Fatos Espíritas
William Crookes
Parte 22 e final
Concluímos nesta edição ao estudo
metódico e sequencial do clássico Fatos
Espíritas, de William Crookes, obra publicada em 1874, cujo título no
original inglês é Researches in the
phenomena of the spiritualism.(1)
Na próxima sexta-feira, dia 5 de
novembro, iniciaremos neste espaço o estudo do livro Os mortos nos falam, escrito pelo Padre François Brune.
Nosso propósito é que estes estudos
sirvam de algum modo para o leitor como uma forma de iniciação à leitura dos
chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas
encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Por que o médium Daniel Dunglas Home, mesmo retido a um
leito por estar enfermo, foi a Hartford?
B. Recebido pelo Sr. Ward Cheney, que fato ocorreu assim
que Home entrou na sua residência?
C. O Espírito que lhe apareceu relatou-lhe um fato. Esse
fato, que todos ignoravam naquela casa, acabou sendo confirmado?
Texto para
leitura
360. Uma manifestação interessante – O extraordinário médium Daniel Dunglas
Home narra o seguinte caso, na sua obra Life
and Mission:
“Quando eu residia em Springfield,
tive uma grave moléstia que me reteve ao leito durante algum tempo. Um dia, na
ocasião em que o médico se retirava, um Espírito me deu esta comunicação:
‘Tomai o trem da tarde para Hartford, pois se trata de um negócio importante
para o progresso da causa; não repliqueis, fazei simplesmente o que vos
dizemos’.
Dei conhecimento à minha família dessa
extraordinária ordem e, apesar do meu estado de fraqueza, tomei o trem,
ignorando completamente o que eu ia fazer e o objetivo de tal viagem.
Ao chegar a Hartford, veio ao meu
encontro um estrangeiro, que me disse: ‘Só tive ocasião de vos ver uma única
vez, mas creio que falo com o Sr. Home’. Respondi-lhe afirmativamente,
acrescentando que eu chegava a Hartford sem nenhuma ideia do que se queria da
minha pessoa. ‘É engraçado! – replicou o meu interlocutor –, eu vinha
exatamente tomar o trem para vos ir procurar em Springfield’. Explicou-me ele,
então, que uma família influente, bem conhecida, me pedia para eu fazer-lhe uma
visita e prestar o meu concurso às investigações que ela desejava fazer sobre o
Espiritismo. O fim da viagem começava, pois, a desenhar-se, mas o mistério
permanecia ainda velado.”
361. Na sequência, relata o médium
Home:
“Agradável trajeto em carruagem
conduziu-nos logo ao nosso destino. O dono da casa, o Sr. Ward Cheney, que veio
receber-me à porta, saudou-me, dizendo que não esperava que eu chegasse senão
no dia seguinte pela manhã.
Logo que entrei no vestíbulo, a minha
atenção foi atraída por um ruído semelhante ao farfalhar de um pesado vestido
de seda. Olhei ao redor de mim e fiquei surpreendido de não ver ninguém;
passamos, então, a uma das salas e não me preocupei mais com esses incidente.
Pouco depois, vi no vestíbulo uma
velha baixa, com pesado vestido de seda escura, a qual parecia muito
preocupada. Aí estava a explicação desses mistérios; eu tinha ouvido, sem ver,
essa pessoa que ia e vinha pela casa.
Repetindo-se o farfalhar do vestido, o
Sr. Cheney, que o tinha ouvido ao mesmo tempo em que eu, perguntou-me de onde
vinha esse ruído. ‘Ora esta! – respondi –, é do vestido de seda escura dessa
velha que vejo no vestíbulo’.
Quem seria essa pessoa? A aparição
era, efetivamente, tão perfeita que eu não duvidava que fosse uma criatura em
carne e osso. Como o resto da família chegasse naquele instante, as
apresentações impediram o Sr. Cheney de me responder e, naquele momento, eu não
tive mais ocasião de obter informações.”
362. Prossegue o curioso relato de
Home:
“Tendo sido servido o jantar, fiquei
admirado de não ver à mesa a senhora do vestido de seda; esses fatos
despertaram a minha curiosidade e essa senhora tornou-se logo para mim um
objeto de preocupação.
Quando todos deixaram a sala de
jantar, ouvi de novo o farfalhar do vestido de seda e, também, uma voz disse:
‘Eu estou aborrecida porque colocaram um caixão sobre o meu; não quero que ele
fique ali’.
Tendo eu dado parte dessa comunicação
ao dono da casa e à sua mulher, eles se olharam com admiração e, em seguida, o
Sr. Cheney, rompendo o silêncio, me disse que reconhecia perfeitamente esse
vestido, a sua cor e mesmo seu gênero de seda espessa, mas que o fato do caixão
colocado sobre o dela era um absurdo. Essa resposta me tornou perplexo; eu não
sabia mais o que dizer.
Uma hora depois, ouvi de repente a
mesma voz pronunciar exatamente idênticas palavras, porém acrescentando o
seguinte: ‘Além disso, Seth não tinha o direito de cortar essa árvore’. Tendo
narrado ao dono da casa essa nova comunicação, ele ficou muito inquieto. ‘Há,
em tudo isso, disse-me ele, alguma coisa bem extraordinária. Meu irmão Seth
cortou uma árvore que embaraçava a vista, e dissemos-lhe que, se a pessoa que
ora pretende falar-vos fosse viva, não consentiria no corte dessa árvore.
Quanto ao resto da comunicação, afirmo que não tem nada de racional’.
A mesma comunicação me foi dada à
noite pela terceira vez, e me expus de novo a um desmentido formal. Eu estava
sob o golpe de uma impressão muito penosa, quando me recolhi ao quarto, pois
nunca tinha recebido comunicação mentirosa, e mesmo admitindo o bom senso do
seu agravo, semelhante insistência, da parte de um Espírito desencarnado de não
querer que um outro caixão fosse colocado sobre o seu, me parecia absolutamente
ridícula.”
363. O médium estava realmente
decepcionado, mas uma surpresa lhe estava reservada para o dia seguinte. Diz
Home:
“Pela manhã, manifestei ao dono da
casa o meu profundo desapontamento, respondendo-me que também estava muito
sentido, mas ia provar-me que esse Espírito – se realmente era aquele que dizia
ser – estava perfeitamente enganado. ‘Vamos até ao jazigo de minha família –
acrescentou –, e vereis que, embora tivéssemos querido, não fora possível
colocar um outro caixão em cima do dela’.
Logo que chegamos ao cemitério, fomos
procurar o coveiro, que guardava a chave do jazigo. Na ocasião em que ele ia
abrir a porta, pareceu refletir e disse com um ar um tanto embaraçado,
voltando-se para o Sr. Cheney: ‘Devo participar a V. Sa. que, como restava
justamente um pequeno espaço em cima do caixão da Sra. X, coloquei ali o
caixãozinho do filho de L... Penso que isso não tem importância, mas talvez
fora melhor que eu vos tivesse prevenido disso. Ele está lá desde ontem
apenas’.
Nunca me hei de esquecer do olhar que
me lançou o Sr. Cheney, quando me disse, voltando-se para mim: Meu Deus, é pois
uma verdade!”
364. Concluindo seu relato, Home
informou:
“À noite, o Espírito manifestou-se de
novo e disse-nos: ‘Não acrediteis que eu ligue a menor importância ao caixão
colocado sobre o meu; pode ser colocada até uma pilha de caixões, com isso não
me incomodo. O meu único fim era dar, de uma vez para sempre, prova da minha
identidade, de vos levar à convicção absoluta de que sou sempre um ser vivo e
racional, a mesma E... que sempre fui.”
(1) A obra que acabamos de estudar não
é, propriamente falando, uma tradução de "Researches in the Phenomena of Spiritualism", pois contém
textos colhidos em outras fontes, embora igualmente de autoria de William
Crookes. O livro em exame apresenta também comentários de diferentes
pesquisadores e obedece a um plano original feito por seu tradutor, Oscar
D´Argonnel, que é, pois, além de tradutor, o organizador da obra.
Respostas às
questões preliminares
A. Por que o médium Daniel D. Home, mesmo retido a um leito
por estar enfermo, foi a Hartford?
Ele o fez porque um Espírito lhe pediu
que fosse, afirmando-lhe que se tratava de um negócio importante para o
progresso da causa. Embora o Espírito não houvesse explicado exatamente a
natureza do negócio e o objetivo da viagem, Home viajou a Hartford. (Fatos Espíritas – Uma manifestação
interessante.)
B. Recebido pelo Sr. Ward Cheney, que fato ocorreu assim
que Home entrou na sua residência?
Logo que entrou no vestíbulo, sua
atenção foi atraída por um ruído semelhante ao farfalhar de um pesado vestido
de seda. Ele olhou para os lados e não viu ninguém. Pouco depois, viu no
vestíbulo uma velha, com pesado vestido de seda escura, a qual parecia muito
preocupada. Aí estava a explicação do mistério: ele tinha ouvido, sem ver,
aquela pessoa que ia e vinha pela casa. Tratava-se de uma aparição e tão
perfeita que Home não duvidava que fosse uma criatura em carne e osso. (Obra citada – Uma manifestação interessante.)
C. O Espírito que lhe apareceu relatou-lhe um fato. Esse
fato, que todos ignoravam naquela casa, acabou sendo confirmado?
Sim. O Espírito dizia que tinham
colocado um caixão sobre o seu próprio caixão, fato que o Sr. Cheney ignorava
e, por isso, negava. Eles foram então até o jazigo da família. Logo que
chegaram ao cemitério, foram procurar o coveiro, que guardava a chave do
jazigo. Na ocasião em que ele ia abrir a porta, o rapaz, que se mostrava um
tanto embaraçado, disse ao Sr. Cheney: “Devo participar a V. Sa. que, como
restava justamente um pequeno espaço em cima do caixão da Sra. X, coloquei ali
o caixãozinho do filho de L... Penso que isso não tem importância, mas talvez
fora melhor que eu vos tivesse prevenido disso. Ele está lá desde ontem apenas”.
Era, portanto, verdade o que o Espírito insistentemente havia dito a Daniel
Home. (Obra citada – Uma manifestação interessante.)
Observação:
Para acessar a Parte 21 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/10/fatos-espiritas-william-crookes-parte.html
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