segunda-feira, 31 de outubro de 2022

 



Tormentos da Obsessão

 

Manoel Philomeno de Miranda

 

Parte 21

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial do livro Tormentos da Obsessão, obra de autoria de Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo P. Franco e publicada em 2001.

Este estudo é publicado neste blog sempre às segundas-feiras.

Eis as questões de hoje:

 

121. O comportamento do paciente tem influência sobre sua saúde?

Sim. Segundo dr. Orlando Messier, a conduta do paciente em recuperação influi diretamente no processo de preservação da saúde, cabendo, portanto, a ele evitar as perturbadoras recidivas que invariavelmente acontecem por novos desvios de comportamento, por falta de identificação com os valores enobrecedores da vida, por abuso e desgaste das energias nos prazeres exorbitantes e primários. “Em cada de um nós – diz dr. Messier – se encontram ínsitos os valores da saúde e da doença, dependendo da ocorrência de fenômenos adequados para a sua manifestação...” (Tormentos da Obsessão, cap. 20 – Terapias enriquecedoras.)

122. Que razões levam um Espírito a ficar encapsulado, como o autor desta obra verificou em uma das enfermarias do Sanatório Esperança?

O processo citado foi causado pelo próprio Espírito. Segundo dr. Orlando Messier, a mente produz material conforme sua própria vontade, criando asas para a ascensão ou presídio para a escravidão. Aquele Espírito era prisioneiro de si mesmo. Ele se encapsulara em fortes teias mentais degenerativas que o vinham retendo desde quando se encontrava na Terra e permanecera assim, oculto nessa triste forma, por vários anos após a viagem de retorno ao plano espiritual. O Espírito assim revestido movia-se com dificuldade, aprisionado por resistentes fios sucessivos que o imobilizavam quase, apertando-o no hórrido envoltório de coloração cinza e estrutura viscosa. (Obra citada, cap. 21 – Experiência incomum.)

123. Que é necessário para libertar o Espírito do casulo que ele próprio produzira?

Em casos assim, como de fato se viu, a providência seria o desligamento por meio de um ato cirúrgico. Para esse fim, o enfermo foi removido para um local previamente preparado. O casulo, que tinha a dimensão de um homem, exteriorizava na parte superior a exsudação que se convertia em fio espesso sempre se concentrando em volta da cápsula densa. Dr. Orlando Messier fez uma oração fervorosa suplicando o auxílio divino e, em seguida, auxiliado por dois médicos, procedeu à cirurgia. (Obra citada, cap. 21 – Experiência incomum.)

124. Qual era o aspecto de Evaldo após concluído o ato cirúrgico que o livrou do casulo?

Aberta toda a cápsula, deixando à mostra o Espírito infeliz, o que se viu foi uma pessoa de hórrida aparência, esquálida, com várias excrescências tumorosas na face e por todo o corpo, como flores despedaçadas e apodrecidas, recordando as enfermidades parasitas que agridem os pacientes destituídos dos recursos imunológicos de defesa orgânica. Seu aspecto era repelente e nauseante. Evaldo não passava de um irmão que fora colhido pelo vendaval das paixões e retornava ao lar destroçado pela loucura de si mesmo, conquanto nunca estivesse ao abandono. (Obra citada, cap. 21 – Experiência incomum.)

125. De que forma Evaldo elaborou o casulo no qual se escondera?

Dr. Orlando Messier esclareceu que toda vez que a mente se fixa em algo emite vibrações que se transformam em força correspondente, logrando atender ao direcionamento que lhe é proposto. No caso do irmão Evaldo, sua consciência de culpa elaborou um recinto escuro para ocultar a miséria a que se entregara, enquanto deambulava no proscênio terrestre na sua anterior e mais recente jornada. (Obra citada, cap. 21 – Experiência incomum.)

126. De que natureza foi o fracasso da mais recente existência de Evaldo?

Bacharelando-se, Evaldo teve a felicidade de ser convidado por hábil advogado político que o iniciou na difícil conjuntura administrativa do país, na qual conseguiu amealhar expressivos recursos financeiros. Tornando-se importante político, esqueceu-se completamente dos compromissos espirituais e, no auge do poder, tomado pela avidez desvairada para o enriquecimento ilícito, acumpliciou-se com amigos envolvidos em corrupção e, em breve, derrapou em terríveis enovelamentos morais, desviando verbas que deveriam atender necessidades urgentes e salvar vidas, transferindo-as para contas fora do país nos denominados paraísos fiscais. Nesse interregno, face aos descalabros íntimos que não ficaram apenas na área dos comprometimentos políticos, mas também sexuais, vinculou-se a antigos inimigos desencarnados que o espreitavam, começando a hospedar psiquicamente hábil manipulador das forças mentais que passou a comandá-lo vagarosamente até apropriar-se-lhe com relativa facilidade do seu mundo psíquico.  (Obra citada, cap. 21 – Experiência incomum.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 20 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/10/blog-post_24.html

 

 

 

  

 

 

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domingo, 30 de outubro de 2022

 



Onde estava Deus naqueles dias?

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

A pergunta que dá título a este texto nos remete à pergunta feita pelo então papa Bento XVI em Auschwitz (Polônia), por ocasião de uma visita ao antigo campo de concentração de tão funesta lembrança, em que morreram mais de um milhão de pessoas, a maioria de origem judia.

“Por que, Deus, o senhor permaneceu em silêncio? Como pôde tolerar tudo isso?”, acrescentou o papa, que se comportava, diante de uma tragédia, como se comportam geralmente as pessoas que ignoram as leis de Deus e a finalidade de nossa presença no mundo.

Teria o papa vacilado em sua fé?

A repercussão das dúvidas papais foi imediata. Na revista Veja, em que a declaração do papa foi noticiada, três depoimentos diferentes foram reproduzidos na seção de cartas da edição seguinte.

No primeiro, disse o leitor “que o Deus que procuro não é o mesmo que ele conhece”. “O meu Deus, magnânimo e justo, fala ao homem por meio de suas leis, expressas em tudo o que Ele criou.” E acrescentou que Bento XVI parecia ignorar o que Homero intuiu há 3.000 anos: as desventuras que assolam a Humanidade são consequência dos nossos próprios erros, das faltas e imprudências que nós mesmos cometemos.

O segundo depoimento veio de um ateu: “Deus não poderia fazer nada. Quem nunca existiu não pode em momento algum dar sua contribuição. Já o homem, sim, poderia, e muito, evitar uma das maiores barbáries de nossa história.”

O terceiro foi assinado por um religioso, que entendeu que o papa não vacilou em sua fé, mas deu, sim, uma bela manifestação de humildade e humanidade ao citar o Salmo 22:1: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Essas palavras, aduziu o leitor, também “foram usadas por Jesus quando de seu sofrimento na cruz, ao carregar os pecados de toda a humanidade”.

Numa edição subsequente, a revista transcreveu carta enviada por Suzel Tunes, assessor de comunicação da Igreja Metodista, o qual, baseando suas ideias no pensamento do teólogo inglês John Wesley, fundador do movimento que deu origem à referida igreja, disse que cabe ao homem restaurar a harmonia divina por meio do relacionamento responsável e amoroso com a natureza e com o seu semelhante. Assim, na perspectiva wesleyana, “era o homem que estava distante de Deus em Auschwitz, e não o contrário”.

 

*

 

Diante de tantas e tão diferentes ideias, que podemos dizer, à luz do Espiritismo?

O mundo em que vivemos é, como sabemos, uma escola bastante acanhada, na qual a maioria de seus habitantes é formada por Espíritos semicivilizados ou bárbaros. Pelo menos é isso que Frederico Figner revelou em seu livro Voltei, obra psicografada por Chico Xavier em 1948, pouco tempo depois do término da 2ª Guerra Mundial.

Mundo de provas e expiações, não admira, pois, que na Terra ocorram tantas tragédias e tantos sofrimentos, o que Jesus conseguiu sintetizar com impressionante clareza nos ensinamentos que se seguem:

  “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mateus, 18:7.)

  “Então Jesus disse-lhe: Mete no seu lugar a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão.” (Mateus, 26:52.)

Se desejamos realmente que tenhamos um mundo melhor, comecemos desde já a fazer a parte que nos cabe.

Não se constrói uma casa a partir do telhado, nem se colhem uvas nos espinheiros.

O que aqui semearmos é isso que colheremos.

Quanto ao Pai que nos criou, ele sabe muito bem o que é melhor para nós que somos seus filhos.

 

 

 

 

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sábado, 29 de outubro de 2022

 



Refletindo com o Espírito Victor Hugo: favela moral

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília, DF

 

Há pouco tempo, alma querida, adquiri a obra organizada por Washington Fernandes sobre “reflexões filosóficas” nos romances psicografados por Divaldo Franco e ditados por um dos maiores escritores que o mundo já conheceu: Victor Hugo. A obra contém 100 reflexões, mas hoje destaco e comento duas frases duma delas, para nossa reflexão e principalmente prática, pois de teorias o mundo anda farto. Estão na primeira das cinco partes do livro intitulado: 100 Reflexões Filosóficas e cor Local nos Romances Mediúnicos de Victor Hugo. As frases comentadas são do capítulo 2, denominado Favela moral.

Diz Hugo que: “[...] A favela são as pessoas reunidas, os espíritos estiolados, que o cansaço e a fome, o ódio e a indiferença ressequiram, quase mataram, porque deixaram vivendo na morte lenta”.

É importante observar que nesse lugar há muitas pessoas altamente solidárias e trabalhadoras. Estas, muitas vezes, para bem sobreviverem, observam a violência ao lado de seu barraco, mas são obrigadas a fingir que nada viram, pois, se denunciam o fato, duas coisas podem ocorrer: a primeira é que as autoridades não investiguem sua denúncia. E não vamos aqui julgar o motivo disso. A segunda é que a violência pode voltar-se contra o denunciante ou sua família, em vingança por sua atitude.

Da favela, porém, saem professores, advogados, médicos, engenheiros... que não se conformaram com a vida miserável em que viviam e, trabalhando duro para custear os próprios estudos, laboram de dia e estudam à noite. Mas também saem de lá pedreiros, eletricistas, pintores de paredes, faxineiros, cuidadores, babás... dignos e honestos.

Todos, porém, têm um desejo principal: viver bem. Para isso, a maioria sonha com um lar onde não lhe falte vestuário, boa alimentação, segurança e lazer. Deseja casar-se, ter filhos aos quais possa educar com vistas a futuro socioeconômico melhor. Infelizmente, porém, os preguiçosos, invejosos, egoístas, também ali estão. Sentem-se excluídos do que consideram privilégios e não conquistas pessoais. Daí revoltarem-se e optarem por diversos crimes como vingança da sociedade que consideram injusta.

Então prossegue o Espírito Victor Hugo: “Onde a desesperança se agasalha nos braços da rebeldia, gerada pelo desconforto social, unindo os espoliados físicos, econômicos e morais, aí está a favela. Sejam duas pessoas esquecidas, engendrando na miséria a criminalidade e a ignomínia, seja no grande aglomerado que constitui a arquitetura para o turismo ultrajante, onde se mesclam todas as paixões, aí estão as almas faveladas”.

Daí, a pior favela está no íntimo da pessoa que, mesmo quando passa a morar em bairro residencial no qual suas condições de vida sejam muito melhores, leva consigo a favela moral. Saiu da favela material, mas a favela espiritual continua presente em sua alma, expressa pela revolta, pelos vícios, pelo egoísmo, enfim, pela miséria moral.

Segundo Allan Kardec, esse estado de espírito só terminará quando a educação moral de todos os cidadãos caminhar passo a passo com o acúmulo de conhecimentos intelectuais. Ou seja, é preciso que a educação intelecto-moral se faça presente nos lares e nas escolas para que tenhamos uma sociedade mais justa e nos libertemos da favela moral. Nesse sentido, o conhecimento e, sobretudo a prática dos esclarecimentos espíritas cristãos muito têm a nos oferecer, desde que nos proponhamos a “colocar a mão no arado e não olharmos para trás”, como nos recomendou Jesus. Só assim sairemos de vez da favela moral.

 

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 


 

 

 

 

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sexta-feira, 28 de outubro de 2022

 



A Evolução Anímica

 

  Gabriel Delanne

 

Parte 11

 

Damos prosseguimento ao estudo do clássico A Evolução Anímica, de Gabriel Delanne, conforme a 8ª edição da tradução de Manoel Quintão, publicada pela Federação Espírita Brasileira.

Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura.

Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.

 

Questões preliminares

 

A. Que significa a ação de recordar?

B. Há muitos meios eficazes para se provocar o sonambulismo?

C. O que ocorre com a alma no estado de exaltação ou excitação?

 

Texto para leitura

 

111. O verdadeiro tipo da memória orgânica deve ser procurado no grupo de fatos que Hartley denominou “ações automáticas secundárias”, em oposição aos atos automáticos inatos. De modo geral, pode-se dizer que os membros e órgãos sensoriais do adulto não funcionam tão facilmente, senão à custa de movimentos adquiridos e coordenados, que constituem, para cada parte do corpo, sua memória especial, o capital acumulado de que vive e mediante o qual age. A essa mesma ordem pertencem os grupos de movimentos de feição artificial, que constituem o aprendizado de um ofício manual, jogos de destreza, exercícios ginásticos etc. (Obra citada, pág. 138)

112. No registro da sensação reside, pois, o fenômeno da memória. Durante a incorporação, toda a manifestação intelectual exige, imperiosamente, o concurso do corpo, a integridade absoluta da substância cerebral, de sorte que as mínimas desordens do cérebro paralisam completamente as manifestações da alma. (Pág. 141) 

113. Essa concomitância não nos deve surpreender porque, se o Espírito atua sobre a matéria por meio da força vital, qualquer destruição de matéria nervosa subtrai, passageira ou definitivamente, uma parte correspondente da força vital ligada a essa parte, e o perispírito, que conserva o movimento, não mais pode agir, à falta do seu agente de transmissão. Mais tarde, se a força vital for ainda eficiente para reconstituir os tecidos, a função se restabelecerá. Delanne relaciona, em seguida, oito exemplos demonstrativos da perda da memória devida à ocorrência de lesões cerebrais nos pacientes, e diz que esses exemplos o levaram à suposição de que os estados sucessivos de consciência devem ter por fulcro uma zona particular do cérebro, correspondente a uma região definida do perispírito. (Págs. 141 a 145) 

114. Para entender a ação de recordar, basta lembrarmos as fases por que passa a sensação para que haja a percepção. Recordar é restituir-lhe as duas condições indispensáveis à percepção: intensidade e duração. Quando voluntariamente concentramos o pensamento numa coisa que desejamos recordar, enviamos na sua direção uma série de influxos que objetivam dar ao movimento perispiritual o mesmo período vibratório que ele tinha no momento em que fora registrado, isto é, percebido. Quando queremos reaver uma lembrança precisa, o Espírito emprega outros meios, servindo-se daquilo que Ribot chamou de “ponto de referência”. Os pontos de referência permitem simplificar o mecanismo da localização no passado, pois, quando frequentemente utilizados, a localização torna-se automática, tal como se dá com o hábito. (Págs. 145 a 148) 

115. Toda a ação sensorial que não tem o mínimo de durabilidade não desperta a consciência, mas se grava no perispírito, e será possível encontrar-lhe vestígios mediante uns tantos processos. Se o Espírito estiver grandemente preocupado com assuntos absorventes, com trabalhos mentais muito abstratos, ou sob a impressão de um desgosto profundo, deixa de existir a consciência das sensações exteriores, mas nem por isso o cérebro deixará de reter a impressão e apossar-se da modificação sobrevinda. (Pág. 151) 

116. A memória é uma condição quase indispensável à personalidade, pois é ela que liga o estado atual aos estados anteriores. É a memória que constitui a identidade. A memória pode ser, no entanto, alterada pelas enfermidades. A razão não é difícil de entender. No estado normal, cada indivíduo tem uma tonicidade nervosa peculiar, mediante a qual se lhe registram na consciência as sensações, com um mínimo de intensidade e duração. Atingido subitamente por um ataque epiléptico, esse homem tem modificadas as condições de funcionamento normal do sistema nervoso, de sorte a se modificarem, concomitantemente, a força vital e as vibrações perispirituais correspondentes. As sensações inscrevem-se no perispírito, a alma as percebe, mas de outra maneira que não a normal, de modo que, voltando a si, o paciente não tem noção do que sucedeu durante a crise. (Págs. 152 a 156) 

117. Enquanto dormimos, nossa alma mantém-se em incessante atividade, mas as sensações internas são extremamente fracas. Desde que recomece o estado de vigília, as imagens que não tiverem um mínimo de intensidade passam ao inconsciente e o sonho é esquecido.  (Pág. 156) 

118. Há casos em que, ao contrário do que se dá nos estados mórbidos, as percepções se amplificam: é o que ocorre nos estados intermédios a que se deu o nome de dupla personalidade. Delanne refere, a propósito, alguns casos, como o de Félida, que começou na puberdade a apresentar sintomas de histeria, e o da srta. R.L., descrito pelo Dr. Dufay na Revue Scientifique de 5/7/1876. Os fenômenos relatados, em que os pacientes ampliam suas percepções quando em crise, são em tudo semelhantes aos que se observam no sonambulismo espontâneo ou provocado. Como se sabe, é fato já comprovado que o sonâmbulo pode, em transe, lembrar-se de episódios passados e de conversas havidas nos transes anteriores, perdendo a noção de tudo logo que desperta. (Págs. 157 a 166) 

119. Numerosos são os meios eficazes para provocar o sonambulismo. Um dos processos mais usados pelos hipnotistas é o de Braid, que consiste na fixação do olhar num objeto qualquer, brilhante ou não, que se vai aproximando dos olhos, de modo a determinar uma convergência forçada e fatigante dos globos oculares. Pode-se hipnotizar também produzindo um ruído monótono e prolongado, ou violento e subitâneo. Igualmente um jato de luz, a compressão de uma parte do corpo, como o vértex – o ápice do crânio ou o alto da cabeça – nos histéricos, a constrição dos polegares e os passes magnéticos são outros meios de hipnotização. Emprega-se por fim a sugestão, que consiste em cerrar as pálpebras do paciente e ordenar-lhe imperativa e reiteradamente que durma, para que o efeito se produza. (Págs. 167 e 168) 

120. Entre os excitantes mentais, o melhor é a vontade, utilizada na sugestão verbal. Os irritantes químicos são o éter ou o clorofórmio, que, produzindo anestesia, muitas vezes ensejam o sonambulismo. Os irritantes físicos são o ruído fraco e prolongado, ou brusco e estridente, a luz viva projetada de súbito, as correntes elétricas demoradas e fracas, o ímã, as chapas metálicas de Burcq. Todos esses processos resultam na modificação da força nervosa, engendrando uma espécie de eretismo – estado de exaltação ou excitação – que tem por consequência a mudança das relações normais da sensação e, portanto, a do estado vibratório do perispírito. Ocorrendo essa mudança, temos o sonambulismo, que se manterá enquanto atuar a ação perturbadora. (Pág. 168)

121. A exaltação da sensibilidade corresponde a uma espécie de desprendimento da alma. O perispírito fica menos tolhido pelo corpo, os liames habituais momentaneamente se afrouxam. Levada essa ação até ao desdobramento, os sentidos adquirem uma acuidade extrema, visto que a sensação não mais se exerce pelos órgãos dos sentidos. Eis por que um surdo poderá ouvir perfeitamente e um cego enxergar até mesmo no escuro. A célebre Estela, estudada pelo Dr. Despine, de Aix, era impotente e paralítica, mas, sonambulizada, podia correr e saltar com agilidade. (Pág. 169) (Continua no próximo número.)

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Que significa a ação de recordar?

Para entender o que é recordar, basta lembrar as fases por que passa a sensação para que haja a percepção. Recordar é restituir-lhe as duas condições indispensáveis à percepção: intensidade e duração. Quando voluntariamente concentramos o pensamento numa coisa que desejamos recordar, enviamos na sua direção uma série de influxos que objetivam dar ao movimento perispiritual o mesmo período vibratório que ele tinha no momento em que fora registrado, isto é, percebido. Quando queremos reaver uma lembrança precisa, o Espírito emprega outros meios, servindo-se daquilo que Ribot chamou de “ponto de referência”. Os pontos de referência permitem simplificar o mecanismo da localização no passado, pois, quando frequentemente utilizados, a localização torna-se automática, tal como se dá com o hábito. (A Evolução Anímica, pp. 145 a 148.)

B. Há muitos meios eficazes para se provocar o sonambulismo?

Sim. Numerosos são esses meios. Um dos processos mais usados pelos hipnotistas é o de Braid, que consiste na fixação do olhar num objeto qualquer, brilhante ou não, que se vai aproximando dos olhos, de modo a determinar uma convergência forçada e fatigante dos globos oculares. Pode-se hipnotizar também produzindo um ruído monótono e prolongado, ou violento e subitâneo. Igualmente um jato de luz, a compressão de uma parte do corpo, como o vértex – o ápice do crânio ou o alto da cabeça – nos histéricos, a constrição dos polegares e os passes magnéticos são outros meios de hipnotização. Emprega-se por fim a sugestão, que consiste em cerrar as pálpebras do paciente e ordenar-lhe imperativa e reiteradamente que durma, para que o efeito se produza. (Obra citada, pp. 167 e 168.) 

C. O que ocorre com a alma no estado de exaltação ou excitação?

A exaltação da sensibilidade corresponde a uma espécie de desprendimento da alma. O perispírito fica menos tolhido pelo corpo, os liames habituais momentaneamente se afrouxam. Levada essa ação até ao desdobramento, os sentidos adquirem uma acuidade extrema, visto que a sensação não mais se exerce pelos órgãos dos sentidos. Eis por que um surdo poderá ouvir perfeitamente e um cego enxergar até mesmo no escuro. A célebre Estela, estudada pelo Dr. Despine, de Aix, era impotente e paralítica, mas, sonambulizada, podia correr e saltar com agilidade. (Obra citada, pp. 168 e 169.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 10 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/10/blog-post_21.html

 

 

 

 

 

 

 

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quinta-feira, 27 de outubro de 2022

 



CINCO-MARIAS

 

Infância e experiências afetivas

 

EUGÊNIA PICKINA

eugeniapickina@gmail.com


Deus dá a todos uma estrela. Uns fazem da estrela um sol. Outros nem conseguem vê-la
. Helena Kolody

 

Considerei, faz muitos anos, que, no lugar da escola, alunos deveriam passar primeiro por uma cozinha e uma horta ou um pomar. Os cozinheiros e suas hortas e seus pomares podem dar lições importantes às crianças.

Na minha infância, vez por outra, minha família e eu visitávamos uma parente distante do meu pai. Embora de poucas palavras, vestidos discretos, voz das velhas damas, suas atitudes eram divertidas e criativas (e seu cachorro marrom, adorável).

Não admitia, por exemplo, que uma criança comesse uma comida que não fosse feita na hora. Mas antes de mexer com as panelas, pegava na mão da criança mais nova e nos conduzia em fila para a horta, aquele mundo vivo de agrião, rúcula, azedinha, cenoura, tomate, alface, abóbora, tomilho, capim-limão…, convidando-nos, com atenção, a colher apenas as hortaliças que seriam consumidas no instante da refeição. Eu e meus irmãos, movidos pelo desejo e o entusiasmo, corríamos em direção aos canteiros e o momento da colheita era uma experiência muito feliz. E eu me lembro que, voltando para casa, essa parente ia nos explicando com paciência o nome e as propriedades de cada coisa, provocando informação e fome em nossos corpos infantis.

Eu era menina. Na fazenda do meu avô havia um pomar enorme. Pois acontecia uma árvore cobrir-se de amoras brilhantes. A simples visão daquelas frutinhas incitava minha fome e, de um jeito ou de outro, eu convencia meus irmãos a passarmos um longo pedaço da tarde pertinho daquela árvore, brincando e comendo. Suspeito, hoje, que meu amor pela botânica foi despertado por essas primeiras amoras. Da vivência lúdica na horta e no pomar incorporei meu respeito pela natureza, meu conhecimento sobre estações e consciência ecológica, sem esquecer as lições importantes sobre cooperação e desapego…

De todos os modos, na infância, toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva. Porque aprender está implicado com afeto, que motiva o desejo, a atenção, e permite cada ser humano aflorar qualidades e talentos. Por isso afeto, do latim affetare, significa ir atrás, pondo corpo e mente guiados pela atenção curiosa e, com isso, a criança desenvolver-se com (mais) plenitude para, no tempo devido, saber fazer alegremente e servir bem à sociedade.

 

*

 

Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).

Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), está concluindo em São Paulo a formação em Psicanálise. Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.

Seu contato no Instagram é @eugeniapickina

 

 

 


 

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quarta-feira, 26 de outubro de 2022

 



Revista Espírita de 1861

 

Allan Kardec

 

Parte 9

 

Continuamos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1861, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1861 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que será sempre apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. Que recomendou Erasto a respeito da análise das comunicações mediúnicas?

B. As comunicações espíritas dependem sempre de médiuns?

C. Que consequências, segundo Rousseau, podem advir do Espiritismo?

 

Texto para leitura

 

149. Mais vale repelir dez verdades – diz Erasto – que admitir uma só mentira, uma só teoria falsa. (P. 257)

150. Se, pois, o médium der motivo legítimo de suspeita, devemos repelir suas comunicações, pois há uma serpente oculta na grama – eis como Erasto trata a necessidade de analisar com rigor todas as comunicações. (PP. 257 e 258)

151. Erasto diz que para a obtenção do transporte de objetos é necessário dispor de médiuns sensitivos, isto é, dotados no mais alto grau das faculdades mediúnicas de expansão e de penetrabilidade, visto que seu sistema nervoso, facilmente excitável, lhes permite, por meio de certas vibrações, projetar ao seu redor seu fluido animalizado. (P. 258)

152. Em geral, diz Erasto, são e continuarão sendo muito raros os casos de transporte de objetos. (P. 259)

153. É que precisa existir, entre o Espírito e o médium, uma certa afinidade, uma certa analogia, uma certa semelhança que permita à parte expansiva do fluido perispirítico do médium misturar-se, unir-se com o do Espírito. (P. 259)

154. Para produzir tais fenômenos, é necessário que as necessidades do Espírito-motor sejam aumentadas por algumas do medianeiro, porque o fluido vital, indispensável à produção de todos os fenômenos medianímicos, é apanágio exclusivo do encarnado e, por isso, o Espírito-operador é obrigado a impregnar-se dele. (P. 259)

155. Advertindo que, se não tivéssemos outros meios de convicção, além dos fenômenos, não seríamos a centésima parte dos espíritas que somos, Erasto recomenda: “Falai ao coração. É por ele que fareis mais conversões sérias”. (P. 261)

156. A Revista transcreve mensagem obtida pelo Sr. D’Ambel na Sociedade Espírita de Paris, na qual fica claro que os fatos mediúnicos não se podem manifestar sem o concurso consciente ou inconsciente do médium, e que só entre os encarnados, Espíritos como nós, é que podemos encontrar os que podem servir de médiuns. (P. 264)

157. Certamente os Espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis aos olhos dos animais, mas isso não significa que possam ser mediunizados os animais ou a matéria inerte. (P. 264)

158. Dizendo que os homens empregam tudo quanto têm de força e de energia na aquisição de bens terrenos, o Espírito de Byron adverte: “Insensatos! De um instante para outro o anjo da libertação vai bater-vos à porta: sereis forçados a abandonar todas as quimeras; sois proscritos que Deus pode chamar à mãe-pátria a qualquer instante”. (P. 266)

159. “Não edifiqueis palácios nem monumentos: uma tenda, roupa e pão – eis o necessário”, assevera Byron. “Contentai-vos com isto e o vosso supérfluo dai-o aos vossos irmãos necessitados de abrigo, roupa e pão.” (P. 266)

160. Em linda mensagem, que pode ser vista n’O Livro dos Médiuns, Jean-Jacques Rousseau diz: “Se o Espiritismo ressuscitar o Espiritualismo, devolverá à sociedade o impulso que dá a uns dignidade interior, a outros a resignação, a todos a necessidade de elevar-se para o Ser Supremo, esquecido e desconhecido por suas ingratas criaturas”. (P. 267)

161. Adolphe, Bispo de Alger, lembra-nos as palavras do Cristo: “Os pobres sempre os tereis!” (P. 269)

162. Sendo a Terra lugar de expiação, sempre haverá aqui pobres a expiar seus abusos e erros do passado. (P. 269)

163. Adolphe aconselha evitemos ver, em todos os pobres, culpados em punição: “Se a pobreza é para alguns uma severa expiação, para outros é uma prova que lhes deve abrir mais rapidamente o santuário dos eleitos”. “Sim, sempre haverá pobres e ricos, para que uns tenham o mérito da resignação e os outros o da caridade e do devotamento.” (P. 270)

164. Curiosa polêmica se deu na Sociedade Espírita de Paris a partir de uma dissertação em que Lamennais analisou o aforismo de Buffon “O estilo é o homem”. Divergindo de Buffon, Lamennais afirmou que frequentemente o homem não se reflete em suas obras, visto que muitos são iluminados por uma centelha divina que os torna maiores. (P. 274)

165. Buffon replicou de forma estranhamente ofensiva, sem poupar escritores ilustres, como Alexandre Dumas, Victor Hugo e o próprio Lamennais. Para Buffon, Lamennais confundiu a forma e o fundo, o estilo e o pensamento. (PP. 274 e 275)

166. Bernardin de Saint-Pierre, citado na polêmica, também se manifestou e, de acordo com Lamennais, disse: “Não, o estilo não é o homem”. E apresentou a si mesmo como prova disso, afirmando: “Não mereço toda a reputação literária de que gozei”. (P. 281)

167. Lamennais dirigiu, por fim, um recado a Buffon, lembrando-lhe que ele apenas queria dizer que “a inspiração humana muitas vezes é divina” e que não havia nisso nenhuma matéria para controvérsia. (PP. 281 e 282)

 

Respostas às questões propostas

 

A. Que recomendou Erasto a respeito da análise das comunicações mediúnicas?

Mais vale repelir dez verdades, disse Erasto, que admitir uma só mentira, uma só teoria falsa. Se, pois, o médium der motivo legítimo de suspeita, devemos repelir suas comunicações, pois há uma serpente oculta na grama. Foi dessa maneira que Erasto nos falou sobre a necessidade de analisar com rigor todas as comunicações. (Revista Espírita de 1861, pp. 257 e 258.)

B. As comunicações espíritas dependem sempre de médiuns?

Sim. Conforme mensagem obtida pelo Sr. D’Ambel na Sociedade Espírita de Paris, os fatos mediúnicos não se podem dar sem o concurso consciente ou inconsciente do médium, e que só entre os encarnados, Espíritos como nós, é que podemos encontrar os que podem servir de médiuns. (Obra citada, p. 264.)

C. Que consequências, segundo Rousseau, podem advir do Espiritismo?

Escreveu o notável pensador Jean-Jacques Rousseau (Espírito): “Se o Espiritismo ressuscitar o Espiritualismo, devolverá à sociedade o impulso que dá a uns dignidade interior, a outros a resignação, a todos a necessidade de elevar-se para o Ser Supremo, esquecido e desconhecido por suas ingratas criaturas”. (Obra citada, p. 267.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 8 parte deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/10/blog-post_19.html

 

 

 

 

 

 

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