A Gênese
Allan Kardec
Parte 19
Continuamos o estudo metódico do livro
“A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com
base na 36ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira, conforme tradução
feita por Guillon Ribeiro.
Este estudo é publicado sempre às
quintas-feiras.
Eis as questões de hoje:
145.
Como se opera a cura através da ação magnética?
O fluido universal é o elemento primitivo do corpo
carnal e do perispírito, os quais são simples transformações dele. Condensado
no perispírito, ele pode fornecer princípios reparadores ao corpo físico. O
Espírito é o agente propulsor que infiltra num corpo deteriorado uma parte da
substância de seu envoltório fluídico. A cura se opera mediante a substituição
de uma molécula malsã por uma molécula sã. O poder curativo estará, pois, na
razão direta da pureza da substância inoculada, mas depende também da energia
da vontade do agente. Quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica
provoca e tanto maior força de penetração dá ao fluido.
Variados são os efeitos da ação fluídica sobre os
doentes. Algumas vezes ela é lenta e reclama tratamento prolongado, como no
magnetismo ordinário; doutras vezes é rápida, como uma corrente elétrica. Há
pessoas dotadas de tal poder, que operam curas instantâneas nalguns doentes,
por meio apenas da imposição das mãos, ou mesmo exclusivamente por ato da
vontade. As curas desse gênero são variedades do magnetismo e o princípio é
sempre o mesmo: o fluido, a desempenhar o papel de agente terapêutico, cujo
efeito se acha subordinado a sua qualidade e a circunstâncias especiais. (A Gênese, cap. XIV, itens 31 a 34.)
146.
Como se explicam as aparições de Espíritos?
Para nós que estamos encarnados, o perispírito, em
seu estado normal, é invisível; mas, como é formado de substância etérea, o
Espírito, em certos casos, pode, por ato de sua vontade, fazê-lo passar por uma
modificação molecular que o torna momentaneamente visível. É assim que se
produzem as aparições, que não ocorrem, do mesmo modo que os outros fenômenos,
fora das leis da Natureza. Nada tem esse de mais extraordinário do que o do
vapor que, quando muito rarefeito, é invisível, mas que se torna visível,
quando condensado. Conforme o grau de condensação do fluido perispirítico, a
aparição é às vezes vaga e vaporosa; doutras vezes, mais nitidamente definida;
doutras, enfim, com todas as aparências da matéria tangível. Pode, mesmo,
chegar até à tangibilidade real, a ponto de o observador se enganar com relação
à natureza do ser que tem diante de si. (Obra citada, cap. XIV, itens 35 a 37.)
147.
Como se dá o fenômeno da transfiguração?
Podendo o Espírito operar transformações na
contextura de seu envoltório perispirítico e irradiando-se esse envoltório em
torno do corpo qual atmosfera fluídica, pode produzir-se na superfície mesma do
corpo um fenômeno análogo ao das aparições. Pode a imagem real do corpo
apagar-se mais ou menos completamente, sob a camada fluídica, e assumir outra
aparência; ou, então, vistos através da camada fluídica modificada, os traços
primitivos podem tomar outra expressão. Se, saindo do terra a terra, o Espírito
encarnado se identifica com as coisas do mundo espiritual, pode a expressão de
um semblante feio tornar-se bela, radiosa e até luminosa; se, ao contrário, o
Espírito é presa de paixões más, um semblante belo pode tomar um aspecto
horrendo. Assim se operam as transfigurações, que refletem sempre qualidades e
sentimentos predominantes no Espírito. O fenômeno resulta, portanto, de uma
transformação fluídica; é uma espécie de aparição perispirítica, que se produz
sobre o próprio corpo do vivo e, algumas vezes, no momento da morte, em lugar
de se produzir ao longe, como nas aparições propriamente ditas. O que distingue
as aparições desse gênero é o serem, geralmente, perceptíveis por todos os
assistentes e com os olhos do corpo, precisamente por se basearem na matéria
carnal visível, ao passo que nas aparições puramente fluídicas não há matéria
tangível. (Obra citada, cap. XIV, itens 38 e 39.)
148. Na
tiptologia, como ocorre a ação do Espírito?
Por meio de seu corpo espiritual ou perispírito é
que o Espírito – durante a encarnação – atua sobre seu corpo vivo; e é ainda
por intermédio dele que – quando desencarnado – ele se manifesta. Atuando sobre
a matéria inerte, produz ruídos, movimentos de mesa e outros objetos, que pode
levantar, derrubar ou transportar. É igualmente com o concurso de seu
perispírito que o Espírito faz com que os médiuns escrevam, falem, desenhem. Já
não dispondo de corpo tangível para agir ostensivamente quando quer
manifestar-se, ele se serve do corpo do médium, cujos órgãos toma de
empréstimo, corpo ao qual faz que atue como se fora seu, mediante o eflúvio
fluídico que verte sobre ele. Pelo mesmo processo atua o Espírito sobre a mesa,
quer para que esta se mova, sem que seu movimento tenha significação
determinada, quer para que dê pancadas inteligentes, indicativas das letras do
alfabeto, a fim de formarem palavras e frases, fenômeno esse denominado
tiptologia. A mesa não passa de um instrumento de que o Espírito se utiliza,
como se utiliza do lápis para escrever. Para esse efeito, dá-lhe ele uma
vitalidade momentânea, por meio do fluido que lhe inocula. Quando a mesa se
destaca do solo e flutua no espaço sem ponto de apoio, o Espírito não a ergue
com a força de um braço; envolve-a e penetra-a de uma espécie de atmosfera
fluídica que neutraliza o efeito da gravitação, como faz o ar com os balões e
papagaios. O fluido que se infiltra na mesa dá-lhe momentaneamente maior leveza
específica. Quando fica pregada ao solo, ela se acha numa situação análoga à da
campânula pneumática sob a qual se fez o vácuo. Quando pancadas são ouvidas na
mesa ou em outro lugar, não é que o Espírito esteja a bater com a mão ou com
qualquer objeto. Ele apenas dirige sobre o ponto donde vem o ruído um jato de
fluido e este produz o efeito de um choque elétrico. (Obra citada, cap. XIV,
itens 41 a 43.)
149.
Como podemos conceituar a obsessão?
Chama-se obsessão à ação persistente que um Espírito
mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diferentes, que vão
desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a
perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. Quase sempre a
obsessão exprime vingança tomada por um Espírito e cuja origem frequentemente
se encontra nas relações que o obsidiado manteve com o obsessor, em precedente
existência. (Obra citada, cap. XIV,
itens 45 e 46.)
150.
Que é possessão?
Na obsessão, o Espírito atua exteriormente, com a
ajuda de seu perispírito, que ele identifica com o do encarnado, ficando este
afinal enlaçado e constrangido a proceder contra sua vontade. Na possessão, em
vez de agir exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao
Espírito encarnado; toma-lhe o corpo para domicílio, sem que este, no entanto,
seja abandonado por seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. A
possessão, conseguintemente, é sempre temporária e intermitente, porque um
Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, visto
que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar no momento da
concepção. De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito se serve dele,
ou seja, fala por sua boca, vê por seus olhos, opera com seus braços, conforme
o faria se estivesse encarnado.
Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na
possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira falar e que, para causar
maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um encarnado, que
voluntariamente lho empresta, como emprestaria uma vestimenta a outro
encarnado. Isso se verifica sem qualquer perturbação ou incômodo, durante o
tempo em que o Espírito encarnado se acha em liberdade, como no estado de
emancipação, conservando-se este último ao lado de seu substituto para ouvi-lo.
Quando é mau o Espírito possessor, as coisas se
passam de outro modo. Ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, mas sim
o arrebata, se este não possui bastante força moral para lhe resistir. Age então
por maldade para com este, a quem tortura e martiriza de todas as formas, indo
ao extremo de tentar exterminá-lo, já por estrangulação, já atirando-o ao fogo
ou a outros lugares perigosos. Servindo-se dos órgãos e dos membros do infeliz
paciente, blasfema, injuria e maltrata os que o cercam, além de entregar-se a
excentricidades e a atos que apresentam todos os caracteres da loucura furiosa.
(Obra citada, cap. XIV, itens 47 e 48.)
151.
Como o Espiritismo explica os fatos considerados milagrosos do Evangelho?
Os fatos que o Evangelho relata e que são até hoje
considerados milagrosos pertencem, em sua maioria, à ordem dos fenômenos
psíquicos, isto é, dos que têm como causa primária as faculdades e os atributos
da alma. O princípio dos fenômenos psíquicos repousa nas propriedades do fluido
perispiritual, que constitui o agente magnético; nas manifestações da vida
espiritual durante a vida corpórea e depois da morte; e, finalmente, no estado
constitutivo dos Espíritos e no papel que eles desempenham como força ativa da
Natureza. Conhecidos esses elementos e comprovados seus efeitos, tem-se, como
consequência, de admitir a possibilidade de certos fatos que eram rejeitados
enquanto se lhes atribuía uma origem sobrenatural. (Obra citada, cap. XV, item
1.)
152.
Como era Jesus do ponto de vista orgânico?
Como homem, Jesus tinha a organização dos seres
carnais; porém, como Espírito puro, desprendido da matéria, havia de viver mais
da vida espiritual do que da vida corporal, de cujas fraquezas não era
passível. Sua superioridade com relação aos homens não derivava das qualidades
particulares de seu corpo, mas das de seu Espírito e de seu perispírito, elaborado
com a parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres. Sua alma,
provavelmente, não se achava presa ao corpo, senão pelos laços estritamente
indispensáveis. Constantemente desprendida, ela decerto lhe dava dupla vista,
não só permanente, como de excepcional penetração e superior de muito à que de
ordinário possuem os homens comuns. O mesmo havia de dar-se, nele, com relação
a todos os fenômenos que dependem dos fluidos perispirituais ou psíquicos. A
qualidade desses fluidos lhe conferia imensa forca magnética, secundada pelo
incessante desejo de fazer o bem. (Obra citada, cap. XV, itens 1 e 2.)
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