segunda-feira, 30 de novembro de 2020

 



Grilhões Partidos

 

Manoel Philomeno de Miranda

 

Parte 2

 

Prosseguimos neste espaço o estudo – sob a forma dialogada – do livro Grilhões Partidos, de Manoel Philomeno de Miranda, obra psicografada por Divaldo P. Franco e publicada no ano de 1974.

Este estudo será publicado neste blog sempre às segundas-feiras.

Caso o leitor queira ter em mãos o texto condensado da obra em foco, para complementar o estudo ora iniciado, basta clicar em http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#MANOEL  e, em seguida, no verbete "Grilhões Partidos”.

Eis as questões de hoje:


9. Que é que o autor desta obra diz a respeito da loucura e dos fatores que a fazem irromper na criatura humana?

Desde o berço o Espírito imprime no encéfalo as condições cármicas para o resgate das dívidas perante a Consciência Cósmica. Quando a loucura se alastra em alguém, é que o próprio Espírito detém os requisitos que lhe facultam a manifestação. A predisposição para este ou aquele estado lhe é inerente, e os fatores externos que a fazem irromper – os traumatismos morais, os complexos, os recalques – já se encontram em gérmen, na constituição fisiológica ou psicológica do indivíduo, a fim de que o cumprimento do dever, em toda a sua plenitude, se faça impostergável. Segundo Manoel Philomeno, há outros e mais complexos fatores causais da loucura, todos, porém, englobados nas leis de causa e efeito. (Grilhões Partidos, Prolusão, pág. 22.)

10. Nos processos obsessivos, quem é o agente principal na solução do problema?

O paciente é o agente da própria cura. Evidentemente, para lográ-la, necessitará do concurso do cireneu da caridade que o ajude, sob a cruz do sofrimento e através da diretriz de segurança e esclarecimento, a despertar para maior e melhor visão das coisas e da vida. Devemos, portanto, esclarecer o portador das obsessões, mesmo aquele que se encontra no estágio mais grave da subjugação, conclamando-o ao despertamento, do que dependerá sua renovação. (Obra citada, Prolusão, pp. 22 e 23.)

11. Que papel deve cumprir a família no tratamento do obsidiado?

O agrupamento familiar deve ser convocado à cooperação no tratamento do obsidiado, uma vez que ele não reencarnou ali por acaso. A família do paciente deve ser alertada para as responsabilidades que lhe dizem respeito, de modo a não transferir ao enfermo toda a culpa, como se a Sabedoria Celeste, ao convocar o calceta ao refazimento, estivesse laborando em erro, produzindo sofrimento naqueles que nada teriam a ver com a problemática de que padece. (Obra citada, Prolusão, pp. 23 e 24.)

12. Qual é, segundo o Espiritismo, um dos mais frequentes obstáculos à libertação do obsidiado?

As imperfeições morais do obsidiado é que, com frequência, constituem o obstáculo à sua libertação. (Obra citada, cap. 1, pp. 25 a 27.)

13. Que fato ocasionou a internação hospitalar de Ester?

Após agredir em plena festa, sem motivo nenhum, o próprio pai, a jovem pôs-se a gritar, alucinada, sendo conduzida à força a seu quarto. Um médico presente prontificou-se a atendê-la. Foi-lhe aplicado então um sedativo injetável de quase nenhum efeito imediato. Aplicou-se nova dose de calmante e, enquanto a festa se desmanchava de forma dolorosa, a família mergulhou num abissal mundo de aflições sem nome. Ester, ainda muito agitada, blasfemava e esbordoava moralmente o genitor, com expressões lamentáveis. Os verbetes infamantes escorriam-lhe dos lábios, insultuosos, ferintes, desconexos. A presença do pai mais a exaltava, como se fora acometida de loucura total, na qual se evidenciava rancor acentuado, de longo curso, retido a custo por muito tempo e que agora espocava de forma assustadora. Somente de madrugada, em estado de cansaço extenuante, Ester caiu em torpor agitado, sacudida de quando em quando por convulsões muito dolorosas, enquanto seus pais não compreendiam o que teria motivado tão tristes fatos. (Obra citada, cap. 1, pp. 28 e 29.)

14. Qual foi o diagnóstico médico do mal que acometeu a jovem Ester?

O diagnóstico foi esquizofrenia, que, não obstante as excelentes experiências realizadas pelo psiquiatra americano Dr. Sakel, em Viena, em 1933, prosseguia sendo dos mais complexos quadros da patologia mental, em suas quatro fases cíclicas e graves: Autismo, Hebefrenia, Catatonia e Paranoia. (Obra citada, cap. 2, pp. 33 e 34.)

15. Que reação teve o pai de Ester ao receber do psiquiatra o diagnóstico?

Ante a informação prestada pelo psiquiatra, o pai de Ester fez-se taciturno e arredio. Intimamente ele não aceitava a conjuntura que o alcançava, absurda sob qualquer ângulo em que fosse examinada. Por mais reflexionasse, não alcançava as matrizes patológicas que justificassem o tormento que excruciava a filha. Ninguém, em sua família, fora portador de alienação mental de qualquer natureza. Seu lar sustentava-se sobre admiráveis bases de equilíbrio moral, emocional e econômico, e a jovem jamais revelara qualquer traço de desequilíbrio, insegurança ou neurose. (Obra citada, cap. 3, pp. 39 a 42.)

16. Diz o autor da obra que o caso de Ester parecia enquadrar-se na descrição que Kardec fez sobre a possessão espiritual. Que é que o Codificador do Espiritismo escreveu a respeito?

Nos seus estudos sobre a possessão, Kardec ensina (A Gênese, cap. XIV, item 48) que a possessão pode ser produzida por um bom Espírito ou por um Espírito mau: "Quando é mau o Espírito possessor, as coisas se passam de outro modo. Ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o, se este não possui bastante força moral para lhe resistir. Fá-lo por maldade para com este, a quem tortura e martiriza de todas as formas, indo ao extremo de tentar exterminá-lo, já por estrangulação, já atirando-o ao fogo ou a outros lugares perigosos. Servindo-se dos órgãos e dos membros do infeliz paciente, blasfema, injuria e maltrata os que o cercam; entrega-se a excentricidades e a atos que apresentam todos os caracteres da loucura furiosa". (Obra citada, cap. 4, pp. 45 e 46.)

 

 

Observação:

Para acessar a 1ª Parte deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/11/grilhoes-partidos-manoel-philomeno-de.html

 

 

 

 

 

 

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domingo, 29 de novembro de 2020

 



A felicidade no mundo em que vivemos

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

A questão da felicidade, que é, sem contestação, a grande aspiração da imensa maioria das pessoas, é tratada em vários textos das obras espíritas, sobretudo nas de autoria do Codificador do Espiritismo.

É possível ser feliz no mundo em que vivemos?

O assunto é focalizado nas questões 920 a 922 d´O Livro dos Espíritos, nas quais encontramos as seguintes informações:

O homem não pode gozar de completa felicidade na Terra, porque a vida aqui geralmente lhe é dada como prova ou expiação, mas depende apenas dele a suavização de seus males e poder ser tão feliz quanto possível na Terra.

 O ser humano é quase sempre o obreiro de sua própria infelicidade; contudo, praticando a lei de Deus, a muitos males pode forrar-se e proporcionar a si mesmo uma felicidade tão grande quanto o comporte sua existência neste globo.

 A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O que basta para a felicidade de um indivíduo constitui, muitas vezes, a desgraça de outro. Há, porém, um padrão de felicidade comum a todos os homens – com relação à vida material, a posse do necessário; com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.

Tem-se como certo, à vista dos ensinamentos espíritas, que nossa felicidade porvindoura será o resultado direto de nossas realizações e atitudes do presente. Não é difícil compreender semelhante ideia. “A cada um segundo suas obras”, ensinava Jesus, que também nos disse que aquele que matar com a espada desta será vítima.

O destino será, assim, à vista disso, definido pela própria pessoa, que colherá nas experiências reencarnatórias futuras exatamente o fruto de sua semeadura.

O entendimento acerca deste tema é importante porque pode influir diretamente na conduta dos indivíduos.

Vejamos alguns exemplos.

Aos que acham que a felicidade está na posse de um corpo belo sugerimos que vejam como estão nossos amigos que já dobraram o cabo da esperança, muitas vezes envoltos em doenças e limitações orgânicas a anunciar que o fim da existência está próximo.

Aos que entendem que a felicidade se encontra na posse de dinheiro farto, propomos que visitem nossos irmãos abastados que, no final da existência, tudo dariam para readquirir a saúde e poderem desfrutar o que um dia imaginaram fosse a felicidade sonhada pelos homens.

Numa de suas obras mais importantes, Kardec escreveu: "Se o Espiritismo deve, como foi anunciado, realizar a transformação da humanidade, só poderá fazê-lo pelo melhoramento das massas, o que só se dará gradualmente, pouco a pouco, pelo melhoramento moral dos indivíduos" (O Livro dos Médiuns, cap. 29, item 350). "Aí é que se acha o princípio, a verdadeira chave da felicidade do gênero humano – acrescentou o Codificador, em Obras Póstumas – porque então os homens não mais cogitarão de se prejudicarem reciprocamente."

Podemos afirmar, então, que a felicidade na Terra é, sim, possível, mas ela não será encontrada nas coisas, nos objetos, naquilo que o homem pode ter ou comprar. A felicidade será encontrada, seja aqui, seja no mundo espiritual, naquilo que o homem pode ser, visto que a pessoa boa, serena, pacífica, de consciência tranquila e fé no futuro será feliz onde quer que esteja, enquanto o indivíduo mau, perturbado, intranquilo e violento será infeliz mesmo que sua casa seja a mansão mais bela e cobiçada.

Se recorrermos à memória, lembraremos que o papa João Paulo II disse certa vez, em plena Praça São Pedro, exatamente isso, ou seja, que o inferno, tal como o paraíso, não é um lugar físico, mas um estado d´alma.

 

 

 

 

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sábado, 28 de novembro de 2020



Mundo Maravilhoso

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília-DF

 

Ouvido num canal de TV, que nos mostrava o socorro a animais salvos de queimadas: "A anta é o maior mamífero terrestre da natureza. Ela leva dois anos para gerar um filhote". Em seguida, consternados, ouvimos que uma onça morreu intoxicada, mas felizmente outra foi salva. Esta, após sedada, foi medicada e está em recuperação para ser devolvida em boas condições físicas à natureza.

Em site da emissora citada acima, ficamos sabendo que uma sucuri de quatro metros foi capturada, imobilizada e transportada de volta ao seu habitat. Pessoas que maltratam animais, sejam estes domésticos ou não, respondem por crime ambiental e, além de pagar multa, podem ser presas, como aconteceu, há poucos dias, a indivíduos que colecionavam e vendiam ilegalmente cobras e outros animais.

Notícias como estas ouvimos e lemos diariamente: socorro a animais selvagens e atitudes de extremo carinho e apego aos bichos de estimação.

Atualmente, grupos são criados para a defesa dos animais. Entidades e cidadãos diversos manifestam seu repúdio à ofensa aos direitos humanos. Entidades são criadas para socorro aos vulneráveis socioeconomicamente. Cuidados a idosos são exemplares...    

Quando ocorre uma cena triste de abandono, seja de animal, seja de ser humano, não é raro vermos alguém socorrendo o bicho e o pária social, ou um jornalista denunciando o desamparo institucional e pessoal ao enjeitado. É evidente que muita coisa ainda precisa ser feita. Grande número de pessoas e famílias necessita do mínimo para sobreviver dignamente. Cada vez mais, entretanto, os governantes investem em programas sociais e saneamento básico.

A vida humana, atualmente, é considerada supremo bem a ser protegido e valorizado. Para quem pensa que exagero, leia o que disse Allan Kardec sobre o duelo, em 1864, no capítulo 12, item 16 d'O Evangelho Segundo o Espiritismo:

 

[...] Outro sinal da modificação dos costumes é que outrora os combates singulares se davam em plena rua, diante da turba que se afastava para deixar livre o campo aos combatentes, ao passo que hoje se ocultam. Presentemente, a morte de um homem é um acontecimento que causa emoção, ao passo que, em tempos passados, ninguém dava atenção a isso [...].

 

Li, dias atrás, mensagem do Espírito Emmanuel que nos esclarece a diferença entre a sociedade atual em relação à do tempo dos nobres da antiguidade. Hoje, qualquer família de classe média, diz ele, com muito menor poder econômico, vive em condições materiais muito melhores do que as dos reis e rainhas dos tempos antigos.

Qualquer criança tem acesso a uma pletora de informações diárias que antigamente necessitavam meses de pesquisa. Ficamos admirados quando vemos que os sábios do passado necessitavam consultar pergaminhos ou outros materiais grosseiros para adquirir seus conhecimentos.

Sim, ainda há muito sofrimento, violência e injustiça no mundo. Muitas pessoas aparentam honestidade apenas quando estão sendo vistas. A corrupção é uma grande preocupação dos governos, até porque ela existe entre seus próprios membros, que deveriam ser os primeiros a dar exemplo de integridade e respeito à coisa pública. Mas ai de quem exerce um cargo administrativo, em qualquer dos três poderes da República do Brasil e pensa estar acima da lei. Suas fraudes são logo descobertas, pois computadores potentes controlam a situação financeira de todo o mundo...

Vivemos, pois, amigos, num mundo bem melhor, mas inda bastante injusto. Ainda se veem pessoas miseráveis morando nas ruas. Ainda ocorrem crimes hediondos e assaltos espetaculares a bancos, que levam o terror aos moradores e pedestres de suas redondezas. Maus profissionais causam prejuízos incontáveis à sociedade por negligência. Todos, porém, pagam caro por isso, pois não faltam câmaras escondidas ou celulares, em algum lugar, para denunciá-los...

Peço a Deus que a miséria seja extinta, porque hoje, muito mais do que ontem, o pobre já pode atender satisfatoriamente às suas necessidades básicas neste mundo maravilhoso. É muito justo e necessário que socorramos e adotemos os animais. O que não é justo é que muitos animais domésticos vivam em condições muito melhores do que outros tantos seres humanos...

 

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 

 

 

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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

 



O Espiritismo perante a Ciência

 

Gabriel Delanne

 

Parte 37

 

Continuamos o estudo do clássico O Espiritismo perante a Ciência, de Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la Science.

Nosso objetivo é que este estudo possa servir para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. Dentro da ciência existe alguma explicação plausível da alucinação?

B. Como saber se uma aparição não é, em verdade, uma alucinação?

C. Existe algum outro requisito importante para se admitir a veracidade de uma aparição?

 

Texto para leitura 

 

840. A Ciência tem-se ocupado com a alucinação. Lelut e Brièri de Boismont publicaram livros interessantes, mas que não explicam absolutamente o fenômeno. Eles acreditam que todas as ideias, mesmo as mais abstratas, se ligam sempre, por qualquer lado, aos sentidos, mas que a faculdade de perceber um objeto ou uma paisagem não é a mesma para todos os homens. Um pintor vê uma vez certa pessoa e conserva sua imagem durante muito tempo na memória. Um musicista ouvirá, interiormente, trechos complicados de música. Essa representação interior parece dar um passo fora da ilusão, e tal é a que nos faz ler palavras de modo diverso das que estão escritas, a que nos mostra o que não existe, ou não nos faz ver o que há, alterando tudo de mil maneiras. Esse estado de espírito pode ser determinado por causas diversas como a solidão, o silêncio, a obscuridade. Em suma, a ilusão transforma alguma coisa de real, enquanto a alucinação pinta no vazio; as coisas que se veem não existem, os sons que se ouvem não têm realidade. Algumas vezes, a alucinação não é reconhecida, porém não perturba a razão, não passa, por assim dizer, da razão excitada. “Crê-se que foi este o caso de Sócrates, de Joana d'Arc, de Lutero, de Pascal.” Segundo Lelut, esses grandes gênios seriam uma categoria de maníacos e as vozes de Joana, a Lorena, puras alucinações. Não sabemos se será verdade, mas se Lelut pudesse ser o joguete de uma loucura, que o fizesse, de repente, assemelhar-se a Sócrates, nós o felicitaríamos, e assim ficariam livres os nossos ouvidos de tais frioleiras.

841. Os sábios não deram, pois, até agora, uma explicação plausível, sob o ponto de vista fisiológico, da alucinação. Entretanto, parecem ter sondado todas as profundezas da ótica e da fisiologia. Como é, então, que não puderam explicar, ainda, a fonte das imagens, que se apresentam ao espírito em certas circunstâncias?

842. Real ou não, o alucinado vê alguma coisa; dir-se-á que acredita ver, mas que nada vê. Não é provável. Pode-se dizer que é uma imagem fantástica, seja; mas qual é a origem dessa imagem, como se forma, como se reflete no cérebro? Eis o que não nos dizem.

843. Certamente, quando o alucinado crê ver o diabo com seus cornos e suas garras, as chamas do inferno, animais fabulosos, o Sol e a Lua que se batem, é evidente que não existe nenhuma realidade; mas, se se trata de um fruto da imaginação, por que descrevem essas coisas como se fossem presentes? Há, pois, diante dele um quadro, uma fantasmagoria qualquer; em que espelho, então, se pinta essa imagem? qual a causa que dá a essa imagem a forma, a cor, o movimento?

844. Já que os sábios querem explicar tudo pelas propriedades da matéria, que apresentem uma teoria da alucinação, boa ou má; seria sempre uma explicação, mas não o podem fazer, porque, negando a alma, privam-se da causa eficiente do fenômeno.

845. Os fatos que observamos, diariamente, demonstram que há verdadeiras aparições e o dever do espiritista esclarecido é distinguir entre os fenômenos devidos às manifestações dos Espíritos e os que têm por causa os órgãos enfermos do indivíduo.

846. Em suma, a alucinação não apresenta nenhum caráter de positividade, ao passo que, para admitir-se a mediunidade vidente, é preciso que o indivíduo dotado dessa faculdade possa descrever suas visões, de forma a fazê-las reconhecer pelas pessoas presentes. Um médium que só visse desconhecidos, que não pudesse dar provas de que descreve seres que viveram na Terra, passaria, com razão, aos olhos dos espiritistas, por um alucinado.

847. No estado normal do organismo humano, as impressões produzidas pelos sentidos armazenam-se no cérebro, graças à propriedade de localização das células cerebrais. As diversas aquisições classificam-se segundo o gênero de ideias a que pertencem; são materiais de que o Espírito se serve quando deles tem necessidade.

848. A alma de um homem sadio tem ação preponderante e diretora sobre todos os elementos submetidos a seu império; mas se, por uma circunstância qualquer, a harmonia entre o corpo e a alma se torna menos perfeita, a desordem se introduz na organização cerebral e umas tantas ideias, formas ou odores têm tendência a predominar sobre as outras; são, em geral, as impressões que fortemente agem no indivíduo, as que o abalam, produzindo os fenômenos de alucinação, prólogo da loucura, na maior parte dos casos.

849. Diferente é o fenômeno espírita, em que o médium vê um objeto, uma pessoa real. O Espírito visto pode ser descrito minuciosamente; e só quando a visão é reconhecida como sendo a descrição exata de pessoa morta, estranha ao médium, é que admitimos a intervenção espiritual.

850. As verdadeiras aparições têm um caráter que, a um observador experimentado, não é possível confundir com um jogo de imaginação. Como sucedem em pleno dia, devemos desconfiar daquelas que julgamos ver à noite, para que não sejamos vítimas de uma ilusão de ótica. Dá-se, aliás, com as aparições o mesmo que com os outros fenômenos espíritas, onde o caráter inteligente é a prova de sua veracidade.

851. A aparição que não apresentar um sinal inteligente e não for reconhecida pode ser posta, ousadamente, no rol das ilusões. Como se vê, somos muito circunspectos na apreciação desses fenômenos, e queremos, antes de tudo, acentuar que os espiritistas, longe de aceitar as divagações dos cérebros doentios, são minuciosos observadores dos fatos, e positivistas, na plena acepção do termo.

852. Como dissemos, a mediunidade vidente pode exercer-se de duas maneiras: ou pelo desprendimento, ou pelos órgãos do corpo. Para dar um exemplo de cada gênero, vamos narrar os dois seguintes fatos, colhidos na Revue Spirite de 1861:

“Um de nossos colegas – diz Allan Kardec – contava-nos ultimamente que um oficial seu amigo estava na África, quando viu, inopinadamente, o quadro de um cortejo fúnebre. Era o de um de seus tios, que habitava em França, e que ele não via há muito tempo. Notou, distintamente, toda a cerimônia, desde a partida da casa mortuária, até a igreja e ao transporte ao cemitério. Chegou a reparar diversas particularidades de que não podia ter ideia. Estava acordado, no momento, mas em certo estado de prostração, de que só saiu quando tudo desapareceu. Impressionado, escreveu para França, pedindo novas de seu tio, e soube que este tinha morrido, subitamente, e havia sido enterrado na hora e no dia em que se deu a aparição, com as particularidades que ele tinha visto.”

É evidente aqui que foi a alma do oficial que se desprendeu; tendo o fato se passado na França, no dia e hora em que o oficial o via na África, era preciso que sua alma irradiasse à distância, para notar o que se passava ao longe.

853. Vamos à segunda história:

“Um médico de nosso conhecimento, Felix Malo, tratara uma jovem; percebendo, porém, que os ares de Paris lhe eram prejudiciais, aconselhou-a a passar algum tempo com sua família, na província, o que ela fez. Havia seis meses que ele nada sabia a seu respeito, nem nela pensava mais, quando uma noite, lá pelas dez horas, estava no seu quarto de dormir e ouviu bater à porta do gabinete de consulta. Supondo que alguém o vinha chamar para um doente, mandou que entrasse, mas ficou muito surpreendido por ver diante de si a moça em questão, pálida, com as vestes que lhe eram conhecidas, dizendo-lhe com grande sangue-frio:

– Senhor Malo, venho dizer-lhe que estou morta –, e desapareceu.

O médico assegurou-se de que estava bem acordado e que não havia entrado ninguém; tomou informações e soube que aquela moça falecera na noite em que lhe havia aparecido.”

Neste caso, foi o Espírito da moça que veio procurar o médico. Os incrédulos não deixarão de dizer que o doutor podia estar preocupado com a saúde de sua antiga doente e que não seria de admirar que lhe previsse a morte. Seja, mas como explicariam a coincidência de sua aparição com o momento da morte, quando havia muitos meses que o médico não ouvia falar em seu nome? Supondo, mesmo, que ele soubesse da impossibilidade de cura, como poderia prever que ela morreria em tal dia e em tal hora? O doutor viu com os olhos do corpo; a aparição era sensível, desde que ela bateu à porta do gabinete. É este caso de visão que vamos considerar agora.

854. Vejamos a vista medianímica pelos olhos da pessoa. Quando um médium vê um Espírito, pode-se, a priori, estabelecer a seguinte questão: é o médium que experimenta uma modificação ou o Espírito? Com efeito, no estado ordinário, não vemos os Espíritos, porque nossos órgãos são muito grosseiros para nos fazer perceber certas vibrações que lhes escapam. Mas quando se realiza a visão, ou nossos órgãos adquiriram maior sensibilidade ou o Espírito fez com que seu invólucro experimentasse certas modificações que, diminuindo a rapidez das vibrações moleculares perispirituais, pudesse torná-lo visível. Se este último modo de encarar o fenômeno fosse exato, o Espírito seria visto por todas as pessoas presentes: é o que se dá, no caso das materializações, que já estudamos com Crookes; mas, quando numa assembleia, só uma pessoa vê os Espíritos, é que esta experimenta uma variação orgânica do sentido da vista, que é interessante estudar.

855. O olho, como se sabe, é uma verdadeira câmara escura, no fundo da qual se desenham as impressões luminosas. A retina, formada pela expansão do nervo ótico, transporta ao cérebro as vibrações luminosas; aí elas se transformam em sensações. Os fisiologistas não se limitaram a estudar a participação da retina na função visual, remontando dos efeitos às causas, mas procuraram a explicação desses fatos.

856. Para explicar a sensação da cor, a do claro, a do escuro, eles admitiram velocidades diferentes nas ondas de um fluido (éter), que estivesse espalhado em todo o Universo. Essas ondas impressionariam a retina, de maneira diferente, e a natureza da percepção, de que a alma tem consciência, seria subordinada a essas impressões variáveis. Por esta teoria, admite-se que os fenômenos de visão sejam, simplesmente, o resultado da percepção, pelo sensorium, de um estado determinado da retina, e a sensação da obscuridade é explicada pela ausência de qualquer sensação, e pelo estado da própria retina.

857. Admitidas as sensações de luz como o resultado de uma alteração sobrevinda na retina, indagaram alguns fisiologistas onde esse estado era percebido pela alma. É evidentemente no encéfalo e não na retina. O que põe fora de dúvida a participação da retina no ato da visão é que os animais de vista mais penetrante são os que têm a retina mais desenvolvida. Sendo esta membrana a extremidade expandida do nervo ótico, e não apresentando uma sensibilidade igual em toda a sua superfície, as fibras que compõem o nervo ótico não vibram todas em uníssono. As mais sensíveis poderão ser impressionadas por ondas luminosas, que deixarão as outras em repouso. Tal fato é a consequência da especificação dos órgãos, ou seja da tendência que possuem as fibras para se acomodarem a um estado vibratório determinado.

858. Não esqueçamos que uma condição é indispensável ao bom funcionamento dos aparelhos sensoriais, a de que cada órgão tenha uma quantidade determinada de fluido nervoso à sua disposição; as sensações serão agudas ou nulas, conforme aquela quantidade aumenta ou diminui. Temos numerosos exemplos. Em certos estados patológicos o ouvido atinge uma agudeza notável; esse desenvolvimento é devido à acumulação momentânea do fluido nervoso no nervo acústico; o mesmo acontece com os outros sentidos.

859. Isto posto, vejamos, pelo estudo da luz, entre que limites de vibrações se pode exercer, no estado normal, o sentido da vista.

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Dentro da ciência existe alguma explicação plausível da alucinação?

Não. Os sábios não deram, até agora, uma explicação plausível, sob o ponto de vista fisiológico, da alucinação, e, embora tenham sondado todas as profundezas da ótica e da fisiologia, não puderam explicar, ainda, a fonte das imagens que se apresentam ao espírito em certas circunstâncias. (O Espiritismo perante a ciência, Quinta Parte, Cap. III – Médiuns videntes e médiuns auditivos.)

B. Como saber se uma aparição não é, em verdade, uma alucinação?

A alucinação não apresenta nenhum caráter de positividade, ao passo que na mediunidade vidente o indivíduo dotado dessa faculdade pode descrever suas visões, de forma a fazê-las reconhecer pelas pessoas presentes. Um médium que só visse desconhecidos, que não pudesse dar provas de que descreve seres que viveram na Terra, passaria, com razão, aos olhos dos espiritistas, por um alucinado. (Obra citada, Quinta Parte, Cap. III – Médiuns videntes e médiuns auditivos.)

C. Existe algum outro requisito importante para se admitir a veracidade de uma aparição?

Sim. Dá-se com as aparições o mesmo que ocorre com os outros fenômenos espíritas, nos quais o caráter inteligente é a prova de sua veracidade. A aparição que não apresentar um sinal inteligente e não for reconhecida pode ser posta, portanto, no rol das ilusões. (Obra citada, Quinta Parte, Cap. III – Médiuns videntes e médiuns auditivos.)     

                                                                                         

 

Observação:

Para acessar a parte 36 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/11/o-espiritismo-perante-ciencia-gabriel_20.html

 

 

 

 

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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

 



O Evangelho segundo o Espiritismo

 

Allan Kardec

 

Parte 2

 

Prosseguimos o estudo metódico de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, terceira das obras que compõem o Pentateuco Kardequiano, cuja primeira edição foi publicada em abril de 1864.

Este estudo será publicado sempre às quintas-feiras.

Caso o leitor queira ter em mãos o texto consolidado dos estudos relativos à presente obra, para acompanhar, pari passu, o presente estudo, basta clicar em http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN e, em seguida, no verbete "O Evangelho segundo o Espiritismo”.

Eis as questões de hoje:


9. Quem eram os Escribas e os Fariseus? 

Escribas era o nome dado, a princípio, aos secretários dos reis de Judá e a certos intendentes dos exércitos judeus. Mais tarde, foi aplicado especialmente aos doutores que ensinavam a lei de Moisés e a interpretavam para o povo. Faziam causa comum com os Fariseus, de cujos princípios partilhavam, bem como da antipatia que eles votavam aos inovadores.

Os Fariseus eram os partidários de uma seita influente que teve por chefe Hillel, doutor judeu nascido na Babilônia, fundador de uma escola célebre, onde se ensinava que só se devia depositar fé nas Escrituras. Sua origem remonta a 180 ou 200 anos antes de Jesus. Os fariseus, em diversas épocas, foram perseguidos, especialmente sob Hircano - soberano pontífice e rei dos judeus -, Aristóbulo e Alexandre, rei da Síria. Este último, porém, lhes deferiu honras e restituiu os bens, de sorte que eles readquiriram o antigo poderio e o conservaram até à ruína de Jerusalém, no ano 70 da era cristã, época em que se lhes apagou o nome, em consequência da dispersão dos judeus. Servis cumpridores das práticas exteriores do culto e das cerimônias, cheios de um zelo ardente de proselitismo e inimigos dos inovadores, afetavam grande severidade de princípios, mas, sob as aparências de meticulosa devoção, ocultavam costumes dissolutos, muito orgulho e, acima de tudo, excessiva ânsia de dominação. Tinham a religião mais como meio de chegar a seus fins do que como objeto de fé sincera. Da virtude nada possuíam, além das exterioridades e da ostentação; entretanto, por umas e outras, exerciam grande influência sobre o povo, a cujos olhos passavam por santas criaturas. Acreditavam ou pelo menos fingiam acreditar na Providência, na imortalidade da alma, na eternidade das penas e na ressurreição dos mortos. (O Evangelho segundo o Espiritismo, Introdução, item III.)

10. Por que os judeus e os samaritanos eram inimigos?

Após o cisma das dez tribos, Samaria se constituiu a capital do reino dissidente de Israel. Destruída e reconstruída várias vezes, tomou-se, sob os romanos, a cabeça da Samaria, uma das quatro divisões da Palestina. Herodes, chamado o Grande, a embelezou de suntuosos monumentos e, para lisonjear Augusto, lhe deu o nome de Augusta, em grego Sebaste.

Os samaritanos estiveram quase constantemente em guerra com os reis de Judá. Aversão profunda, datando da época da separação, perpetuou-se entre os dois povos, que evitavam todas as relações recíprocas. Os samaritanos, para tornarem maior a cisão e não terem de ir a Jerusalém pela celebração das festas religiosas, construíram para si um templo particular e adotaram algumas reformas. Somente admitiam o Pentateuco, que continha a lei de Moisés, e rejeitavam todos os outros livros que a esses foram posteriormente anexados. Seus livros sagrados eram escritos em caracteres hebraicos da mais alta antiguidade. Para os judeus ortodoxos, eles eram heréticos e, portanto, desprezados, anatematizados e perseguidos. O antagonismo das duas nações tinha, pois, por fundamento único a divergência das opiniões religiosas, embora fosse a mesma a origem das crenças de uma e outra. Eram os protestantes daquele tempo. (Obra citada, Introdução, item III.)

11. Quem eram os Saduceus e em que acreditavam? 

Os Saduceus eram adeptos de uma seita judia que se formou por volta do ano 248 antes de Cristo e cujo nome lhe veio de Sadoc, nome de seu fundador. Não acreditavam na imortalidade, nem na ressurreição, nem nos anjos bons e maus, mas acreditavam em Deus. Nada esperando após a morte, só o serviam tendo em vista recompensas temporais, ao que, segundo eles, se limitava a providência divina. Assim pensando, tinham a satisfação dos sentidos físicos por objetivo essencial da vida. Quanto às Escrituras, atinham-se ao texto da lei antiga. Não admitiam a tradição, nem interpretações quaisquer. Colocavam as boas obras e a observância pura e simples da Lei acima das práticas exteriores do culto. Eram, como se vê, os materialistas, os deístas e os sensualistas da época. Seita pouco numerosa, contava, porém, em seu seio importantes personagens e se tornou um partido político oposto constantemente aos fariseus. (Obra citada, Introdução, item III.)

12. Quais foram os principais precursores da ideia cristã e do Espiritismo? 

Os filósofos Sócrates e Platão. (Obra citada, Introdução, item IV.)

13. Qual foi o crime que levou Sócrates à condenação? 

Tal como aconteceu com Jesus, Sócrates teve a morte dos criminosos, vítima do fanatismo, por haver atacado as crenças que encontrara e colocado a virtude real acima da hipocrisia e do simulacro das formas; por haver, numa palavra, combatido os preconceitos religiosos. Do mesmo modo que Jesus, a quem os fariseus acusavam de estar corrompendo o povo com os ensinamentos que lhe ministrava, também ele foi acusado pelos fariseus do seu tempo, visto que sempre os houve em todas as épocas, por proclamar o dogma da unidade de Deus, da imortalidade da alma e da vida futura. (Obra citada, Introdução, item IV.)

14. Há quantas partes na lei de Moisés?

Na lei mosaica há duas partes distintas: a lei de Deus, promulgada no monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, decretada por Moisés. A primeira é invariável; a outra, apropriada aos costumes e ao caráter do povo, se modifica com o tempo. É de todos os tempos e de todos os países o Decálogo; daí o seu caráter divino. As outras são leis que Moisés decretou, obrigado que se via a conter, pelo temor, um povo turbulento e indisciplinado, no qual tinha ele de combater arraigados abusos e preconceitos, adquiridos durante a escravidão do Egito. Para imprimir autoridade às suas leis, houve de lhes atribuir origem divina, conforme o fizeram todos os legisladores dos povos primitivos. (Obra citada, capítulo I, itens 1 e 2.)

15. Jesus modificou profundamente as leis de Moisés. Segundo Kardec, que é que ele veio ensinar à Humanidade? 

Jesus veio ensinar aos homens que a verdadeira vida não é a que transcorre na Terra e sim a que é vivida no reino dos céus; veio ensinar-lhes o caminho que a esse reino conduz, os meios de eles se reconciliarem com Deus e de pressentirem esses meios na marcha das coisas por vir, para a realização dos destinos humanos. (Obra citada, capítulo I, itens 3 e 4.)

16. De que decorria a indiscutível autoridade de Jesus?

A autoridade de Jesus decorria da natureza excepcional do seu Espírito e de sua missão divina. (Obra citada, capítulo I, item 4.)

 

 

Observação: Para acessar a 1ª Parte deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/11/o-evangelho-segundo-o-espiritismo-allan.html

 

 

 

 

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