segunda-feira, 30 de junho de 2014

As mais lindas canções que ouvi (94)


Pra frente, Brasil 

Em 1970, no México, a seleção brasileira ganhou pela terceira vez a Copa do Mundo e ficou em definitivo com a Taça Jules Rimet. Todos os países que ganharam até então a Copa do Mundo participaram da competição.
A Itália venceu e com isso eliminou a Alemanha. O Brasil venceu Inglaterra, Uruguai e Itália – três ex-campeões mundiais – e sagrou-se tricampeão.
Com letra de Miguel Gustavo, Pra frente Brasil é uma canção composta especialmente para inspirar a seleção na campanha de 1970. Sua origem deve-se a um concurso (com premiação de dez mil cruzeiros), organizado pelos patrocinadores das transmissões dos jogos da Copa. Ricardo Cravo Albin afirma que o concurso foi patrocinado por uma cervejaria, enquanto Nara Damante afirma que o concurso teve o patrocínio das anunciantes Esso, Souza Cruz e Gillette, em parceira com a Rede Globo.
A melodia da canção foi composta pelo conhecido trombonista Raul de Souza. Segundo ele, o hino foi gravado em um estúdio do Bairro Peixoto com orquestra da Rádio Globo.
A letra original dizia "Setenta milhões em ação", mas, ao ser divulgado o Censo Demográfico concluído pouco tempo depois, foi alterada para "Noventa milhões em ação".
Eis a letra:


Pra frente, Brasil 

Raul de Souza e Miguel Gustavo

Noventa milhões em ação
Pra frente, Brasil
Do meu coração
Todos juntos vamos
Pra frente, Brasil
Salve a Seleção!

De repente é aquela corrente pra frente,
Parece que todo o Brasil deu a mão,
Todos ligados na mesma emoção,
Tudo é um só coração!

Todos juntos vamos
Pra frente Brasil, Brasil
Salve a Seleção!
Todos juntos vamos
Pra frente Brasil, Brasil
Salve a Seleção!

Você pode ouvir a canção clicando neste link:
E pode também, caso queira, assistir à partida final da Copa de 1970, na íntegra, clicando em https://www.youtube.com/watch?v=Cpsuz0-vlCY 
Se desejar saber como foi aquela Copa, assista ao filme oficial feito pela FIFA, clicando em https://www.youtube.com/watch?v=A1GX9B5NDh8




domingo, 29 de junho de 2014

Uma crítica infantil à tese da reencarnação


Quando a Terra atingiu o fantástico número de 6 bilhões de habitantes, houve quem argumentasse: “Ora, se o planeta aumenta sempre o número de seus habitantes, como se explica a reencarnação, que seria a volta à Terra dos homens que aqui viveram antes?”
Essa pergunta não passa, no fundo, de uma crítica infantil à doutrina das vidas sucessivas.
Quando um clube de futebol está representado numa determinada partida, há no campo onze jogadores, mas existem ali mesmo, no banco de reservas, outros atletas à espera de uma possível substituição, além de um contingente de jogadores que fazem parte do clube e treinam também com os demais, embora ali não sejam vistos.
A Terra não se constitui, portanto, somente dos bilhões de criaturas encarnadas que povoam os diferentes países. Seu contingente é muito maior. Existem pessoas que vivem aqui 70, 80, 90 anos e mais de 100 na vida espiritual, nos intervalos das diferentes existências corpóreas. Ora, quando essas pessoas não estão revestindo um corpo material, alguém está ocupando seus lugares, suas casas, seus empregos, sua função na existência corporal. Quando elas retornam a este plano, outros daqui se vão e é exatamente o conjunto das populações visível e invisível do planeta que forma a comunidade terrena.
Existe, ainda, um outro fator a ser considerado. Os planetas são solidários entre si. Lembremos o que ocorre numa cidade como Londrina. A Universidade local recebe alunos dos mais variados lugares, não só de cidades paranaenses, mas também de São Paulo, Minas, Mato Grosso, enfim, de toda a parte.
Dá-se o mesmo com os planetas. Em sua trajetória evolutiva, a Terra é um campo de emigração e imigração de indivíduos. Daqui partem os seres que nada mais têm a aprender em nosso mundo. Que fariam na Terra Francisco de Assis, Einstein, Sócrates, Newton, Beethoven? Nosso mundo está, em termos evolutivos, aquém de suas potencialidades e, por isso, vão eles buscar noutros mundos a cultura e o desenvolvimento espiritual condizentes com seu nível evolutivo.
A Terra também recebe Espíritos oriundos de planetas semelhantes ou mesmo inferiores ao nosso. Essa migração faz parte das leis de Deus. Há todo um caldeamento de etnias, de culturas, de experiências, e é precisamente essa miscigenação que impulsiona o progresso dos mundos.
A lei de Deus nos impele ao progresso. A forma de alcançá-lo, aliás única, é repetir experiências, reaprendendo, cortando arestas, reparando prejuízos, consertando estragos, fazendo o bem, disseminando a cultura, edificando a paz.
“Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sempre – tal é a lei.” Eis aí, em síntese, o que os Espíritos nos ensinaram a respeito.


sábado, 28 de junho de 2014

As vítimas de Vigarino


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

A esperteza de certos talentos parece ser sempre sinistra. Há quem diga que o mal não existe, que o mau é um ignorante, que o mal do mau é sentir um doentio prazer em destruir e destruir-se, em consumir e consumir-se. É o que, na relação sexual, se chama de sadomasoquismo.
“Vaidade das vaidades, tudo é vaidade!”, diria o Eclesiastes.
Há pessoas muitíssimo inteligentes, se é que a capacidade criativa doentia pode ser assim denominada, que engendram mefistofelicamente situações com vistas a manipular as mentes menos ativas, para não dizermos ingênuas, mas que, por sua vez, são ambiciosas.
É aí que entram os estelionatários.
De aparência humilde, simplória mesmo, voz macia, modos extremamente educados, bem-vestidos, eles se infiltram, sorrateiramente, em nossas vidas, para nos fazer de trouxas na aplicação de seus golpes de mestres.
Vigarino era um deles, até ser preso e colher o que plantou.
Quando foi recolhido ao xadrez, dizem que tocou no telefone de sua empresa de fachada a música “O poderoso chefão”. Ironia das ironias, tudo é ironia! diria ele, ante a cara de riso dos policiais federais que desbaratavam seu império fajuto naquele fatídico dia.
Muita gente pensa que somente pessoas estúpidas caem nos chamados contos do vigário. Vigarino, porém, afirma que pessoas burras não têm 100 mil reais sobrando para lhe doar; só as espertas...
Não se iluda, dizia ele, sou alguém extremamente ladino ao telefone. Se desejar aplicar-lhe um golpe, nada evitará que eu lhe subtraia muita grana. Um dos meus chamarizes é a seguinte frase: “Você vai ganhar uma fortuna, se aceitar ser meu sócio”.
O mesmo posso fazer pela internet. Desde criança, sou conhecido por minha extrema capacidade de persuasão. Bonito, simpático, alegre, comunicativo e, sobretudo, altamente cínico, não tinha o menor escrúpulo em prejudicar alguém, fosse quem fosse, até minha própria mãe, para me dar bem em alguma trama maquiavélica.
Se descoberto, fazia-me de vítima de um engano, ou mesmo dava as costas para o lesado e afastava-me como se o problema não me dissesse respeito. Meu egoísmo, aliado ao poder de persuasão, era ilimitado.
Muitas empresas desonestas adoram trabalhar com pessoas como eu.
Se trabalhasse para o teatro, seria um personagem perfeito.
Empresário de empresa telefônica fraudulenta, treinei inúmeros funcionários de outras centrais telefônicas especializadas em golpes aos usuários incautos ou metidos a espertos. Exemplo: anúncios de TV com a contratação de grandes artistas que, sem saber que estavam sendo usados para golpes em clientes, aceitavam participar de nossas propagandas mentirosas.
Os clientes, ante a visão de um ídolo anunciando um produto “milagroso”, acreditavam cegamente no que era afirmado e compravam o produto.  Para eles, bastava a palavra do artista idolatrado ou da atriz famosa, a seu ver acima de qualquer suspeita.
Nossa arma é a emoção. Quanto mais tocarmos os corações dos consumidores, mais sucesso terá nosso produto.
Não usamos a lógica, apelamos para a sensibilidade da futura vítima, pois se usássemos a lógica, logo ouviríamos dela que não dariam seu suado dinheiro em troco de promessas de estranhos.
Outra característica de nossas vítimas é a ganância. Nesse caso, basta a promessa de que o ganancioso vai ganhar muito dinheiro. Assim, a vítima pode estar em qualquer faixa etária.
Os idosos, como qualquer pessoa endinheirada, são nossas vítimas preferidas. Por temerem depender apenas de aposentadoria, por recearem precisar de auxílio dos filhos, que não querem incomodar... O temor da necessidade é a arma que utilizamos para lhes arrancar dinheiro.
Para finalizar, cito alguns procedimentos fraudulentos com os quais me dei bem em minha venturosa vida de estelionatário, antes de ser preso e ver meu castelo desmoronar: investimentos em inexistentes companhias de gás, oportunidades de grandes negócios mentirosos e venda de moedas de ouro, que, ao serem retiradas, já não valiam mais do que 20% do valor inicial...
Esses são apenas alguns truques que continuarão a ser utilizados por milhares de estelionatários como Vigarino e nos quais alguns deles você certamente já caiu ou cairá, meu esperto leitor, minha linda leitora.
Somente o trabalho honesto e a vida sóbria são fontes seguras da paz de consciência, morada de Deus, amigos leitores; não se esqueçam disso. Materialista não é só quem não crê em Deus; é quem faz das riquezas mundanas e prazeres da carne a finalidade básica de suas vidas e, muitas vezes, mandam os escrúpulos às favas como aquele famoso ministro da educação brasileira o fez.
Esses materialistas travestidos de cristãos são os mais visados por estelionatários como Vigarino.
Voltemos ao Eclesiastes: “E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol".



sexta-feira, 27 de junho de 2014

Pílulas gramaticais (109)


Como devo escrever: “Mais de um colega passou no vestibular” ou “Mais de um colega passaram no vestibular”?
Como regra, a expressão “Mais de um” leva o verbo para o singular.
Em face disso, digamos:
  • Mais de um colega passou no vestibular.
  • Mais de um banco sofrerá problemas decorrentes da crise americana.
  • Mais de um amigo meu já foi assaltado.
  • Mais de um corintiano comemorou ter agora sua própria arena.
Há somente dois casos em que é possível o plural:
1º - quando a ação do verbo sinaliza a ideia de reciprocidade:
  • Mais de um desordeiro se reconciliaram após a confusão.
  • Mais de um inimigo se reconciliaram no dia de Natal.
2º - quando a expressão “mais de um” aparece repetida na oração:
  • Mais de um motorista e mais de um ciclista se feriram no acidente.
  • Mais de um torcedor e mais de um policial se machucaram no conflito.



quinta-feira, 26 de junho de 2014

Todos nós um dia chegaremos à perfeição



Uma leitora pergunta-nos: – Diz O Livro dos Espíritos, na questão 779, que o homem se desenvolve naturalmente, por si mesmo. Como entender esse ensinamento?
Na citada questão os Espíritos superiores dizem que o homem se desenvolve naturalmente, por si mesmo, mas nem todos progridem ao mesmo tempo e da mesma forma. E acrescentam: É então que os mais avançados ajudam, pelo contato social, o progresso dos outros. Esse é o motivo pelo qual o aperfeiçoamento da Humanidade segue sempre uma marcha progressiva, ainda que morosa.
Segundo os ensinos espíritas, existe o progresso regular e lento que resulta da força das coisas; contudo, quando um povo não avança como deveria, Deus lhe suscita de tempos em tempos um abalo físico ou moral que o transforma.
Lemos nas obras espíritas que muitas pessoas que preferem viver na ociosidade, mesmo quando se encontram no mundo espiritual, despertam para a necessidade de progredir quando veem que os amigos e os familiares mais queridos aproveitaram o tempo e se adiantaram, enquanto eles permaneceram estacionários. Esse despertamento os impulsiona para a frente, fazendo com que, a longo prazo, se cumpra o princípio de que todos nós chegaremos um dia à perfeição. A diferença está na velocidade desse processo, mas ele acaba sendo inevitável porque assim o quer o Criador.


quarta-feira, 25 de junho de 2014

Vivemos cercados pelo halo vital das energias que vibram em nossa intimidade


Continuamos ontem à noite, no Centro Espírita Nosso Lar (Londrina, PR), o estudo sequencial do livro Ação e Reação, obra escrita por André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1957 pela Federação Espírita Brasileira.
Eis o texto que serviu de base ao estudo realizado:

Questões para debate

A. Fora da Mansão Paz havia muitas criaturas em grande sofrimento. Como a Mansão as assistia?
B. Quem era Orzil e que tarefa desempenhava?
C. Por que um dos internos na casa, de nome Veiga, estava revoltado com os próprios filhos?

Texto para leitura

25. Vastação purificadora - O aparente descaso para com aquelas criaturas tão sofridas levou Hilário a perguntar se não seria razoável que a Mansão as amparasse. O Assistente explicou que aquelas Entidades não apresentavam os necessários requisitos para serem assistidas. "Firme na execução do programa que lhe assiste –  informou Silas – , nossa casa não lhes podia abrir as portas de imediato, em face do desespero e da revolta em que se comprazem, mas também não desdenhava a possibilidade de prestar-lhes a ajuda possível, fora do campo de ação em que vive sediada." Ali se reuniam, de maneira indiscriminada, milhares de entidades, vítimas de seus pensamentos desvairados e sombrios. "Quando superam a crise de perturbação ou de angústia de que são portadoras, o que pode perdurar por dias, meses ou anos, são trazidas à nossa instituição que, tanto quanto possível, evita abrir-se às consciências ainda positivamente encravadas na revolta sistemática", informou Silas. Uma coisa é atender a Espíritos inconscientes e devedores; outra é lidar com criaturas insensatas e rebeladas. Aquelas entidades, embora vivessem fora dos muros do instituto, contavam, porém, com o amparo da Mansão, através de Entidades recuperadas que ali desenvolviam preciosas tarefas, incumbindo-se da assistência fraterna, em largos setores daquela região. Através destas, o instituto podia atender milhares de consciências necessitadas e saber com segurança quais os irmãos em sofrimento dignos de acesso à Casa, após a transformação gradual a que se ajustam. O amparo não impedia, porém, os assaltos por parte de Inteligências perversas, que ali eram também constantes, principalmente em torno das Entidades que largaram cúmplices bestializados em antros infernais ou em núcleos de atividades terrestres. Nesses casos, as vítimas dessas feras humanas padecem longos e inenarráveis suplícios, através da fascinação hipnótica de que muitos gênios do mal são cultores exímios. Silas refere-se a esses fatos como "fenômenos de flagelação compreensível que alguns místicos do mundo, em desdobramento mediúnico, no reino das trevas, classificaram como sendo vastação purificadora". (Capítulo 5, pp. 59 a 61)

26. Uma casinha em meio ao nevoeiro - Como Hilário não entendesse o porquê da flagelação imposta àqueles Espíritos, Silas ponderou: "Compreendo-lhe o pesar. Indiscutivelmente, tanta dor reunida não seria justa se não viesse de quantos preferiram no mundo o trato diário com a injustiça. Não é claro, porém, que todos venhamos a colher o fruto da plantação que nos pertence?" E informou: "Não encontraremos aqui neste imenso palco de angústia almas simples e inocentes, mas sim criaturas que abusaram da inteligência e do poder, e que, voluntariamente surdas à prudência, se extraviaram nos abismos da loucura e da crueldade, do egoísmo e da ingratidão, fazendo-se temporariamente presas das criações mentais, insensatas e monstruosas, que para si mesmas teceram". Nesse ponto da conversa, o grupo chegou à frente de pequena casa, de cujo interior brotava reconfortante jorro de luz. Cães enormes ganiam de estranho modo, sentindo-lhes a presença. De súbito, um companheiro de alto porte e aspecto rude apareceu e saudou-os, abrindo-lhes passagem. Era Orzil, um dos guardas da Mansão, em serviço nas sombras. Já dentro da casa, dois dos seis grandes cães, aos ralhos do guardião, acomodaram-se junto do grupo. De constituição agigantada, Orzil parecia um urso em forma humana, em cujos olhos límpidos viam-se sinceridade e devotamento. Silas informou que Orzil era um companheiro de cultura ainda escassa, que se comprometeu em delitos lamentáveis no mundo. Sofreu muito sob o império dos antigos adversários, mas, após longo estágio na Mansão, prestava valioso concurso naquela região. Na casa, Orzil mantinha algumas celas, ocupadas por Entidades em tratamento, prestes a serem recebidas pelo instituto. Interpelado pelo Assistente, o companheiro informou que a tempestade ocorrida na véspera trouxera imensa devastação e provocara muito sofrimento nos pântanos, referindo-se, nesse caso, aos precipícios abismais em que se debatiam milhares de almas infelizes e conturbadas. (Capítulo 5, pp. 62 e 63)

27. O caso Veiga - Hilário indagou se seria possível atingir semelhantes lugares, para aliviar os que ali padecem. Orzil, muito triste e resignado, respondeu: "Impossível..." Silas complementou: "Os que se agitam nestas furnas jazem, de modo geral, quase sempre extremamente revoltados e, na insânia a que se entregam, fazem-se verdadeiros demônios de insensatez". "É necessário se disponham à conformação clara e pacífica para que, ainda mesmo semi-inconscientes, consigam acolher com proveito o auxílio que se lhes estende aos corações." Na casa, havia três doentes internados, em franca situação de inconsciência. De fato, ao visitá-los, o grupo ouviu uma gritaria estentórica. As acomodações usadas por eles eram bem rústicas: as celas lembravam boxes de confortável cavalariça, construídas com toda a segurança, em atenção aos objetivos de contenção. À medida que o grupo se aproximava, desagradável odor lhes afetava as narinas. O Assistente explicou: "Vocês não ignoram que todas as criaturas vivem cercadas pelo halo vital das energias que lhes vibram no âmago do ser e esse halo é constituído por partículas de força a se irradiarem por todos os lados, impressionando-nos o olfato, de modo agradável ou desagradável, segundo a natureza do indivíduo que as irradia". "Assim sendo, qual ocorre na própria Terra, cada entidade aqui se caracteriza por exalação peculiar." Nas imediações da cela do irmão Corsino, o cheiro era semelhante ao da carne em decomposição. É que referido Espírito – cujo pensamento continuava enrodilhado ao corpo sepulto – vivia imerso na lembrança dos abusos a que se entregara na vida física e trazia a imagem do próprio cadáver à tona de todas as suas recordações. Noutro abrigo, a porta gradeada permitiu que o grupo visse um homem envelhecido, de cabeça pendida entre as mãos, a clamar: "Chamem meus filhos! chamem meus filhos..." Era o irmão Veiga, que mantinha fixa a ideia na herança que perdera ao desencarnar: vasta quantidade de ouro e bens que passou à propriedade dos filhos, três rapazes que concorriam no mundo ao melhor e maior quinhão, prevalecendo-se, para isso, de juízes venais e rábulas inconsequentes. A psicosfera do enfermo mostrava formas-pensamentos, criadas pelas reminiscências do amigo, em que três jovens apareciam e desapareciam, vagueando entre documentos esparsos, cédulas e cofres cheios de valores... (Capítulo 5, pp. 63 a 65)

28. Vítima da usura - Logo que viu o grupo, Veiga avançou e, apoiando-se nas grades, gritou, dementado: "Quem sois? Juízes? juízes?..." E derramou-se em lamúrias que sensibilizaram a todos: "Lutei por vinte e cinco anos para reaver a herança que me cabia por morte de meus avós... E, quando a vi nas mãos, a morte me arrebatou ao corpo, sem piedade... Não me resignei a essa injunção e permaneci em minha velha casa... Desejava, pelo menos, acompanhar a partilha do espólio que me interessava, mas meus rapazes amaldiçoaram-me a influência, impondo-me, a cada passo, frases venenosas e hostis... Não satisfeitos com as agressões mentais que me infligiam, começaram a perseguir minha segunda esposa, que lhes foi mãe ao invés de madrasta, administrando-lhe tóxicos por medicação inocente, até que a pobrezinha foi internada numa casa de loucos, sem esperança de recuperação... Tudo por causa do nosso rico dinheiro que os malandros querem pilhar... Diante de tal injustiça, pensei suplicar o favor dos seres que povoam as trevas, porque somente os gênios do mal devem ser os fiéis executores da grande vingança..." Veiga enxugou as lágrimas de desespero e continuou: "Dizei-me!... por que motivo terei alimentado infelizes ladrões, julgando acariciar filhos de minhalma? Casei-me quando moço, acalentando sonhos de amor, e gerei espinheiros de ódio!..." Silas pediu-lhe calma, mas o infeliz vociferou, desabrido: "Nunca! nunca perdoarei!... Recorri aos infernos sabendo que os santos me aconselhariam conformidade e sacrifício... Quero que os demônios torturem meus filhos, tanto quanto meus filhos me torturam..." E, transformando o choro em gargalhadas estridentes, passou a bradar: "Meu dinheiro, meu dinheiro, exijo meu dinheiro!" Na cela seguinte havia um homem profundamente triste, sentado ao fundo da prisão, de cabeça pendida entre as mãos e de olhos fixos em parede próxima. Seguindo-lhe a atenção no ponto que concentrava os seus raios visuais, como espelho invisível retratando-lhe o próprio pensamento, André viu larga tela viva em que se destacava enluarada rua de grande cidade, na qual, ele, no volante de um carro, perseguia um transeunte bêbado, até matá-lo sem compaixão. Tratava-se, pois, de um homicida preso a constrangedores quadros mentais que o aprisionavam a punitivas lembranças. (Capítulo 5, pp. 66 e 67)

Respostas às questões propostas

A. Fora da Mansão Paz havia muitas criaturas em grande sofrimento. Como a Mansão as assistia?
Primeiro, Silas explicou que aquelas pessoas não apresentavam os necessários requisitos para serem assistidas dentro da Mansão, que não lhes podia abrir as portas de imediato, em face do desespero e da revolta em que se compraziam. A assistência lhes era dada por meio de entidades recuperadas que desenvolviam preciosas tarefas em largos setores daquela região. Por intermédio delas, o instituto podia atender milhares de consciências necessitadas e saber com segurança quais os irmãos em sofrimento dignos de acesso à Casa, após a transformação gradual a que se ajustavam. (Ação e Reação, cap. 5, pp. 59 a 61.)

B. Quem era Orzil e que tarefa desempenhava?
Orzil era um dos guardas da Mansão, em serviço nas sombras. Numa pequena casa localizada fora dos muros da Mansão, ele tinha aos seus cuidados três Espíritos em franca situação de inconsciência. As acomodações usadas por eles eram bem rústicas: as celas lembravam boxes de confortável cavalariça, construídas com toda a segurança, em atenção aos objetivos de contenção. O tratamento ali precedia uma futura internação na própria Mansão, quando tivessem condições de serem por ela acolhidos.  (Obra citada, cap. 5, pp. 62 a 64.)

C. Por que um dos internos na casa, de nome Veiga, estava revoltado com os próprios filhos?

O motivo era usura. Veiga lutara por vinte e cinco anos para reaver uma herança dos avós. Quando a recebeu, foi colhido pela morte. Ele permaneceu em casa, desejando acompanhar, pelo menos, a partilha do espólio, mas seus filhos amaldiçoaram-lhe a influência, impondo-lhe, a cada passo, frases venenosas e hostis. Além disso, começaram a perseguir sua segunda esposa, que lhes fora mãe ao invés de madrasta, administrando-lhe tóxicos por medicação inocente, até que a pobrezinha foi internada numa casa de loucos, sem esperança de recuperação. Aí residiam o motivo de sua revolta e o desejo de que forças infernais punissem os próprios descendentes.  (Obra citada, cap. 5, pp. 66 e 67.)


terça-feira, 24 de junho de 2014

A infinitude do universo particular


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR

No coração se pode carregar o infinito e também somente um breve sentimento; também se pode viajar pelos continentes ou simplesmente se fechar num local e não mais conhecer novos lugares, nem pessoas, nem cores, nem sons, nem adquirir experiência, pois para isso é necessário viver, ainda mais, querer viver, amar viver; com o amor tudo passa a ter realmente sentido. E no universo particular se encontra tudo, como também pode estar nada.
E, indubitavelmente, o espírito é do tamanho dos seus atos e ações; palavras e sentimentos; pensamentos e intenções. E a alma, acoplada ao mundo da matéria, sobre a mesma dimensão quanto ao tamanho, é o resultado do que propaga.
Há o desejo em ser o herói, mas o vilão ainda existe; ser o professor, mas o aprendiz ainda não assimilou o conteúdo; ser o sábio, mas o incômodo da ignorância ainda perdura; ser liberto, mas a clausura das paixões o impede; amar, mas ainda não é capaz de sentir com a pureza do amor; amparar, mas muito ainda precisa ser amparado.
No entanto, a bondade divina concedeu a cada um a centelha e a qualidade de espíritos perfectíveis. Por isso, a metamorfose se dá do interior para o seu plano externo; a vontade e a decisão são atitudes imprescindíveis para a caminhada do progresso. Haverá sempre os acontecimentos para a tomada da estrada, mas o livre-arbítrio é que definirá os campos floridos ou o descampado sem verde.
E, mesmo assim, o universo particular é imenso, independe do momento, pois o estágio em que se encontra é transitório e antes ou mais tarde sua luz se irradiará para fora de si e iluminará o caminho particular, e como luz não se pode esconder acabará por aclarar os caminhos de outrem, de irmãos que já sorriem e daqueles muitos que as lágrimas ainda escorrem. Tudo sempre depende da opinião decidida, da vontade expressa, da ação concretizada no bem para a claridade do amor e ainda mais compreender que o universo particular está conectado ao universo propriamente dito, ao mundo físico e à imensidade do mundo espiritual; certamente, é a mais deslumbrante certificação do amor divino.
Somos universo particular, envolvidos, num único corpo denominado universo total.
Há a responsabilidade, há a ação e reação, há a necessidade de aprendizado e ainda a expiação, mas há a onipotência de um Pai incomparável regendo os universos que, indiscutivelmente, só almejam o amor.
E assim, há o presente de um universo particular, tão infinito e maravilhoso, no entanto, com a responsabilidade individual de seu regente que tanto deseja elevar-se e ser feliz, mas antes precisa compreender suas ações, palavras, atitudes e pensamentos para cada vez mais sentir-se leve e alçar o voo tão imaginado de seu espírito... mas o espírito isento de suas perturbações.

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/


segunda-feira, 23 de junho de 2014

As mais lindas canções que ouvi (93)



Um presente inesquecível

Ontem foi dia do meu aniversário e, como sempre, recebi inúmeros presentes, além de mensagens lindíssimas que os amigos postaram no Facebook, aos quais agradeço de coração.
A vida deu-me presentes preciosos desde que vim ao mundo: meus pais, meus irmãos, a companheira que me atura há tanto tempo, meus filhos, meus netos, tios e tias, primos e sobrinhos, meus amigos, meus benfeitores espirituais, que jamais se cansam...
Há, porém, dentre tantos presentes, um que recebi do meu pai, em alusão aos meus 14 anos... E esse presente se tornou inesquecível.
Em maio de 1958, a seleção brasileira preparava-se para a Copa do Mundo da Suécia e o Paraguai foi um dos convidados para os jogos de despedida, antes da viagem rumo à Europa.
Como ninguém ignora, foi naquele ano que a seleção trouxe para o Brasil seu primeiro caneco de expressão mundial – a Copa Jules Rimet – e revelou ao mundo dois gênios do esporte que amamos: Garrincha, 24 anos, e Pelé, 17 anos, o garoto que justamente naquela Copa receberia dos jornalistas franceses o título de Rei do Futebol.
O presente dos meus 14 anos foi conhecer o Rio de Janeiro e ver, no Maracanã,  jogar aquela que é considerada, com razão, a melhor seleção de todos os tempos.
A Copa propriamente dita só ouvimos pelo rádio, mas ali, pertinho do campo, vimos os craques que, semanas depois, fariam o povo brasileiro vibrar de emoção, como jamais se vira anteriormente no país.
Para festejar a Copa de 1958, pelo menos dois hinos foram compostos – como dizem, "aos 44 do segundo tempo" –, um de autoria de Alfredo Borba, que falava das cores da bandeira, da CBD (hoje CBF) e por aí afora, e um outro, que ficaria gravado na memória: "A Taça do Mundo é Nossa", obra de quatro publicitários: Wagner Maugeri, Lauro Müller, Maugeri Sobrinho e Victor Dagô.
Esse hino é – evocando meu aniversário de 14 anos e o clima que estamos vivendo de novo com a Copa do Mundo em nosso país – a canção que escolhemos nesta semana, dentro da série “As mais lindas canções que ouvi”.
Eis a letra:

A Taça do Mundo é Nossa

Wagner Maugeri, Lauro Müller, Maugeri Sobrinho e Victor Dagô

A taça do mundo é nossa
Com brasileiro não há quem possa
Êh eta esquadrão de ouro
É bom no samba, é bom no couro

A taça do mundo é nossa
Com brasileiro não há quem possa
Êh eta esquadrão de ouro
É bom no samba, é bom no couro

O brasileiro lá no estrangeiro
Mostrou o futebol como é que é
Ganhou a taça do mundo
Sambando com a bola no pé
Goool!


Você pode ouvir o hino em duas diferentes versões clicando nos links abaixo:

E poderá também ver, na íntegra, a final da Copa de 1958, em que, como disse, ganhamos pela primeira vez a Copa Jules Rimet:




domingo, 22 de junho de 2014

Para onde vamos depois da morte?



É senso comum, pelo menos no Brasil, o pensamento de que veremos de novo, no mundo espiritual, os seres amados que partiram para o além-túmulo. Claro que as ideias de céu e de inferno complicam um pouco as coisas, quando o indivíduo nelas acredita. Afinal, como saber se determinado familiar se encontrará nas mesmas condições em que nos encontraremos logo após a morte?
O assunto foi tratado de forma objetiva, anos atrás, numa das edições da revista Veja, a mais importante publicação semanal de nosso País. A matéria referida discutiu qual deveria ser a resposta mais adequada à pergunta: “Para onde as pessoas vão depois que morrem?”.
A jornalista que assinou a reportagem disse que não passa de uma simplificação da tradição judaico-cristã responder, ante indagações desse tipo, que as pessoas mortas vão para o céu. E sugeriu que, se a pergunta for feita por uma criança maior de 8 anos, devemos dizer-lhe que quando uma pessoa morre seu corpo é colocado dentro de um caixão e enterrado, acrescentando à resposta a informação de que “ninguém sabe exatamente o que acontece depois da morte”.
Em seguida, a jornalista mencionou a resposta que uma professora de São Paulo deu ao filho que lhe perguntou se existe casa no céu. Eis a resposta da mãe: “Filho, nunca alguém que morreu voltou para contar como é lá no céu”. Comentário da jornalista: “Segundo os psicólogos, essa é uma resposta corretíssima. Não há mentira nela, nem fantasia. A morte deve ser encarada como algo tão natural quanto um nascimento”.
Que a morte deva ser encarada de forma natural não padece dúvida. A morte é, em verdade, tão somente uma mudança de estado, porquanto o que morre é o veículo físico de que a alma se vale enquanto ele lhe é útil. Morto o corpo, a alma se desvencilha dele e parte para uma nova experiência, não mais chumbada ao mundo corpóreo.
O que se critica no texto da jornalista referida é a ênfase que ela deu a duas informações equivocadas. A primeira: “não se sabe exatamente o que acontece depois da morte”. A segunda: “nunca alguém que morreu voltou para contar como é lá no céu”.

*

Este tema vem à tona no momento em que lembramos as tragédias que vitimaram tantas pessoas no início deste ano em várias partes do mundo, em decorrência de terremotos, deslizamento de terras e acidentes vários.
Diante da dor dessas perdas, é importante que todos nós e as pessoas envolvidas nesses tristes episódios lembremos que a morte não existe na forma como nós geralmente a encaramos. Nossos mortos queridos não desapareceram. Eles continuam a viver e nós os veremos de novo quando também ultrapassarmos os umbrais do além-túmulo.
Evidentemente, não nos cabe pedir que a jornalista a que nos referimos e o leitor amigo aceitem as informações contidas nas obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier, que descrevem em minúcias a vida no mundo espiritual e as cidades que ali, como aqui, existem. Mas àquele que trabalha para uma publicação do porte da revista Veja não assiste o direito de ocultar do leitor as experiências feitas a respeito da morte por especialistas renomados de nossa época, como os doutores Raymond Moody e Elisabeth Kübler-Ross, cujas pesquisas tiveram como resultado a criação de uma nova ciência, a Tanatologia, que significa “estudo da morte”.
Médico, psicólogo e parapsicólogo nascido em Porterdale, Geórgia, Estados Unidos da América, Raymond Moody tornou-se mundialmente conhecido como autor de livros sobre a vida depois da morte e as experiências de quase-morte, um termo criado por ele próprio em 1975. Moody estudou filosofia na Universidade da Virgínia, onde obteve bacharelato em artes em 1961, mestrado em 1967 e posterior doutoramento em filosofia em 1969. Obteve também doutoramento em psicologia na Universidade da Geórgia Ocidental, onde se tornou professor nessa área. Em 1976, foi premiado com um doutoramento em medicina pela Faculdade de Medicina da Geórgia e em 1998 foi nomeado Mestre em Estudos da Consciência na Universidade de Nevada, Las Vegas. Seu livro mais vendido - Vida Depois da Vida - deu origem ao filme homônimo, que lhe valeu uma medalha de bronze na categoria Relações Humanas no Festival de cinema de Nova Iorque.
Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra suíça que faleceu em 2004, é autora do inovador livro On Death and Dying (Sobre a Morte e o Morrer), em que ela apresentou pela primeira vez o seu agora conhecido modelo Kübler-Ross. Eleita em 2007 para o National Women's Hall of Fame dos Estados Unidos, é autora de mais quatro livros: Morte – estágio final da evolução, Perguntas e respostas sobre a Morte e o Morrer, A morte: um amanhecer e A roda da vida: memórias do viver e do morrer.
Moody e Ross não foram, no entanto, os pioneiros no trato desse tema fora do âmbito religioso, ao qual se dedicaram, antes deles, pesquisadores renomados e insuspeitos, como Ernesto Bozzano, autor de A Crise da Morte, e Arthur Conan Doyle, que nos apresenta em seu livro History of the Spiritualism relatos e informações a respeito da imortalidade da alma e das condições da vida no além-túmulo.


sábado, 21 de junho de 2014

O humanitismo de Quincas Borba na atualidade


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Salut!
Aderindo ao humanitismo de Quincas Borba, Genebaldo não perdia uma só conferência do grande orador Francelino Perivaldo, depois que essa filosofia se tornou popular. Desse modo, nunca lhe esquecera a Genebaldo uma certa exortação francelina ao término de brilhante palestra deste, como de resto ocorria em suas demais apresentações. Ante lotado auditório de cerca de 501 pessoas,  sendo que estava presente de fato, em espírito, apenas uma, o palestrante apelou:
— Queridos irmãos humanitistas, compareçam e convidem vossos amigos, parentes e conhecidos a participarem de meu seminário no dia X, às 20h, na casa Y. Na saída deste centro de convenções, recebereis convites impressos, ao módico preço de dez centavos cada um, cuja arrecadação servirá simplesmente para cobrir os gastos com divulgação e organização do evento.
Aqueles que puderem mais adquiram cem ou mais convites, os que puderem menos, comprem ao menos um; e quem nada puder pagar, leve, assim mesmo, dez convites gratuitos. O importante é divulgar nosso brilhante trabalho em prol do humanitismo.
Aplausos, vivas e hurras foram ouvidos estridentemente nesse instante. E Genebaldo saiu dali refletindo em como era importante divulgar uma filosofia de vida tão bela como aquela. Foram arrecadados trinta e três mil euros e trinta centavos.
Passou então a estudar a nova filosofia durante os dois anos em que pôde conviver com o admirável Francelino. Em seu entusiasmo, editou um jornalzinho, por conta própria, no qual também expunha suas conclusões e contribuições decorrentes dos estudos feitos sobre o humanitismo, a seu ver a mais completa filosofia já criada por alguém na Terra.
Certo dia, porém, foi surpreendido com uma crítica severa de Perivaldo, em palestra pública deste. Embora o tribuno não citasse nome, recriminava veementemente as pessoas “exibidas” que buscavam a autopromoção, a pretexto de divulgar a nova filosofia. Percebendo a indireta, Genebaldo entristeceu-se, mas não arrefeceu seu entusiasmo. Refletiu que o que ouvira apenas expressava a fome de humanitas... E continuou a divulgar os novos princípios com redobrado amor e humildade.
O tempo passou, Genebaldo mudou-se para outra cidade. Ali, conheceu novo grupo de adeptos do humanitismo coordenado por Rubião. Resolveu então participar de um estudo organizado por seu coordenador, que estava a serviço do grande chefe da organização local, o Palha. Já no primeiro dia de sua presença, ouviu a recomendação do coordenador do estudo, o Rubião, para que ninguém ali tentasse alcançar posições de destaque, haja vista que um dos princípios humanitistas é o de que o mal não existe. Consequentemente, para o bem geral, seria necessário que apenas o humanitas prevalecesse. E completou dizendo que havia diversas formas de alguém buscar o destaque pessoal e trabalhar em prol da realização de seus interesses pessoais. Todas condenáveis.
Uma delas tinha por objetivo alcançar bens materiais; outra, ascendência sobre as pessoas; outra ainda, bens espirituais. Todas elas estavam erradas, pois antes de mais nada era preciso satisfazer a fome de humanitas e apenas nisso estava o nosso dom da imortalidade.
Humanitas, como princípio da filosofia humanitista, é a síntese do universo, e este é o homem. Assim, pois, não existe morte nem morto, vez que o fim de uns resulta na continuação de outros. Numa guerra por alimentos, humanitas se materializa no vencedor. Se o alimento é um campo de batatas, não pode haver sua divisão entre os dois povos que as disputam, porque desse modo o alimento seria escasso para ambos os lados. Assim, a guerra se justificaria pela plena satisfação à fome de humanitas. Ao vencido, ódio ou compaixão; “ao vencedor, as batatas”.
Quarenta anos depois, Genebaldo observou a justeza dessas colocações. O tribuno humanitista tornou-se destaque em sua pátria, recebendo de humanitas farta provisão de alimentos, que lhe proporcionaram adquirir outro dom: a saúde física e espiritual. O coordenador dos estudos ascendeu a diretor de sua casa humanitista; e Genebaldo descobriu que era insubstituível, pois assim como só existiu um Beethoven, só existiria um Genebaldo, o bolha.
A única condição imposta a Genebaldo por humanitas foi a de deixar as batatas ao vencedor e contentar-se em ser  bolha de água fervente que a manipula  eternamente, em seu nascer e renascer, assim como ocorreria com o próprio Quincas Borba, que nada mais era do que a reencarnação de Santo Agostinho.
Não entendeu, amiga leitora? Leia então meu romance Quincas Borba e tente compreender a mensagem subliminar que ali está.
Au revoir.



sexta-feira, 20 de junho de 2014

Pílulas gramaticais (108)


O verbo “morar” pede a preposição “em”, não a preposição “a”.
Quem mora, mora em algum lugar.
Eis os exemplos:
- João mora em Campinas.
- Maria mora no bairro Boa Vista.
- Pedro mora na Avenida Higienópolis.
- Nós moramos na Rua João XXIII.
A mesma regra aplica-se ao verbo “residir” e aos vocábulos “residente”, “situado” e “sito”.
Exemplos:
- Pedro Vasconcelos, residente na Rua Fortaleza, 450, acaba de se diplomar.
- Banco Santander, situado na Avenida Paulista...
- Passei a residir na Rua das Flores.
Constitui um erro, portanto, dizer: “Moramos à Rua Fernando de Noronha”, do mesmo modo que soaria muito mal dizer: “Moro agora ao bairro Vila Nova”.



quinta-feira, 19 de junho de 2014

Jó e Job são a mesma pessoa


Um leitor diz-nos que ao ler o Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IV, item 14, deparou com esta citação: "Job XIV:10-14". Em face disso, pergunta-nos: “Quem é Job?”, acrescentando que não encontrou tal nome na Bíblia.
O livro de Job é o vigésimo título do Antigo Testamento, conforme lemos na edição da Bíblia comemorativa do IV Centenário da cidade do Rio de Janeiro, publicada pela editora Livros do Brasil S.A., conforme tradução feita pelo padre Antonio Pereira de Figueiredo, vol. I, pág. VIII.
O livro de Job, que faz parte do vol. II, págs. 110 e seguintes, inicia-se assim: “Havia um varão na terra de Hus, por nome Job, e era este um varão sincero e reto, e que temia a Deus, e se retirava do mal”.
Na edição da Bíblia Sagrada, publicada por Edições Paulinas, tradução de Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin, os tradutores optaram pelo nome Jó, em vez de Job, por sinal mais conhecido e usado pelas pessoas. Quem jamais ouviu a frase “paciência de Jó”?
Resumindo, Job e Jó são uma única pessoa e podemos usar a versão que preferirmos, cientes, no entanto, de que Figueiredo, o tradutor que optou por Job, integra a lista dos autores considerados clássicos da língua portuguesa.



quarta-feira, 18 de junho de 2014

Pérolas literárias (80)


Presença do amor

Auta de Souza


Deus abençoe o pão que dás à porta
Aos romeiros cansados da Agonia,
O teto aos que se vão em noite fria
Na dor em que a nudez se desconforta.

Deus te abençoe o raio de alegria
Com que a força da fé se te transporta,
No rumo da esperança semimorta
Para trazê-la à glória de outro dia.

Deus te abençoe por tudo quanto fales
Para extinguir tristezas, dores, males,
Que se amontoam na penúria imensa...

Deus te abençoe, porém, com mais ternura
A presença da Paz e da Aventura
De todo Amor que dês sem recompensa...


Do livro Auta de Souza, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
  


terça-feira, 17 de junho de 2014

Há sempre a presença de um amigo


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR

Foi assim que a alma da jovem menina se acalmou: com o seu próprio recolhimento.
Fora de si, um mundo sem parada e com diferenciados ruídos brandia vorazmente, mas no interior da jovem a paz finalmente construíra um lar para a sua morada, para a harmonia da alma, espírito secular.
Até aquele momento, Marie vivera muita perturbação externa e inquietude interior. A vida material era muito restrita, para não dizer, quase escassa. A comida era contada, existia mesmo para o corpo sobreviver. E todas as coisas materiais, retratando somente as mais básicas, havia em quantidade realmente limitada. No entanto, o desconforto maior para a jovem era o relacionamento tão áspero e infeliz que passava no lar, na verdade, em casa com a família, pois lar será chamado quando o amor, o respeito, o entendimento existirem entre os participantes do grupo familiar, senão todos os três, mas pelo menos um deles com a sabedoria de que os outros dois também existem para serem desenvolvidos.
Os pais não se entendiam, tão menos se respeitavam, e com as demais adversidades, realmente, o ambiente se tornava desequilibrado e quase inabitável.
De mansinho, a jovem menina deixava o casebre e buscava o lugar que a acalmava, o alto do Morro da Luz, local bem próximo de onde morava. Recebera esse nome por ser um morro solitário no meio de um descampado plano; ele recebia antecipadamente a luz da lua.
E era para lá que Marie rumava quando a situação em casa estava ainda mais comprometida que de costume. No morro, a jovem se sentava em cima de um pedacinho de papel que sempre levava e tanto olhava a magnífica lua tentando obter respostas para as suas questões, sossego para o seu coração.
Foi em mais uma noite assim, numa conversa com a lua, que seu amigo se aproximou, sentou-se ao seu lado no morro e, em paz e quieto, também passou a observar a senhora do céu.
Maravilhosamente, o luar brilhava na calma tão própria e clara, na grandeza de sua conquista humilde e eterna. E isso impressionava a jovem franzina. E no morro não havia flores, só mesmo uma plantação rasteira e ressequida, mas nele a luz da lua chegava antes.
E Marie, percebendo a companhia, começou a dizer:
– Que bom que veio, Frédéric. Estava precisando mesmo conversar, não me lamentar, somente conversar um pouco.
– Sim, minha amiga. Estou aqui. Como foi o seu dia? – o amigo quis saber.
– Meu dia foi como muitos outros, mas o mais importante é que pude viver e nada de pior me aconteceu, nem à minha família ‒ a jovem, contentada, falou.
– Sim, Marie. Quando se passa um dia sem percalço também é muito relevante e apreciável. E muito se deve agradecer ‒ o amigo completou.
– A comida não foi suficiente, mas não passamos a fome de um tempo atrás, então, já é um presente. Meu pai não nos espancou, bêbado, quando chegou do trabalho. Minha mãe não foi humilhada quando foi levar a roupa limpa e passada à sua cliente da alta sociedade. Meus irmãos não choraram de dor na barriga. O nosso cãozinho teve um pouco de comida para se manter. Pude ir à escola, mesmo que descalça. Recebemos alguns baldes de água potável. E ainda com tanta vontade, ganhei da vizinha um pedaço de bala de açúcar derretido e enrolado como bolinhas. Quantos presentes, Frédéric, pudemos receber! Tanto agradecemos ao Senhor ‒ concluiu a jovem.
– Pois bem, Marie, e tantos mais pudemos vivenciar só por hoje. Como poder viver mais um dia; ter a liberdade para ir e vir; estar com pessoas que amam mesmo que seja do seu jeito, no entanto, amam; poder ver o céu e agora as estrelas; sorrir para quem se quer bem; aproveitar a oportunidade de cada novo tempo; conscientizar-se da oração para apaziguar ou simplesmente agradecer; sentir o perfume, mesmo que de poucas flores, ainda assim, são flores; sentir o vento nos abraçar; saber que embora esteja uma situação não muito agradável, mas somos participantes da vida e tudo tende a se transformar, a se melhorar; lembrar-se sempre da existência de Deus, nosso Criador e Senhor; recordar que o sol nasce sempre para um novo amanhecer.
E assim ficaram mais um pouquinho conversando, a jovem e seu amigo.
De longe, somente a figura da jovem era contornada e presente, mas ela continuava dialogando com seu amigo enviado, como fazia nas noites estreladas e nos momentos mais necessitados da luz e da sabedoria do amparo divino.

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/



segunda-feira, 16 de junho de 2014

As mais lindas canções que ouvi (92)


O meu guri

Chico Buarque


Quando, seu moço,
Nasceu meu rebento,
Não era o momento
Dele rebentar.
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Pra lhe dar.
Como fui levando,
Não sei lhe explicar.
Fui assim levando,
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá...
Olha aí! Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega suado
E veloz do batente,
Traz sempre um presente
Pra me encabular.
Tanta corrente de ouro,
Seu moço!
Que haja pescoço
Pra enfiar...
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro:
Chave, caderneta,
Terço e patuá,
Um lenço e uma penca
De documentos
Pra finalmente
Eu me identificar.
Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega no morro
Com carregamento,
Pulseira, cimento,
Relógio, pneu, gravador,
Rezo até ele chegar
Cá no alto,
Essa onda de assaltos
Tá um horror.
Eu consolo ele,
Ele me consola,
Boto ele no colo
Pra ele me ninar,
De repente acordo,
Olho pro lado,
E o danado já foi trabalhar,
Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega estampado,
Manchete, retrato
Com venda nos olhos,
Legenda e as iniciais.
Eu não entendo essa gente,
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais.
O guri no mato,
Acho que tá rindo,
Acho que tá lindo
De papo pro ar.
Desde o começo eu não disse,
Seu moço!
Ele disse que chegava lá...
Olha aí! Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
É o meu guri!... (3 vezes)


Você pode ouvir a canção acima, na voz de um dos intérpretes abaixo, clicando no link respectivo:


domingo, 15 de junho de 2014

Futebol, política e religião não podem ser discutidos?


Há um consenso, pelo menos aqui no Brasil, de que política, futebol e religião são assuntos que não se discutem. Concordamos, obviamente, com tal pensamento, embora com ressalvas.
É claro que o argentino e o brasileiro, quando lhes perguntam qual o maior jogador de futebol da história, jamais chegarão a um acordo, porque nesse tipo de discussão entra o fator nacionalismo, que impede ao argentino reconhecer que existiu na Terra alguém superior a Maradona, algo que é, porém, perfeitamente possível a uma pessoa nascida na Argentina, se destituída de preconceitos em relação ao tema.
Em política dá-se o mesmo. Um ex-udenista jamais admitirá Juscelino Kubitschek de Oliveira como um estadista que deveríamos reverenciar sempre, conquanto haja pessoas, que um dia foram filiadas à UDN, que o admitem, desde que igualmente desprovidas do espírito partidário que só vê qualidades em seus companheiros e apenas defeitos nos oponentes.
Ocorre no tocante à religião algo semelhante. Pastores evangélicos inúmeros têm um prazer especial em combater o Espiritismo e disseminar em seus templos ideias que ocasionam, muitas vezes, verdadeiro pavor por tudo que diga respeito à Doutrina codificada por Kardec.
Há, no entanto, pastores que se tornaram espíritas atuantes, como o confrade Izaias Claro, de Osvaldo Cruz (SP), e aqueles que, embora professando suas crenças, nutriam simpatia pelas ideias espíritas, como o pastor presbiteriano Nehemias Marien(1), de formação calvinista, que não apenas aceitava a reencarnação como também os fenômenos mediúnicos, a ponto de haver dito, em entrevista concedida a Fátima Farias, que “o Espiritismo é o mais caudaloso afluente do Cristianismo”, sendo dele estas palavras: “Considero a Bíblia como o mais antigo livro de psicografia e mediunidade. Eu acho que Jesus era o médium perfeito, e que a mentalidade kardecista todos nós a temos”.
Com pessoas lúcidas e desprovidas de preconceitos tolos é possível, portanto, discutir política, futebol e religião, mas, infelizmente, tal não é possível com os fanáticos de qualquer origem, sejam eles católicos, protestantes, espíritas ou ateus.


(1) Nosso amigo Alamar Régis Carvalho teve uma feliz oportunidade de entrevistar o pastor Nehemias Marien, cujas lúcidas ideias podem ser vistas no YouTube clicando neste link: https://www.youtube.com/watch?v=L_A6VMTyUxo