segunda-feira, 30 de setembro de 2019




Da série de erros costumeiros que temos visto no uso do nosso idioma, eis mais seis exemplos:
1. O barulho veio de traz.
O correto: O barulho veio de trás.
Explicação: O termo correto é “trás”, advérbio, que não devemos confundir com “traz”, do verbo trazer. O elemento “trás” é encontrado nas palavras traseira, detrás, atrás.
2. Roberto não deixa de ser desmancha-prazer.
O correto: Roberto não deixa ser desmancha-prazeres.
Explicação: Como ocorre com vários substantivos compostos, em “desmancha-prazeres” o segundo elemento vem sempre na forma plural. Outros exemplos: salva-vidas, guarda-costas, toca-discos, guarda-livros.
3. Na volta da fazenda, meu vizinho comprou dois tico-tico.
O correto: Na volta da fazenda, meu vizinho comprou dois tico-ticos.
Explicação: Nos substantivos compostos formados pela repetição da mesma palavra, o plural atinge o segundo elemento. Outros exemplos: teco-tecos, quebra-quebras, tique-taques.
4. É conosco mesmos que eles terão de tratar.
O correto: É com nós mesmos que eles terão de tratar.
Explicação: Não se usa a forma “conosco” quando for seguida das palavras mesmos, próprios, todos, outros ou de uma oração adjetiva. Exemplos: O chefe terá de falar com nós todos. O diretor simpatizava com nós, que éramos seus conterrâneos.
5. A mãe de nossa madrasta estava sempre de mal humor.
O correto: A mãe de nossa madrasta estava sempre de mau humor.
Explicação: “Mal” é advérbio; é o contrário de “bem”. “Mau” é adjetivo; é o contrário de “bom”. Da mesma forma que dizemos “bom humor”, devemos dizer “mau humor”, porque é o adjetivo que modifica os substantivos. Exemplos: Mau aluno, maus professores, maus deputados.
6. No fim do ano, se nada der errado, iremos à Roma.
O correto: No fim do ano, se nada der errado, iremos a Roma.
Explicação: Não se usa crase antes de nome de cidade. Exemplos: Fomos a Maringá, a Paris, a Jerusalém, a Curitiba. A crase em tais casos só se admite se o nome da cidade vier acompanhado de uma expressão ou palavra modificadora. Exemplos: Fui à Roma dos césares. Irei à Curitiba dos pinheirais.


  



Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como utilizá-lo.






domingo, 29 de setembro de 2019




Onde há verdadeira fraternidade, o orgulho é uma anomalia

Não é difícil apurar a qualidade de uma fruta quando estamos no mercado diante de uma banca. No caso da melancia, para convencer o cliente, muitos vendedores têm por costume oferecer um pedaço da fruta e aí, ao experimentá-la, o paladar não deixa ninguém em dúvida.
No tocante à qualidade da sociedade em que vivemos, a aferição se faz por meio dos exemplos que deparamos a cada momento.
Algum tempo atrás, em um jogo de futebol disputado em Huancayo, Peru, todas as vezes em que o jogador Tinga, do Cruzeiro, tocava na bola, torcedores da equipe Real Garcilaso imitavam sons de macacos, um episódio de racismo que repercutiu no mundo do futebol aqui e fora do Brasil, suscitando até mesmo uma manifestação pública do governo do Brasil, e do governo do Peru, que classificaram de “lamentável” o incidente.
Dias antes do citado episódio, uma professora universitária, docente na PUC-Rio, postou no Facebook uma foto de um homem de bermuda e regata, acrescentando-lhe a seguinte frase: "aeroporto ou rodoviária?". Aos que não sabem, explicamos: PUC-Rio é a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, uma instituição de ensino que prestou e vem prestando relevantes serviços à educação em nosso País.
O conteúdo dos comentários postados na mesma página com relação à frase da professora envolveu, igualmente, críticas à presença de passageiros pobres nos voos. "O 'glamour' foi para o espaço", escreveu o reitor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), ao que a professora respondeu: "Puxa, mas para glamour falta muuuitooo!!! Está mais para estiva".
Em seguida, outra professora universitária, também da PUC-Rio, acrescentou: "E sabe o que é pior? quando esse tipo de passageiro senta exatamente a seu lado e fica roçando o braço peludo no seu, porque – claro – não respeita (ou não cabe) nos limites do seu assento".
O fato repercutiu na mencionada rede social e foi, de imediato, censurado por milhares de pessoas, justamente inconformadas com a absurda manifestação de preconceito social expressa – por incrível que pareça – por três professores universitários.

*

Toda forma de preconceito – racial, social, religioso – é filha dileta do orgulho, que é, como se sabe, a fonte de todos os nossos males. Pelo menos é assim que Adolfo, ex-bispo de Argel, escreveu em uma mensagem publicada em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VII, item 12, que adiante parcialmente transcrevemos:

Não podeis ser felizes, sem mútua benevolência; mas, como pode a benevolência coexistir com o orgulho? O orgulho, eis a fonte de todos os vossos males.
Aplicai-vos, portanto, em destruí-lo, se não lhe quiserdes perpetuar as funestas consequências. Um único meio se vos oferece para isso, mas infalível: tomardes para regra invariável do vosso proceder a lei do Cristo, lei que tendes repelido ou falseado em sua interpretação.
Por que haveis de ter em maior estima o que brilha e encanta os olhos, do que o que toca o coração? Por que fazeis do vício na opulência objeto das vossas adulações, ao passo que desdenhais do verdadeiro mérito na obscuridade? Apresente-se em qualquer parte um rico debochado, perdido de corpo e alma, e todas as portas se lhe abrem, todas as atenções são para ele, enquanto ao homem de bem, que vive do seu trabalho, mal se dignam todos de saudá-lo com ar de proteção.
Quando a consideração dispensada aos outros se mede pelo ouro que possuem ou pelo nome de que usam, que interesse podem eles ter em se corrigirem de seus defeitos? (Adolfo, bispo de Argel. Marmande, 1862.)

Relativamente ao orgulho devemos todos ter presente a seguinte frase que integra os Prolegômenos d´O Livro dos Espíritos: “O orgulho e a ambição serão sempre uma barreira erguida entre o homem e Deus”.
Enquanto não houver entre nós, seres humanos, o sentimento real de fraternidade, é óbvio que o orgulho continuará imperando e, como consequência, veremos aqui e ali atos de racismo, como o que ocorreu com o jogador Tinga, e de preconceito social contra os não-ricos, a que nos referimos acima.
Quando, porém, a fraternidade no seio dos povos for de fato uma realidade, poderemos repetir a frase que Allan Kardec inseriu na parte III da Conclusão d´O Livro dos Espíritos: “Onde há verdadeira fraternidade, o orgulho é uma anomalia”.






Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como utilizá-lo.






sábado, 28 de setembro de 2019




Vontade, pensamento e ação

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Após sua publicação d’O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857, Allan Kardec optou por também editar, com recursos pessoais, um periódico que não apenas servisse como aprofundamento às 501 questões da primeira edição daquela obra básica, como também a ampliasse, a partir de sua segunda edição, para 1.019 questões.
Além disso, a Revista Espírita, nome que deu ao periódico, serviria como laboratório experimental para a ampliação de sua obra, que se desdobraria noutras quatro: O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. Isso sem nos referir a livros como Instrução Prática Sobre as Manifestações Espíritas, O Espiritismo na Sua Expressão mais Simples e outros opúsculos.
Na Revista Espírita de janeiro de 1858, em: Respostas dos Espíritos a algumas perguntas, Kardec acha estranho que os Espíritos possam agir sobre a matéria. Em consequência disso, é informado que o Espírito age por si mesmo, com base no que viria a ser chamado, mais tarde de perispírito, ou seja “laço que une o Espírito à matéria”.
Na observação logo abaixo, é explicado que esse laço é “impalpável”, mas nele está a “causa primeira de todos os nossos movimentos voluntários”, assim como “a eletricidade derruba, levanta e transporta massas inertes”. Vamos entender, por fim, que a causa inicial da ação sobre o “agente físico” é a “inteligência que age sobre esse agente”. Assim como o pensamento age sobre nossos membros, mas são estes que se movem, e não o pensamento, é pela ação da vontade do Espírito, atuando sobre seu perispírito, que este é capaz de agir sobre a matéria.
E onde se situa a vontade? Explica-nos o Espírito Emmanuel que a vontade é que governa “todos os setores da ação mental”, que ele classifica em desejo, inteligência, imaginação, memória, além dos “que definem os investimentos da alma” (in: XAVIER, Chico. Pensamento e Vida, cap. 2).
Sem a vontade, explica-nos o venerando guia espiritual daquele que foi eleito O Maior Brasileiro de Todos os Tempos,

O desejo pode comprar ao engano aflitivos séculos de reparação e sofrimento, a inteligência pode aprisionar-se na enxovia da criminalidade, a imaginação pode gerar perigosos monstros na sombra, e a memória, não obstante fiel à sua função de registradora, conforme a destinação que a natureza lhe assinala, pode cair em deplorável relaxamento.
Só a vontade é suficiente forte para sustentar a harmonia do Espírito.
Em verdade, ela não consegue impedir a reflexão mental, quando se trate da conexão entre os semelhantes, porque a sintonia constitui lei inderrogável, mas pode impor o jugo da disciplina sobre os elementos que administra, de modo a mantê-los coesos na corrente do bem (op. cit.).

Fomos criados à “imagem e semelhança de Deus”, por sermos seus filhos, ou seja, Espíritos imortais, que têm por destinação a perfeição. Assim sendo, é imprescindível que disciplinemos nossa vontade para a ação permanente no bem. Isso porque, sendo Deus puro Amor, somente pensando no Amor e agindo com Amor poderemos ser felizes.







Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como utilizá-lo.






sexta-feira, 27 de setembro de 2019




O porquê da vida

Léon Denis

Parte 13 e final

Concluímos hoje o estudo do clássico O porquê da vida, de Léon Denis, realizado com base na 14ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Nossa expectativa é que ele tenha servido para o leitor como uma forma de iniciação ao estudo dos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

Questões preliminares

A. Que fato causou o falecimento de Giovana Speranzi?
B. Em que circunstância Giovana apareceu ao seu noivo?
C. Que é preciso fazer para evoluirmos e, desse modo, galgarmos mundos mais elevados?

Texto para leitura

158. Uma epidemia de tifo baixara às margens do lago e quase todos os habitantes de Gravedona e de Domaso foram atingidos sucessivamente. Em poucos dias, a doença deixou muitas casas vazias e, como era previsível, não poupou os Gerosis. Primeiro foi Marta, depois a filha. Como os médicos eram poucos, as habitações acabavam sendo abandonadas pelas famílias atingidas pelo flagelo, ficando muitos doentes sozinhos no próprio lar. (P. 155)
159. As lamentações que ressoavam por toda parte arrancaram Giovana de seu sossego, de sua ventura. Desprezando o perigo e surda às súplicas de Maurício, repartiu desde então o tempo entre os infelizes abandonados. O noivo seguiu-lhe o exemplo. Um mês inteiro Giovana passou à cabeceira dos moribundos, e muitos, como Marta e a filha, expiraram à sua vista. (P. 156)
160. Tantas fadigas e emoções prostraram a jovem. O tifo também a atingiu, e Giovana, em pouco tempo, expirou nos braços do noivo querido, que se conservou junto dela desde que despontou o primeiro sinal da doença. A alma daquele anjo voltava, desse modo, para Aquele que a havia criado. (PP. 155 e 156)
161. Maurício, esmagado pela dor, parecia estar embriagado. Suas lágrimas, não podendo rebentar, recaíam sobre o seu coração e o afogavam em ondas de um desespero feroz. “Que cruel Deus é este – pensava ele – que se diverte assim com o nosso coração! Ter mostrado a felicidade, ter feito tocá-la, para a arrebatar no mesmo instante!” (P. 158)
162. Realizado o sepultamento, Maurício ficou só diante da sepultura da noiva. Então seu coração despedaçou-se, e ele se lançou por terra, estendendo os braços em cima da morta, enquanto um soluço se avolumava no seu peito e uma torrente de lágrimas corria dos seus olhos... (PP. 160 e 161)
163. Chegou o inverno, e o mesmo desgosto do passado invadira a mente de Maurício, envolvido seriamente por ideias de suicídio, que germinavam no íntimo dos seus pensamentos. Na verdade, o rapaz se comprazia nessa obscuridade cada vez mais completa, visto não achar na vida uma razão para viver. (P. 162)
164. Uma noite, porém, ligeiro farfalhar fez-se ouvir atrás de onde ele estava. Maurício voltou-se e nada viu. Perto da chaminé havia um piano e, de repente, ouviram-se sons saídos do móvel, que se encontrava hermeticamente fechado. Era uma ária de Mignon, a predileta de Giovana, que ela gostava de tocar à tarde, depois do jantar. Maurício se emocionou; seus olhos se encheram de lágrimas, mas o banco do pianista permanecia vazio. Ele retornou então para o seu lugar e viu que uma sombra branca ocupava a poltrona que ele há pouco deixara. (P. 162)
165. Era Giovana que voltava do além-túmulo, a exibir-lhe os mesmos olhos, os mesmos cabelos louros, a mesma boca sorridente e o mesmo talhe esbelto. E uma voz suave e conhecida fez vibrar os ares: “Amigo, nada receies, sou eu mesma, não tentes tocar-me, não sou mais que um Espírito”. Maurício ajoelhou-se e, chorando, indagou: “Ó meu anjo, ó minha noiva, és tu, então?” “Sim, sou tua noiva, tua muito antes desta vida. Escuta, um laço eterno nos une. Nós nos conhecemos há séculos, temos vivido lado a lado sobre muitas plagas, temos percorrido muitas existências.” (PP. 162 e 163)
166. “A primeira vez que te encontrei na Terra – informou Giovana – era eu bem fraca, bem tímida e a vida então era dura. Tu me tomaste pela mão, me serviste de apoio; desde esse momento, não nos deixamos mais. Sempre seguíamos um ao outro em nossas vidas materiais, andando no mesmo caminho, amando-nos, sustentando-nos um ao outro. Metido em combates, em empresas guerreiras, tu não podias realizar os progressos necessários para que teu Espírito livre, purificado, pudesse deixar este mundo grosseiro. Deus quis experimentar-te; separou-nos. Eu podia elevar-me para outras esferas mais felizes, enquanto que tu devias prosseguir sozinho a tua prova aqui embaixo. Preferi, porém, esperar-te no espaço. Efetuaste duas existências desde então e, durante seu curso, testemunha invisível de teus pensamentos, não cessei de velar por ti.” (P. 163)
167. “Cada vez que a morte arrancava tua alma à matéria, tu me reencontravas e o desejo de te elevares fazia-te retomar com mais ardor o fardo da encarnação. Desta vez eu também pedi, tanto supliquei ao Senhor, que ele me permitiu voltar à Terra, tomar aí um corpo e ser uma voz para ensinar-te o bem, a verdade.” Dito isto, Giovana ainda disse muitas coisas ao noivo amado, e, no final, encorajou-o a persistir na luta, afirmando: “Se queres que esta existência terrestre seja a última para ti, se queres que ao sair dela sejamos reunidos para nunca mais nos separarmos, consagra tua vida a teus irmãos, ensina-lhes a verdade. Dize-lhes que o fim da existência não é adquirir bens efêmeros, mas esclarecer a inteligência, purificar o coração, elevar-se para Deus. Revela-lhes as grandes leis do Universo, a ascensão dos Espíritos para a perfeição. Ensina-lhes as vidas múltiplas e solidárias, os mundos inumeráveis, as humanidades irmãs. Mostra-lhes a harmonia moral que rege o infinito”. “Deixa após ti as sombras da matéria, as más paixões; dá a todos o exemplo do sacrifício, do trabalho, da virtude. Tem confiança na divina justiça. Fita a todo o momento a luz longínqua que ilumina o alvo, o alvo supremo, que deve reunir-nos no amor, na felicidade.” (P. 164)
168. Diz o autor desta novela ter encontrado Maurício Ferrand, alguns anos atrás, em uma grande cidade, além dos Alpes. Ele havia começado a sua obra. Pela pena, pela palavra, trabalhava para derramar esta doutrina conhecida pelo nome de Espiritismo. Os sarcasmos e zombarias choviam sobre ele de todas as partes. Céticos, devotos, indiferentes uniam-se todos para o abaterem. Ele, porém, calmo, resignado, não perseverava menos em sua tarefa. (P. 165)
169. A tudo isso respondia Maurício, confiante: “Que me importa o desdém destes homens? Dia virá em que as provas os obrigarão a compreender que esta vida não é tudo, e pensarão em Deus, em seu futuro esplendoroso. Pode ser que então se recordem do que lhes digo. A semente neles lançada poderá germinar. E, além disso, acrescentou, fitando o Espaço – e uma lágrima brilhou em seus olhos –, o que eu faço é para obedecer àqueles que me amam, é para aproximar-me deles”. (P. 165)

Respostas às questões preliminares

A. Que fato causou o falecimento de Giovana Speranzi?
Foi uma epidemia de tifo, que atingiu quase todos os habitantes de Gravedona e de Domaso. Em poucos dias, a doença deixou muitas casas vazias e, como era previsível, não poupou os Gerosis. Primeiro foi Marta, depois a filha. Como os médicos eram poucos, as habitações acabavam sendo abandonadas pelas famílias atingidas pelo flagelo, ficando muitos doentes sozinhos no próprio lar. O tifo atingiu também Giovana, que pouco depois expirou nos braços de Maurício. (O porquê da vida, pp. 155 e 156.)
B. Em que circunstância Giovana apareceu ao seu noivo?
Em certa noite, ligeiro farfalhar fez-se ouvir atrás de onde Maurício estava. Ele voltou-se e nada viu. Perto da chaminé havia um piano e, de repente, ouviram-se sons saídos do móvel, que se encontrava hermeticamente fechado. Era uma ária de Mignon, a predileta de Giovana, que ela gostava de tocar à tarde, depois do jantar. Maurício se emocionou; seus olhos se encheram de lágrimas, mas o banco do pianista permanecia vazio. Ele retornou então para o seu lugar e viu que uma sombra branca ocupava a poltrona que ele há pouco deixara. Era Giovana que voltava do além-túmulo, a exibir-lhe os mesmos olhos, os mesmos cabelos louros, a mesma boca sorridente e o mesmo talhe esbelto. (Obra citada, pp. 162 e 163.)
C. Que é preciso fazer para evoluirmos e, desse modo, galgarmos mundos mais elevados?
Uma lição nesse sentido foi dada por Giovana ao querido noivo: “Se queres que esta existência terrestre seja a última para ti, se queres que ao sair dela sejamos reunidos para nunca mais nos separarmos, consagra tua vida a teus irmãos, ensina-lhes a verdade. Dize-lhes que o fim da existência não é adquirir bens efêmeros, mas esclarecer a inteligência, purificar o coração, elevar-se para Deus. Revela-lhes as grandes leis do Universo, a ascensão dos Espíritos para a perfeição. Ensina-lhes as vidas múltiplas e solidárias, os mundos inumeráveis, as humanidades irmãs. Mostra-lhes a harmonia moral que rege o infinito”. “Deixa após ti as sombras da matéria, as más paixões; dá a todos o exemplo do sacrifício, do trabalho, da virtude. Tem confiança na divina justiça. Fita a todo o momento a luz longínqua que ilumina o alvo, o alvo supremo, que deve reunir-nos no amor, na felicidade.” (Obra citada, pág. 164.)

Observação:
Eis os links que remetem aos textos anteriores:






Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como utilizá-lo.






quinta-feira, 26 de setembro de 2019





Ressurreição e reencarnação: em que se distinguem?

É grande a diferença entre um termo e outro, embora no passado o vocábulo ressurreição tenha sido utilizado para significar tanto a ressurreição propriamente dita quanto a reencarnação ou palingenesia.
O vocábulo reencarnação não existia, mas seu conceito fazia parte dos dogmas dos judeus sob o nome de ressurreição. Apenas os saduceus, seita judia formada por Sadoc por volta do ano 248 a.C., cuja crença era a de que tudo acabava com a morte, não acreditavam nisso.
Os judeus que partilhavam outras crenças acreditavam firmemente que um homem que vivera podia reviver, sem saberem precisamente de que maneira o fato poderia dar-se.
Exemplo disso podemos colher nesta passagem do Evangelho segundo Mateus:
E, chegando Jesus às partes de Cesareia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas. Mateus 16:13-14
Designavam com o vocábulo ressurreição o que o Espiritismo chama de reencarnação.
Ressurreição diz respeito ao corpo de alguém que morreu. A palavra pode assim aplicar-se a Lázaro e à filha de Jairo, mas não a Elias, nem aos outros profetas que viveram na Terra muitos séculos antes do advento de Jesus.
Se é possível a ressurreição nas chamadas mortes aparentes, que é certamente o que ocorreu com Lázaro, ressuscitar um corpo que já se acha com seus elementos dispersos ou absorvidos é cientificamente impossível.
Reencarnação é outra coisa. É a volta do Espírito à vida corpórea, mas em outro corpo formado especialmente para ele e que nada tem de comum com o antigo.
Quando Jesus disse a Nicodemos: “Em verdade, em verdade, te digo: Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo”, ante a estranheza do senador dos judeus que não entendia como tal situação poderia ocorrer, Jesus replicou como que surpreendido: “Como pode isso fazer-se? Pois quê! és mestre em Israel e ignoras estas coisas? Digo-te em verdade que não dizemos senão o que sabemos e que não damos testemunho, senão do que temos visto. Entretanto, não aceitas o nosso testemunho. Mas, se não credes, quando vos falo das coisas da Terra, como me crereis, quando vos falo das coisas do céu?” (João, 3:1 a 12.)
Quando – de acordo com Mateus 17:10-13 - Jesus disse que Elias já viera e, em seguida, explicou que ele e João Batista eram a mesma pessoa, ele estava referindo-se não à ressurreição, mas à reencarnação de Elias, visto que o grande profeta vivera vários séculos antes do Cristo e que João, primo de Jesus, fora visto em criança.
A reencarnação constitui um dos princípios fundamentais do Espiritismo, que a apresenta como um dos fatores indispensáveis ao progresso dos Espíritos.




Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como utilizá-lo.






quarta-feira, 25 de setembro de 2019




A escrava do Senhor

Irmão X

Quando João, o discípulo amado, veio ter com Maria, anunciando-lhe a detenção do Mestre, o coração materno, consternado, recolheu-se ao santuário da prece e rogou ao Senhor Supremo poupasse o filho querido.
Não era Jesus o Embaixador Divino? Não recebera a notificação dos anjos, quanto à sua condição celeste?... Seu filho amado nascera para a salvação dos oprimidos... Ilustraria o nome de Israel, seria o rei diferente, cheio de amoroso poder. Curava leprosos, levantava paralíticos sem esperança. A ressurreição de Lázaro, já sepultado, não bastaria para elevá-lo ao cume da glorificação?
E Maria confiou ao Deus de Misericórdia suas preocupações e súplicas, esperando-lhe a providência; entretanto, João voltou em horas breves, para dizer-lhe que o Messias fora encarcerado.
A Mãe Santíssima regressou à oração em silêncio. Em pranto, implorou o favor do Pai Celestial. Confiaria n’Ele.
Desejava enfrentar a situação, desassombradamente, procurando as autoridades de Jerusalém. Mas, humilde e pobre, que conseguiria dos poderosos da Terra? E, acaso, não contava com a proteção do Céu? Certamente, o Deus de Bondade Infinita, que seu filho revelara ao mundo, salvá-lo-ia da prisão, restituí-lo-ia à liberdade.
Maria manteve-se vigilante. Afastando-se da casa modesta a que se recolhera, ganhou a rua e intentou penetrar o cárcere; todavia, não conseguiu comover o coração dos guardas. Noite alta, velava, súplice, entre a angústia e a confiança.
Mais tarde, João voltou, comunicando-lhe as novas dificuldades surgidas. O Mestre fora acusado pelos sacerdotes. Estava sozinho. E Pilatos, o administrador romano, hesitando entre os dispositivos da lei e as exigências do povo, enviara o Mestre à consideração de Herodes.
Maria não pôde conter-se. Segui-lo-ia de perto.
Resoluta, abrigou-se num manto discreto e tornou à via pública, multiplicando as rogativas ao Céu, em sua maternal aflição. Naturalmente, Deus modificaria os acontecimentos, tocando a alma de Antipas. Não duvidaria um instante. Que fizera seu filho para receber afrontas? Não reverenciava a lei? Não espalhava sublimes consolações? Amparada pela convertida de Magdala, alcançou as vizinhanças do palácio do tetrarca. Oh! Infinita amargura! Jesus fora vestido com uma túnica de ironia e ostentava, nas mãos, uma cana suja à maneira de cetro e, como se isso não bastasse, fora também coroado de espinhos!... Ela quis aproximar-se a fim de libertar-lhe a fronte sangrenta e arrebatá-lo da situação dolorosa, mas o filho, sereno e resignado, endereçou-lhe o olhar mais significativo de toda a existência. Compreendeu que ele a induzia à oração e, em silêncio, lhe pedia confiança no Pai.
Conteve-se, mas o seguiu em pranto, rogando a intervenção divina. Impossível que o Pai não se manifestasse. Não era seu filho o escolhido para a salvação? Não era ele a luz de Israel, o sublime revelador. Lembrou-lhe a infância, amparada pelos anjos... Guardava a impressão de que a Estrela Brilhante, que lhe anunciara o nascimento, ainda resplandecia no alto!...
A multidão estacou, de súbito. Interrompera-se a marcha para que o governador romano se pronunciasse em definitivo.
Maria confiava. Quem sabe chegara o instante da ordem de Deus? O Supremo Senhor poderia inspirar diretamente o juiz da causa.
Após ansiedades longas, Pôncio Pilatos, num esforço extremo para salvar o acusado, convidou a turba farisaica a escolher entre Jesus, o Divino Benfeitor, e Barrabás, o bandido. O coração materno asilou esperanças mais fortes. O povo ia falar e o povo devia muitas benções ao seu filho querido. Como equiparar o Mensageiro do Pai ao malfeitor cruel que todos conheciam?
A multidão, porém, manifestou-se, pedindo a liberdade para Barrabás e a crucificação para Jesus. Oh! - pensou a mãe atormentada - onde está o Eterno que não me ouve as orações? Onde permanecem os anjos que me falavam em luminosas promessas?
Em copioso pranto, viu seu filho vergado ao peso da cruz. Ele caminhava com dificuldade, corpo trêmulo pelas vergastadas recebidas e, obedecendo ao instinto natural, Maria avançou para oferecer-lhe auxílio. Contiveram-na, todavia, os soldados que rodeavam o Condenado Divino.
Angustiada, recordou-se repentinamente de Abraão. O generoso patriarca, noutro tempo, movido pela voz de Deus, conduzira o filho amado ao sacrifício. Seguira Isaac inocente, dilacerado de dor atendendo a recomendação de Jeová, mas, eis que no instante derradeiro, o Senhor determinou o contrário, e o pai de Israel regressara ao santuário doméstico em soberano triunfo.
Certamente, o Deus Compassivo escutava-lhe as súplicas e reservava-lhe júbilo igual. Jesus desceria do Calvário, vitorioso, para o seu amor, continuando no apostolado da redenção; no entanto, dolorosamente surpreendida, viu-o içado no madeiro, entre ladrões.
Oh! A terrível angústia daquela hora!... Por que não a ouvira o Poderoso Pai? Que fizera para não lhe merecer a benção?
Desalentada, ferida, ouvia a voz do filho, recomendando-a aos cuidados de João, o companheiro fiel. Registrou-lhe, humilhada, as palavras derradeiras.
Mas, quando a sublime cabeça pendeu inerte, Maria recordou a visita do anjo, antes do Natal Divino. Em retrospecto maravilhoso, escutou-lhe a saudação celestial. Misteriosa força assenhoreava-se-lhe do espírito.
Sim... Jesus era seu filho, todavia, antes de tudo, era o Mensageiro de Deus.
Ela possuía desejos humanos, mas o Supremo Senhor guardava eternos e insondáveis desígnios.
O carinho materno poderia sofrer, contudo, a Vontade Celeste regozijava-se.
Poderia haver lágrimas em seus olhos, mas brilhariam festas de vitória no Reino de Deus. Suplicara aparentemente em vão, porquanto, certo, o Todo-Poderoso atendera-lhe os rogos, não segundo os seus anseios de mãe e sim de acordo com os seus planos divinos!...
Foi então que, Maria, compreendendo a perfeição, a misericórdia e justiça da Vontade do Pai, ajoelhou-se aos pés da cruz e, contemplando o filho morto, repetiu as inesquecíveis afirmações:
- "Senhor, eis aqui a tua serva! Cumpra-se em mim, segundo a tua palavra!".

Do livro Lázaro Redivivo, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

  



Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como utilizá-lo.