sábado, 30 de novembro de 2019




Por um real...

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Quando Allan Kardec faz a pergunta 799 d’O Livro dos Espíritos  sobre o modo como o Espiritismo pode contribuir para o progresso, obtém como resposta que isso ocorrerá com a destruição do materialismo, uma das chagas sociais. No fim da resposta, lemos esta frase: “Destruindo os preconceitos de seitas, castas e cores, o Espiritismo ensina aos homens  a grande solidariedade que há de os unir como irmãos”.
O Espiritismo bem estudado e bem compreendido, já dizia Kardec, é o maior inimigo do materialismo. Ciência de observação e de experimentação, a Doutrina Espírita vem comprovando, há mais de 160 anos, a sobrevivência e a imortalidade da alma após a morte do corpo físico e outras verdades confirmadas por diversos pesquisadores, anunciadas pelos profetas e pelo Cristo.
Independentemente da crença nas revelações mediúnicas do Espiritismo, suas informações sobre as consequências do bom ou mau uso do livre-arbítrio vêm sendo confirmadas no dia a dia. Um exemplo atual do que afirmamos é o caso do assassínio da jovem chamada Neia no alvorecer do sábado, 16 de novembro de 2019.
A jovem, segundo informação de sua irmã, embora tendo residência fixa, optou por morar em rua de Niterói. Às 5h20 do dia fatídico, teve fome e vendo um jovem passar, aproximou-se dele e pediu-lhe um real para comprar um pão.
Sentindo-se incomodado, o rapaz a mandou afastar-se. Como Neia insistisse, ele sacou sua arma e disparou dois tiros contra a vítima indefesa (foto ao lado). Alguns motoristas, mesmo com o aceno de outra jovem que a amparara e lhes pedira socorro, desesperada, não se comoveram com a cena e seguiram em frente, sem compaixão...
Um dos comentários, dentre outros, que demonstram profundo descaso com a vida alheia, na matéria publicada foi o seguinte:
— Sei que é errado o que ele fez, mas às vezes a gente fica de saco cheio com esses moradores de rua.
Comentário da irmã de Neia:
— Matou minha irmã como se fosse um bicho. Ela apenas queria um real para comprar um pão.
Embora sabendo que nada acontece conosco se isso não estiver em nossas provas ou expiações, Jesus foi bem claro quando nos alertou: “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalosmas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mateus 18:7).
Neia libertou-se, temporariamente, de seu novo corpo físico. Certamente, não lhe faltará amparo espiritual, mas seu assassino, além de já ter sido alcançado pela justiça humana, não deixará de responder perante a própria consciência pelo crime cometido. Os indiferentes à sua sorte também não ficarão impunes pela falta de compaixão a um ser humano cruelmente assassinado.
O Espiritismo mostra-nos que o mal jamais encontra compensação. Quem extermina o corpo alheio, além de se sujeitar à justiça terrena, ganha um “encosto espiritual”, quase sempre, que não o abandona tão cedo, além da voz da própria consciência, a cobrar-lhe, implacavelmente: “— Caim, Caim, que fizeste do teu irmão!? Terás que sofrer o mesmo que ele, para que possas resgatar tua dívida perante a Lei de Deus, que estabelece, como norma geral: Tudo que desejares que teu próximo te faça, faze-o também a ele, pois esta é a lei e os profetas” (Mateus, 7:12).
Por outro lado, em Mateus, 10:26, alerta-nos o Cristo: “[...] nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se”. Se desejamos ser felizes, apenas pela prática da caridade, que começa pela compaixão com nosso próximo, podemos livrar-nos das consequências negativas de nossa falta de amor.
Somente o custo dos projetis de chumbo disparados contra a infeliz, com certeza, é bem mais do que o real que ela pedia para comprar um pão. Agora, seu assassino, tão cedo, não terá sossego, além de arcar com as custas advocatícias e a perda da liberdade.
Conhecesse ele o Espiritismo e praticasse sua doutrina, que expande a moral do Cristo e comprova os prejuízos do materialismo, e agora, em vez de estar preso e respondendo por um crime, teria como crédito a gratidão de alguém por tão pouco: um mísero real.






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sexta-feira, 29 de novembro de 2019




A morte e os seus mistérios

Ernesto Bozzano

Parte 9

Continuamos o estudo do clássico A morte e os seus mistérios, de Ernesto Bozzano, conforme tradução de Francisco Klörs Werneck. O estudo será aqui apresentado em 24 partes. Nossa expectativa é que ele sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

Questões preliminares

A. Com base nos fatos descritos por Bozzano, pode-se concluir que as personalidades espirituais deixam, às vezes, de recorrer ao “fantasma ódico” do médium? 
B. Bozzano concorda em que existem fenômenos espíritas e fenômenos anímicos?
C. Há fenômenos que excluem de modo absoluto a hipótese animista?

Texto para leitura

125. Podemos concluir, com base nos fatos observados, que as personalidades espirituais dos defuntos podem bem deixar de recorrer ao "fantasma ódico" do médium. Quando, porém, os fantasmas materializados se assemelham ao médium, isso se esclarece com a outra hipótese segundo a qual as personalidades espirituais se servem muitas vezes, para esse fim, do "fantasma ódico" do médium.
126. Isto estabelecido, apresso-me a declarar que a argumentação exposta tem por único escopo resolver a questão levantada por Aksakof, e de nenhum modo o de fazê-la valer em serviço exclusivo da tese espiritualista, como se poderia inferir de determinadas expressões por mim usadas, em que eu falo de entidades espirituais de defuntos, expressões a que recorri para melhor conformar-me ao quesito enunciado por Aksakof.
127. Compreende-se, no entanto, que ao investigar a gênese dos fenômenos mediúnicos é preciso ter sempre presentes as duas soluções com que são suscetíveis de ser interpretados, segundo as circunstâncias: Animismo e Espiritismo. E isto tanto mais no nosso caso, em que se conhecem episódios de desdobramento e de materializações de autênticos "duplos" dos médiuns, como se conhecem episódios de materializações de retratos, "simulacros chatos" de defuntos. E esta última classe de manifestações se mostra teoricamente interessante, porquanto traz confirmação à bem conhecida hipótese segundo a qual o pensamento e a vontade subconscientes dos médiuns, como o pensamento e a vontade conscientes dos defuntos, são "forças plásticas".
128. Isso, no entanto, não deve ser confundido com o outro fato precedentemente discutido acerca do poder que teriam os "espíritos desencarnados" de modificar, à vontade, seu "corpo etéreo", de maneira a conferir ao mesmo os traços de um outro espírito, fato cuja possibilidade deve ser excluída, de acordo com as conclusões a que se chegou anteriormente. A manifestação do próprio "corpo etéreo" sob forma visível e tangível, bem como animada e inteligente, depende de um automatismo da misteriosíssima "força organizadora" imanente em cada indivíduo e diferente em cada um, automatismo que reproduz mas não cria.
129. Assim, uma vez demonstrado que a vontade dos "espíritos encarnados e desencarnados" não tem poderes dirigentes sobre o automatismo funcional da "força organizadora" que plasma a Vida nos mundos, disso resulta que, nas circunstâncias em discussão, em que não se trata, direi assim, de obras de arte em forma de retratos ou simulacros chatos de defuntos, mas sim de fantasmas organizados, vivos e inteligentes, é sempre necessário admitir a presença, in loco, do defunto que se manifesta com identidade de semblante.
130. Em outros termos: suponho ter demonstrado, baseado em provas por analogia, as três seguintes proposições teóricas:
I. Nas circunstâncias em que o fantasma materializado, vivo e inteligente, é criado e animado pelo pensamento e pela vontade subconscientes do médium, isso é necessariamente uma obra de "desdobramento" do médium, caso em que a "força organizadora" imanente no "corpo etéreo" não poderia deixar de modelá-lo automaticamente sobre a "forma arquétipo" particular ao médium.
II. Nas circunstâncias em que o fantasma materializado, vivo e inteligente, é criado e animado pelo pensamento e pela vontade de um defunto, então, por motivo idêntico, não poderá deixar de modelar-se, mais ou menos fielmente, sobre a "forma arquétipo" peculiar ao defunto.
III. Nas circunstâncias em que a vontade subconsciente do médium ou a consciente do defunto se proponham a modelar a efígie de um terceiro indivíduo, vivo ou defunto, que lhes seja conhecido, elas conseguirão exteriorizar um simulacro plástico inanimado e nada mais, pois que, para criar o fantasma integral organizado, vivo e inteligente, deveria animá-lo com o seu próprio "corpo etéreo", no qual existe imanente a "força organizadora" que o plasmou, a qual não poderia deixar de modelá-lo automaticamente sobre a própria "forma arquétipo", impedindo-lhe a manifestação com traços outros que os seus próprios.
131. Tais deduções parecem claras, precisas, irrefutáveis, pelo fato anteriormente discutido e demonstrado, isto é, que a criação de um fantasma materializado, vivo e inteligente, ou de um rosto obtido por transfiguração, são obra de um automatismo da "força organizadora" imanente nos seres vivos e diferente em cada um deles.
132. No que diz respeito aos fenômenos da produção materializada de "simulacros inanimados" ou "retratos supranormais", observo que estes tanto podem ser anímicos quanto espíritas, segundo as circunstâncias. Assim, por exemplo, no caso das magistrais e sugestivas experiências do Dr. Wolfe com o médium Sra. Hollis, nota-se que, quando escasseavam os "fluidos", obtinham-se simulacros materializados chatos do rosto e do busto do defunto presidente dos Estados Unidos, James Buchanan, amigo do Dr. Wolfe; mas, quando os "fluidos" eram abundantes, então o mesmo Buchanan conseguia materializar-se integralmente, mostrando-se capaz de se fazer ver em plena luz, de tomar uma carta que lhe apresentava o Dr. Wolfe, de folheá-la, de lê-la e de responder com relação ao seu conteúdo.
133. Assim sendo, dever-se-ia deduzir que, nas circunstâncias indicadas, também os simulacros chatos do amigo do Dr. Wolfe eram de origem espírita, isto é, plasmados pelo pensamento e pela vontade do defunto Buchanan, visto que, em circunstâncias propícias, este era capaz de mostrar-se sob a forma de fantasma materializado vivo, inteligente e falante.
134. Ao contrário, no caso das materializações de simulacros chatos obtidos com o médium Eva Carrière, nas experiências da Sra. Bisson e do Prof. Schrenck-Notzing, em que tais simulacros representavam reproduções de caras observadas pelo médium em jornais ilustrados, e no outro caso do médium Linda Gazzera, que, depois de ter contemplado com vivo interesse a cabeça de São João em uma pintura de Rubens, materializou um simulacro da mesma, na sessão seguinte, dever-se-ia inferir que se tratava de simulacros criados pelo pensamento e pela vontade subconscientes dos médiuns.
135. Isto estabelecido, não me resta senão repetir o que outras vezes já declarei a propósito do valor reciprocamente complementar que assumem as hipóteses do Animismo e do Espiritismo, ambas necessárias para explicar a totalidade das manifestações metapsíquicas, e é de que, se se admite a sobrevivência, não se pode deixar de reconhecer que o homem é um "espírito", ainda que "encarnado", pelo que deveremos esperar que, nas crises de enfraquecimento vital que subjugam esses indivíduos (sono fisiológico, sono mediúnico e hipnótico, êxtase, narcose, coma), brotem, por lampejos fugazes, aos recessos da subconsciência, faculdades de sentidos supranormais lá existentes em estado latente (fato este último fora de discussão, porque por todos reconhecido), dando lugar à produção de fenômenos análogos aos espíritas, conquanto quase sempre rudimentares e fugacíssimos (o que os torna facilmente separáveis dos outros), circunstâncias estas todas que demonstrem - note-se bem - que o Animismo é o complemento necessário do Espiritismo e que sem o Animismo faltaria base ao Espiritismo.
136. Entretanto, do ponto de vista da pesquisa das causas, é fato que a existência do Animismo impõe aos investigadores a adoção de métodos de investigação destinados a separar os casos anímicos dos espíritas e, conquanto seja verdade que existem categorias inteiras de manifestações mediúnicas que excluem, de modo absoluto, a hipótese anímica (tais, por exemplo, os casos de xenoglossia em línguas ignoradas por todos os presentes), não é menos verdade que uma parte das mesmas manifestações não é de fácil interpretação, e o único critério de pesquisa utilizável é o de submeter a um exame analítico, esmeradíssimo, cada caso isolado, para em seguida pronunciar-se, caso por caso, com ponderado conhecimento de causa, em favor de uma ou outra das causas em ação.

Respostas às questões preliminares

A. Com base nos fatos descritos por Bozzano, pode-se concluir que as personalidades espirituais deixam, às vezes, de recorrer ao “fantasma ódico” do médium? 
Sim. As personalidades espirituais dos defuntos podem bem deixar de recorrer ao "fantasma ódico" do médium. Contudo, quando os fantasmas materializados se assemelham ao médium, isso se esclarece com a outra hipótese segundo a qual as personalidades espirituais se servem muitas vezes, para esse fim, do "fantasma ódico" do médium. (A morte e os seus mistérios, 1ª Monografia – Outros casos de transfiguração.)
B. Bozzano concorda em que existem fenômenos espíritas e fenômenos anímicos?
Certamente. Há fatos que são explicados pelo Animismo e há fatos que se enquadram no rol dos fenômenos estudados pelo Espiritismo, ou seja, em que há participação de personalidades espirituais estranhas ao sensitivo, ou médium.  (Obra citada, 1ª Monografia – Outros casos de transfiguração.)
C. Há fenômenos que excluem de modo absoluto a hipótese animista?
Sim. Existem categorias inteiras de manifestações mediúnicas que excluem, de modo absoluto, a hipótese animista, como, por exemplo, os casos de xenoglossia em línguas ignoradas por todos os presentes.  (Obra citada, 1ª Monografia – Outros casos de transfiguração.)


Observação:
Para acessar a Parte 8 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2019/11/a-morte-e-osseus-misterios-ernesto_22.html





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quinta-feira, 28 de novembro de 2019





Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas

Allan Kardec

Estamos fazendo neste espaço o estudo – sob a forma dialogada – dos oito principais livros do Codificador do Espiritismo: dois introdutórios, os cinco básicos que integram o chamado pentateuco kardequiano e um complementar.
Serão ao todo 1.120 questões objetivas distribuídas em 140 partes, cada qual com oito perguntas e respostas. Os textos são publicados neste blog sempre às quintas-feiras.
Concluído o estudo do livro O que é o Espiritismo, o foco agora é a obra Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, publicada por Kardec em 1858. As páginas citadas abaixo referem-se à edição publicada pela Casa Editora O Clarim, com base na tradução feita por Cairbar Schutel. 

Parte 2

9. Que é perispírito, qual a sua natureza e como ele é constituído? 
Perispírito (de peri, em redor, e spiritus, espírito) é o nome que se dá ao invólucro semimaterial da alma ou Espírito depois da sua separação do corpo. O Espírito o tira do mundo em que se acha e o troca ao passar de um a outro; ele é mais ou menos sutil ou grosseiro, segundo a natureza de cada globo. O perispírito pode tomar todas as formas à vontade do Espírito; ordinariamente ele assume a imagem que este tinha em sua última existência corporal. Embora de natureza etérea, a substância do perispírito é susceptível de certas modificações que o tornam perceptível à nossa vista. É o que se dá nas aparições. Ele pode até, por sua união com o fluido de certas pessoas, tornar-se temporariamente tangível, isto é, oferecer ao toque a resistência de um corpo sólido, como se vê nas aparições estereológicas ou palpáveis. A natureza íntima do perispírito não é ainda conhecida. (Vocabulário Espírita, págs. 50 e 51.) 
10. Qual o conceito inerente aos vocábulos pneumatofonia e pneumatografia?
Pneumatofonia (de pneuma e de phoné, som ou voz) designa a comunicação verbal e direta dos Espíritos sem o auxílio dos órgãos da voz. Pneumatografia (do gr. pneuma, ar, sopro, vento, espírito, e grafo, eu escrevo) designa escrita direta feita pelos Espíritos sem auxílio da mão do médium. (Vocabulário Espírita, págs. 51 e 52.)
11. Como podemos conceituar e classificar a psicografia?
Derivada do grego psyché, borboleta, alma, e graphô, eu escrevo, psicografia designa a transmissão do pensamento dos Espíritos por meio da escrita, pela mão de um médium. No médium escrevente a mão é o instrumento, mas sua alma, ou o Espírito nele encarnado, é o intermediário ou o intérprete do Espírito estranho que se comunica. A psicografia se diz imediata ou direta quando o próprio médium escreve valendo-se de um lápis ou caneta. A psicografia mediata ou indireta é quando o lápis ou caneta é adaptado a um objeto qualquer que serve, de certo modo, de apêndice à mão, como uma cesta, uma prancheta etc. (Vocabulário Espírita, pág. 55.)
12. Que é segunda vista? Existe relação entre essa faculdade e a vidência?
Segunda vista é a faculdade de ver os Espíritos e as coisas ausentes como se estas estivessem presentes. Aqueles que dela são dotados não veem pelos olhos, mas pela alma, que percebe a imagem dos objetos por toda parte aonde ela se transporta. Essa faculdade não é permanente. Certas pessoas a possuem sem saber: ela parece-lhes um efeito natural e produz o que denominamos visões. Segunda vista é também chamada de vidência. Vidente é, pois, o nome que se dá à pessoa que é dotada de segunda vista. (Vocabulário Espírita, págs. 60, 61, 69 e 70.)
13. Que é sonambulismo e qual é um dos sinais característicos do verdadeiro sonambulismo?
Proveniente do latim somnus, sono, e ambulare, marchar, passear, sonambulismo designa um dos estados de emancipação da alma, mais completo do que o que se verifica no sonho. O sonho é um sonambulismo imperfeito. No sonambulismo, a lucidez da alma, isto é, a faculdade de ver, que é um dos atributos de sua natureza, é mais desenvolvida. Ela vê as coisas com mais precisão e nitidez. O esquecimento absoluto no momento do despertar é um dos sinais característicos do verdadeiro sonambulismo, visto que a independência da alma em relação ao corpo é mais completa do que no sonho. (Vocabulário Espírita, págs. 63 a 65.)
14. Existe alguma relação entre o sono e os sonhos?
Sim. O sonho é um efeito da emancipação da alma durante o sono. Quando os sentidos ficam entorpecidos, os laços que unem o corpo e a alma se afrouxam. Esta, tornando-se mais livre, recupera, em parte, suas faculdades de Espírito e entra mais facilmente em comunicação com os seres do mundo incorpóreo. A recordação que ela conserva, ao despertar, do que viu em outros lugares e em outros mundos, ou em suas existências passadas, constitui o sonho propriamente dito. Sendo esta recordação apenas parcial, quase sempre incompleta e entremeada com recordações da vigília, resultam daí, na sequência dos fatos, soluções de continuidade que lhes rompem a concatenação e produzem esses conjuntos estranhos que parecem sem sentido, pouco mais ou menos como seria a narração à qual se houvessem truncado, aqui e ali, fragmentos de linhas ou de frases. (Vocabulário Espírita, págs. 65 e 66.)
15. Quantas e quais são as ordens e as classes que compõem a escala espírita, de acordo com o Espiritismo?
A escala espírita, que é um quadro das diferentes ordens de Espíritos, indicando os graus que eles têm de percorrer para chegar à perfeição, compreende três ordens principais:
1ª ordem: Espíritos puros;
2ª ordem: bons Espíritos;
3ª ordem: Espíritos imperfeitos. 
As ordens acima subdividem-se em nove classes, caracterizadas pela progressão dos sentimentos morais e das ideias intelectuais: 1ª classe - Espíritos puros; 2ª classe - Espíritos superiores; 3ª classe - Espíritos sensatos; 4ª classe - Espíritos sábios; 5ª classe - Espíritos benfazejos; 6ª classe - Espíritos neutros; 7ª classe - Espíritos pseudossábios; 8ª classe - Espíritos levianos; 9ª classe - Espíritos impuros. (Cap. I, Escala Espírita, págs. 74 a 83.) (Nota importante: Na versão definitiva d´O Livro dos Espíritos, publicada em março de 1860, ocorreu uma pequena alteração no tocante às classes que compõem a escala espírita.)
16. Quais as características principais de cada uma das ordens que compõem a escala espírita?
Os Espíritos puros, que formam a 1ª ordem, não sofrem nenhuma influência da matéria. Revelam superioridade intelectual e moral absoluta em relação aos Espíritos das outras ordens.
Os bons Espíritos, que compõem a 2ª ordem, apresentam predominância do Espírito sobre a matéria. Têm o desejo de praticar o bem. Sua qualificação e poder para realizar o bem estão em proporção ao grau a que chegaram: uns têm a sabedoria e a bondade; os mais adiantados reúnem o saber às qualidades morais. Não sendo ainda completamente desmaterializados, conservam mais ou menos, segundo sua classe, os vestígios da existência corporal, quer na linguagem, quer em seus hábitos.
Os Espíritos imperfeitos, que constituem a 3ª ordem, têm como característica a predominância da matéria sobre o espírito e propensão para o mal, a ignorância, o orgulho, o egoísmo e todas as más paixões que são as consequências disso. Nem todos são essencialmente maus; em alguns há mais leviandade, irreflexão e malícia do que verdadeira maldade. Uns não fazem o bem nem o mal; mas só pelo fato de não fazerem o bem, denotam sua inferioridade. Outros, ao contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos quando encontram ocasião de praticá-lo. (Cap. I, Escala Espírita, págs. 76, 80 e 82.) 


Observação:
Para acessar a Parte 1 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2019/11/instrucoes-praticas-sobre-as.html





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quarta-feira, 27 de novembro de 2019


Os Mensageiros

André Luiz

Publicamos neste espaço o estudo – sob a forma dialogada – de onze livros escritos por André Luiz, integrantes da chamada Série Nosso Lar. As obras selecionadas para o nosso estudo têm em comum a forma novelesca, que tanto sucesso alcançou no meio espírita desde que apareceu em 1944 o livro Nosso Lar.
Serão ao todo 960 questões objetivas distribuídas em 120 partes, cada qual com oito perguntas e respostas. Os textos são publicados neste blog sempre às quartas-feiras.
Concluído o estudo de Nosso Lar, a obra em foco é agora o livro Os Mensageiros, também psicografado pelo médium Chico Xavier.

Parte 2

9. As dificuldades no lar podem levar o médium ao fracasso?
Sim. Dois casos de pessoas que saíram de "Nosso Lar" preparadas para tarefa mediúnica no mundo, e, no entanto, fracassaram inteiramente, são exemplos disso. O caso de Mariana é um deles: ela sentia que deveria aplicar-se ao trabalho, mas Amâncio, seu esposo, nunca se conformou. Se os enfermos a procuravam no receituário comum, a neurastenia do marido se ampliava; se companheiros de doutrina a convidavam aos estudos, ele se revoltava, ciumento, e mobilizava as próprias filhas contra a esposa, que acabou afastando-se da tarefa mediúnica.
Uma outra entidade viveu experiência semelhante: também ela entendia agora não haver executado sua tarefa mediúnica em virtude da irritação que sentia pela indiferença dos familiares pelos serviços espirituais. Se o marido fazia ponderações contrárias a suas convicções, ela refutava. Não suportava qualquer parecer contrário ao seu ponto de vista em matéria de crença, incapaz de perceber a vaidade e a tolice de seus gestos. Discussões, insultos, conflitos tornavam-se constantes, e nesse clima ela sentia-se inutilizada para qualquer trabalho de elevação espiritual. (Os Mensageiros, cap. 9, pp. 52 a 54.)
10. Que faculdades tinha o médium Joel e por que fracassou?
Joel recebeu no Ministério do Esclarecimento um tratamento especial que lhe aguçou as percepções, partindo para a Terra com todos os requisitos indispensáveis ao êxito de suas obrigações. Contudo, deixando-se empolgar pela curiosidade doentia, Joel aplicou sua faculdade mediúnica somente para dilatar suas sensações. No quadro de suas tarefas mediúnicas estava a recordação de existências passadas como expressão indispensável ao esclarecimento coletivo dos semelhantes. Contudo, a excitação psíquica, aos primeiros contatos com o serviço, fez rodar o mecanismo de recordações adormecidas e ele lembrou sua penúltima existência, quando fora Monsenhor Alejandro Pizarro, nos últimos tempos da Inquisição Espanhola. Passou a procurar, então, cada um de seus companheiros de lutas religiosas, para reconstituir os passos de todos eles, por curiosidade, sem nenhum propósito benfazejo. Exigia, assim, notícias de bispos, de autoridades políticas e de padres amigos que haviam errado tanto quanto ele mesmo. As advertências dos amigos espirituais não cessaram. Sofredores batiam-lhe às portas. Seus companheiros tinham um abrigo de órfãos em projeto, um ambulatório que começava a nascer e serviços semanais de instruções evangélicas, nas noites de terças e sextas-feiras, mas Joel só queria saber de suas descobertas pessoais, sem qualquer proveito útil. Esquecia que o Senhor lhe permitia aquelas reminiscências, não para satisfazer-lhe a vaidade, mas para que entendesse a extensão de seus débitos e se entregasse à obra de esclarecimento e conforto aos feridos do mundo. Passou, assim, a existência de surpresa em surpresa, de sensação em sensação, transformando a lembrança em viciação da personalidade. Perdera a oportunidade de redenção e o pior era o estado de alucinação em que agora vivia. Com o erro, a mente desequilibrou-se e as perturbações psíquicas passaram a constituir-lhe doloroso martírio. (Obra citada, cap. 10, pp. 58 a 61.)
11. Que ensinamento colhemos do caso Belarmino?
Belarmino foi um doutrinador fracassado. Sua tragédia é igual à de todos os que conhecem o bem, mas não o praticam. Saíra de "Nosso Lar" com tarefa de doutrinação no campo do Espiritismo evangélico. Sua companheira Elisa acompanhou-o no serviço laborioso. Desde criança conhecera o Espiritismo cristão; mais tarde chegou à presidência de um grande grupo espiritista. Teve a seu dispor o concurso de oito médiuns dedicados. Descambou, porém, para o campo da experimentação científica, à procura de provas insofismáveis. Por vaidade, convidou pessoas para integrar seu grupo, tão somente em virtude da falsa posição que usufruíam na cultura e na pesquisa científica. Os resultados se tornaram pífios. A dúvida instalou-se em seu coração. Perdeu a serenidade de outro tempo. Da dúvida passou à descrença. Debalde Elisa o chamava para a esfera religiosa e edificante, mas ele passou a desprezar o próprio Evangelho, que tachava de velharia. Largou a atividade espírita, para dedicar-se à política humana e, desviado dos seus objetivos fundamentais, apegou-se ao dinheiro, transformando os próprios sentimentos. Quando desencarnou, tinha uma bela situação financeira no mundo e um corpo crivado de enfermidades, um palácio confortável de pedra e um deserto no coração. Voltara a ligar-se a antigos companheiros menos dignos de experiências carnais e colhia agora, na vida espiritual, tormentos, remorsos, expiações... (Obra citada, cap. 11, pp. 63 a 66.)
12. Que ocorreu na erraticidade a Monteiro e qual foi, segundo Veneranda, a causa do seu fracasso?
Monteiro também partiu de "Nosso Lar" em missão de entendimento espiritual, quase na mesma ocasião em que Belarmino voltou à carne. Monteiro tivera a própria mãe como orientadora. Sob seu controle, estavam alguns médiuns de efeitos físicos, de psicografia e de incorporação. Mas era tal o fascínio que o intercâmbio mediúnico exercia sobre ele, que acabou distraindo-se por completo quanto à essência moral da doutrina. Era um doutrinador implacável. Chegara a estudar longos trechos das Escrituras para utilizá-los na conversa com ex-sacerdotes católicos que compareciam às sessões mediúnicas em estado de ignorância e perturbação. Acendia luzes para os outros, preferindo, porém, os caminhos escuros para si, esquecendo a si mesmo. Pregava a paciência dentro do grupo, mas era impaciente lá fora. Concitava os espíritos à serenidade, mas repreendia sem indulgência as senhoras humildes que não continham o pranto de alguma criança enferma presente à reunião. E no comércio era inflexível com seus devedores. Passava os dias no escritório estudando a melhor forma de perseguir os clientes em atraso, e à noite ia ensinar o amor aos semelhantes, a paciência e a doçura, exaltando o sofrimento e a luta como estradas benditas de preparação para Deus. Seu fracasso foi completo e, devido a isso, voltou à vida espiritual qual demente necessitado de hospício. O raciocínio pedia socorro divino, mas o sentimento agarrava-se a objetivos inferiores. Viu-se, assim, rodeado de Espíritos malévolos que lhe repetiam longas frases de suas sessões mediúnicas. Eles, irônicos, lhe recomendavam serenidade, paciência e perdão e perguntavam por que ele não se desgarrava do mundo, estando já desencarnado. A revolta tomou conta de sua alma e, mais tarde, quando já estava recolhido em "Nosso Lar", exigiu explicações para o seu estado, visto que não se considerava fracassado. Veneranda explicou-lhe a causa do seu fracasso: "Monteiro, meu amigo, a causa da sua derrota não é complexa, nem difícil de explicar. Entregou-se você excessivamente ao Espiritismo prático, junto dos homens, nossos irmãos, mas nunca se interessou pela verdadeira prática do Espiritismo junto de Jesus, nosso Mestre". (Obra citada, cap. 12, pp. 67 a 71.)
13. Muitos médicos fracassam em sua tarefa na Medicina?
Sim. Diz André que, no que concerne à Medicina, os ex-médicos em bancarrota espiritual são inúmeros. Vicente relatou então o caso de um amigo, exímio cirurgião, que, atraído pelas aquisições monetárias, caiu desastradamente. Nos dias de grandes negócios financeiros, sua mente se deslocava da tarefa médica em busca dos interesses materiais. Não fosse a proteção espiritual, essa atitude teria comprometido oportunidades vitais de muita gente. A colaboração do médico tornara-se quase nula e muitos que desencarnaram nas intervenções cirúrgicas, notando sua irresponsabilidade, atribuíram-lhe suas mortes físicas, votando-lhe ódio terrível e dois deles, mais ignorantes e maldosos, o esperaram no limiar do sepulcro para atormentá-lo. (Obra citada, cap. 13, pp. 72 a 76.)
14. Que caminho o grupo de Aniceto seguiu para ir de “Nosso Lar” à crosta terrestre?
O grupo seguiu um trajeto diferente e, por isso, não utilizou a estrada livre mantida por ordem superior para as atividades normais dos trabalhos espirituais e o trânsito dos irmãos esclarecidos, em vésperas de reencarnação. À medida que eles caminhavam, a atmosfera começava a pesar muitíssimo, porque penetravam a esfera de vibrações mais fortes da mente humana. Estavam a grande distância da crosta, mas já podiam identificar a influenciação mental da Humanidade encarnada, envolvida nos combates da 2ª Grande Guerra. Mergulhavam num clima estranho, onde predominavam o frio e a ausência de luz solar. A topografia era um conjunto de paisagens misteriosas, lembrando filmes fantásticos do cinema terrestre. Picos muitos altos, vegetação esquisita, aves de aspecto horripilante... Rija ventania soprava em todas as direções. Aniceto explicou que aquele mundo é a continuação da Terra, que os olhos humanos não podem ver, visto que a percepção humana não consegue apreender senão determinado número de vibrações. No meio das sombras, alguns vultos pareciam fugir apressados, confundindo-se nas trevas das furnas próximas. (Obra citada, cap. 14 e 15, pp. 80 a 86.)
15. Na viagem até à Crosta, o grupo utilizou a volitação?
No início, sim, o pequeno grupo valeu-se da volitação. Mas depois de um certo tempo a volitação tornou-se difícil e o grupo passou a caminhar. (Obra citada, cap. 15, págs. 82 a 86.)
16. Que aspectos do Posto de Socorro ligado a “Campo da Paz” chamaram a atenção de André Luiz?
Tudo ali chamou a atenção de André, que diz que pesados muros cercavam o Posto e, dentro dele, pomares e jardins maravilhosos perdiam-se de vista. A sombra ali já não era tão intensa. Eles se sentiam banhados em suavidade crepuscular, graças aos grandes focos de luz radiante. Pavilhões de vulto alinhavam-se como se estivessem diante de prodigioso educandário. Árvores senhoris, semelhantes ao carvalho, se enfileiravam. Havia mais luz no céu e o vento era mais fagueiro. Aniceto explicou que a paz refletia ali o estado mental dos que viviam naquele pouso de assistência fraterna. "A Natureza é mãe amorosa em toda parte, acentuou o instrutor, mas cada lugar mostra a influenciação dos filhos de Deus que o habitam." (Obra citada, cap. 15, pp. 85 e 86.)



Observação:
Para acessar a Parte 1 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2019/11/os-mensageiros-andre-luiz-publicamos.html

  




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terça-feira, 26 de novembro de 2019




Como tocar um coração

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

As pessoas são dotadas de uma essência eterna pertencente a uma força maior, mas cada uma, ainda assim, dotada de sua particularidade. Então é necessário saber como tocar o outro por meio de palavras ou ações. E quanto a isso, basta agir como se fizesse a si mesmo. Se somos iguais perante o Criador, como não agirmos, pelo menos, com um início disso.
Há situações bastante delicadas quanto ao tratamento pessoal. Se pertencemos a um grupo fraterno – porém, de fato, com certo prematuro desenvolvimento –, como nos apresentarmos com orgulho ou diferenciação aos outros do grupo? Lembremo-nos de que somos da mesma essência e diplomas, posições sociais, bens materiais não darão direito a nenhum apequenamento do outro ser. Sejamos simplesmente pessoas tocando pessoas. 
Ninguém possui o direito de ferir alguém em âmbito algum da vida. Ninguém é melhor se possui hierarquia social, sem esquecermo-nos de que o que é da matéria na materialidade ficará e o que é eterno com o espírito permanecerá. É tão aconchegante quando palavras e atitudes amorosas tocam o nosso coração. De repente, feridas cicatrizam, dores desaparecem e uma enorme vontade de viver nos é presenteada.
Quantas vezes, um sorriso vem e nos desacorrenta dos amargores, um gesto singelo de amor ocorre inesperadamente no dia, um homem simples nos dá a maior lição de vida. E tocando um coração da mesma maneira que o nosso desejaria ser tocado, vamos conquistando flores para os eternos jardins.
E ao amanhecer e anoitecer, refletirmos que o toque em um coração deve ser feito com enorme delicadeza e respeito, pois nunca se sabe o que ele já viveu. Fará grande diferença, sim, todo o bem que se puder proporcionar.
Simplesmente nos lembremos: a outra pessoa é essência de Deus assim como nós.  

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