segunda-feira, 31 de agosto de 2020



Considere as frases abaixo e assinale se existe, entre elas, alguma correta:
1. Fazem dois meses que não chove.
2. Vão fazer dez dias que não saio de casa.
3. Não podem haver rasuras neste documento.
4. Da minha casa até a de Maria é cinco quadras.
5. Filmes, novelas, boa conversa, nada o tiravam da apatia.
6. Se não vier logo as chuvas, como faremos?
7. É precária as condições do prédio.
8. Vossa Senhoria vos preocupais demasiadamente com vossa imagem.
9. Quais de vós irão à escola?
10. Antigamente podia existir opiniões diferentes sobre o assunto.
11. Os Lusíadas imortalizou Camões.
12. A pátria não é ninguém: a pátria são todos.
Das frases apresentadas, somente a última está correta.
Aqui estão as demais frases, depois de corrigidas:
1. Faz dois meses que não chove.
2. Vai fazer dez dias que não saio de casa.
3. Não pode haver rasuras neste documento.
4. Da minha casa até a de Maria são cinco quadras.
5. Filmes, novelas, boa conversa, nada o tirava da apatia.
6. Se não vierem logo as chuvas, como faremos?
7. São precárias as condições do prédio.
8. Vossa Senhoria se preocupa demasiadamente com sua imagem.
9. Quais de vós ireis à escola?
10. Antigamente podiam existir opiniões diferentes sobre o assunto.
11. Os Lusíadas imortalizaram Camões.




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domingo, 30 de agosto de 2020



As crianças e seus amigos invisíveis

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De Londrina-PR

Tema central do filme O Amigo Oculto, estrelado por Robert De Niro, as crianças realmente se entretêm com amigos imaginários?
Segundo diversos psicólogos, a resposta é sim, e o percentual dos casos apurados em todo o mundo revela que o fato é mais comum do que se pensa, ou seja, não é uma ou outra criança que diz conversar com amigos que ninguém vê. O seu número seria muito grande.
A questão que se impõe é, portanto, outra: – Os amigos supostamente imaginários são fruto da imaginação infantil ou seres reais que os adultos não veem mas que as crianças veem e que com elas conversam, como fazem os amiguinhos encarnados?
A vidência mediúnica, que Allan Kardec estudou em minúcias nos itens 100 e 190 de O Livro dos Médiuns, é assunto pacífico no campo da fenomenologia espírita.
Essa faculdade, que depende da organização física do médium, permite a este ver os Espíritos em estado de vigília, ou seja, estando o sensitivo perfeitamente acordado. Como os fenômenos mediúnicos não ocorrem à revelia das autoridades espirituais superiores, é claro que há Espíritos que se deixam ver e há outros que não são vistos, o que não significa que estejamos sós, porquanto os desencarnados habitualmente nos rodeiam.
A propósito de um estudo feito pelo Dr. H. Bouley sobre a evolução da raiva nos cães, que experimentam nas intermitências dos acessos uma espécie de delírio, Kardec examinou o fenômeno das visões de seres desencarnados que ocorre com as criancinhas e com certos animais, sobretudo o cão e o cavalo, concluindo que, no tocante às crianças, a vidência mediúnica parece ser frequente e mesmo geral. (Leia sobre o assunto a Revista Espírita de 1865, pp. 260 a 264.)
A existência da mediunidade de vidência, informam os Espíritos, foi a primeira de todas as faculdades dadas ao homem para se corresponder com o mundo invisível. Em todos os tempos e em todos os povos, as crenças religiosas se estabeleceram sobre revelações de visionários ou médiuns videntes. A Revista Espírita de 1866, págs. 120 a 123, trata do assunto.
Um caso de vidência numa criança de quatro anos, verificado em Caen (França), levou Kardec a reconhecer que a mediunidade de vidência não apenas parecia mas era, efetivamente, muito comum nas crianças, e isso, segundo o Codificador, não deixava de ser providencial. “Ao sair da vida espiritual, explicou Kardec, os guias da criança acabam de a conduzir ao porto de desembarque para o mundo terreno, como vêm buscá-la em seu retorno. A elas se mostram nos primeiros tempos, para que não haja transição muito brusca; depois se apagam pouco a pouco, à medida que a criança cresce e pode agir em virtude de seu livre arbítrio.” (Cf. Revista Espírita de 1866, pp. 286 e 287.)
Ninguém, pois, se assuste quando vir que seu filho anda a conversar com “amigos” que ele diz ver e que, no entanto, não vemos.
Até os sete anos de idade, o Espírito da criança encontra-se em fase de adaptação para a nova existência e ainda não existe uma integração perfeita entre ele e a matéria orgânica, fato que lhe permite emancipar-se e, eventualmente, ver vultos desencarnados que lhe fazem companhia, o que nos permite deduzir que os amigos imaginários das nossas crianças só o são na aparência. Eles não são imaginários, mas tão somente invisíveis.




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sábado, 29 de agosto de 2020



Muitas vidas e eterno aprendizado

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Bom dia!
Gostaria de refletir um pouco sobre alguns estudiosos estrangeiros contemporâneos que, ao longo de muitos anos de estudo e pesquisa, constataram a realidade da sobrevivência do espírito após a morte e seu retorno em novos corpos para a ascensão (quase) infinita rumo à perfeição.
Hoje, começo com o dr. Brian Weiss que, entre outras obras sobre a imortalidade do Espírito, publicou: Muitas Vidas, Muitos Mestres. No Brasil, a obra foi editada pela Sextante.
Weiss tornou-se doutor em medicina em 1970, em Yale, EUA, depois, professor e diretor na área de psiquiatria. O caso que inicia narrando ocorreu com sua paciente chamada Catherine, na época (1980), com 27 anos, que chegou ao seu consultório aterrorizada e deprimida.
Após 18 meses de acompanhamento de sua paciente, sem resultados pelos métodos tradicionais, Brian tentou a hipnose.
Foi quando sua paciente passou, para assombro dele, a relatar-lhe acontecimentos de vidas passadas. Essas ocorrências estavam relacionadas aos fatores causais de seus sintomas atuais.
Após algum tempo, Catherine começou a incorporar entidades espirituais que, segundo relato do autor do livro, possuíam grande evolução. Com elas, veio a conhecer diversos segredos da vida e da morte. Eis o que ele diz, no prefácio de seu livro:

Anos de um estudo disciplinado haviam-me permitido treinar a mente como cientista e como médico, conduzindo-me ao longo de estreitas veredas no conservadorismo da minha profissão. Desprezava tudo aquilo que não fosse passível de ser provado por métodos científicos tradicionais. Estava ao corrente de alguns estudos em parapsicologia que eram conduzidos em universidades de renome por todo o país, mas que não conseguiam despertar a minha atenção. Para mim parecia tudo demasiado rebuscado.

Diz o dr. Brian Weiss que a medicina psiquiátrica está repleta de teorias sobre o que ocorre na mente humana para lá de nossa compreensão. Uma delas é a de Carl Jung sobre o "inconsciente coletivo", que nos permitiria o acesso às memórias de toda a raça humana. Ou seja, apesar de todo o meu respeito a Jung, não faltam ideias para explicar o que não tem explicação para quem presencia o fenômeno. Por isso Kardec afirmou, com sabedoria, que o Espiritismo é ciência de observação e também de experimentação.
O leitor inconformado de que tudo termina nesta breve existência é motivado a continuar a leitura desse e de outros livros similares após ler a seguinte informação:

Os cientistas estão a começar a procurar essas respostas. Nós, como sociedade, temos muito a ganhar com a investigação sobre os mistérios da mente, da alma, da continuação da vida para além da morte, e da influência das experiências de vidas passadas no nosso comportamento atual. É óbvio, como se compreende, que as ramificações são ilimitadas, em especial nos campos da medicina, psiquiatria, teologia e filosofia.
No entanto, a investigação cientificamente rigorosa neste campo ainda se encontra na sua infância. Têm sido dados grandes passos para desvendar a informação a este respeito, mas o processo é lento e depara com grande resistência por parte de cientistas e leigos com ideias análogas.
Ao longo de toda a história, a humanidade sempre resistiu a mudanças e à aceitação de novas ideias. Os registos históricos estão repletos de exemplos. Quando Galileu descobriu as luas de Júpiter, os astrônomos da época recusaram aceitar ou até mesmo olhar para esses satélites, porque a existência dessas luas era motivo de conflito com as suas crenças aceites de antemão. O mesmo se passa agora com psiquiatras e outras terapeutas, que recusam examinar e avaliar as provas consideráveis que têm sido reunidas sobre a sobrevivência após a morte corporal e sobre as memórias de vidas passadas. Os seus olhos continuam obstinadamente fechados.

Tudo isso, que Brian Weiss e outros cientistas atuais vêm investigando, já vem sendo revelado à humanidade há muito tempo. Começou na antiguidade, mas acentuou-se no século XIX, principalmente após a extraordinária obra coletada por Allan Kardec, que lhe foi transmitida por diversos médiuns. Muita coisa ainda está prevista para acontecer, como o retorno das materializações e outras manifestações de Espíritos, semelhantes às que tivemos por meio de médiuns como Daniel Dunglas Home, Kate Fox, Charles Edward Williams, Florence Cook, Anne Eva Fay, citadas por Samuel Magalhães em seu livro Daniel Dunglas Home: o médium voador (EBM Editora, 2013, p. 158), e ainda, do mesmo autor, Anna Prado, a Mulher que Falava com os Espíritos. Os fenômenos de cura e mediúnicos converteram o judeu Frederico Fígner ao Espiritismo. Fígner pôde conversar com o Espírito materializado de sua filha Ester, desencarnada na adolescência.
Nunca me esqueço da leitura de jornais e revistas cariocas arquivados na Biblioteca de Obras Raras da Federação Espírita Brasileira, há cerca de 30 anos. Ali, estampavam-se matérias com títulos como: "César Lombroso diz que o Espiritismo é coisa de loucos", ou: "César Lombroso Ridiculariza o Espiritismo". Até que, algum tempo depois, era estampado, justiça seja feita, com o mesmo destaque: "César Lombroso converte-se ao Espiritismo". O relato desse psiquiatra espírita sobre sua conversão pode ser encontrado em sua obra intitulada Hipnotismo e Mediunidade, publicada pela Federação Espírita Brasileira. Os fenômenos com a médium napolitana Eusápia Paladino foram tão impressionantes e convincentes, que Lombroso se arrependeu de ter zombado do Espiritismo (op. cit., p. 38).
Também... quem não se converteria ao Espiritismo, após conversar com a própria mãe, desencarnada e materializada a sua frente? Por falta de espaço, não entrarei em detalhes, mas convido o leitor a ler também essa obra.
Para quem deseja aprofundar seus conhecimentos sobre a materialização de Espíritos, sem receio de ser considerado louco ou mentiroso, outras informações poderão ser obtidas nas obras citadas e, ainda, em Charles Richet: o apóstolo da ciência e o espiritismo.
Até a próxima...




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sexta-feira, 28 de agosto de 2020



O Espiritismo perante a Ciência

Gabriel Delanne

Parte 24

Continuamos o estudo do clássico O Espiritismo perante a Ciência, de Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la Science.
Nosso objetivo é que este estudo possa servir para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

Questões preliminares

A. É verdade que nos anais da Igreja Católica há registros de casos de bicorporeidade?
B. Durante o fenômeno da bicorporeidade pode o corpo real morrer?
C. Quando desprendido do corpo, o Espírito tem percepções para nós desconhecidas?

Texto para leitura

579. Perguntar-se como é que a alma atua de maneira assaz eficaz sobre o perispírito, para determinar movimentos do corpo que revelam, por vezes, uma grande força mecânica, que a alma seria impotente para produzir. Não é espantoso verificar que o Espírito, pela vontade, pode fazer o corpo executar os mais rudes trabalhos, que um Hércules levante com o braço retesado os mais pesados pesos?
580. A alma é a mão do mecânico, a força é a energia vital ou fluido nervoso contido nos diferentes aparelhos do cérebro, da medula espinal e dos nervos.
581. A experiência nos mostra que existe no homem um órgão fluídico, que é o esboço sobre o qual se modela o corpo. Em certas circunstâncias, o perispírito pode desprender-se do invólucro, ao qual está ligado durante a vida, e se materializar a ponto de tornar-se visível e agir à distância.
582. Tais fenômenos não eram desconhecidos dos antigos. Lemos, com efeito, nas histórias de Tácito:
“Durante os meses que Vespasiano passou em Alexandria, esperando a volta periódica dos ventos do estio e a estação em que o mar é calmo, houve muitos prodígios pelos quais se manifestou o favor do céu e o interesse que tomavam os deuses por esse príncipe. Os prodígios redobraram o desejo de Vespasiano de visitar a morada sagrada dos deuses, a fim de os consultar a respeito do Império. Ordena que fechem o templo para todos. Entra sozinho e muito atento ao que ia dizer o oráculo, quando percebe atrás dele um dos principais egípcios, de nome Basilide, que ele sabia estar retido doente, distante muitos dias de Alexandria. Informa-se dos sacerdotes se Basilide veio nesse dia ao templo, e dos transeuntes se o viram na cidade; manda, enfim, homens a cavalo e se certifica de que, naquele momento, ele estava a 800 milhas de distância. Não duvidou mais da realidade da visão e o nome de Basilide lhe serviu de oráculo”.
583. Os anais da Igreja Católica narram muitos fatos de desdobramento, que se produziram em pessoas piedosas. Afonso de Liguori foi canonizado, antes do tempo requerido, por se haver mostrado em dois lugares diferentes, o que passou por um milagre. É verdade que, pelos mesmos fatos, pobres mulheres, tidas por feiticeiras, foram queimadas pelo Santo Ofício.
584. Santo Antônio de Pádua pregava na Espanha, no momento em que seu pai, residente em Pádua, na Itália, era conduzido ao suplício, sob a acusação de homicídio. Nessa ocasião, aparece Santo Antônio, demonstra a inocência de seu pai e aponta o verdadeiro culpado, que foi castigado mais tarde. Antônio, nesse mesmo instante, pregava em Espanha.
585. Dassier cita o caso de S. Francisco Xavier, que se achava, ao mesmo tempo, em duas embarcações, durante uma tempestade, e encorajava os companheiros, em perigo. Eis como seus biógrafos referem o prodígio:
“Ia S. Francisco Xavier, em novembro de 1571, do Japão para a China, quando, sete dias depois da partida, assaltou o navio que o levava violenta tempestade. Temendo que uma chalupa fosse arrastada pelas vagas, o piloto ordenou a quinze homens da tripulação que a amarrassem ao navio. Caíra a noite, enquanto se trabalhava nessa faina, e os marinheiros se viram surpreendidos por uma vaga e desapareceram com a chalupa. O santo ficou em preces, desde o começo da tempestade, que redobrava sempre de furor. Os que ficaram, entretanto, no navio, lembravam-se dos companheiros da chalupa e os julgaram perdidos. Passado o perigo, Xavier exortou-os a que tivessem coragem, assegurando que os encontrariam dentro de três dias. No dia seguinte, fez alguém subir ao mastro, sem que nada se descobrisse. O santo entrou, então, em seu camarote, e pôs-se a orar. Depois de ter passado, assim, grande parte do dia, subiu ao tombadilho, cheio de confiança, e anunciou que a chalupa estava salva. Entretanto, como nada ainda se visse, no dia seguinte, a tripulação, sentindo-se sempre em perigo, recusou esperar por mais tempo companheiros que considerava como perdidos. Mas Xavier lhes reanimou a coragem, concitando-os, pela morte do Cristo, a um pouco mais de paciência. Reentrou depois em seu camarote e redobrou de fervor na prece. Enfim, após três longas horas de espera, vê-se aparecer a chalupa e, em breve, os quinze marinheiros, que se supunham perdidos, alcançaram o navio. Segundo o testemunho de Mendes Pinto, produziu-se, então, um fato dos mais singulares. Quando os homens da chalupa subiram ao convés e o piloto quis largá-la, eles gritaram, dizendo que era preciso deixar, primeiro, sair Xavier, que estava com eles. Em vão procuram persuadi-los de que ninguém ficara na chalupa, mas os marinheiros afirmavam que Xavier os acompanhara durante a tempestade, reanimando-lhes a coragem, e que conduzira a embarcação ao navio. Diante de tal prodígio, todos se convenceram de que às preces de Xavier é que deveram o ter escapado à tempestade. É mais racional atribuir a salvação do navio às manobras e aos esforços da equipagem. Tudo, porém, faz presumir que a chalupa não teria podido alcançar o navio se ela não tivesse por piloto o próprio santo, ou antes, o seu duplo”.
586. É no perispírito que se grava a lembrança, é nele que os conhecimentos se incorporam, e porque é imutável conservamos, apesar das incessantes transformações de que o corpo é objeto, a recordação do que se passou em tempo longínquo.
587. É ele que constitui a identidade do ser, é com ele que se vive, que se pensa, que se ama, que se ora. É, enfim, com ele que nos encontramos depois da morte, desprendidos somente da matéria terrena, mas conservando nossos hábitos, nossos gostos, nossa maneira de ver; idênticos, enfim, com exceção do corpo que tínhamos na Terra.
588. Isso prova que o mundo dos Espíritos é tal como o nosso, que contém seres em todos os graus da escala intelectual, desde os selvagens ignorantes até os homens versados no estudo das ciências. Explicamos, também, pela imortalidade desse invólucro os surtos do progresso.
589. É evidente que, quanto mais depurado é o perispírito, tanto mais vivas são as sensações. A alma atua no envoltório fluídico pela vontade, que é uma força muito poderosa, como verificamos com Claude Bernard. O cérebro humano, reprodução material dessa parte do fluido perispiritual, é, de alguma sorte, um instrumento sobre o qual o Espírito atua; quanto mais perfeito é o aparelho, mais belo é o resultado obtido, do mesmo modo que um artista que possui um bom violino mais agradáveis melodias fará ouvir.
590. Pela instrução desenvolvemos certos compartimentos do cérebro, nos quais se vêm registrar as aquisições intelectuais; ora, essas modificações são reproduzidas pelo perispírito. Segue-se que levamos para a morte nossa bagagem científica e moral, e, quando voltamos a reencarnar, temos em gérmen no cérebro tudo que havíamos fixado anteriormente. Eis por que as crianças, às vezes, nos maravilham com a precocidade de sua inteligência e pela aptidão com que assimilam todas as ciências. Nesse caso, para essa criança, aprender é recordar, como dizia Platão.
591. Assim como trazemos para a Terra as qualidades precedentemente conquistadas, temos também os vícios que não nos deixam e contra os quais precisamos lutar energicamente para deixá-los. É esse conjunto de virtudes e de paixões que constitui a individualidade de cada homem.
592. A alma desde a concepção forma o seu invólucro, não talvez de maneira consciente, mas efetiva. É durante a gestação que o Espírito, aos poucos, incorpora os elementos que lhe devem formar o corpo humano, e que o cérebro material se modela pelo cérebro do perispírito.
593. Os defeitos físicos de uma encarnação anterior podem, por vezes, influenciar o duplo fluídico de tal forma que as modificações orgânicas se reproduzem, ainda, na encarnação seguinte. Daí as crianças enfermas, disformes, apesar de boa saúde e excelente constituição dos pais.
594. Um dos mais curiosos fenômenos da biologia é o atavismo, isto é, a reprodução em um grupo étnico de certos caracteres pertencentes aos antepassados, mas desaparecidos em seus descendentes. Darwin cita notáveis casos e confessa não poder explicar essa singularidade. Se estendermos aos animais as mesmas teorias, se os supusermos com um princípio inteligente, também revestidos de um duplo fluídico, que lhes reproduz exatamente a forma do corpo, compreenderemos facilmente que o animal, reencarnado ao fim de certo tempo, pode trazer os caracteres físicos que tivera durante sua passagem anterior na Terra.
595. Os homens apresentam, no ponto de vista moral e mesmo físico, casos semelhantes. Os Espíritos rotineiros e atrasados, sempre opostos a qualquer ideia de progresso, são almas que não se adiantaram suficientemente e que dão exemplos de atavismo intelectual.
596. Em suma, diremos, com Allan Kardec, que o indivíduo que se mostra, simultaneamente, em dois lugares diferentes, tem dois corpos, mas, desses dois corpos, um só é permanente, o outro é apenas temporário. Pode-se dizer que o primeiro tem a vida orgânica e o segundo a da alma. Ao despertar, os dois corpos se reúnem e a vida da alma reaparece no corpo material.
597. Deduz-se, ainda, desses fenômenos que o corpo real não poderia morrer, enquanto o corpo aparente se mostrasse visível, pois que a aproximação da morte atrairia o Espírito para o corpo, ainda que por um instante. Resulta disso igualmente que o corpo aparente não poderia ser morto, pois que não é formado, assim como o corpo material, de carne e ossos.
598. Charles Bonnet, discípulo de Leibnitz, tinha já entrevisto a existência do perispírito e sua necessidade. Eis o que ele escreveu em diferentes livros que publicou:
“Estudando-se, com algum cuidado, as faculdades do homem, observando-se-lhes a mútua dependência, ou a subordinação de umas para com as outras, e a ação de suas finalidades, descobriremos, facilmente, quais os meios naturais por que se desenvolvem e aperfeiçoam. Podemos, pois, conceber meios análogos e mais eficazes que levariam essas faculdades a mais alto grau de perfeição. O grau de perfeição a que o homem pode atingir na Terra está em relação direta com os meios que lhe são dados e com o mundo que ele habita. Um estado mais adiantado das faculdades humanas não poderia estar em relação com o mundo em que o homem deve passar os primeiros momentos de sua existência. Essas faculdades são infinitamente perceptíveis e percebemos que alguns dos processos naturais que as aperfeiçoarão um dia podem existir desde já no homem. Sendo o homem chamado a habitar, sucessivamente, dois mundos diferentes, sua constituição original deve encerrar coisas relativas a esses dois mundos. Dois meios principais poderão aperfeiçoar, no mundo futuro, todas as faculdades do homem: sentidos mais apurados e sentidos novos. Os sentidos são a primeira fonte de nossos conhecimentos. As nossas mais abstratas ideias derivam sempre das ideias sensíveis. O espírito não cria nada, mas opera, quase sem cessar, sobre a multidão de sensações diversas que adquire pelos sentidos. Dessas operações do espírito, que são sempre comparações, combinações, abstrações, nascem, por uma geração natural, as ciências e as artes. Os sentidos destinados a transmitir ao espírito as impressões dos objetos estão em relação com esses objetos. O olho está em relação com a luz, o ouvido com o som. Quanto mais perfeitas, numerosas e diversas são as relações entre os sentidos e seus objetos, tanto mais eles manifestam ao espírito as qualidades desses objetos, e quanto mais claras, vivas e completas as percepções dessas qualidades, mais o espírito formará delas uma ideia distinta. Vemos que nossos sentidos atuais são suscetíveis de um grau de aperfeiçoamento muito superior ao que lhe conhecemos e que nos espantam em certos indivíduos. Podemos, mesmo, fazer ideia nítida desse acréscimo de perfeição, pelos efeitos prodigiosos dos instrumentos de ótica e de acústica. Imagine Aristóteles observando uma larva com os nossos microscópios ou contemplando com os nossos telescópios Júpiter e suas luas. Quais não seriam sua surpresa e seu enlevo! Quais não serão também os nossos, quando, revestidos do corpo espiritual, tiverem nossos sentidos adquirido toda a perfeição que podiam receber do benfazejo Autor do nosso ser!”
599. Essas deduções são tanto mais justificadas quanto iremos ver que o Espírito, desprendido do corpo, tem percepções de que não podemos fazer ideia. O invólucro perispiritual lhe permite perceber vibrações que nos são desconhecidas e que lhe proporcionam outros conhecimentos e em maior número que nos homens.
600. Está claro que falamos sempre dos Espíritos adiantados, já libertos das peias grosseiras do perispírito material. Quanto aos outros, eles são, como veremos, ignorantes do que se passa em torno de si e conhecem menos sobre o Universo e suas leis que muitos sábios do nosso mundo.

Respostas às questões preliminares

A. É verdade que nos anais da Igreja Católica há registros de casos de bicorporeidade?
Sim. Afonso de Liguori foi canonizado, antes do tempo, por se haver mostrado em dois lugares diferentes, o que foi considerado um milagre. Santo Antônio de Pádua pregava na Espanha, no momento em que seu pai, residente em Pádua, na Itália, era conduzido ao suplício, sob a acusação de homicídio. Nessa ocasião, ele aí apareceu, demonstrou a inocência de seu pai e apontou o verdadeiro culpado, que foi castigado mais tarde. Dassier cita o caso de S. Francisco Xavier, que se achava, ao mesmo tempo, em duas embarcações, durante uma tempestade, e encorajava os companheiros, em perigo. (O Espiritismo perante a Ciência, Quarta Parte, Cap. II - Provas da existência do perispírito – Sua utilidade – Seu papel.)
B. Durante o fenômeno da bicorporeidade pode o corpo real morrer?
Segundo Delanne, não; o corpo real não poderia morrer, enquanto o corpo aparente se mostrasse visível, pois que a aproximação da morte atrairia o Espírito para o corpo, ainda que por um instante. Disso resulta igualmente que o corpo aparente não poderia ser morto, pois que não é formado, assim como o corpo material, de carne e ossos. (Obra citada, Quarta Parte, Cap. II - Provas da existência do perispírito – Sua utilidade – Seu papel.)
C. Quando desprendido do corpo, o Espírito tem percepções para nós desconhecidas?
Sim. Desprendido do corpo, o Espírito tem outras percepções de que não podemos fazer ideia, visto que o invólucro perispiritual lhe permite perceber vibrações que nos são desconhecidas e que lhe proporcionam outros conhecimentos e em maior número que nos homens. (Obra citada, Quarta Parte, Cap. II - Provas da existência do perispírito – Sua utilidade – Seu papel.)

Observação:
Para acessar a parte 23 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/08/o-espiritismo-perante-ciencia-gabriel_21.html




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quinta-feira, 27 de agosto de 2020



O Livro dos Médiuns

Allan Kardec

Parte 11

Continuamos o estudo metódico de “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec, segunda das obras que compõem o Pentateuco Kardequiano, cuja primeira edição foi publicada em 1861.
Este estudo é publicado sempre às quintas-feiras.
Eis as questões de hoje:

81. Se um médium possui várias aptidões mediúnicas, qual deve cultivar?
É raro que a faculdade de um médium seja rigorosamente circunscrita num só gênero; o médium poderá ter, pois, várias aptidões, mas há sempre uma predominante e é esta que ele deve esforçar-se por cultivar, se ela é útil. Constitui grave erro querer forçar de qualquer forma o desenvolvimento de uma faculdade que não se possui; é preciso desenvolver aquelas das quais se reconhecem os germens, até que, evidenciando-se a faculdade predominante, deverá o médium aplicar-se a ela de um modo especial. Limitando-se à sua especialidade, o médium pode tornar-se excelente intérprete e obter grandes e belas coisas, ao passo que, ocupando-se de tudo, não obterá nada de bom. (O Livro dos Médiuns, item 198.)
82. Que precauções deve o médium tomar para uma boa educação mediúnica?
É um ponto indiscutível: sem as devidas precauções pode perder-se o fruto das mais belas faculdades. A primeira medida consiste em se colocar o médium, com uma fé sincera, sob a proteção de Deus, pedindo-lhe a assistência de um Espírito guardião. Este é sempre bom, enquanto que os Espíritos familiares podem ser levianos ou mesmo maus. A segunda precaução é aplicar-se em reconhecer, por todos os indícios que a experiência fornece, a natureza dos primeiros Espíritos que se comunicam e dos quais é sempre prudente desconfiar. Se estes indícios forem suspeitos, é preciso fazer um apelo fervoroso ao Espírito guardião e repelir com todas as forças o mau Espírito, provando-lhe que não se é dele joguete, a fim de o desencorajar. O estudo prévio da teoria é indispensável, se se quer evitar os inconvenientes inseparáveis da inexperiência; a tal respeito, deve o médium examinar com redobrada atenção os capítulos sobre Obsessão e Identidade dos Espíritos de O Livro dos Médiuns. Além da linguagem, podemos tomar como provas infalíveis da inferioridade dos Espíritos todos os sinais, figuras, emblemas inúteis ou pueris e toda escrita esquisita, irregular, torcida a propósito, de tamanho exagerado, ou afetando formas ridículas e inusitadas. Uma vez desenvolvida a faculdade, é essencial que o médium não a transforme em abuso; assim, é necessário servir-se dela apenas nos momentos oportunos e não a cada instante. Não estando os bons Espíritos constantemente às suas ordens, corre o médium o risco de ser iludido por Espíritos mistificadores. Deve-se, portanto, determinar para esse efeito dias e horas certas, porque então o médium terá disposições mais concentradas e os Espíritos que quiserem vir achar-se-ão prevenidos. (Obra citada, itens 211 e 217.)
83. Que é psicografia?
É o nome que se dá à comunicação espírita por meio da escrita, que pode ocorrer direta ou indiretamente, mas sempre com a intervenção de um médium. De todos os meios de comunicação, a escrita manual é o mais simples, o mais cômodo e, sobretudo, o mais completo. Além disso, é a faculdade mais susceptível de se desenvolver pelo exercício. (Obra citada, itens 152 a 156, e 178.)
84. Que vem a ser psicografia indireta?
Chamamos psicografia indireta à escrita assim obtida, por oposição à psicografia direta ou manual obtida pelo próprio médium. O fenômeno se passa da seguinte forma: o Espírito estranho que se comunica age sobre o médium; este, sob essa influência, dirige maquinalmente o braço e a mão para escrever; a mão age sobre a cestinha, e a cestinha, sobre o lápis. Assim, não é a cestinha que se torna inteligente; ela é um instrumento dirigido por uma inteligência e não é mais, na verdade, do que um porta-lápis, um apêndice da mão, um intermediário entre a mão e o lápis. Neste processo, o meio mais cômodo imaginado pelos homens foi a chamada cestinha de bico, na qual um lápis era fixado. Mais tarde, suprimiu-se esse apêndice e o médium passou a escrever tomando o lápis diretamente à mão. Por ser o meio mais simples e o mais cômodo, dado que não exige nenhum preparo material anterior, a escrita manual, também chamada involuntária ou automática, é a forma usual adotada pelos médiuns psicógrafos dos tempos modernos. (Obra citada, itens 154 e 157.)
85. Qual é o verdadeiro ponto de partida para o entendimento do Espiritismo?
Crê-se geralmente que para convencer alguém é bastante mostrar fatos; contudo a experiência demonstra que isto nem sempre é o melhor método, porque se veem frequentemente pessoas a quem os fatos mais patentes não convencem de modo nenhum. Ora, no Espiritismo a questão do Espírito é secundária e consecutiva; este não é o ponto de partida e precisamente aí está o erro no qual se cai muitas vezes diante de certas pessoas. Não sendo os Espíritos outra coisa senão as almas dos homens, o verdadeiro ponto de partida é, assim, a existência da alma. De fato, como pode o materialista admitir que existam seres fora do mundo material, quando crê que ele mesmo não é mais que matéria? Como poderá crer em Espíritos fora dele, se não acreditar ter um em si? Em vão acumular-se-ão provas diante de seus olhos: ele contestará todas, porque não admite o princípio.
Todo ensino metódico deve partir do conhecido para o desconhecido. Para o materialista o conhecido é a matéria; parti, pois, da matéria e esforçai-vos antes de tudo, fazendo-o observar, em convencê-lo de que nele há alguma coisa que escapa às leis da matéria. Em uma palavra, antes de torná-lo espírita, tratai de torná-lo espiritualista. Antes, pois, de empreender convencer um incrédulo, mesmo pelos fatos, convém assegurar-se de sua opinião com relação à alma, isto é, se crê em sua existência, em sua sobrevivência ao corpo, em sua individualidade depois da morte. Se sua resposta for negativa, será trabalho perdido falar-lhe de Espíritos. (Obra citada, itens 18 e 19.)
86. Que dizer dos que atribuem ao diabo as manifestações espíritas?
Ao tempo de Jesus o clero também dizia que as curas e os chamados milagres produzidos pelo Mestre eram "coisa" do demônio. Aqueles que espalham tais ideias não sabem a responsabilidade que assumem: elas podem matar! Com efeito, o perigo não é só para a pessoa, mas também para aqueles que a cercam e que podem ser aterrorizados pelo pensamento de que sua casa é um abrigo de demônios. Foi esta crença que causou tantos atos de atrocidades nos tempos da ignorância. Conhecemos os acidentes que o medo pode causar e seríamos, certamente, menos imprudentes se conhecêssemos todos os casos de loucura e de epilepsia que têm sua origem nos contos de lobisomem e bichos-papões. A Doutrina Espírita, esclarecendo-nos sobre a verdadeira causa de todos estes fenômenos, desfere a essa teoria o golpe de misericórdia. Não existem demônios: longe, pois, de cultivar tal pensamento sombrio, devemos, e é este um dever de moralidade e de humanidade, combatê-lo onde ele existir. (Obra citada, item 162.)
87. Quais são as diversas modalidades de médiuns psicógrafos?
Sem considerar aqui a categoria dos médiuns inspirados, que é uma variedade da mediunidade intuitiva, os médiuns psicógrafos podem ser mecânicos, intuitivos ou semimecânicos.
O que caracteriza o médium mecânico é o fato de o Espírito agir diretamente sobre sua mão, completamente independente da vontade do médium. A mão escreve sem interrupção e só para quando o Espírito termina a comunicação. O médium mecânico não tem a menor consciência do que escreve: é isso que deu origem ao nome da faculdade – mediunidade mecânica ou passiva. Esta modalidade é preciosa, visto que não deixa dúvidas sobre a independência do pensamento de quem escreve.
O médium intuitivo recebe o pensamento do Espírito comunicante e o transmite pela escrita. Nesta situação, o médium tem consciência do que escreve, conquanto não seja fruto do seu próprio pensamento. O papel do médium mecânico é o de uma máquina; o intuitivo age como o faria um intermediário ou intérprete e sabe que as ideias não são preconcebidas e surgem à medida que são registradas no papel. Frequentemente o pensamento formulado é contrário ao seu e pode estar fora dos seus conhecimentos e de sua capacidade.
O médium semimecânico sente o impulso dado à sua mão sem que o queira, mas ao mesmo tempo tem consciência do que escreve à medida que as palavras se formam. Participa, assim, um pouco das duas modalidades examinadas. Os médiuns semimecânicos formam o maior número da categoria dos psicógrafos. (Obra citada, itens 179 a 181.)
88. Quais são os Espíritos que produzem os fenômenos de efeitos físicos?
Os Espíritos que produzem estas espécies de manifestações são sempre Espíritos inferiores que não estão ainda inteiramente libertos da influência material. Contudo, tais fenômenos, embora executados por entidades inferiores, são frequentemente provocados por Espíritos de uma ordem mais elevada, com o fito de convencer os homens da existência de seres incorpóreos e de uma potência superior a eles. (Obra citada, itens 74 e 91.)

Observação:
Para acessar a Parte 10 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/08/o-livro-dos-mediuns-allan-kardec-parte_20.html



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