sábado, 31 de dezembro de 2022

 



As asas que faltaram a Ícaro

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília, DF

 

Segundo a mitologia grega, Ícaro, era filho de Dédalo, famoso arquiteto e inventor ateniense que trabalhava para o rei Minos, da Ilha de Creta. Após ter inventado para o rei o labirinto em que vivia o Minotauro, monstro com corpo humano e cabeça de touro, Dédalo revelou os segredos do labirinto para a princesa Ariadne, namorada de Teseu que auxiliou este com a entrega de uma espada e um fio que permitiria ao amante sair do labirinto. Teseu entrou no labirinto, matou o monstro e escapou. Sabendo disso, o rei Minos prendeu Dédalo e Ícaro no labirinto, para que ninguém mais soubesse o segredo do local. Então, Dédalo criou asas com penas de gaivotas que foram coladas com cera de abelha para ele e Ícaro fugirem dali voando, mas preveniu o filho para não voar muito alto, pois as asas poderiam não resistir. Entusiasmado com o voo, o jovem optou por voar mais alto do que devia. Desse modo, o sol derreteu a cera de suas asas e, enquanto o pai se salvou voando baixo, Ícaro despencou das alturas, caiu no mar Egeu e morreu. Há dois ensinamentos básicos nessa lenda: o da obediência ao pai e aos mais experientes, além do respeito aos próprios limites. Ou seja: prudência e humildade.

Eis o que escreveu Juvanir Borges de Souza, ex-presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB) em sua obra intitulada Amai-vos. Instruí-vos, publicada pela FEB:

 

O conhecimento espírita tem uma dupla origem, participando, ao mesmo tempo, da revelação divina trazida pelos Espíritos Superiores e da revelação cientifica, na qual estão empenhados os homens, pelo trabalho, pela pesquisa, pela observação e pelo raciocínio (SOUZA, J. B., op. cit., cap. 34 Reflexões sobre a Doutrina dos Espíritos).

 

Nesta semana, tive o prazer de ler a nova excelente obra do amigo e irmão espírita Astolfo Olegário de Oliveira Filho, diretor de revista, site e blog espírita, além da EVOC – Editora Virtual, que cito ao final desta crônica. Título da obra: Conhecereis a verdade e ela vos libertará, que pode ser obtida gratuitamente no site www.oconsolador.com.

No capítulo 21, referindo-se à nossa necessidade de amar e conhecer, a fim de alçarmos os voos que nos levam a Deus, Astolfo cita as palavras do Espírito Emmanuel em resposta à pergunta sobre a possibilidade ou não da elevação da alma humana apenas pelo adiantamento moral. Estão no livro O Consolador, questão 204, psicografado por Chico Xavier:

 

[...] O sentimento e a sabedoria são as duas asas com que a alma se elevará para a perfeição infinita. No círculo acanhado do orbe terrestre, ambos são classificados como adiantamento moral e adiantamento intelectual, mas, como estamos examinando os valores propriamente do mundo, em particular, devemos reconhecer que ambos são imprescindíveis ao progresso, sendo justo, porém, considerar a superioridade do primeiro sobre o segundo, porquanto a parte intelectual sem a moral pode oferecer numerosas perspectivas de queda, na repetição das experiências, enquanto que o avanço moral jamais será excessivo, representando o núcleo mais importante das energias evolutivas.

 

Foi por isso que O Espírito de Verdade, em sua primeira mensagem do capítulo VI d’O Evangelho Segundo o Espiritismo, propôs-nos adquirir as duas asas que nos permitem voar em direção às regiões siderais sem serem derretidas pelo sol como ocorreu com as asas de Ícaro: “Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo”.

 

Nota do autor

Links para acesso aos livros editados pela EVOC e aos periódicos dirigidos por Astolfo O. de Oliveira Filho:

1- EVOC - Editora Virtual O Consolador - http://goo.gl/rHbNUU

2- Blog Espiritismo Século XXI – http://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/

3- Revista O Consolador - http://www.oconsolador.com

4- Jornal O Imortal - http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/oimortal/principal.html

 

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 

 

 

 

 

  

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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

 



No Invisível

 

Léon Denis

 

Parte 3

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial do clássico No Invisível, de Léon Denis, cujo título no original francês é Dans l'Invisible.

Nossa expectativa é que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura.

Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.

 

Questões preliminares

 

A. Que diz Léon Denis a respeito da alma humana?

B. A ação à distância de uma alma sobre outra constitui um fato perfeitamente  estabelecido?

C. É verdade que Charles Richet, o pai da Metapsíquica, recomendou aos sábios de sua época que estudassem o Espiritismo?  

 

Texto para leitura

 

65. O Espiritismo experimental: I - A Ciência Espírita - À medida que vai o homem lentamente avançando na senda do conhecimento, o horizonte se dilata e novas perspectivas se vão ante ele desdobrando. Sua ciência é restrita; a Natureza, porém, não tem limites. A Ciência não é mais que o conjunto das concepções de um século, que a Ciência do século seguinte ultrapassa e submerge. Tudo nela é provisório e incompleto.

66. Mau grado às sistemáticas negações e à obstinação de certos sábios, todos os dias são suas opiniões desmentidas nalgum ponto. É o que sucede aos representantes das escolas materialistas e positivistas. O estudo e a observação dos fenômenos psíquicos vêm desmoronar suas teorias sobre a natureza e o destino dos seres.

67. Não é a alma humana, como o afirmavam eles, uma resultante do organismo, com o qual se extingue; é uma causa que preexiste e sobrevive ao corpo. A experiência dia a dia nos demonstra que a alma é dotada de uma forma fluídica, de um organismo íntimo imponderável, que possui sentidos próprios, distintos dos sentidos corporais, e entra em ação, insuladamente, quando ela exerce seus poderes superiores.

68. Graças a ele, pode a alma no curso da vida, e durante o sono, desprender-se do invólucro físico, penetrar a matéria, transpor o espaço, perceber as realidades do mundo invisível. Dessa forma fluídica brotam irradiações, eflúvios, que se podem exteriorizar em camadas concêntricas ao corpo humano e mesmo, em certos casos, condensar-se em graus diversos e materializar-se a ponto de impressionar placas fotográficas e aparelhos registradores.

69. A ação, à distância, de uma alma sobre outra se acha estabelecida pelos fenômenos telepáticos e magnéticos, pela transmissão do pensamento e exteriorização dos sentidos e das faculdades. As vibrações do pensamento podem-se propagar no espaço como a luz e o som e impressionar um outro organismo fluídico em afinidade com o do manifestante. As ondas psíquicas se propagam ao longe e vão despertar no invólucro do sensitivo impressões de vária natureza, conforme o seu estado dinâmico: visões, vozes ou movimentos.

70. Às vezes a própria alma, durante o sono, abandona seu envoltório material e, sob sua forma fluídica, torna-se visível à distância. Certas aparições têm sido ao mesmo tempo vistas por diversas pessoas; outras, exercido ação sobre a matéria, aberto portas, mudado objetos de lugar, deixado vestígios de sua passagem. Algumas têm impressionado animais. As aparições de moribundos têm sido comprovadas milhares de vezes. As resenhas da Sociedade de Investigações Psíquicas, de Londres, os Annales des Sciences Psychiques, de Paris, inserem grande número delas.

71. Camille Flammarion, em seu excelente livro “O Desconhecido e os Problemas Psíquicos”, refere uma centena desses casos, em que há coincidência de morte, nos quais não se podem admitir meras alucinações, mas fatos gerais, com relação de causa e efeito. Esses fenômenos têm sido observados tantas vezes, apoia-se em tão numerosos e respeitáveis testemunhos, que sábios de excessiva prudência, como o Senhor Richet, da Academia de Medicina de Paris, chegaram a dizer: “Existe uma tal quantidade de fatos, impossíveis de explicar de outro modo a não ser pela telepatia, que é forçoso admitir-se uma ação à distância... O fato aparece provado, absolutamente provado”.

72. Nesses fenômenos já se encontra uma demonstração positiva da independência da alma. Se, com efeito, a inteligência fosse uma propriedade da matéria e devesse extinguir-se por ocasião da morte, não se poderia explicar como, no momento em que o corpo está mais abatido e o organismo cessa de funcionar, é que essa inteligência não raro se manifesta com intensidade mais viva, com extraordinária recrudescência de atividade.

73. Os casos de lucidez, de clarividência, de previsão do futuro são frequentes nos moribundos. Nesses casos, o fato de desprender-se do corpo faculta ao espírito um novo campo de percepção. A alma patenteia, no momento da morte, faculdades, qualidades superiores às que possuía no estado normal. Força é reconhecer nisso uma prova de que a nossa personalidade psíquica não é resultante do organismo, a ele intimamente vinculado, mas que possui vida própria, diferente da do corpo, sendo antes este para ela uma prisão temporária e um estorvo.

74. Mais evidente ainda se torna esta demonstração quando, depois da morte, pode o Espírito desencarnado encontrar no invólucro físico dos médiuns os elementos necessários para se materializar e impressionar os sentidos. Pode-se então verificar, empregando balanças munidas de aparelhos registradores, que o corpo do médium perde uma parte do seu peso, encontrando-se essa diferença na aparição materializada.

75. A cada ano que passa, os fatos se multiplicam, os testemunhos se acumulam, a existência do mundo dos Espíritos se afirma com autoridade e prestígio crescentes. De meio século para cá o estudo da alma passou do domínio da Metafísica e da concepção puramente abstrata ao da experiência e da observação. A vida se revela sob duplo aspecto: físico e suprafísico. O homem participa de dois modos de existência. Por seu corpo físico pertence ao mundo visível; por seu corpo fluídico ao mundo invisível. Esses dois corpos coexistem nele durante a vida. A morte é a sua separação.

76. Por sobre a nossa Humanidade material palpita uma Humanidade invisível, composta dos seres que viveram na Terra e se despojaram de suas vestes de carne. Acima dos vivos, encarnados em corpo mortal, os supervivos prosseguem, no Espaço, a existência livre do Espírito. Essas duas Humanidades mutuamente se renovam mediante a morte e o nascimento. Elas se penetram, se influenciam reciprocamente e podem entrar em relação por intermédio de certos indivíduos, dotados de faculdades especiais, denominados médiuns.

77. De toda alma, encarnada ou desencarnada, emana e irradia uma força produtora de fenômenos, que se denomina força psíquica. A existência dessa força acha-se estabelecida por inúmeras experiências. Podem-se observar os seus efeitos nas suspensões de mesas, deslocamentos de objetos sem contacto, nos casos de levitação etc.

78. A ação dos invisíveis se manifesta nos fenômenos de escrita direta, nos casos de incorporação, nas materializações e aparições momentâneas e nas fotografias e moldagens. Aparições materializadas têm sido fotografadas em presença de numerosas testemunhas, como, por exemplo, o Espírito Katie King, em casa de W. Crookes, os Espíritos Iolanda e Lélia, na da Senhora d'Espérance, e o Abdullah, fixado na placa sensível por Aksakof.

79. Impressões e moldes de mãos, pés, faces, deixados em substâncias moles ou friáveis por formas materializadas, foram obtidos por Zoellner, astrônomo alemão, pelos Drs. Wolf, Friese etc. Os moldes, constituídos de uma só peça, reproduziam as flexões dos membros, as particularidades da estrutura e as alterações acidentais da pele.

80. Semelhante ação ainda se manifesta nos fenômenos de incorporação, como os que foram assinalados pelo Doutor Hodgson, em seu estudo sobre a faculdade da Senhora Piper.

81. O autor, adversário confesso da mediunidade em todas as suas aplicações, havia começado a pesquisa com o fim de desmascarar o que considerava impostura. Declara ele ter prosseguido as observações durante doze anos, em grande número de sessões, no curso das quais 120 personalidades invisíveis se manifestaram, entre outras a de George Pellew, seu amigo de infância, como ele membro da Psychical Research Society, falecido havia muitos anos. Essas personalidades lhe revelaram fatos ignorados de toda pessoa viva na Terra. Por isso diz ele: “A demonstração da sobrevivência me foi feita de modo a excluir mesmo a possibilidade de uma dúvida”.

82. Os professores Ch. W. Elliot, presidente da Universidade de Harvard; W. James, professor de psicologia na mesma Universidade; Newbold, professor de psicologia da Universidade de Pensilvânia, e outros sábios tomaram parte nessas experiências e referendaram tais declarações.

83. Em uma obra mais recente, o professor Hyslop, da Universidade de Colúmbia, Nova Iorque, se externa no mesmo sentido a respeito da Senhora Piper, que ele observou em grande número de sessões, realizadas com as maiores reservas. O professor era apresentado sob o nome de Smith e punha uma máscara preta, que ao seu mais íntimo amigo não permitiria reconhecê-lo, e sempre se absteve de pronunciar uma única palavra, de sorte que nem a Senhora Piper, nem pessoa alguma, poderia descobrir o menor indício de sua identidade.

84. Foi nessas condições que o professor pôde entreter com seus falecidos pais, pelo órgão da Senhora Piper em transe sonambúlico, variadas palestras, abundantes de pormenores exatos, de particularidades, por ele mesmo esquecidas, de sua vida íntima. Donde conclui ele: “Quando se considera o fenômeno da Senhora Piper, é preciso eliminar tanto a transmissão de pensamento, como a ação telepática. Examinando com imparcialidade o problema, não se lhe pode dar outra solução a não ser a intervenção dos mortos”.

85. No correr do ano de 1900, surgiram no seio de assembleias científicas os mais imponentes testemunhos em favor do Espiritismo. Uma parte considerável lhe foi concedida nos programas e trabalhos do Congresso de Psicologia de Paris, pelos representantes da ciência oficial. No dia 22 de agosto, reunidas todas as seções, foi consagrada uma sessão plenária ao exame dos fenômenos psíquicos. Um dos presidentes honorários do Congresso, Myers, professor da Universidade de Cambridge, justamente célebre, não somente como experimentador, mas ainda como moralista e filósofo, procedeu à leitura de um trabalho sobre o “transe, ou mediunidade de incorporações”.

86. Depois de haver enumerado “uma série de experiências atestadas por mais de vinte testemunhas competentes, as quais asseguraram que os fatos revelados pela Sra. Thompson sonambulizada lhes eram absolutamente desconhecidos e evidenciavam o caráter e traziam a lembrança de certas pessoas mortas, das quais os ditados obtidos afirmavam provir”, assim conclui ele: “Afirmo que essa substituição de personalidade, ou incorporação de espírito, ou possessão, assinala verdadeiramente um progresso na evolução da nossa raça. Afirmo que existe um espírito no homem, e que é salutar e desejável que esse espírito, como se infere de tais fatos, seja capaz de se desprender parcial e temporariamente de seu organismo, o que lhe facultaria uma liberdade e visão mais extensas, ao mesmo tempo em que permitiria ao espírito de um desencarnado fazer uso desse organismo, deixado momentaneamente vago, para entrar em comunicação com os outros espíritos ainda encarnados na Terra. Julgo poder assegurar que muitos conhecimentos já se têm adquirido nesse domínio e que muitos outros restam ainda a adquirir para o futuro”.

87. Na quinta seção desse Congresso foram consagradas três sessões aos mesmos estudos. Os Drs. Paul Gibier, diretor do Instituto Antirrábico de Nova York; Darteux, diretor dos Annales des Sciences Psychiques; Encausse, Joire, Pascal etc. remeteram ou apresentaram pessoalmente trabalhos muito documentados, que estabelecem a realidade dos fenômenos psíquicos e a comunicação possível com os mortos.

88. Um instituto internacional para o estudo dos fenômenos psíquicos, entre outros os da mediunidade, foi organizado ao terminar o Congresso de Psicologia. Entre os membros da comissão diretora encontramos, no que toca à França, os nomes dos Srs. Richet, professor da Faculdade de Medicina e diretor da “Revue Scientifique”; o Coronel De Rochas, C. Flammarion, o Dr. Duclaux, diretor do Instituto Pasteur; Sully-Prudhomme, Fouillée, Bergson, Séailles etc.; no estrangeiro, tudo o que de mais ilustre possui a Europa entre os representantes da ciência psíquica: W. Crookes, Lodge, Aksakof, Lombroso, Dr. Ochorowicz etc.

89. Outras importantes testificações em favor do Espiritismo foram prestadas nesse ano de 1900. O Dr. Bayol, antigo governador do Dahomey, transmitiu ao Congresso Espírita e Espiritualista, reunido em Paris no mês de setembro, a narrativa de uma série completa de experiências de materializações, desde a aparição de uma forma luminosa até o molde, em parafina, de um rosto de Espírito, que diz ele ser o de Acella, jovem romana falecida em Arles, no tempo dos Antoninos. Os Doutores Bonnet, Chazarain, Dusart, da Faculdade de Paris, exibiram testemunhos da mesma natureza e provas de identidade de Espíritos.

90. O professor Charles Richet, da Academia de Medicina de Paris, num longo artigo sob o título “Deve-se estudar o Espiritismo”, publicado nos Annales des Sciences Psychiques de janeiro de 1905, reconhece que “nenhuma contradição existe entre a ciência clássica e o mais extraordinário fenômeno de Espiritismo. A própria materialização – diz ele – é um fenômeno estranho, desconhecido, inusitado, mas é um fenômeno que nada contradiz. E nós sabemos, pelo testemunho da História, que a Ciência atual se compõe de fatos que outrora pareceram estranhos, desconhecidos, inusitados... Tão invulnerável é a Ciência quando estabelece fatos, quão deploravelmente sujeita a errar quando pretende estabelecer negações”.

91. E o Sr. Charles Richet assim termina: “1º - Não há contradição alguma entre os fatos e teorias do Espiritismo e os fatos positivos estabelecidos pela Ciência. 2º - O número dos escritos, memórias, livros, narrações, notas, experiências, é tão considerável e firmado por autoridades tais, que não é licito rejeitar esses inúmeros documentos sem um estudo aprofundado. 3º - A nossa ciência contemporânea se acha tão pouco adiantada ainda relativamente ao que serão um dia os conhecimentos humanos, que tudo é possível, mesmo o que mais extraordinário se nos afigura... Em lugar, portanto, de parecer ignorarem o Espiritismo, os sábios o devem estudar. Físicos, químicos, fisiologistas, filósofos, cumpre que se deem ao trabalho de tomar conhecimento dos fatos espíritas. Um longo e árduo estudo é necessário. Será indubitavelmente frutuoso.”

92. Pouco depois do artigo do Sr. Charles Richet, uma obra importante aparecia, que teve grande repercussão em todo o mundo: Human Personality, de F. Myers, professor de Cambridge. É um estudo profundo e metódico dos fenômenos espíritas, firmado numa opulenta documentação e rematado por uma síntese filosófica em que são magistralmente expostas as vastas consequências da ciência psíquica.

93. As conclusões de Frederic Myers são formais: “A observação e a experimentação – diz ele – induziram muitos investigadores, a cujo número pertenço (of whom I am one), a crer na comunicação, assim direta como telepática, não só entre os Espíritos dos vivos, mas entre os Espíritos dos que permanecem neste mundo e os que o abandonaram”.

94. O professor Flournoy, da Universidade de Genebra, em seu livro “Espíritos e Médiuns”, página 266, aprecia nestes termos a obra de F. Myers: “Ninguém pode prever atualmente que sorte reservará o futuro à doutrina espírita de Myers. Se as vindouras descobertas confirmarem a sua tese da intervenção, empiricamente verificável, dos desencarnados, na trama física ou psicológica do nosso mundo fenomenal, seu nome então será inscrito no livro áureo dos grandes iniciadores e, ao lado dos de Copérnico e Darwin, completará a tríade dos gênios que mais profundamente revolucionaram o pensamento científico na ordem cosmológica, biológica e psicológica”.

95. De 1905 a 1908 o Instituto Geral Psicológico de Paris tomou a iniciativa de um grande número de sessões experimentais, com o concurso da médium Eusápia Paladino e sob a inspeção dos Srs. Curie, Richet, D'Arsonval, Dubierne etc. O relatório do secretário do Instituto, Sr. Courtier, posto que cheio de reticências e reservas, consigna, entretanto, que fenômenos de levitação e deslocação de objetos, sem contacto, se produziram no curso das sessões. Foram tomadas todas as precauções contra as possibilidades de erro ou fraude. Instrumentos especiais foram fabricados e utilizados no registro mecânico dos fenômenos. Uma incessante fiscalização foi exercida e o emprego de aparelhos fotográficos permitiu afastar qualquer hipótese de alucinação coletiva. (Continua na próxima semana.)

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Que diz Léon Denis a respeito da alma humana?

A alma humana não é, como sempre afirmaram os materialistas, uma resultante do organismo, com o qual se extingue. É uma causa que preexiste e sobrevive ao corpo. A experiência dia a dia nos demonstra que a alma é dotada de uma forma fluídica, de um organismo íntimo imponderável, que possui sentidos próprios, distintos dos sentidos corporais, e entra em ação, insuladamente, quando ela exerce seus poderes superiores. Graças a ele, pode a alma no curso da vida, e durante o sono, desprender-se do invólucro físico, penetrar a matéria, transpor o espaço, perceber as realidades do mundo invisível. (No Invisível, O Espiritismo experimental: I - A Ciência Espírita.)

B. A ação à distância de uma alma sobre outra constitui um fato perfeitamente  estabelecido?

Sim. Essa ação – diz Léon Denis – se acha estabelecida pelos fenômenos telepáticos e magnéticos, pela transmissão do pensamento e pela exteriorização dos sentidos e das faculdades. As vibrações do pensamento podem-se propagar no espaço como a luz e o som e impressionar um outro organismo fluídico em afinidade com o do manifestante. As ondas psíquicas se propagam ao longe e vão despertar no invólucro do sensitivo impressões de vária natureza, conforme o seu estado dinâmico: visões, vozes ou movimentos. (Obra citada, O Espiritismo experimental: I - A Ciência Espírita.)

C. É verdade que Charles Richet, o pai da Metapsíquica, recomendou aos sábios de sua época que estudassem o Espiritismo?  

Sim. Sua recomendação foi feita em um longo artigo intitulado “Deve-se estudar o Espiritismo”, publicado nos Annales des Sciences Psychiques de janeiro de 1905. Segundo Richet, “nenhuma contradição existe entre a ciência clássica e o mais extraordinário fenômeno de Espiritismo. A própria materialização – diz ele – é um fenômeno estranho, desconhecido, inusitado, mas é um fenômeno que nada contradiz. E nós sabemos, pelo testemunho da História, que a Ciência atual se compõe de fatos que outrora pareceram estranhos, desconhecidos, inusitados... Tão invulnerável é a Ciência quando estabelece fatos, quão deploravelmente sujeita a errar quando pretende estabelecer negações”. No final do artigo, Richet afirma: “1º - Não há contradição alguma entre os fatos e teorias do Espiritismo e os fatos positivos estabelecidos pela Ciência. 2º - O número dos escritos, memórias, livros, narrações, notas, experiências, é tão considerável e firmado por autoridades tais, que não é licito rejeitar esses inúmeros documentos sem um estudo aprofundado. 3º - A nossa ciência contemporânea se acha tão pouco adiantada ainda relativamente ao que serão um dia os conhecimentos humanos, que tudo é possível, mesmo o que mais extraordinário se nos afigura... Em lugar, portanto, de parecer ignorarem o Espiritismo, os sábios o devem estudar. Físicos, químicos, fisiologistas, filósofos, cumpre que se deem ao trabalho de tomar conhecimento dos fatos espíritas. Um longo e árduo estudo é necessário. Será indubitavelmente frutuoso.” (Obra citada, O Espiritismo experimental: I - A Ciência Espírita.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 2 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/12/blog-post_23.html

 

 

 

 

 

 

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quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

 



CINCO-MARIAS

 

Brincar para crescer

 

EUGÊNIA PICKINA

eugeniapickina@gmail.com



Brincar é condição fundamental para ser sério
. Arquimedes

 

Quando brinca, a criança se estrutura como indivíduo, treinando competências, explorando curiosa o mundo.

Lembrando que brincar é um direito, os adultos devem procurar despertar aptidões, permitindo que a criança, em casa e na escola, brinque muito para desenvolver-se com plenitude.

Amarelinha? Quem não conquista equilíbrio pulando com um pé só? Brincar de amarelinha fortalece os músculos das pernas, proporciona à criança exercitar força muscular, ritmo corporal, desenvolvimento social – “minha vez, sua vez”…

Na hora do esconde-esconde, os pequenos são estimulados a correr, disputar espaço, superar limites, enfrentar o grupo…

“Ciranda, cirandinha, vamos todos…” Brincando de ciranda, além da noção de equilíbrio e espaço, as crianças cantam, dançam, treinam linguagem, extroversão, têm acesso ao manancial das cantigas que integram a cultura nacional…

Queimada? Ajuda a desenvolver a potência e a agilidade, estimulando ainda o convívio social da criança.

Longe de ser uma simples maneira de as crianças se divertirem, quem experimenta pega-pega, esconde-esconde, quem pula amarelinha, quem é queimado ou tropeça na corda, está explorando para crescer. Pois a criança que brinca tem acesso a momentos criativos e, com isso, se desenvolve como personalidade, adquirindo, ainda, lições importantes sobre amizade e convivência.

Ao brincar, a criança descobre a si mesma e ao mundo ao seu redor. Crianças aprendem brincando, e cada uma do seu jeito. Por isso, mais do que bons momentos, a brincadeira é um ato extremamente valioso para o desenvolvimento infantil.

 

Notinhas

 

Três brincadeiras divertidas:

1) Cinco-marias: 5 saquinhos de pano cheios de arroz ou areia. A brincadeira consiste em jogar todos os saquinhos no chão, tirar um e jogar para cima com a mesma mão. Em seguida, você pega mais um e continua a brincadeira até não sobrar saquinho no chão. Na segunda rodada, é repetido o mesmo procedimento anterior, só que dessa vez é preciso pegar dois saquinhos por vez. A cada rodada se aumenta o número de saquinhos por vez até conseguir pegar todos de uma só vez;

2) Pula corda: duas crianças rodam a corda, enquanto uma terceira pula. Enquanto isso, a garotada canta: “um dia um homem bateu na minha porta e disse assim: senhora, senhora põe a mão no chão; senhora, senhora pule de um pé só; senhora, senhora dê uma rodadinha, e vá pro meio da rua”. A criança que está pulando deve fazer gestos em referência à música até sair da corda sem errar;

3) Roda: todas as crianças ficam em círculo de mãos dadas, cantando cantigas antigas e rodando. Em seguida, elas repetem os gestos sugeridos pela canção. Sugestão de músicas: Ciranda-Cirandinha, A Canoa Virou, Eu Entrei na Roda, Se Esta Rua Fosse Minha...

 

*

 

Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).

Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), está concluindo em São Paulo a formação em Psicanálise. Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.

Seu contato no Instagram é @eugeniapickina

 

 

 

 

  

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quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

 



Revista Espírita de 1862

 

Allan Kardec

 

Parte 4

 

Damos sequência ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1862, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo será baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1862 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. A multiplicidade de existências corporais rompe os laços de família?

B. Quem Jobard diz ter visto no recinto da Sociedade Espírita de Paris?

C. Quando a identificação dos Espíritos se torna mais fácil?

 

Texto para leitura

 

36. Desculpando-se por não poder atender às cartas dos leitores que lhe chegavam à média diária de dez, Kardec explica que as evocações, que muitos lhe propunham, só podiam ser feitas quando houvesse interesse geral. (PP. 63 e 64)

37. Kardec analisa o argumento – proposto pelos adversários da doutrina da reencarnação – de que a multiplicidade de existências corporais romperia os laços de família. O Codificador diz que se dá exatamente o contrário. (PP. 65 a 67)

38. Referindo-se, em seguida, a Swedenborg, que, nos “Arcanos”,  atribui ao aroma a reprodução das flores, Kardec afirma que o óleo essencial, volátil, que dá o aroma às flores, jamais teve a faculdade reprodutora, que reside unicamente no pólen. (P. 68)

39. Jobard manifestou-se espontaneamente na Sociedade Espírita de Paris e disse de suas impressões no momento da separação de sua alma, em seguida à morte corporal. Após um abalo estranho, toda a sua vida avivou-se claramente em sua memória, desde o nascimento, passando pela juventude, até a idade madura. (PP. 69 e 70)

40. Eis algumas informações prestadas por Jobard: I - Ele se lembrava de suas existências anteriores e achava até estar melhorado. II - Na penúltima existência, foi ele um mecânico roído pela miséria e pelo desejo de aperfeiçoar o seu trabalho, objetivo que realizou como Jobard. III - No recinto da Sociedade, ele podia ver os Espíritos ali presentes e mencionou Lázaro, Erasto e o Espírito de Verdade, além de uma multidão de Espíritos amigos. IV - Dotado agora de maior lucidez, sabia ser um erro o sistema que atribui a formação da Terra à incrustação de quatro planetas. (PP. 71 a 73)

41. Evocado depois, noutro grupo espírita, sendo médium a Sra. Dozon, Jobard disse que O Livro dos Espíritos fizera uma verdadeira revolução na sua alma e um bem impossível de descrever. (P. 75)

42. Meses depois, quando foi aberta pela Sociedade Espírita de Paris uma subscrição em favor dos operários de Lyon, um sócio lançou 25 francos em nome de Jobard, que agradeceu a lembrança do seu nome e enalteceu o gesto dos amigos, dizendo que ele faria o mesmo, se ainda vivesse em nosso mundo. (P. 78)

43. Quando se cogitou de erguer um monumento ao Sr. Jobard, através de subscrição dos seus amigos, interrogado sobre o que pensava, ele respondeu: “Para começar, dai o vosso dinheiro aos pobres; e se, por acaso, nos bolsos dos vossos coletes tiverem ficado algumas moedas de 5 francos, mandai erigir uma estátua”. A subscrição foi aberta. (P. 79)

44. Kardec lembra que uma das dificuldades do Espiritismo é a identificação dos Espíritos que se manifestam. As melhores provas, diz ele, são as da espontaneidade das comunicações, mas a identidade dos Espíritos que viveram em eras remotas é mais ou menos impossível de verificar, razão por que se deve ligar aos nomes uma importância relativa. (P. 79)

45. Já não se dá o mesmo com os Espíritos contemporâneos, cujo caráter e hábitos nos são conhecidos e que podem provar a sua identidade por particularidades e detalhes que é preciso não pedir, mas esperar. (P. 80)

46. A evocação do Espírito de Carrère trouxe tais particularidades, confirmadas depois pelo Sr. Sabô. (PP. 80 e 81)

 

Respostas às questões propostas

 

A. A multiplicidade de existências corporais rompe os laços de família?

Os adversários da doutrina da reencarnação dizem que sim. Analisando o assunto, Kardec diz que não e afirma que se dá exatamente o contrário, visto que a reencarnação torna mais firmes e estáveis as relações entre os membros de uma mesma família. (Revista Espírita de 1862, pp. 65 a 67.)

B. Quem Jobard diz ter visto no recinto da Sociedade Espírita de Paris?

Jobard declarou espontaneamente, em sua mensagem, ter visto ali vários Espíritos, como Lázaro, Erasto e o Espírito de Verdade, além de uma multidão de Espíritos amigos. (Obra citada, p. 70 a 73.)

C. Quando a identificação dos Espíritos se torna mais fácil?

Segundo Kardec, a identidade dos Espíritos que viveram em eras remotas é mais ou menos impossível de verificar, razão por que se deve ligar aos nomes uma importância relativa. Já não se dá o mesmo com os Espíritos contemporâneos, cujo caráter e hábitos nos são conhecidos e que podem provar a sua identidade por particularidades e detalhes que eles próprios costumam fornecer. (Obra citada, pp. 79 e 80.)

 

 

Observação:

Para acessar a parte 3 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/12/blog-post_21.html

 

 

 

 

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