domingo, 31 de maio de 2020



A Terra não é, como alguns pensam, uma nave sem rumo

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De Londrina-PR

Perguntaram a um conhecido cronista brasileiro, por ocasião de um debate com estudantes, o que, no seu modo de ver, estaria faltando para que o homem, a história, o mundo, enfim, tivessem um sentido.
O cronista, um indivíduo admirável que, todavia, não comunga das ideias espíritas, disse então que falta à história e ao mundo uma edição final, a mesma edição que é feita no cinema, nos espetáculos e nos textos publicados pelos jornais. O mundo, a história e o homem não passam – para ele – de um making of, uma sucessão atabalhoada de cenas, frases, emoções que necessitam de uma montagem posterior.
Com efeito, observou o intelectual, o que se vê no mundo são guerras e massacres idiotas, cidades erguidas e destruídas, homens matando uns aos outros, crianças morrendo de fome, doenças que surgem e doentes que se vão.
Que sentido pode ter tudo isso? Quando virá um editor final para dar sentido a tudo?
A pergunta formulada pelos estudantes é dessas questões que têm intrigado e continuarão a intrigar gerações de pessoas. E não existe, obviamente, uma resposta fácil para ela, porque as filosofias e as religiões conhecidas não têm discutido, como deviam, o problema.
A Terra, já o disse certa vez Emmanuel, que foi o mentor espiritual da obra de Chico Xavier, é uma casa em reforma.
O mundo em que vivemos é um planeta ainda bastante atrasado e as pessoas que nele nascem necessitam, por isso, de passar por provas, expiações e reparações, nessa caminhada que levará a todos, passo a passo, à perfeição possível.
Se repudiamos a ideia da reencarnação, é claro que a visão do mundo e da humanidade será tão caótica quanto aparentemente o é o estado de coisas descrito pelo cronista.
A Terra não está, no entanto, como muitos pensam, à deriva. Este planeta é uma nave extraordinária que tem no seu comando um condutor preparado, o ser mais evoluído que o mundo já viu e seu nome é Jesus. Eis o editor final que, no papel que lhe cabe, tem evidentemente de seguir certas regras estabelecidas pelo Criador, ou seja, as leis que regem o Universo e suas criaturas.
A toda ação corresponde uma reação, quem matar pela espada morrerá sob a espada, quem com ferro fere com ferro será ferido, a semeadura é livre mas a colheita é obrigatória, a cada um segundo as suas obras...
Estas regras tão conhecidas, estatuídas por Deus, é que dirigem com sabedoria o roteiro, as locações, as alternativas da vida, que parecem tão confusas e improvisadas, mas que obedecem a uma programação meticulosa e a uma ordem que não podem ser compreendidas pelas doutrinas materialistas e por seus partidários.




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sábado, 30 de maio de 2020



Vida... eterna vida...

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Neste tempo de Covid-19, proponho aos queridos leitores mais uma reflexão sobre a vida. Algumas pessoas receiam falar ou ler qualquer coisa sobre o assunto. Isso demonstra, no mínimo, incerteza sobre aquilo que nos aguarda, ao final desta nova romagem pela Terra.
Nova, sim, pois somos eternos e reencarnaremos aqui ainda por muitas vezes. Isso se não formos promovidos a um globo melhor, com todo o otimismo que essa promoção nos encanta. Haja vista que os leitores já estão, mais do que nunca, aproveitando cada minuto de sua presente existência no recesso do lar.
No prefácio da obra Reencontro com a Vida, psicografada por Divaldo Franco, logo em sua primeira frase, o nobre Espírito Philomeno de Miranda diz algo que muita gente se recusa a ouvir e ler: "A todo instante a morte ceifa multidões, que viajam na direção do Mais-além desequipadas, espiritualmente, para o grande encontro com a consciência". Isso, a nosso ver, é brutal incoerência de todos os que assim se encontram, pois se, contrariamente aos animais, temos plena noção de nosso limite existencial, deveríamos questionar o porquê da vida, que, aliás, Léon Denis explica muito bem em seu livro que tem exatamente esse título.
Em sua sabedoria, Allan Kardec propõe uma questão, respondida por um dos emissários divinos sobre o que todos deveríamos refletir: "941. Para muitas pessoas, o temor da morte é uma causa de perplexidade. De onde lhes vêm esse temor, já que têm diante de si o futuro?"
Eis a sábia resposta que recebeu:
Não há fundamento para semelhante temor. Mas que queres! Desde a infância procuram convencê-las de que há um inferno e um paraíso e que mais certo é irem para o inferno, visto que também lhes disseram que o que está na Natureza constitui pecado mortal para a alma. Assim, quando essas pessoas se tornam adultas, se tiverem um pouco de discernimento, não poderão admitir tais coisas e se tornam ateias ou materialistas. É dessa maneira que são levadas a crer que nada mais existe além da vida presente. Quanto aos que persistiram em suas crenças da infância, esses temem o fogo eterno que os queimará sem os consumir.
Agora vem a parte final da resposta, para a qual chamo a atenção do leitor. Ela faz-nos refletir sobre a importância de esforçar-nos em ser melhores a cada dia, exercitando, nesse tempo do coronavírus, a fé, a paciência, a humildade e o amor. Em especial com os familiares que se encontram confinados conosco:
A morte não inspira ao justo nenhum temor, porque, com a fé, ele tem a certeza do futuro; a esperança o faz esperar por uma vida melhor. E a caridade, a cuja lei obedece, lhe dá a segurança de que não encontrará, no mundo em que terá de ir, nenhum ser cujo olhar ele deva temer.
O comentário de Kardec a essa questão, ainda que estenda, um pouco mais, nossas considerações, é de grande profundidade. Sábio é quem o aproveita e substitui suas aspirações às satisfações do corpo pelas da alma. E, desse modo, se exercita, diariamente, para ingressar na vida real, eterna, que antecede à existência física:
O homem carnal, mais preso à vida corpórea do que à vida espiritual, tem, na Terra, penas e gozos materiais. Sua felicidade consiste na satisfação fugaz de todos os seus desejos. Sua alma, constantemente preocupada e angustiada pelas vicissitudes da vida, mantém-se num estado de ansiedade e de tortura perpétuas. A morte o assusta, porque ele duvida do futuro e porque tem de deixar no mundo todas as suas afeições e esperanças.
O homem moral, que se colocou acima das necessidades artificiais criadas pelas paixões experimenta, já neste mundo, prazeres que o homem material desconhece. A moderação dos desejos dá ao seu Espírito calma e serenidade. Feliz pelo bem que faz, não há decepções para ele e as contrariedades deslizam sobre sua alma sem lhe deixarem impressão dolorosa (KARDEC, Allan, op. cit., q. 941).
Não existe morte, a não ser a do corpo físico. O que há é vida... eterna vida. Criação de Deus, destinada à felicidade de todos nós, seus filhos rebeldes que, um dia, sendo um com o Cristo, serão um com Ele.




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sexta-feira, 29 de maio de 2020



O Espiritismo perante a Ciência

Gabriel Delanne

Parte 11

Continuamos o estudo do clássico O Espiritismo perante a Ciência, de Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la Science.
Nosso objetivo é que este estudo possa servir para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

Questões preliminares

A. Há alguma semelhança, quanto ao modo de operar, entre o hipnotismo e o magnetismo?
B. Os animais podem também ser hipnotizados?
C. Os sentidos se ampliam quando a pessoa está no estado sonambúlico?

Texto para leitura

273. Voltemos aos trabalhos de Charcot. O estado letárgico ou soporífero, que vimos suceder ao estado cataléptico, cessa imediatamente quando se sopra a fronte do paciente. Há, ainda, uma particularidade notável: pode-se, à vontade, passar o doente do estado letárgico ao cataléptico; basta para isso abrir-lhe a pálpebra, de sorte que a luz possa impressionar-lhe a retina. É preciso, para obter as alterações, que a claridade ou a obscuridade sejam produzidas bruscamente, sem o que o paciente se conservará na última fase em que estava. A influência luminosa não é o único agente que provoca o hipnotismo.
274. Sentando-se uma doente na caixa de ressonância de um grande diapasão, e afastando-se por meio de uma haste, violentamente, os ramos deste, o diapasão vibra e a sensitiva entra em catalepsia; suprimindo-se instantaneamente o som, a letargia se declara com os mesmos sintomas que no caso precedente. Enfim, chegou-se também a produzir os mesmo efeitos por meio do olhar. Nesse caso, o olho do experimentador substitui as ações físicas mencionadas acima e é dessa maneira que Donato e Carl Hensen obtêm magníficos resultados.
275. Uma passagem do livro que Bernheim, professor da Faculdade de Nancy, publicou, ultimamente, sobre o hipnotismo faz-nos ver que ele se ocupou muito com o assunto: “Eis como procedo para obter o hipnotismo. Começo por dizer ao doente que é possível curá-lo ou aliviá-lo pelo sono; que não se trata de nenhuma prática nociva ou extraordinária, mas de simples sono que se pode provocar em qualquer pessoa, sono calmo, benéfico, etc. Em caso de necessidade faço dormir em sua presença uma ou duas pessoas, para mostrar-lhe que o sono nada tem de penoso, nem servirá para experiências; quando afasto do seu espírito a preocupação que a ideia do magnetismo faz nascer e o temor um tanto místico ligado a esse desconhecido, o paciente se torna confiante e entrega-se. Digo-lhe, então: Olhe-me bem e só pense em dormir. Vai sentir peso nas pálpebras e fadiga nos olhos; seus olhos piscam, vão umedecer-se; a vista torna-se confusa, os olhos fecham-se. Alguns pacientes fecham os olhos e dormem imediatamente. Com outros, repito, acentuo, acrescento o gesto, pouco importa a sua natureza. Coloco dois dedos da mão direita diante dos olhos da pessoa e convido-a a fixá-los, ou, com as duas mãos, passo-as de cima para baixo, diante dos seus olhos; ou, ainda, faço com que fixe meus olhos, e me esforço em concentrar sua atenção na ideia do sono. E digo: suas pálpebras se fecham; não poderá mais abri-las; tem um peso nos braços, nas pernas; não sente mais nada; suas mãos estão imóveis, nada mais vê; o sono chega, e acrescento em tom imperioso: – durma. Muitas vezes esta palavra tudo resolve os olhos se fecham, o doente dorme.”
276. Paremos um instante, para assinalar a curiosa semelhança entre a maneira de operar de Bernheim para hipnotizar e a que emprega Deleuze para magnetizar. O professor Bernheim faz gestos, passeia as mãos de cima a baixo do doente e termina pronunciando com voz imperiosa a palavra durma! Os magnetizadores não fazem outra coisa, e como os resultados obtidos por Bernheim são os mesmos que relatamos no artigo do sonambulismo, estamos no direito de concluir que magnetismo e hipnotismo não passam de denominações diferentes do mesmo fenômeno. Os processos descritos no memorial do doutor, para determinar o sonambulismo, podem ser considerados como um aperfeiçoamento do método magnético, relativo à produção do sono, como vamos ver; o que se segue vai prová-lo de modo evidente.
277. Bernheim prossegue: “Se o paciente não fecha os olhos ou não os conserva fechados, não prolongo a fixidez das suas vistas nas minhas ou nos meus dedos: porque alguns mantêm os olhos indefinidamente arregalados, e em vez de conceberem, assim, a ideia do sono, só têm a de fixar com rigidez; fechar os olhos dá então melhor resultado. Ao fim de dois minutos ou três, no máximo, mantenho-lhe as pálpebras fechadas ou as abaixo, lenta e docemente, sobre os globos oculares, fechando-os progressivamente cada vez mais, imitando o que se dá quando o sono vem naturalmente; acabo por mantê-los fechados, continuando com a sugestão: – Suas pálpebras estão coladas, não poderá mais abri-las; torna-se cada vez maior a necessidade de dormir; não resistirá mais. Abaixo gradualmente a voz e repito a injunção – durma! É raro que se passem quatro ou cinco minutos sem que o sono venha. Em alguns, consegue-se melhor, procedendo com doçura; em outros, rebeldes à sugestão doce, convém a aspereza, o tom autoritário, para reprimir a tendência ao riso ou a veleidade de resistência involuntária que esta manobra pode provocar. Muitas vezes, em pessoas aparentemente refratárias, fui bem sucedido, mantendo por muito tempo a oclusão dos olhos, impondo silêncio e imobilidade, falando continuamente e repetindo as mesmas fórmulas: ‘Você sente um entorpecimento, um torpor; seus braços e suas pernas estão imóveis; eis que aparece calor em suas pálpebras; seu sistema nervoso se acalma; você não tem mais vontade; seus olhos permanecem fechados; o sono chega’, etc. Ao fim de oito a dez minutos dessa sugestão auditiva prolongada, retiro os dedos e os olhos ficam fechados; levanto os braços, eles permanecem no ar; é o sono cataléptico. Muitas pessoas se impressionam logo na primeira sessão; outras, na segunda ou na terceira. Depois de uma ou duas hipnotizações, a influência torna-se rápida. Basta, quase, olhá-las, estender os dedos diante dos seus olhos e dizer “durma”, para que, em alguns segundos, instantaneamente, mesmo, os olhos se fechem e todos os fenômenos do sono apareçam. Outros não adquirem, senão ao fim de certo número de sessões, em geral pouco numerosas, a aptidão de dormir depressa.”
278. Tentaram fazer, a respeito dessas experiências, as mesmas observações que para o magnetismo; quiseram atribuí-las a efeitos da imaginação. Durante muito tempo, esse argumento foi o cavalo de batalha de nossos adversários, mas demonstrou-se que o hipnotismo se exercia, também, sobre os animais. Desde então, foi-se a explicação dos incrédulos. Um frango, que se prende a uma tábua, onde se traça um risco, fica logo em estado hipnótico, se o obrigam a olhar para esse risco, durante certo tempo.
279. Deveríamos ter já mencionado os trabalhos de Liébault, de Nancy, que serviram de ponto de partida a Bernheim, na publicação de sua brochura. Liébault, sem conhecer as pesquisas de Braid, estudou, muitos anos, particularmente sob o ponto de vista terapêutico, as questões que se ligam ao hipnotismo.
280. Em 1886, ele publicou um livro importante sobre o Sono e os estados análogos, que passou quase despercebido. Levando mais longe que o médico inglês o método sugestivo, ele o aplicou com êxito na cura de algumas doenças. Ultimamente, a curiosidade pública foi vivamente suscitada por duas conferências feitas no círculo St. Simon, por Brémaud, doutor da infantaria de marinha. O interesse que elas apresentavam vinha do espírito científico do autor e do caráter especial do auditório, composto em grande parte de membros do Instituto.
281. Tratava-se de demonstrar não somente que o hipnotismo é uma verdade, coisa incontestável depois dos sábios trabalhos de Charcot e Dumontpallier, mas, ainda, que esse estado pode ser produzido em quaisquer indivíduos, e não especialmente em histeroepilépticos, como pretendiam os retardatários da ciência, que fizeram dessa condição o último refúgio da resistência às novas doutrinas.
282. O Doutor Brémaud, depois de haver sido testemunha de um caso de hipnotismo parcial, na ilha Bourbon, não pensava mais nessas estranhas manifestações, quando, há dois anos, o famoso Donato veio dar em Brest representações de magnetismo. As mesmas experiências que, por um momento, abalaram Paris inteiro, produziram em Brest extraordinária emoção. Amigos pediram a Brémaud, cuja consciência científica conheciam, que investigasse a parte de verdade e a de charlatanismo que podiam existir nessas exibições.
283. O que intrigara o doutor, conhecedor dos trabalhos da Salpêtrière, era ver Donato operar em grande número de jovens de Brest, que não pareciam doentes, e com os quais tinha prontamente obtido resultados análogos. Pôs-se à procura da maior parte dos que se haviam prestado à influência de Donato, fê-los vir a sua casa, estudou-os de perto e, sem muito trabalho, conseguiu produzir neles os mesmos efeitos que o magnetizador. Com seu concurso, deu algumas sessões na Escola de Medicina Naval, onde reproduziu, exatamente, todos os exercícios de que tanto o público se havia admirado. Prosseguiu as experiências em muitos marinheiros postos à sua disposição e chegou à certeza de que, entre os homens reputados sãos de corpo e de espírito, havia grande número suscetível de ser posto em estado de hipnotismo, letargia, catalepsia e sonambulismo, verificado já em indivíduos atingidos de histeria e epilepsia.
284. Um segundo resultado foi o de notar, no desenvolvimento desses estados mórbidos que formam série progressiva, um estado inicial que, segundo ele, não se produziria nos histeroepilépticos, até aqui observados, e que denomina fascinação. O paciente é, a princípio, fascinado, isto é, antes de chegar à letargia ou à catalepsia, cai em estado de abulia completa, ou por outra, perde a vontade, torna-se o escravo do operador; puro autômato, obedece inconscientemente a qualquer impulso. O segundo grau, provocado por processos mais simples, é a letargia e depois a catalepsia, pela contração dos músculos. Esta se obtém parcial ou total, à vontade; uma pancada num membro; ligeira fricção fá-la cessar.
285. Da letargia passa-se ao sonambulismo. Neste último estado, certos sentidos ou certas faculdades, conforme os indivíduos, adquirem uma acuidade ou um poder verdadeiramente espantosos. O Doutor Brémaud citou exemplos muito notáveis, se bem que estejam longe de poder comparar-se aos assinalados por Braid.
286. Um de seus pacientes, que ele tinha em seu gabinete, perto do fogão, repetiu-lhe a conversa que duas pessoas mantinham em voz baixa na rua, a uns 50 metros. Um dos seus parentes, sonambulizado, resolveu, sem esforço, difícil problema de trigonometria, que não compreendia acordado, nem mesmo compreendeu depois de voltar ao estado normal.
287. Notemos ainda, que, segundo o hábito dos homens de ciência, Brémaud atribui aos sentidos um papel que eles não podem representar. Não é crível que o ouvido, faculdade particular do organismo, possa projetar-se para o exterior, franquear paredes e irradiar a cinquenta metros, de maneira a acompanhar uma palestra em voz baixa. Não se percebe, também, como um rapaz poderia resolver melhor um problema de trigonometria, mergulhado no sono do que em estado normal. Admitida a alma, tudo se explica, se torna simples e compreensível.
288. Como os fatos valem mais que as narrativas, Brémaud fazia-se acompanhar de dois rapazes de 23 e 26 anos, pessoas conhecidas, com uma situação oficial ao abrigo de qualquer suspeita e em perfeito estado de saúde. À medida que descrevia os fenômenos, ele os ia produzindo e fazendo verificar pelo auditório. A catalepsia era bem real; a contratura das pernas, dos braços, do corpo bem positiva, o estado sonambúlico perfeito. Todos se renderam à evidência, e experiências muito curiosas foram feitas sucessivamente. Assim, viu-se um desses jovens, posto em estado de fascinação, obedecer instantaneamente a qualquer ordem; ouviram-no repetir, como um perfeito fonógrafo, palavras chinesas, russas, com exata entonação, como se estivesse habituado a falar esses idiomas e em estado de compreendê-los.
289. A outro se fez beber um copo d'água; persuadiram-no de que havia bebido catorze copos de cerveja, e em consequência ele sentiu-se realmente embriagado, ou então via efetivamente as figuras que representavam no espaço, e ria, se eram engraçadas, amedrontava-se, se eram aterradoras.
290. Observação muito importante: se, enquanto o paciente está nessa contemplação, se lhe põe diante dos olhos um vidro prismático, ele vê duas figuras, o que prova, diz o Doutor Brémaud, que não há, propriamente, alucinação, isto é, exteriorização de uma ideia subjetiva, mas ilusão sensível produzida pela ação do raio luminoso sobre os nervos oculares.
291. O Doutor Brémaud mostrou aos assistentes fenômenos inesperados: a aniquilação da vontade e mesmo do eu, a dissociação das funções, cuja unidade constitui a vida psíquica normal, estado de insensibilidade, rigidez, letargia, onde a própria vida parece desaparecer, e em seguida uma excitação nervosa, onde os músculos, os sentidos e certas faculdades intelectuais adquirem poder espantoso.
292. Todos esses fenômenos não são novos e só são curiosos porque produzidos em pessoas jovens perfeitamente sãs de corpo e de espírito e porque o doutor Brémaud não pode ser acusado de charlatanismo.

Respostas às questões preliminares

A. Há alguma semelhança, quanto ao modo de operar, entre o hipnotismo e o magnetismo?
Sim. Delanne menciona essa semelhança comparando a maneira de operar de Bernheim para hipnotizar e a que empregava Deleuze para magnetizar. O professor Bernheim fazia gestos, passeava as mãos de cima a baixo do doente e terminava pronunciando com voz imperiosa a palavra durma! Os magnetizadores não faziam outra coisa, e como os resultados obtidos por Bernheim eram os mesmos, Delanne entende que magnetismo e hipnotismo não passam de denominações diferentes do mesmo fenômeno. (O Espiritismo perante a Ciência, Segunda Parte, Cap. IV – O hipnotismo.)
B. Os animais podem também ser hipnotizados?
Sim. Um frango, que se prende a uma tábua, onde se traça um risco, fica logo em estado hipnótico, se o obrigam a olhar para esse risco, durante certo tempo. (Obra citada, Segunda Parte, Cap. IV – O hipnotismo.)
C. Os sentidos se ampliam quando a pessoa está no estado sonambúlico?
Sim. Certos sentidos ou certas faculdades, conforme os indivíduos, adquirem uma acuidade ou um poder verdadeiramente espantosos. O Doutor Brémaud cita a respeito exemplos muito notáveis, se bem que estejam longe de poder comparar-se aos assinalados por Braid. (Obra citada, Segunda Parte, Cap. IV – O hipnotismo.)


Observação:
Para acessar a parte 10 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/05/o-espiritismo-perante-ciencia-gabriel_22.html




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quinta-feira, 28 de maio de 2020



O Livro dos Espíritos

Allan Kardec

Parte 23

Estamos publicando neste espaço o estudo – sob a forma dialogada – dos 8 principais livros de Allan Kardec. Os textos são publicados neste blog sempre às quintas-feiras.
Concluído o estudo dos 2 primeiros livros, prosseguimos nesta data o estudo de O Livro dos Espíritos, cuja edição inicial se deu em Paris, França, no dia 18 de abril de 1857.  
Eis as questões de hoje:

177. Donde nasce o desgosto da vida que, sem motivos plausíveis, se apodera de certas pessoas?
Esse desgosto advém da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade. (O Livro dos Espíritos, questão 943.)
178. Sabemos que o homem não tem o direito de dispor de sua vida: só a Deus assiste esse direito. Quais são, assim, em relação ao estado do Espírito, as consequências gerais do suicídio?
Muito diversas são as consequências do suicídio. Não há penas determinadas e, em todos os casos, correspondem sempre às causas que o produziram. Há, porém, uma consequência a que o suicida não pode escapar: é o desapontamento. Mas a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias. Alguns expiam a falta imediatamente, outros em nova existência, que será pior do que aquela cujo curso interromperam. (Obra citada, questão 957. Ver também questões 944, 945, 946, 947, 948, 949, 950, 955 e 956.)
179. Qual é o sentimento que domina a maioria das pessoas no momento da morte: a dúvida, o temor ou a esperança?
A dúvida, nos cépticos empedernidos; o temor, nos culpados; a esperança, nos homens de bem.  (Obra citada, questões 961 e 981. Ver também questão 941.)
180. Existe o chamado juízo final?
Não. Deus tem suas leis a regerem todas as nossas ações. Se as violamos, nossa é a culpa. Indubitavelmente, quando um homem comete um excesso qualquer, Deus não profere contra ele um julgamento, dizendo-lhe, por exemplo: “Foste guloso, vou punir-te”. Ele traçou um limite; as enfermidades e muitas vezes a morte são a consequência de nossos excessos. Eis aí a punição: é o resultado da infração da lei. Assim em tudo. Mas o Criador é previdente, pois que nos adverte, a cada instante, de que estamos fazendo o bem ou o mal e envia-nos os Espíritos para nos inspirarem. Além disso, faculta sempre ao homem, concedendo-lhe novas existências, recursos para reparar seus erros passados e, desse modo, voltar ao caminho da retidão moral. (Obra citada, questões 963 e 964.)
181. As penas e os gozos têm, na vida espiritual, alguma coisa de material? 
Como a alma não é matéria, diz o bom senso que não podem ser materiais. Nada têm, pois, de carnal essas penas e esses gozos; entretanto, são mil vezes mais vivos do que os que experimentamos na Terra, porque o Espírito, uma vez liberto, é mais impressionável e a matéria já não lhe embota as sensações. (Obra citada, questões 965, 966 e 968.)
182. Em que consiste a felicidade dos Espíritos realmente bons? 
Em conhecerem todas as coisas; em não sentirem ódio, ciúme, inveja, ambição, nem qualquer das paixões que ocasionam a desgraça dos homens. O amor que os une lhes é fonte de suprema felicidade. Não experimentam as necessidades, os sofrimentos e as angústias da vida material, e são felizes pelo bem que fazem. (Obra citada, questões 967 e 980.)
183. Em que consistem os sofrimentos dos Espíritos inferiores? 
Eles são tão variados como as causas que os determinam e proporcionados ao grau de inferioridade, como os gozos o são ao de superioridade. Podem resumir-se assim: invejarem o que lhes falta para ser felizes e não obterem; verem a felicidade e não poderem alcançá-la; sentir pesar, ciúme, raiva, desespero, motivados pelo que os impede de ser ditosos; ter remorsos, ansiedade moral indefinível. Ademais, eles desejam todos os gozos e não os podem satisfazer: eis o que os tortura. (Obra citada, questões 970 e 973.)
184. A responsabilidade do Espírito culpado resulta apenas do mal que tenha praticado, ou vai além? 
Sua responsabilidade vai além, porque o Espírito sofre por todo o mal que praticou, ou de que foi causa voluntária, por todo o bem que houvera podido fazer e não fez e por todo o mal que decorra de não haver feito o bem que poderia ter feito. (Obra citada, questões 975 e 982.)

Observação:
Para acessar a Parte 22 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/05/o-livro-dos-espiritos-allan-kardec_21.html




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quarta-feira, 27 de maio de 2020


No Mundo Maior

André Luiz

Parte 4

Estamos publicando neste espaço o estudo – sob a forma dialogada – de onze livros escritos por André Luiz, integrantes da chamada Série Nosso Lar.
Concluído o estudo dos 4 primeiros livros da Série, prosseguimos nesta data o estudo da obra No Mundo Maior, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1947 pela Federação Espírita Brasileira.
Eis as questões de hoje:

25. De onde se origina a simpatia entre as pessoas?
O amor e a confiança não constituem obras de improviso: nascem sob a bênção divina, crescem com a luta e consolidam-se nos séculos. A simpatia, na maior parte das vezes, é realização de milênios. Ninguém se aproxima de outra pessoa com tamanho apego se ela já não figurasse em seu pretérito espiritual. (No Mundo Maior, cap. 6, pp. 92 a 94.)
26. Qual a tarefa que o Criador confiou à Religião?
A Divina Sabedoria confiou à Religião a tarefa de velar pelo desenvolvimento da alma, propiciando-lhe abençoadas luzes para a jornada de ascensão. A crença religiosa, todavia, principalmente nos últimos anos, revelava-se incapaz de tal cometimento. Enquanto muitas inteligências encarnadas se dedicavam às realizações da Ciência no mundo, a Religião dava a ideia de erva raquítica, a definhar no solo. Além disso, havia outro senão: se à investigação científica basta o valor intelectual, o problema religioso demanda altas possibilidades de sentimento. A primeira requer observação e persistência; o segundo implica vocação para a renúncia. (Obra citada, cap. 7, pp. 95 e 96.)
27. As emissões do ódio podem causar o mal a uma pessoa?
Sim. Calderaro afirma que, se o amor emite raios de luz, o ódio arremessa estiletes de treva. Segundo ele, nos lobos frontais recebemos os estímulos do futuro, no córtex abrigamos as sugestões do presente e no sistema nervoso, propriamente dito, arquivamos as lembranças do passado. Determinado obsidiado, que era atendido naquele momento, estava sendo bombardeado por energias destrutivas do ódio na região de serviços do presente, isto é, em suas capacidades de crescimento, de realização e de trabalho nos dias que correm. E tal situação, decorrente da culpa, compelia-o a descer mentalmente para a zona de reminiscências do passado, onde seu comportamento é inferior, raiando pela semi-inconsciência dos estados evolucionários primitivos. "Esmagadora maioria dos fenômenos de alienação psíquica procedem da mente desequilibrada", explicou o Instrutor. (Obra citada, cap. 7, pp. 100 a 102.)
28. De que promanam os desequilíbrios mentais?
Ao fazer breve referência aos tratamentos utilizados pela psiquiatria no passado, como o choque elétrico e a hipoglicemia, Calderaro disse que desde a mais remota antiguidade o homem compreendeu, intuitivamente, que a maioria dos casos de alienação mental decorrem da ausência da alma à realidade. Mas, em verdade, todo desequilíbrio promana do afastamento da Lei, isto é, a lei de causa e efeito está sempre presente em casos dessa natureza. (Obra citada, cap. 7, pp. 102 e 103.)
29. Que podemos esperar de uma família sintonizada com os altos objetivos da vida?
A família é uma reunião espiritual no tempo, e, por isto mesmo, o lar é um santuário. Muitas vezes, mormente na Terra, vários de seus componentes se afastam da sintonia com os mais altos objetivos da vida; todavia, quando dois ou três de seus membros aprendem a grandeza das suas probabilidades de elevação, congregando-se intimamente para as realizações do espírito eterno, são de esperar maravilhosas edificações. (Obra citada, cap. 8, pp. 108 e 109.)
30. Nos processos obsessivos, que representa o remorso?
O remorso é sempre o ponto de sintonia entre o devedor e o credor, e muitos enfermos da alma, como o jovem Marcelo, mencionado neste livro, trazem a consciência fustigada de remorsos cruéis. (Obra citada, cap. 8, pp. 110 a 112.)
31. A epilepsia decorre sempre de alterações no encéfalo?
Diz Calderaro, neste livro, que o fenômeno epileptoide mui raramente ocorre por meras alterações no encéfalo, mas é, geralmente, enfermidade da alma, independente do corpo físico, que apenas registra, nesse caso, as ações reflexas. Céu e inferno, em essência, são estados conscienciais; se alguém agiu contra a Lei, ver-se-á dentro de si mesmo em processo retificador, tanto tempo quanto seja necessário. Assim como há inúmeras enfermidades para as desarmonias do corpo, há outras inúmeras para os desvios da alma. (Obra citada, cap. 8, pp. 112 e 113.) 
32. Que remédio é essencial à cura das enfermidades da alma?
Não é possível curá-las à força de processos exclusivamente objetivos. É indispensável penetrar a alma, devassar o cerne da personalidade, melhorar os efeitos socorrendo as causas. Não se restauram corpos doentes sem os recursos do Médico Divino das almas, que é Jesus Cristo. Os fisiologistas farão muito tentando retificar a disfunção das células; no entanto, é mister intervir nas origens das perturbações. Segundo Calderaro, é preciso entender que o homem, por sua conduta, pode vigorar a própria alma ou lesá-la. "O caráter altruísta, que aprendeu a sacrificar-se para o bem de todos, estará engrandecendo os celeiros de si mesmo, em plena eternidade; o homicida, esparzindo a morte e a sombra em sua cercania, estabelece o império do sofrimento e da treva no próprio íntimo." (Obra citada, cap. 8, pp. 119 e 120.)

Observação:
Para acessar a 3ª parte deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/05/no-mundo-maior-andre-luiz-parte-3.html





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terça-feira, 26 de maio de 2020



O melhor padrão: a boa conduta

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

Até pode-se enganar por algum pouco tempo com a conduta de alguém, mas bem provavelmente este alguém não conseguirá manter-se num padrão que ainda não conquistou. De repente também se ouve que determinada pessoa se modificou, fez um ato não muito condizente, porém é tão claro que isso não aconteceu, pois pessoas não mudam de uma hora para outra, elas se revelam.
Há as revelações medianas, intensas e as suprimidas. Se este escrito fosse um artigo científico haveria mais profundas explicações, no entanto é uma crônica circular, bem mais breve e prática. Então vamos lá. As revelações medianas são as que a médio prazo se compreende uma conduta, já sendo despertada por um ato ou outro intrigante desde o início. E quando se percebe a realidade, simplesmente era isso mesmo.
As duas outras revelações são mais surpreendentes, pois as intensas são realizadas desde o começo sem nenhuma preocupação em serem dissimuladas, elas são o que são e seus realizadores estão voltados à conquista de seus “objetivos” a qualquer custo. As suprimidas são as que, de uma certa forma, lançam uma maior surpresa negativa – quando, infelizmente, não se quer acreditar que aquilo tudo é verdade, já que tanto se omitiu – e não se quer aceitar que exista pessoa dessa maneira, mesmo sabendo que o planeta ainda é de muitas criaturas embrutecidas e que levarão mais tempo ou menos para o desabrochar do desenvolvimento dependendo exclusivamente de sua vontade.
Sob pesquisas variadas e despretensiosas, feitas através da observação de pessoas mais refinadas do que brutas, pessoas com mais amor, bondade e luz, foram constatadas que em todo tempo e local, as condutas boas, respeitosas, verdadeiras são sempre aprovadas, isso não quer dizer que a pessoa que ainda não possui esse padrão não seja capaz ou deva sofrer alguma retaliação para sempre, basta reconhecer e esforçar-se para conquistar o que é benéfico – e interiormente todos reconhecem o bem e o mal; a centelha está em cada um, o que diferencia é o desejo de assim ingressar-se ou não ao bem, visto que todo bom caminho implica renúncia e mudanças.
No entanto a boa conduta será a melhor advogada em todos os lugares, em todos os tempos, diante de todas as companhias e observações. E ainda, a boa conduta será a paz para o corpo e para o espírito.

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