Estudamos semanalmente no Centro Espírita Nosso Lar, de
Londrina (PR), o clássico “No Invisível”, de autoria de Léon Denis, uma obra
que muitos consideram uma espécie de continuação d´O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. Reproduzimos, em seguida, o
texto do módulo concluído nesta semana, cuja publicação tem por finalidade
proporcionar a quem se interessar a oportunidade de acompanhar o mencionado
estudo.
Questões para
debate
A. No
tocante às sessões mediúnicas, qual era a preferência manifestada por Léon
Denis?
Léon Denis
preferia os fatos mediúnicos de índole mais íntima e modesta, as sessões em que
predominam a ordem, a harmonia e a comunhão dos pensamentos, por cujo veículo
fluem as coisas celestes, como orvalho, sobre a alma sequiosa e a esclarecem,
confortam e melhoram. As sessões de efeitos físicos, mesmo quando sinceras,
sempre lhe deixaram uma impressão de vácuo, de desgosto e mal-estar, em razão
das influências que nelas intervêm. (No Invisível, Prefácio da edição de
1911.)
B. No
tocante aos fatos espíritas, devemos denunciar a fraude ou tentar encobri-la,
sob o argumento de que devemos ser indulgentes e tolerantes?
Devemos agir
como agiu Léon Denis, que se viu, em determinado momento, realmente obrigado a
denunciar fraudes averiguadas e comprometedoras. Guardar silêncio acerca das
fraudes, encobri-las com uma espécie de tácita aprovação, seria abrir a porta a
um cortejo de abusos que, em certos meios, desacreditaram o Espiritismo e
estorvaram o seu desenvolvimento. Atrás do hábil simulador – diz Léon Denis –
surgiram umas intrusões condenadas pelos tribunais de vizinhos países. O médium
Abendt foi, em idênticas circunstâncias, desmascarado em Berlim, como em
seguida o foram Carrancini em Londres e Bailey em Grenoble. Sem o
brado de alarme que Denis emitiu, o risco de resvalar por um fatal declive e
cair num precipício seria muito grande. (Obra citada, Prefácio da edição de
1911.)
C. Em que
sentido a credulidade constitui perigo para o Espiritismo?
Segundo Léon
Denis, a credulidade, no plano terrestre, atrai os charlatães, os exploradores
de toda espécie, a chusma dos cavalheiros de indústria que só procuram
ludibriar. Eis aí um perigo para o Espiritismo. Cumpre-nos, pois, a todos os
que em nosso coração zelamos a verdade e nobreza dessa coisa, conjurá-lo. De
sobra se tem repetido: o Espiritismo ou será científico, ou não subsistirá. Ao
que acrescentaremos: o Espiritismo deve, antes de tudo, ser honesto! (Obra
citada, Prefácio da edição de 1911.)
Texto para leitura
37. Os fatos
espíritas, entretanto, se têm multiplicado, imposto com tamanho império que os
sábios se têm visto obrigados à tentativa de os explicar. Não são, porém, as
elucubrações psicofisiológicas de Pierre Janet, as teorias poligonais do Doutor
Grassei, nem a criptomnésia de Th. Flournoy que podem satisfazer aos
pesquisadores independentes.
38. Quando se
possui alguma experiência dos fenômenos psíquicos fica-se pasmado ante a
penúria de raciocínio dos críticos científicos do Espiritismo. Escolhem eles
sempre, na multidão dos fatos, alguns casos que se aproximem de suas teorias e
silenciam cuidadosamente quanto aos inúmeros que as contradizem. Será esse
procedimento realmente digno de verdadeiros sábios?
39. Os
estudos imparciais e persistentes induzem a outras conclusões. Falando do
Espiritismo, Oliver Lodge, reitor da Universidade de Birmingham e membro da
Real Academia, o afirmou: “Fui pessoalmente conduzido à certeza da existência
futura mediante provas assentes em bases puramente científicas”. (“Annales des
Sciences Psychiques”, 1897, página 158.)
40. J.
Hyslop, professor da Universidade de Colúmbia, escrevia: “A prudência e reserva
não são contrárias à opinião de que a explicação espírita é, até agora, a mais
racional”.
41. Se, pois,
não têm sido poupados sarcasmos aos espíritas, nas esferas científicas, há,
como se vê, sábios que lhes têm sabido fazer justiça. O professor Barrett, da
Universidade de Dublin, se exprimia do seguinte modo, por ocasião de sua
investidura na presidência da “Society for Psychical Research” em 29 de janeiro
de 1904: “Não poucos dos que me ouvem se recordam certamente da cruzada outrora
empreendida contra o Hipnotismo, que então se denominava mesmerismo. As
primeiras pessoas que com tais estudos se ocuparam foram alvo de incessantes
opugnações do mundo científico e médico, de um lado, e do mundo religioso, do
outro. Foram denunciadas como impostoras, repudiadas como párias, enxotadas,
sem cerimônia, das sinagogas da Ciência e da Religião. Passava-se isso numa
época bastante próxima de nós para que eu tenha necessidade de o recordar. A
ciência médica e filosófica não pode deixar de curvar as cabeças envergonhadas,
lembrando-se desse tempo e vendo o Hipnotismo e o seu valor terapêutico
atualmente reconhecidos, tornados parte integrante do ensino científico em
muitas escolas de Medicina, sobretudo no Continente!... Não é nosso dever
cultuar hoje a memória daqueles intrépidos pesquisadores, que foram os
primeiros desse ramo dos estudos psíquicos!”.
42. Continua
o professor Barrett: “Não devemos, do mesmo modo, esquecer esse pequeno grupo
de investigadores que, antes do nosso tempo e ao fim de pacientes e demoradas
pesquisas, tiveram a coragem de proclamar sua crença em tais fenômenos, que
denominaram espiríticos... Não foram, sem dúvida, os seus métodos de
investigação totalmente isentos de crítica, o que, todavia, os não impediu de
ser pesquisadores da verdade, tão honestos e dedicados como pretendem ser; e
tanto mais dignos são eles da nossa estima quanto sofreram os maiores sarcasmos
e oposição. Os espíritos fortes sorriam então, como agora, dos que mais bem
informados que eles se mostravam. Suponho que todos somos inclinados a
considerar o nosso próprio discernimento superior ao do nosso próximo. Não são,
porém, afinal o bom-senso, as precauções, a paciência, o estudo contínuo dos
fenômenos psíquicos que maior valor conferem à opinião que viemos, por fim, a
adotar e não a argúcia ou o cepticismo do observador?”.
43. Conclui
assim o professor Barrett: “Devemos ter sempre em consideração que o que é
afirmado, mesmo pelo mais obscuro dos homens, em resultado de sua experiência
pessoal, é sempre digno de nos prender a atenção; e o que é negado, mesmo pelos
mais reputados indivíduos, desde que ignoram a coisa, jamais no-la deve merecer”.
“Aquele perspicaz e valoroso espírito que era o professor De Morgan, o grande
denunciador do charlatanismo científico, teve a coragem de publicar, há muito,
que por mais que se tente ridicularizar os espíritas, nada deixam por isso eles
de estar no caminho que conduz ao adiantamento dos conhecimentos humanos,
seguindo, embora, o espírito e o método primitivos, quando era preciso rasgar
nas florestas virgens a estrada por onde podemos agora avançar com a maior
facilidade.”
44. Rendendo
homenagem aos espíritas, o professor Barrett reconhecia, como juiz imparcial,
que não era isento de crítica o seu zelo. Hoje, como então, essa opinião é
inteiramente justificada. A exaltação de uns tantos adeptos, o seu entusiasmo
em proclamar fatos duvidosos ou imaginários e a insuficiência de verificação
nas experiências têm prejudicado muitas vezes a causa a que acreditavam servir.
É isso talvez o que, até certo ponto, justifica a atitude retraída, por vezes
hostil, de alguns sábios a respeito do Espiritismo.
45. O professor
Ch. Richet escrevia nos “Annales des Sciences Psychiques”, de janeiro de 1905,
pág. 211: “Se os espíritas foram muito arrojados, usaram, entretanto, de bem
pouco vigor e é uma deplorável história a de suas aberrações. Basta por agora
ficar estabelecido que eles tinham o direito de ser muito arrojados e que não
lhes podemos, em nome da nossa ciência falível, incompleta, ainda embrionária,
censurar esse arrojo. Dever-se-lhes-ia, ao contrário, agradecer o terem sido
tão audaciosos”.
46. As
restrições do Sr. Richet não são menos fundadas que os seus elogios. Muitos
experimentadores não conduzem os seus estudos com a ponderação e a prudência
necessárias. Empenham-se, de preferência, em obter as manifestações
tumultuárias, as materializações numerosas e repetidas, os fenômenos de grande
notoriedade, sem considerar que a mediunidade só excepcionalmente e de longe em
longe pode servir à produção de fatos desse gênero. Quando têm à mão um médium
profissional dessa categoria, o atormentam e esgotam. Levam-no fatalmente a
resvalar para a simulação. Daí as fraudes, as mistificações, assinaladas por
tantas folhas públicas.
47.
Muitíssimo preferíveis são, a meu ver, os fatos mediúnicos de índole mais
íntima e modesta, as sessões em que predominam a ordem, a harmonia e a comunhão
dos pensamentos, por cujo veículo fluem as coisas celestes, como orvalho, sobre
a alma sequiosa e a esclarecem, confortam e melhoram. As sessões de efeitos
físicos, mesmo quando sinceras, sempre me deixaram uma impressão de vácuo, de
desgosto e mal-estar, em razão das influências que nelas intervêm.
48. A determinados médiuns profissionais deveram sem dúvida
sábios como Crookes, Hyslop, Lombroso etc. os excelentes resultados que
obtinham; em suas experiências, porém, adotavam precauções de que não costumam
os espíritas munir-se. Em sessões de materialização realizadas em Paris por um
médium americano, em 1906 e 1907, e que alcançaram desagradável notoriedade,
haviam os espíritas estabelecido um regulamento que os assistentes se
comprometiam a observar e de cujas estipulações resultava a inesperada
consequência de isentar o médium de toda eficaz verificação.
49. A obscuridade era quase completa no momento das aparições.
Os assistentes tinham que conversar em voz alta, cantar, conservar as mãos
presas formando a cadeia magnética e, além de tudo, abster-se de tocar nas
formas materializadas. Desse modo, a vista, o ouvido, o tato ficavam pouco
menos que aniquilados. Tais condições, é certo, se inspiravam numa louvável
intenção, porque, em tese geral, como teremos ocasião de ver no curso desta
obra, favorecem a produção dos fatos; mas no caso em questão contribuíam também
para mascarar as fraudes.
50. As
faculdades do médium, entretanto, eram reais e nas primeiras sessões se
produziram autênticos fenômenos, que adiante relatamos. Houve, em seguida, uma
mistura de fatos reais e simulados e o embuste veio, por fim, a tornar-se
constante e evidente. Depois de haver, numa revista espírita, assinalado os
fenômenos que apresentavam garantias de sinceridade, mais tarde me senti
realmente obrigado a denunciar fraudes averiguadas e comprometedoras.
51. Ao fim de
longa pesquisa e de acuradas reflexões, nada tenho que retirar de minhas
apreciações anteriores. Fiz justiça a esse médium, indicando o que havia de
real em suas sessões, mas não hesitei em lhe denunciar as simulações no dia em
que numerosos e autorizados testemunhos as evidenciaram, entre os quais se
encontra o de um juiz da Corte de Apelação, que é ao mesmo tempo eminente
psiquista.
52. Guardar
silêncio acerca dessas fraudes, encobri-las com uma espécie de tácita
aprovação, seria abrirmos a porta a um cortejo de abusos que, em certos meios,
têm desacreditado o Espiritismo e estorvado o seu desenvolvimento. Atrás do
hábil simulador, logo entre nós surgiram umas intrusões condenadas pelos
tribunais de vizinhos países. Mais recentemente, o médium Abendt foi, em
idênticas circunstâncias, desmascarado em Berlim, como em seguida o foram
Carrancini em Londres e Bailey em Grenoble. Sem o brado de alarme que soltamos,
correríamos o risco de resvalar por um fatal declive e cair num precipício.
53. Os
espíritas são homens de convicção e fé. Mas, se a fé esclarecida atrai, nos
planos espirituais e materiais, nobres e elevadas almas, a credulidade, no
plano terrestre, atrai os charlatães, os exploradores de toda espécie, a chusma
dos cavalheiros de indústria que só nos procuram ludibriar. Aí está o perigo
para o Espiritismo. Cumpre-nos, a todos os que em nosso coração zelamos a
verdade e nobreza dessa coisa, conjurá-lo. De sobra se tem repetido: o
Espiritismo ou será científico, ou não subsistirá. Ao que acrescentaremos: o
Espiritismo deve, antes de tudo, ser honesto!
54. Mais
algumas palavras cabem aqui sobre a doutrina do Espiritismo, síntese das
revelações mediúnicas, entre si concordantes, obtidas em todo o mundo, sob a
inspiração dos grandes Espíritos que a ditaram. Cada vez mais se afirma e se
vulgariza essa doutrina. Até mesmo entre os nossos contraditores não há quem se
não sinta na obrigação moral de lhe fazer justiça, reconhecendo todos os
benefícios e inefáveis consolações que tem prodigalizado às almas sofredoras.
55. O
professor Th. Flournoy, da Universidade de Genebra, assim se exprime a seu
respeito no livro “Espíritos e Médiuns”: “Isenta de todas as complicações e
sutilezas da teoria do conhecimento e dos problemas de alta Metafísica, essa
filosofia simplista se adapta por isso mesmo admiravelmente às necessidades do
povo”.
56. A seu turno, J. Maxwell, advogado geral perante a Corte de
Apelação de Paris, se pronunciava do seguinte modo em sua obra “Os Fenômenos
Psíquicos”: “A extensão que a doutrina espírita adquire é um dos mais curiosos
fenômenos da época atual. Tenho a impressão de estar assistindo ao nascimento
de um movimento religioso a que estão reservados consideráveis destinos”.
57. Além
disso, Th. Flournoy, em seguida a uma investigação, cujos resultados menciona
em sua obra pré-citada, expende os seguintes comentários: “Há um coro geral de
elogios acerca da beleza e excelência da filosofia espírita, um testemunho
quase unânime prestado à salutar influência que exerce na vida intelectual,
moral e religiosa de seus adeptos. Mesmo as pessoas que têm chegado a
desconfiar completamente dos fenômenos e, por assim dizer, os detestam, pelas
dúvidas e decepções a que dão lugar, reconhecem os benefícios que devem às
doutrinas”.
58. Mais
adiante Th. Flournoy disse: “Encontram-se espíritas que nunca assistiram a uma
experiência e nem sequer o desejam, mas afirmam ter sido empolgados pela
simplicidade, beleza e evidência moral e religiosa dos ensinos espíritas
(existências sucessivas, progresso indefinido da alma etc.). Não se deve, pois,
obscurecer o valor dessas crenças, valor incontestável, pois que inúmeras almas
declaram nelas ter encontrado um elemento de vida e uma solução à alternativa
entre a ortodoxia, de um lado, alguns de cujos dogmas repulsivos (como o das
penas eternas), já não podiam admitir, e do outro lado às desoladoras negações
do materialismo ateu”.
59. É
preciso, contudo, reconhecer que, em que pese às observações do Senhor
Flournoy, mesmo no campo espírita não têm escasseado as objeções. Entre os que
são atraídos pelo aspecto científico do Espiritismo, alguns há que menosprezam
a filosofia. É que para apreciar toda a grandeza da doutrina dos Espíritos é
preciso ter sofrido. As pessoas felizes sempre são mais ou menos egoístas e não
podem compreender que fonte de consolação contém essa doutrina. Podem
interessar-lhes os fenômenos, mas para lhes atear a chama interior são
necessários os frios sopros da adversidade. Só aos espíritos amadurecidos pela
dor e a provação as verdades profundas se patenteiam em toda plenitude.
60. Em
assuntos dessa ordem tudo depende das anteriores predisposições. Uns, seduzidos
pelos fatos, se inclinam de preferência à experimentação. Outros, esclarecidos
pela experiência dos séculos transcorridos ou pelas lições da atual existência,
colocam o ensino acima de tudo. A sapiência consiste em reunir as duas
modalidades do Espiritismo num conjunto harmônico.
61. A experimentação, como o veremos no curso desta obra, exige
qualidades não vulgares. Muitos, baldos de perseverança, depois de algumas
tentativas infrutíferas, se afastam e regressam à indiferença, por não terem
obtido com a desejada presteza as provas que buscavam.
62. Os que
sabem perseverar, cedo ou tarde, encontram os sólidos e demonstrativos
elementos em que se firmará uma convicção inabalável. Foi o meu caso. Desde
logo me seduziu a doutrina dos Espíritos; as provas experimentais, porém, foram
morosas. Só ao fim de dez ou quinze anos de pesquisa foi que se apresentaram
irrecusáveis, abundantes. Agora encontro explicação para essa longa
expectativa, para essas numerosas experiências coroadas de resultados
incoerentes e, muitas vezes, contraditórios. Eu não estava ainda amadurecido
para completa divulgação das verdades transcendentes. À medida, porém, que me
adiantava na rota delineada, a comunhão com os meus invisíveis protetores se
tornava mais íntima e profunda. Sentia-me guiado através dos embaraços e
dificuldades da tarefa que me havia imposto. Nos momentos de provação, doces
consolações baixavam sobre mim.
63.
Atualmente chego a sentir a frequente presença dos Espíritos, a distinguir, por
um sentido íntimo e seguríssimo, a natureza e a personalidade dos que me assistem
e inspiram. Não posso, evidentemente, facultar a outrem as sensações intensas
que percebo e que explicam a minha certeza do Além, a absoluta convicção que
tenho da existência do mundo invisível. Por isso é que todas as tentativas por
me desviar da minha senda têm sido e serão sempre inúteis.
64. A minha confiança, a minha fé, é alimentada por
manifestações cotidianas; a vida se me desdobrou numa existência dupla,
dividida entre os homens e os Espíritos. Considero por isso um dever sagrado
esforçar-me por difundir e tornar acessível a todos os conhecimentos das leis
que vinculam a Humanidade da Terra à do Espaço e traçam a todas as almas o
caminho da evolução indefinida.