua de fora para dentro, aprimorando o ser, sem a qual não existiria progresso”.
A dor-evolução, cujo objetivo notório é o aprimoramento do ser, nada tem que ver com atos do passado. É o que ocorre com os animais, não somente aqueles que vivem em nosso meio, como os cães, vítimas de tantas enfermidades e problemas, mas sobretudo com os que vivem em plena selva. Imaginemos o sofrimento de uma presa abatida por seu predador e estraçalhada antes mesmo de ocorrer sua morte corpórea.
Quanto ao sacrifício dos animais enfermos, recorremos ao que pensava o saudoso confrade Marcel Benedeti, médico veterinário desencarnado em fevereiro de 2010, que escreveu um livro sobre os animais e seu destino espiritual.
Em entrevista publicada pela Revista Cristã de Espiritismo, ed. 29, em 2004, perguntaram-lhe como ele analisava a questão da eutanásia praticada com animais. Benedeti respondeu: “O ser humano tem o carma, o animal não. O animal tem consciência, mas muito mais restrita, em relação ao ser humano. Ele segue muito mais os seus instintos. Então, como não tem carma, a eutanásia deve ser o último recurso utilizado; o veterinário deve fazer todo o possível para salvá-lo. Se o animal estiver sofrendo muito e não existir outra maneira, o plano espiritual não condena, porque é um aprendizado tanto para o animal quanto para o dono que precisa tomar a decisão”.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Pílulas gramaticais (34)


No uso das palavras abaixo relacionadas geralmente se cometem cochilos. A forma correta está indicada entre parênteses:
Iorgute (iogurte).
Mortandela (mortadela).
Mendingo (mendigo).
Trabisseiro (travesseiro).
Trezentas gramas (trezentos gramas).
De menor, de maior (diga simplesmente “maior” ou “menor” de idade).
Cardaço (cadarço).
Asterístico (asterisco).
Beneficiente (beneficente).
Menas (o certo é “menos”).
Meia exausta (meio exausta).

Lembremos também:
A casa pode ser geminada (do latim geminare = duplicar) e não germinada.
Cuspir é que é correto, e não gospir.
Basculante, e não vasculhante, é o nome que se segue ao vocábulo janela.
O peixe tem espinha (espinha dorsal) e não espinho, que é próprio das plantas.
Homens dizem “Obrigado”; mulheres dizem “Obrigada”.
O certo é haja vista (que se oferece à vista) e não haja visto.
Faz dois anos que não o vejo, e não "fazem dois anos”.
Algoz se pronuncia “algôz”, e não “algóz”.
Mal é o oposto de bem.
Mau é o oposto de bom.
Palestrante, e não palestrista, é o nome que se dá a quem faz palestras.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

No outono, as folhas caem


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR

A natureza é perfeita. Para evitar o gasto de energia, as folhas das árvores caem no outono e, naturalmente, o alaranjado cria um tapete belíssimo nas calçadas e ruas. As árvores não mantêm a aparência a qual não podem no momento.
Nessa estação, tudo se torna agradável: o vento sopra mais fresco; o brilho do céu se acentua tanto à noite, quanto de dia; o bem-estar da vida é lançado para quem quiser sorvê-lo.
Cada folhinha que se desprendera faz agora parte de um novo cenário: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, conforme Lavoisier. As cortinas do palco estão abertas e o espetáculo nunca para. O tempo organiza cada ato.
Meus olhos buscavam os detalhes das folhinhas laranjas caídas na calçada. Em meio a inúmeras delas, escolhi uma para sentir a beleza de mais perto. Quantas ramificações estão marcadas em cada textura; perfeitos espaços entre elas. A leveza, o cheiro, a forma, tudo em harmonia.
Quando estão verdes nas árvores, as folhas, todas juntinhas, montam um grande “sombrero” para dar proteção a outros seres menores; quando, já no chão, transformam o cinza asfalto num caminho agradável de se passar, ver e sentir. Ou seja, a natureza sempre é coerente com suas atitudes.
– Que o homem observe um trechinho por dia desta “senhora” companheira e, assim, possa se melhorar e, consequentemente, transformar o meio em que está – são minhas observações.
Com a folhinha na mão, levantei-me e olhei ao redor; as pessoas nem se davam conta da formosura. Continuei os passos em direção ao trabalho. Olhei para o céu... senti a vida.
Mais um dia de outono com as folhas laranjas.

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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

"Somos os jovens cristãos..."


ARTHUR BERNARDES DE OLIVEIRA
tucabernardes@gmail.com
De Guarani, MG

Peixotinho precisava descansar e foi aconselhado por um amigo médico a passar alguns dias em Astolfo Dutra, Minas Gerais.
A Fundação Espírita Abel Gomes, instituição que acolhe meninas desamparadas, fica numa área tranquila da cidade, cercada de muito verde, e de ar muito puro, e seria ótimo pouso para o seareiro cansado. (Peixotinho foi um dos maiores médiuns de efeitos físicos que o Brasil conheceu; talvez um dos maiores do mundo!)
Na Fundação, às terças-feiras e aos sábados, de oito às dez horas da noite, realizava-se um trabalho de vibrações a que se chamava, à época, sessão de cura. Era um trabalho leve, sem comunicação de Espíritos desequilibrados, com preces, leituras, pequenos comentários e cantos, a que compareciam companheiros que, durante o dia, não tivessem feito uso de carne, fumo e álcool, nem houvessem abrigado pensamentos menos dignificantes.
Isso foi por volta de 1946-1947.
Minha mãe (Anita) era uma das beneficiárias daquele trabalho: estava chegando o termo de sua jornada na terra. Ficava deitada num quarto contíguo à sala de reunião. Peixotinho, também necessitado de ajuda, ocupou o outro quarto, ao lado do quarto dela.
Reunião que segue, meu pai, dirigente do trabalho, sente leve mão pousada sobre sua cabeça. Pensando que fosse o Diogo, excelente médium passista que participava da reunião, abre os olhos, volta a cabeça e se encanta com a figura luminosa de Abel Gomes, materializado ali, na sua frente! Emocionado, pede aos companheiros que abram os olhos e testemunhem aquele momento histórico do Espiritismo em Astolfo Dutra.
Abel Gomes deslizou (Abel não andava como a gente; deslizava, como se flutuasse no ar) pelo assoalho e se dirigiu ao quarto onde estava minha mãe, com ela conversando por alguns instantes, permitindo-nos ouvir a sua voz e a voz dela.
Sai Abel para que pudessem chegar sucessivamente Fidelinho, Célia e Taninha, duas jovens de Astolfo Dutra, desencarnadas na flor da idade, e Scheilla, a enfermeira alemã, última a se materializar, que, ao se despedir, dissera ter deixado uma lembrança pra nós, na primeira gaveta, fechada a chave, da escrivaninha que servia à secretaria da Fundação.
Curiosos, fomos ver o presente. Era, em escrita direta, com sua letrinha de moça caprichosa, em alto relevo, a letra do Hino da Juventude Espírita Francisco Cândido Xavier, de Astolfo Dutra, que, musicada por Francisco Guércio, filho da terra, está se tornando o hino da juventude espírita brasileira.
"Somos os jovens cristãos...", eis as palavras iniciais do lindo hino, que todos os anos é cantado no início das palestras que compõem as Semanas Espíritas da referida cidade.


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

As mais lindas canções que ouvi (18)



É preciso saber viver

Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Quem espera que a vida
Seja feita de ilusão
Pode até ficar maluco
Ou morrer na solidão
É preciso ter cuidado
Pra mais tarde não sofrer
É preciso saber viver...

Toda pedra no caminho
Você pode retirar
Numa flor que tem espinhos
Você pode se arranhar
Se o bem e o mal existem
Você pode escolher
É preciso saber viver...

É preciso saber viver!
É preciso saber viver!
É preciso saber viver!
Saber viver!...
É preciso saber viver!
É preciso saber viver!
É preciso saber viver!
Saber viver! Saber viver!...(2x)


Clicando neste link - https://www.youtube.com/watch?v=LpYj_sI79v8 - você ouvirá a canção acima na interpretação dos Titãs.


domingo, 13 de janeiro de 2013

Na questão da transição planetária todo cuidado é pouco


A crise econômica, a corrupção, os distúrbios e os conflitos que nunca cessam, tanto quanto a confusão e as vítimas que a chamada primavera da Ásia vem produzindo, recomendam-nos prudência quando o assunto for a transição do planeta Terra para o chamado Mundo de Regeneração.
Voltou-se, em nosso meio, a falar em datas e para isso fazem os cálculos mais absurdos, até mesmo atribuindo à duração de uma geração o período de 70 anos, uma tolice que não encontra respaldo em nenhum estudo sério.
Os mais crédulos – que seguramente não acompanham os noticiários da TV nem leem os jornais diários – apelam para Chico Xavier com o propósito de conferir às suas ideias um respaldo que elas não têm e jamais tiveram.
No livro Obras Póstumas, obra formada com textos de Kardec, portanto escritos de 1869 para trás, visto que o Codificador desencarnou em 31 de março de 1869, lemos o que ele, fundamentado nas informações dos Espíritos, escreveu sobre a geração nova que inauguraria a nova era ou nova fase planetária.
Um dos seus caracteres distintivos, asseverou o Codificador, seria a fé inata; não a fé exclusiva e cega que divide os homens, mas a fé raciocinada que esclarece e fortalece, que os une e os confunde num comum sentimento de amor a Deus e ao próximo. Com a geração que então se extinguiria desapareceriam os últimos vestígios da incredulidade e do fanatismo, que são igualmente contrários ao progresso moral e social.
O Espiritismo teria, nesse sentido, um papel importante, porque as ideias espíritas, confirmadas pelos fatos, arruínam exatamente os dois maiores obstáculos que se opõem ao verdadeiro progresso, isto é, a incredulidade e o fanatismo, além de contribuir para que se desenvolvam todos os sentimentos e todas as ideias que correspondem aos objetivos da nova geração.
A nova era vê-lo-ia, portanto, prosperar pela própria força das coisas, com o que se tornaria ele a base de todas as crenças, o ponto de apoio de todas as instituições. Contudo, muitas seriam as lutas que teria de sustentar, até que, sobre as ruínas do velho mundo egoísta, fosse erguida a bandeira que deve reunir todos os povos - Fora da caridade não há salvação - porquanto ela é o símbolo da nova aliança fraternal proclamada pelo Cristo.
No livro de Kardec acima mencionado, podemos ler a primeira mensagem pertinente à chamada transição planetária, recebida na cidade de Lyon em 30 de janeiro de 1866, faz quase 147 anos. A mensagem foi recebida no grupo Villon e diz, inicialmente, que a Terra vibrava de alegria porque o dia do Senhor se aproximava. De acordo com o texto, o reino do ouro daria lugar a um reino mais puro; o pensamento seria então soberano, e os Espíritos de elite, que vieram, desde as épocas recuadas, iluminar o seu século e servir de referência aos séculos futuros, viriam encarnar-se entre nós.
Nessa mensagem é dito também que os pais do progresso do espírito humano deixaram, uns as moradas radiosas, outros os grandes trabalhos onde a felicidade se junta ao prazer de se instruírem, para virem retomar o bastão de peregrino que não haviam senão depositado no limiar do templo da ciência, e, dos quatro cantos do globo, logo os sábios oficiais iriam ouvir, com pavor, jovens pessoas imberbes, que viriam, numa linguagem profunda, retorquir os seus argumentos que acreditavam irrefutáveis. O velho mundo carcomido estalaria, então, em todos os sentidos; o velho mundo acabaria, e com ele todos os seus velhos dogmas.
Concluindo, diz a mensagem: “Regozijai-vos, pois, todos vós que aspirais à felicidade, e que quereis que os vossos irmãos dela participem como vós, o dia é chegado! A Terra pula de alegria, porque vai ver começar o reino de paz prometido pelo Cristo, o divino messias, reino do qual veio colocar os fundamentos”.
Depois dessa primeira mensagem, várias outras foram recebidas tratando do tema regeneração da Humanidade, como as que foram transmitidas no dia 25 de abril de 1866 em Paris, reproduzidas igualmente em Obras Póstumas.
Eis um resumo do conteúdo dessas mensagens:
Os acontecimentos se precipitam com rapidez; não dizemos mais, como outrora: "Os tempos estão próximos", mas "Os tempos são chegados." Por estas palavras não devemos entender um novo dilúvio, nem um cataclismo, nem um transtorno geral. Convulsões parciais do globo ocorrem em todas as épocas, e se produzem ainda, porque se ligam à sua constituição, mas esses não são os sinais dos tempos. No entanto, tudo o que está predito no Evangelho deve cumprir-se e se cumpre neste momento, assim como o veremos mais tarde; mas não tomemos os sinais anunciados senão como figuras, das quais é preciso apreender o espírito e não a letra. Todas as Escrituras encerram grandes verdades sob o véu da alegoria, e é porque os comentaristas se ligaram à letra que se extraviaram. Faltou-lhes a chave para delas compreenderem o verdadeiro sentido. Essa chave está nas descobertas da ciência e nas leis do mundo invisível, que o Espiritismo veio revelar-nos.
Tudo segue a ordem natural das coisas, e as leis imutáveis de Deus não serão nunca invertidas. Não veremos, pois, nem milagres, nem prodígios, nem nada de sobrenatural no sentido vulgar ligado a essas palavras. Não olhemos para o céu para nele procurar os sinais precursores, porque nele nada veremos, e aqueles que o anunciaram nos enganaram; mas olhemos ao redor de nós, entre os homens; será aí que os encontraremos. Não devemos crer, no entanto, no fim do mundo material. A Terra progrediu desde a sua transformação e deve progredir ainda, não ser destruída. Mas a Humanidade chegou a um de seus períodos de transformação em que a Terra vai elevar-se na hierarquia dos mundos.
Não é, pois, o fim do mundo material que se prepara, mas o fim do mundo moral: é o velho mundo, o mundo dos preconceitos, do egoísmo, do orgulho e do fanatismo que desaba. Tudo acabará para ele com a geração que dele se vai, e a geração nova elevará o novo edifício que as gerações seguintes consolidarão e completarão.

*

Percebe-se pelo tom das mensagens acima e das que vêm sendo divulgadas atualmente um otimismo exagerado que, infelizmente, contrasta com a situação atual do planeta, embora se tenham passado mais de 146 anos da primeira mensagem pertinente ao assunto.
Segundo alguns estudiosos espíritas, a transição do mundo de expiação e provas para mundo de regeneração já se iniciou, sim, mas estamos ainda nos primeiros passos e falta muito a percorrer para que cheguemos ao final da caminhada.
Basta, para compreendê-lo, ler a lição assinada por Santo Agostinho, constante do item 17 do cap. III d´O Evangelho segundo o Espiritismo, e compará-la com a conjuntura que se apresenta neste momento no planeta em que vivemos, o qual, mais do que nunca, se assemelha a uma “casa em reforma”, como Emmanuel certa vez o descreveu em memorável mensagem psicografada por Chico Xavier.