Prosseguimos ontem à noite no Centro Espírita Nosso Lar o
estudo do livro Ação e Reação, de
André Luiz, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e
publicada em 1957 pela Federação Espírita Brasileira.
Eis o roteiro e o texto que serviram de base ao estudo:
Questões para debate
A. Se Ildeu não amava Marcela,
por que a desposou?
B. Quando a vítima evolui e nada
reclama do seu algoz, a quem este deverá pagar a dívida contraída?
C. Como entender e definir o
sexo?
Texto para leitura
95. A razão dos matrimônios difíceis – Hilário indagou: por que Ildeu desposara Marcela outra
vez, se não a amava? a afetividade juvenil não constitui sinal de confiança e
ternura? "Sim – respondeu Silas –, é preciso considerar que nos
achamos ainda longe de adquirir o verdadeiro amor, puro e sublime. Nosso amor
é, por enquanto, uma aspiração de eternidade encravada no egoísmo e na ilusão,
na fome de prazer e na egolatria sistemática, que fantasiamos como sendo a
celeste virtude. Por isso mesmo, a nossa afetividade terrestre, quando na primavera
dos primeiros sonhos da experiência física, pode ser um conjunto de estados
mentais, consubstanciando simplesmente os nossos desejos. E nossos desejos se
alteram todos os dias... Em razão disso, recordemos o imperativo da
recapitulação. Nessa ou naquela idade física, o homem e a mulher, com a
supervisão da Lei que nos governa os destinos, encontram as pessoas e as
situações de que necessitam para superarem as provas do caminho, provas
indispensáveis ao burilamento espiritual de que não prescindem para a justa
ascensão às Esferas Mais Altas. Assim é que somos atraídos por determinadas
almas e por determinadas questões, nem sempre porque as estimemos em sentido
profundo, mas sim porque o passado a elas nos reúne, a fim de que por elas e
com elas venhamos a adquirir a experiência necessária à assimilação do
verdadeiro amor e da verdadeira sabedoria. É por isso que a maioria dos
consórcios humanos, por enquanto, constituem ligações de aprendizado e
sacrifício, em que, muitas vezes, as criaturas se querem mutuamente e
mutuamente sofrem pavorosos conflitos na convivência umas das outras. Nesses
embates, alinham-se os recursos da redenção. Quem for mais claro e mais exato
no cumprimento da Lei que ordena seja mantido o bem de todos, acima de tudo,
mais ampla liberdade encontra para a vida eterna. Quanto mais sacrifício com
serviço incessante pela felicidade dos corações que o Senhor nos confia, mais
elevada ascensão à glória do Amor Divino." André concluiu, assim, que
Ildeu estava interrompendo o pagamento da dívida em que se empenhou. E
Marcela? garantiria ela, sozinha, a sustentação do lar? "É o que
esperamos – asseverou Silas – e tudo faremos para auxiliá-la, já que o esposo,
mais uma vez, faliu nos contratos assumidos." (Ação e Reação, capítulo 14, pp. 197 e 198.)
96. As dificuldades de quem se retarda –
Marcela era, assim, chamada a encargos duplos. "Desejamos sinceramente
que ela seja forte e se sobreponha às vicissitudes da existência – asseverou
Silas –, mas se resvalar para delituosos desequilíbrios, que lhe comprometam a
estabilidade doméstica, na qual os filhos devem crescer para o bem, mais
complicado e mais extenso se fará o débito de Ildeu, porquanto as falhas que
ela venha a cometer serão atenuadas pelo injustificável abandono em que a
lançou o marido. Quem se faz responsável por nossas quedas, experimenta em si
mesmo a ampliação dos próprios crimes." Hilário meditou bastante e disse,
em seguida: "Imaginemos, porém, que Marcela e os filhinhos consigam vencer
a crise, esmagando com o tempo as necessidades de que são agora vítimas...
Figuremo-los terminando a atual reencarnação, com plena vitória moral em
confronto com Ildeu, retardado, impenitente, devedor... Se a esposa e os
filhos, então definitivamente guindados à luz, dispensarem qualquer contacto
com a sombra, em franca ascensão às linhas superiores da vida, a quem pagará
Ildeu o montante das dívidas em que se agrava?" Silas informou que, embora
estejamos todos, uns diante dos outros, em processo reparador, em verdade,
antes de tudo, somos devedores da Lei em nossas consciências. "Fazendo mal
aos outros, praticamos o mal contra nós mesmos", acrescentou. Se Ildeu,
mais tarde, desejar reunir-se a Marcela e aos filhos, na hipótese de que estes
estejam redimidos nas Esferas Superiores, deverá possuir uma consciência tão
dignificada e sublime quanto a deles, de modo a não se envergonhar de si mesmo.
As dificuldades seriam, pois, imensas, mas quem se retarda por gosto não pode
queixar-se de quem avança. "A cada um segundo as suas obras", ensinou
Jesus, e ninguém no Universo conseguirá fugir à Lei. (Obra citada, cap. 14, pp. 199 e 200.)
97. O complexo de Édipo e a reencarnação – A
afeição de Roberto a Marcela, sua mãe, lembrava muito a teoria exposta por
Freud acerca do chamado complexo de Édipo, que a psicanálise freudiana pretende
encontrar na psicologia infantil. A essa observação de Hilário, Silas comentou:
"O grande médico austríaco poderia ter atingido respeitáveis culminâncias
do espírito, se houvesse descerrado uma porta aos estudos da lei de
reencarnação. Infelizmente, porém, atento à pragmática científica, não teve
bastante coragem para ultrapassar a observação do campo fisiológico,
rigidamente considerado, imobilizando-se, por isso, nas zonas obscuras da inconsciência,
em que o eu enclausura as experiências que realiza,
automatizando os próprios impulsos. Marcela e Roberto não poderiam trair, na
condição de mãe e filho, as simpatias carreadas do pretérito ao presente, tanto
quanto Ildeu, Sônia e Márcia não conseguiriam fugir à predileção que os ligava
desde o passado. O problema é de afinidade em sua estrutura essencial.
Afinidade com dívidas, exigindo resgate". Como André Luiz se reportou, em
seguida, ao tema "amnésia infantil", a que Freud empresta a maior
importância para explicar as operações do inconsciente, Silas aduziu:
"Bastaria compreender na encarnação terrestre um Espírito usando um corpo
para entender que as amnésias decorrem naturalmente da inadaptação temporária
entre a alma e o instrumento de que se utiliza. Na infância, o ego,
em processo de materialização, externará reminiscências e opiniões, simpatias
e desafetos, através de manifestações instintivas, a lhe entremostrarem o
passado, do qual mal se lembrará no futuro próximo, uma vez que estará
movimentando a máquina cerebral em desenvolvimento, máquina essa que deverá
servi-lo, tão só por algum tempo e para determinados fins, ocorrendo idêntica
situação na idade provecta, quando as palavras como que se desprendem dos
quadros da memória, traduzindo alterações do órgão do pensamento, modificado
por desgaste". (Obra citada, cap.
15, pp. 201 e 202.)
98. Sexo é uma energia da alma – A mesma
restrição pode ser feita a Freud no tocante à tese da libido. Silas asseverou
que Freud "não pode ser rigorosamente aprovado, quando pretendeu, de
certo modo, explicar o campo emotivo das criaturas pela medida absoluta das
sensações eróticas". E acrescentou: "Criação, vida e sexo são temas
que se identificam essencialmente entre si, perdendo-se em suas origens no seio
da Sabedoria Divina. Por isso, estamos longe de padronizá-los em definições
técnicas, inamovíveis. Não podemos, dessa forma, limitar às loucuras humanas a
função do sexo..." O Assistente informou, então, que o sexo, como força
atuante da vida, palpita em tudo, desde a comunhão dos princípios subatômicos
à atração dos astros e aos ajustes dos elementos, no plano químico. Desse modo,
o sexo não poderia ausentar-se do reino espiritual, por ser de substância
mental, determinando mentalmente as formas em que se expressa.
"Representa, desse modo – afirmou Silas –, não uma energia fixa da
Natureza, trabalhando a alma, e sim uma energia variável da alma, com que ela
trabalha a Natureza em que evolve, aprimorando a si mesma. Apreciemo-la,
assim, como sendo uma força do Criador na criatura, destinada a expandir-se em
obras de amor e luz que enriqueçam a vida, igualmente condicionada à lei de
responsabilidade, que nos rege os destinos." Silas passava de forma clara
a ideia de que sexo é força de amor nas bases da vida, totalizando a glória da
Criação. É preciso, pois, dilatar sua conceituação, para arredá-la do campo
erótico em que foi circunscrita. "Pela energia criadora do amor que
assegura a estabilidade de todo o Universo, a alma, em se aperfeiçoando, busca
sempre os prazeres mais nobres", e não apenas os prazeres eróticos,
explicou ele. "Temos, assim, o prazer de ajudar, de descobrir, de
purificar, de redimir, de iluminar, de estudar, de aprender, de elevar, de
construir e toda uma infinidade de prazeres, condizentes com os mais
santificantes estágios do Espírito." Há almas que se amam profundamente,
sem jamais se tocarem umas nas outras, do ponto de vista fisiológico, embora
permutem os raios quintessenciados do amor para a edificação das obras a que se
afeiçoam. (Obra citada, cap. 15, pp. 202 a 204.)
Respostas às questões propostas
A. Se Ildeu não amava Marcela, por que a desposou?
Nossa afetividade terrestre, quando na primavera dos
primeiros sonhos da experiência física, pode ser um conjunto de estados
mentais, consubstanciando simplesmente os nossos desejos, mas nossos desejos se
alteram todos os dias. Nas uniões matrimoniais o que ocorre muitas vezes é o
imperativo da recapitulação. Em determinada idade física, o homem e a mulher,
com a supervisão da Lei que nos governa os destinos, encontram as pessoas e as
situações de que necessitam para superarem as provas do caminho, provas
indispensáveis ao burilamento espiritual de que não prescindem para a justa
ascensão às Esferas Mais Altas. Assim é que somos atraídos por determinadas
almas e por determinadas questões, nem sempre porque as estimemos em sentido
profundo, mas sim porque o passado a elas nos reúne, a fim de que por elas e
com elas venhamos a adquirir a experiência necessária à assimilação do
verdadeiro amor e da verdadeira sabedoria. É por isso que a maioria dos
consórcios humanos, por enquanto, constituem ligações de aprendizado e
sacrifício, em que, muitas vezes, as criaturas se querem mutuamente e
mutuamente sofrem pavorosos conflitos na convivência umas das outras. Nesses
embates, alinham-se os recursos da redenção. (Ação e Reação, cap. 14,
pp. 197 e 198.)
B. Quando a vítima evolui e nada reclama do seu algoz, a
quem este deverá pagar a dívida contraída?
Embora estejamos todos, uns diante dos outros, em processo
reparador, em verdade, antes de tudo, somos devedores da Lei em nossas
consciências. "Fazendo mal aos outros, praticamos o mal contra nós
mesmos", explicou Silas. "A cada um segundo as suas obras",
ensinou Jesus. Ninguém no Universo conseguirá fugir à Lei. (Obra citada,
cap. 14, pp. 199 e 200.)
C. Como entender e definir o sexo?
Segundo Silas, o sexo representa, não uma energia fixa da
Natureza, trabalhando a alma, e sim uma energia variável da alma, com que ela
trabalha a Natureza em que evolve, aprimorando a si mesma. Apreciemos essa
energia como sendo uma força do Criador na criatura, destinada a expandir-se
em obras de amor e luz que enriqueçam a vida, igualmente condicionada à lei de
responsabilidade, que nos rege os destinos. Sexo é força de amor nas bases da
vida. É preciso, pois, dilatar sua conceituação, para arredá-lo do campo
erótico em que foi circunscrito. Pela energia criadora do amor que assegura a
estabilidade de todo o Universo, a alma, em se aperfeiçoando, busca sempre os
prazeres mais nobres, e não apenas os prazeres eróticos. Há almas que se amam
profundamente, sem jamais se tocarem umas nas outras do ponto de vista
fisiológico, embora permutem os raios quintessenciados do amor para a
edificação das obras a que se afeiçoam. (Obra citada, cap. 15, pp. 202 a 204.)