quarta-feira, 30 de setembro de 2020

 

Libertação

 

André Luiz

 

Parte 12

 

Estamos publicando neste espaço o estudo – sob a forma dialogada – de onze livros escritos por André Luiz, integrantes da chamada Série Nosso Lar.

Concluído o estudo dos cinco primeiros livros da Série, prosseguimos nesta data o estudo da obra Libertação, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada originalmente em 1949 pela Federação Espírita Brasileira.

Eis as questões de hoje:

 

89. Como se processa em nós o salto qualitativo?

"A aquisição das virtudes iluminativas" – explicou Matilde – "não constitui serviço instantâneo da alma, suscetível de efetuar-se de momento para outro." "Somos, cada qual de nós, um ímã de elevada potência ou um centro de vida inteligente, atraindo forças que se harmonizam com as nossas e delas constituindo nosso domicílio espiritual." Toda pessoa, encarnada ou não, respira sempre entre os raios de vida superior ou inferior que emite, ao redor dos próprios passos. As energias que exteriorizamos nos definem muito mais que as palavras; por isso, o retorno à carne nada vale sem o conhecimento das obrigações que competem ao Espírito, ante a Justiça Divina. A responsabilidade é a maior força capaz de nos socorrer nos círculos de matéria densa e se traduz em tendência nobre, a persistir conosco. (Libertação, cap. XVIII, pp. 230 e 231.)

90. O que na vida é indispensável?

A lição veio de Matilde, que disse aos que a ouviam que a vida não pode resumir-se a mero sonho, como se a reencarnação constituísse simples processo de anestesia da alma. É indispensável que nos refaçamos, aprimorando o tom vibratório de nossa consciência, alargando-a para o bem supremo e iluminando-a à claridade renovadora do Divino Mestre. "Uma existência entre os homens, por mais humilde, para nós outros é acontecimento importante demais para que o apreciemos sem maior consideração." (Obra citada, cap. XVIII, pp. 232 e 233.)

91. Como devemos agir para com os irmãos que peregrinam desditosos, entre pesadelos e aflições inomináveis?

De novo foi Matilde quem deu a orientação dizendo-nos: “Abre teu coração para eles. Começarás ajudando-os a enxergar a senda regenerativa, alimentando-os com esperanças e ideais novos e atraindo-os ao trabalho de sublimação, pelo esforço, na constante aplicação do bem. Sofrer-lhes-ás as injúrias, os remoques, as incompreensões, mas descobrirás um meio de ampará-los com eficiência e brandura”. “Depois de semelhante sementeira, principiarás a recolher as bênçãos de paz e de luz, porquanto o Espírito que ensina com amor, embora delituoso e imperfeito, acaba aprendendo as mais difíceis lições da responsabilidade que adquire, transmitindo a outros revelações salvadoras que lhe não pertencem." (Obra citada, cap. XVIII, pp. 233 e 234.)

92. Que recurso podemos usar para fugirmos definitivamente ao mal?

O recurso para tal finalidade é o apoio constante no Bem Infinito. Ninguém deve admitir o acesso fácil aos tesouros eternos. "O Senhor criou leis imperecíveis e perfeitas para que não alcancemos o Reino da Divina Luz ao sabor do acaso, e Espírito algum trairá os imperativos sábios do esforço e do tempo”, asseverou Matilde. “Quem pretende a colheita de felicidade no século vindouro, comece desde agora a sementeira de amor e paz." (Obra citada, cap. XVIII, pp. 235 e 236.)

93. É fácil vencer na experiência terrestre?

Não. Foi isso que Matilde procurou dizer à jovem que seria, em breve tempo, sua futura mãe: "Margarida, viver no corpo terrestre, entendendo os deveres divinos que nos cabem, não é tão fácil, ante a glória infinita que em companhia dele podemos recolher. Todos possuímos culposo pretérito a redimir. É imperioso reconhecer, todavia, que, se a experiência humana pode ser doloroso curso de renunciação pessoal, é também abençoada escola em que o Espírito de boa vontade pode alcançar culminâncias". “A dor, o obstáculo e o conflito são ferramentas abençoadas de melhoria.” (Obra citada, cap. XIX, pp. 239 a 241.)

94. Que virtudes ensinadas por Jesus ganharam destaque nos conselhos de Matilde à jovem Margarida?

Embora breves, os conselhos de Matilde eram revestidos de grande sublimidade, porque neles se dava merecido destaque à humildade e à caridade, as maiores virtudes segundo Jesus. (Obra citada, cap. XIX, pp. 241 e 242.)

95. Que disse Matilde sobre o valor do tempo?

Matilde disse o seguinte a Margarida: "O tempo é valioso, minha filha, e não podemos menoscabá-lo, sem grave prejuízo para nós mesmos". Ela aludia assim à importância da reencarnação, que nem sempre é simples processo regenerativo, embora constitua, na maioria das vezes, recurso corretivo de Espíritos renitentes na desordem e no crime. (Obra citada, cap. XIX, pp. 243 a 245.)

96. Que pedido fez Matilde à sua futura mãe?

Matilde pediu a Margarida: "Não me recebas, nos braços, por boneca mimosa e impassível. Adornos externos nunca trazem felicidade legítima ao coração, e, sim, o caráter edificado e cristalino, base segura de que se expande a boa consciência". Elucidou então que a árvore para produzir requer o carinho e a assistência constante do agricultor, mas somente se fortalecerá sob a temperatura atormentadora da canícula, debaixo de aguaceiros salutares ou aos golpes da ventania forte. "A luta e o atrito – disse-lhe Matilde – são bênçãos sublimes, através das quais realizamos a superação de nossos velhos obstáculos.” (Obra citada, cap. XIX, pp. 245 e 246.)

 

Observação:

Para acessar a Parte 11 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/09/libertacao-andre-luiz-parte-11-estamos.html

 

  

 

 

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terça-feira, 29 de setembro de 2020

 


Como tornar-se um pássaro

 

CÍNTHIA CORTEGOSO

cinthiacortegoso@gmail.com

De Londrina-PR

 

(O primeiro passo é aliviar o coração.)

Penso que os pássaros sejam o sinônimo da liberdade que um dia desejamos alcançar. Eles voam para altos ares, ou médios ou ainda dão rápidos rasantes tentando nos encorajar como se dissessem: vocês também podem voar. Mas penso, como poderíamos? Outros pássaros, nos muros ou galhos baixos, nos olham como se também dissessem: libertem-se dos fardos carregados em si.

E olho o bem-te-vi que parado canta tão livre e lindamente como se tentasse nos mostrar como a vida pode ter melodia e leveza. Observo, com tanta alegria, os pássaros e mais entendo como podemos sê-los mais que só duros humanos. Os belos pássaros não pensam em acumular bens, nem a custo algum saciar os seus supérfluos desejos, muito menos ferir o seu próximo ou pôr em risco o meio no qual vivem. Eles querem conhecer novos céus e lugares, adoram ver o bando aumentar, pois reconhecem o aconchego e a segurança que isso faz nascer.

Nenhuma criatura consegue ser feliz sem liberdade, aliás, quem pode estar bem com amarras no corpo ou na alma? Amarras essas de inúmeras formas: mágoa, perdão negado, palavra não dita ou ofensiva, ausência de carinho, negação do amor, remorso criado pelo orgulho ferido, egoísmo doído, respeito ausente, gratidão recolhida. É verdade que esses desequilíbrios, os pássaros não têm, pois se assim os tivessem não seriam capazes dos maravilhosos desenhos e voos nos céus. Eles são leves.

Se o tempo que nos pertence é o de um dia de cada vez, então que sejamos o nosso melhor como se houvesse realmente apenas as 24 horas presentes. E como tanto já ouvimos de pessoas que, em situações críticas na vida, imploraram por apenas mais um dia para se reconciliarem com alguém ou resolverem alguma pendência façamos com bom uso o exemplo e aproveitemos com agradecimento cada dia sem tamanha preocupação com os acontecimentos do passado nem com os do futuro, observemos a água que corre no rio.

E quando os nossos fardos forem aliviados, então iniciaremos o aprendizado de como nos tornarmos pássaros.

   

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/

 

 

 

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segunda-feira, 28 de setembro de 2020

 


Muitas pessoas no meio espírita têm dificuldade na utilização correta da locução em que pese.

Podemos distinguir no seu uso dois casos:

1º caso:

Quando se refere a alguém, a alguma pessoa determinada, a locução é invariável e exige como complemento a preposição “a”, que pode estar ou não acompanhada de artigo:

- Em que pese a ela, não farei o negócio.

- Em que pese a meu pai, continuarei solteira.

- Em que pese aos palmeirenses, o Verdão não tem Mundial.

- Em que pese ao Dr. Setúbal, não iremos à festa.

A locução nestes casos é invariável porque está subentendido na frase o vocábulo “isto” antes da forma verbal “pese”.

É como se escrevêssemos:

- Em que isto pese a ela, não farei o negócio.

- Em que isto pese a meu pai, continuarei solteira.

- Em que isto pese aos palmeirenses, o Verdão não tem Mundial.

- Em que isto pese ao Dr. Setúbal, não iremos à festa.

2º caso:

Quando se refere a coisas, a objetos, e não a pessoas, a locução é variável e rejeita a preposição “a”:

- Em que pesem os argumentos da defesa, o réu se encontra perdido.

- Em que pese sua falta de escrúpulos, ele sempre escapa de punição.

- Em que pesem as críticas recebidas, a peça tem sido um sucesso.

- Em que pese o desejo dos torcedores, Diniz continuará como técnico.

Lembramos, por fim, que a pronúncia correta da locução é em que pêse e em que pêsem.

Se o leitor se recordar de “pêsames” e de “voto de pesar” não terá dificuldade em acertar a pronúncia.

O que é preciso é evitar coisas do tipo “em que pése”, “em que pésem” ou esta forma horrível que já ouvimos em palestra: “no que pésem”.

 

 

 

 

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domingo, 27 de setembro de 2020

 


A importância do estudo e da leitura no progresso humano

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

Os espiritistas não ignoram que é pensamento corrente entre os estudiosos do Espiritismo que o hábito da leitura e o estudo continuado constituem providências importantes na vida de todos nós, sobretudo se tivermos tarefas a cumprir nas diferentes áreas de trabalho que se apresentam ao trabalhador espírita.

Várias são as razões que justificam esse pensamento.

A primeira decorre do fato de que geralmente esquecemos boa parte do que lemos ou estudamos no passado. A persistência nos estudos e a leitura de boas obras neutralizam esse esquecimento e concorrem até mesmo para que tal não se dê.

A segunda razão prende-se à verificação de que toda vez que se lê um livro percebem-se nele nuanças antes ignoradas. Um jovem de 20 anos que leia “O Livro dos Espíritos” não verá nele as implicações e os enfoques que certamente deduzirá quando o reler aos 45 anos de idade. E o mesmo se dará quando voltar a ler a citada obra aos 60 anos.

A terceira razão, por sinal óbvia, diz respeito à circunstância de que sobre os mais diferentes assuntos surgem de tempos em tempos obras novas, dotadas de informações e análises que não encontramos em publicações mais antigas. Exemplo disso são os livros escritos por intermédio do médium Divaldo P. Franco pelo Espírito de Manoel Philomeno de Miranda, os quais enriqueceram de forma notável o que se sabia até então acerca dos temas mediunidade, obsessão e distúrbios psíquicos.

Pesquisa divulgada pela National Endowment for the Arts, uma fundação americana dedicada à promoção da cultura, revela que aquele que lê regularmente por prazer tem uma vida muito mais ativa e bem-sucedida do que aqueles que preferem passar o tempo vendo televisão ou dedicando-se a atividades que não exigem raciocínio. Para os que cultivam o hábito da leitura – assevera a pesquisa – a vida é uma sucessão de experiências novas e de ampliação de horizontes.

Mark Edmundson, professor da Universidade de Virgínia e autor do livro “Por que Ler”, entende que a leitura é a segunda oportunidade que a vida oferece para o nosso crescimento pessoal. Durante a infância e a adolescência, diz ele, passamos por um processo de socialização e aprendemos como agir de acordo com o senso comum. Depois, é a leitura que nos permite desenvolver ideias próprias, conceitos e valores. Sem ela, afirma Edmundson, o homem continua como um carneiro que apenas segue o rebanho.

Outra pesquisa realizada oportunamente por uma equipe de psicólogos da Universidade York, no Canadá, trouxe novas evidências à importância da leitura e do estudo para o aperfeiçoamento pessoal. Uma das consequências do hábito de ler e estudar é, de acordo com a conclusão da pesquisa, o retardamento dos efeitos do envelhecimento no cérebro, fato que confirma algo que especialistas da área médica vêm ensinando há algum tempo, ou seja, que exercitar a mente por meio da leitura ajuda a prevenir o mal de Alzheimer, uma doença degenerativa que atinge especialmente os idosos.

No meio espírita é conhecida a lição transmitida por Emmanuel na questão no 204 de sua obra “O Consolador”, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier: “O sentimento e a sabedoria são as duas asas com que a alma se elevará para a perfeição infinita”. E ambas, observa o nobre instrutor, são imprescindíveis ao progresso, o que comprova, de forma inequívoca, a importância do estudo e da leitura no processo de crescimento da criatura humana em busca da perfeição possível.

  

 

 

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sábado, 26 de setembro de 2020


 

Os intelectuais e o Espiritismo

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília-DF

 

Outro dia, estive conversando on-line com uma amiga espírita muito culta, que coordena, junto com jovem dedicado, um Grupo de Estudos sobre Literatura e Espiritualidade (GPLE) numa grande universidade, que me aceitou como membro. Currículo de alto nível, minha amiga, cujo ideal é também o meu, explicou-me que seu grande objetivo é propor, nos meios acadêmicos, o estudo da literatura espiritualista aplicada.

Após muitos anos de estudo e divulgação das teorias marxistas, minha amiga percebeu que isso não traz felicidade a ninguém. Descobriu o Espiritismo e... oh! maravilha. Encontrou nesta Doutrina uma vasta literatura na área da ciência, da filosofia e da aplicação moral, com a explicação para tudo aquilo que Marx, Engels e outros ateus negam, por se aterem à teoria baseada nos sentidos míopes do ser humano, neste plano grosseiro da matéria, que não é o principal, na vida do Espírito eterno.

Mas não se trata aqui apenas de teoria. Os fatos vêm confirmando, como temos dito, a realidade em que vivemos. Não existe morte, apenas mudança de estado. Nosso corpo não passa de um invólucro temporário para o Espírito, que a ele se liga por um cordão invisível aos olhos e instrumentos humanos, chamado perispírito.

Dialogando também on-line com outro douto amigo, ouvi deste que, na inauguração do semestre da universidade onde eles lecionam, minha amiga deixou sem argumentos uma colega que desejava refutar suas propostas de uma literatura prática, que restaura o conceito de arte como manifestação da beleza e da divindade. Foi quando demonstrou que possui grande conhecimento das obras desses criadores do materialismo histórico-dialético, mas percebeu que estes não resolvem o problema da miséria e da desigualdade no mundo.

Isso me fez recordar, novamente, a frase de Pietro Ubaldi, grande médium intuitivo e filósofo italiano. Dizia ele o seguinte, que o professor de Filosofia Alexsandro publicou em seu blog: "Nem esquerda, nem direita, nem centro. O que o mundo precisa é de espiritualidade". Quando nos espiritualizamos, percebemos que não é a tal "luta de classes" que vai resolver o problema das desigualdades sociais no mundo, pois "violência gera violência". O que é preciso é isso mesmo, que Ubaldi diz: espiritualização, que deve iniciar-se por uma educação plena, desde as primeiras idades do ser humano: intelectual e espiritual (ética e moral).

Infelizmente, nem todos os intelectuais assumem sua fé no meio acadêmico. Têm medo de passar por ignorantes, mentirosos ou fanáticos. Então, muitos dizem ser adeptos de Marx, Engels e dos propagadores da excelência de suas teorias, mas diga-lhes que vão morrer dentro de poucas horas, para ver se não se lembram de Deus? Só os psicopatas, que Nietzsche me perdoe, continuam negando, nessa hora, o Criador do Universo e de tudo que nele existe.

Algumas dessas pessoas fingem acreditar no que dizem, mas no fundo de sua alma sabem que não é assim. No íntimo, percebem que a vida humana não pode ser apenas um passeio de breve duração pela Terra. Nada aqui no mundo é para sempre, como nos induz a crer o título de obra do conhecido escritor português Vergílio Ferreira: Para Sempre!

O que percebo é que há muita teoria no mundo e pouco amor. No fundo de sua alma, repito, ninguém quer extinguir-se no nada nietzschiano. Lembro-me de Oscar Niemeyer, que morreu com 104 anos. Sempre foi adepto de Marx e da utopia do comunismo como remédio para todos os males. Niemeyer morreu dizendo-se ateu. No entanto, dir-se-á que por atavismo, ao lhe ser perguntado, numa entrevista de emissora de TV sobre o que achava de ainda estar vivo com mais de cem anos de idade, pouco tempo antes de desencarnar, sua resposta foi a seguinte: — Seja o que Deus quiser.

Não demorou muito, esse gênio da arquitetura foi abençoado por Deus com sua partida para a vida verdadeira: a espiritual, pois ninguém morre, só troca de invólucro roto por outro revigorado e novo, em nossa infinita romagem rumo à perfeição, como nos provou Jesus, o modelo sublime, na chamada ressurreição.

 

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 

 

 

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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

 


O Espiritismo perante a Ciência

 

Gabriel Delanne

 

Parte 28

 

Continuamos o estudo do clássico O Espiritismo perante a Ciência, de Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la Science.

Nosso objetivo é que este estudo possa servir para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. O Espírito de Katie King, quando materializado, apresentava batimentos cardíacos?

B. Que idade tinha a médium Florence Cook à época das experiências com Katie King?

C. Que diferença existe entre o conceito de fluido dado pela Física e o conceito que o Espiritismo dá a essa palavra?


Texto para leitura

 

643. Eis outro ponto a destacar nas experiências de Crookes com respeito às materializações de Katie King: “Uma noite contei as pulsações de Katie: seu pulso batia regularmente 75, enquanto o de Miss Cook, poucos instantes depois, atingia 90, sua cifra habitual. Apoiando o ouvido ao peito de Katie, pude escutar um coração bater no interior e suas pulsações eram ainda mais regulares que as do coração de Miss Cook, quando, depois da sessão, ela me permitiu a mesma experiência. Examinados, do mesmo modo, os pulmões de Katie se mostraram mais sãos que os da médium, porque, no momento, Miss Cook seguia um tratamento médico, em virtude de forte resfriado”. 

644. O dia em que Katie despediu-se do grande sábio foi por ele devidamente registrado: “Quando chegou o momento de Katie dizer-nos adeus, pedi-lhe o favor de ser o último a vê-la. Por isso, depois de chamar cada pessoa da sociedade e dizer-lhe palavras em particular, deu ela instruções gerais sobre nossa direção futura e a proteção que deveria ser dispensada a Miss Cook. Destas instruções, que foram estenografadas, cito a seguinte: Crookes sempre agiu muito bem, e é com a maior confiança que deixo Florence em suas mãos, perfeitamente certa de que ele não abusará da confiança que nele deposito. Em todas as circunstâncias imprevistas, ele poderá fazer melhor do que eu mesma, porque ele tem mais força. Terminadas suas instruções, convidou-me a entrar consigo no gabinete e permitiu-me que aí ficasse até o fim. Depois de fechar a cortina, conversou comigo algum tempo, e atravessou o quarto para ir onde estava Miss Cook, que jazia inanimada no chão. Inclinando-se sobre ela, Katie tocou-a e disse-lhe: – Acorde, Florence, acorde. É preciso, agora, que eu a deixe. Miss Cook despertou e, debulhada em lágrimas, suplicou a Katie que ficasse ainda algum tempo. – Querida, não o posso mais: está cumprida minha missão. Que Deus lhe abençoe. Conversaram durante algum tempo, até que as lágrimas da Srta. Cook a impediram de falar. Atendendo às instruções de Katie, atirei-me para segurar Miss Cook que estava prestes a cair e soluçava convulsivamente. Olhei em tomo, mas Katie e sua veste branca haviam desaparecido”. 

645. Com respeito à médium, Crookes escreveu o seguinte: “As sessões quase diárias, com que Miss Cook me favoreceu ultimamente, esgotaram-lhe as forças. Quero que se saiba o muito que lhe devo pela sua boa vontade, durante as experiências. Submetia-se de boa mente a qualquer prova que lhe propunha. Sua palavra é franca e nunca lhe notei a menor aparência do desejo de enganar. Não creio que ela pudesse levar uma fraude ao fim e, se o tentasse, seria logo descoberta, porque tal maneira de proceder é inteiramente estranha à sua natureza. E quanto a pensar que uma inocente colegial de quinze anos fosse capaz de conceber e sustentar, durante 3 anos, com pleno êxito, tão gigantesca impostura, e que durante esse tempo se tivesse submetido a todas as imposições que dela se exigiram, suportado as mais minuciosas pesquisas, deixando ser inspecionada, não importava o momento, antes ou depois das sessões; que tivesse obtido mais êxito, ainda, em minha casa que na de seus pais, sabendo que ela ia ali, expressamente, para se submeter a rigorosos ensaios científicos; imaginar que a Katie King dos três últimos anos é o resultado de uma impostura, faz isto mais violência à razão e ao bom senso do que acreditar que ela é o que afirma ser”.

646. Comentando tais fatos, Delanne lembra que o Espírito de Katie King materializou-se, não mais em luz duvidosa, mas em pleno brilho da luz elétrica. Seu corpo era tão real e tangível como o de Crookes, visto que se lhe ouvia o bater do coração. Temos, pois, que admitir a possibilidade da materialização temporária dos Espíritos; mas uma condição já se deduz: é preciso um médium. Sempre que observamos casos de aparições, podemos, sem receio, afirmar que há um médium próximo.

647. Quando interrogamos os Espíritos sobre a natureza do perispírito, eles nos respondem que este é tirado do fluido universal do planeta que habitamos. À primeira vista parece que isto pouca coisa nos adianta, mas, estudando a fundo o assunto, vamos ver que eles estão certos.

648.Os Espíritos entendem por fluido universal uma matéria primitiva, da qual provêm todos os corpos por transformações sucessivas. Para que se justifique esta concepção, é preciso demonstrar: 1º - que a matéria pode existir em estados diferentes, simplificando-se sem cessar até o estado inicial; 2º - que a infinita variedade dos corpos pode ser reconduzida a uma única matéria.

649. Estabelecidas cientificamente estas proposições, a existência do fluido universal não será mais contestável. A primeira pergunta a fazer-se é a seguinte: Há fluidos? É quase impossível duvidar, depois das experiências de Crookes e dos fatos já narrados, mas que se deverá entender por esta expressão? Em física, fluidos são os corpos líquidos e gasosos, mas aqui devemos dar a esta palavra uma significação especial, que é útil bem definir. Chamamos fluidos aos estados da matéria em que ela é mais rarefeita do que no estado conhecido sob o nome de gás. É justificada essa concepção?

650. Para responder, escutemos Faraday. Eis como ele se expressava em 1816: “Se imaginarmos um estado da matéria tão afastado do estado gasoso quanto é este do estado líquido, tendo em conta, bem entendido, o acréscimo de diferença que se produz à medida que o grau da mudança se eleva, poderemos, talvez, desde que nossa imaginação chegue até aí, conceber mais ou menos a matéria radiante; e, assim, como ao passar do estado líquido ao gasoso, a matéria perde grande número de suas qualidades, mais ainda deve perder nesta última transformação”.

651. Essa arrojada concepção foi desenvolvida pelo grande físico nos anos seguintes e pode-se ler, nas suas cartas, compiladas por Bence Jones, este trecho: “Posso assinalar aqui uma progressão notável nas propriedades físicas que acompanham as mudanças de estado; talvez ela baste para levar os espíritos inventivos e ousados a acrescentar o estado radiante aos outros estados da matéria já conhecidos. À medida que nos elevamos do estado sólido ao líquido e deste ao gasoso, vemos diminuir o número e a variedade das propriedades físicas dos corpos; cada estado apresenta menos algumas que o precedente. Quando os sólidos se transformam em líquidos, todas as graduações de rijeza e moleza cessam necessariamente de existir; todas as formas cristalinas ou outras desaparecem. A opacidade ou a cor são substituídas, muitas vezes, por uma transparência incolor e as moléculas adquirem, por assim dizer, uma mobilidade completa. Se considerarmos o estado gasoso, vemos aniquilados grande número de caracteres evidentes dos corpos. As imensas diferenças que existem entre seus pesos desaparecem quase inteiramente. Apagam-se os traços das diferentes cores que tinham. Desde então todos os corpos ficam transparentes e elásticos. Eles não formam mais que um mesmo gênero de substâncias, e as diferenças de rijeza, opacidade, cor, elasticidade e forma, que tornam quase infinito o número dos sólidos e dos líquidos, são desde então substituídas por fracas variações de peso e alguns matizes sem importância. Assim, para os que admitem o estado radiante da matéria, a simplicidade dos problemas que caracterizam esse estado, longe de ser uma dificuldade, é antes um argumento em favor de sua existência. Verificaram até agora um desaparecimento gradual das propriedades da matéria, à medida que esta se eleva na escala das formas, e ficariam surpresos se esse efeito cessasse no estado gasoso. Viram a Natureza fazer os maiores esforços para simplificar-se em cada mudança de estado e pensam que, na passagem do estado gasoso ao radiante, esse esforço deve ser mais considerável”.

652. O que era hipótese para Faraday é certeza para nós. Crookes, demonstrando a existência da matéria radiante, pôs fora de dúvida a existência dos fluidos. Os corpos, com efeito, não mudam bruscamente de estado, não passam instantaneamente do sólido para o líquido; a maior parte ocupa uma posição intermediária, chamada estado pastoso. Da mesma maneira, os líquidos não se transformam em gás, sem que seja possível apreciar as gradações que separam esses dois estados. Os vapores são disso um exemplo. Mas a diferença entre líquidos e gases é ainda diminuída pelas experiências feitas por Charles Andrew, que mostrou que, em certos corpos, há mistura de estado líquido e gasoso, de maneira a não se poder distinguir se o corpo pertence a um ou ao outro estado. A lei de analogia nos leva, pois, a admitir que entre os gases e o estado radiante existe matéria em diferentes estados de rarefação, desde os mais grosseiros, que se aproximam dos gases, aos mais puros que estão no estado radiante.

653. Se mostrarmos que as propriedades químicas seguem a mesma ordem de progressão decrescente, à medida que se sobe na escala das famílias químicas, dizendo de outro modo, se fizermos ver que pode-se supor que não existe senão uma só matéria, da qual derivam todos os corpos que conhecemos, por transformações sucessivas, estaremos bem perto de tocar o fluido universal de que nos falam os Espíritos. 

654. Vejamos se a unidade de matéria é uma ideia aceitável. O sábio químico Wurtz escreveu na Teoria Atômica: “A ideia da unidade de matéria é renovada, proveniente de Descartes, porquanto é uma verdade que, quando se trata do eterno e insolúvel problema da matéria, o espírito humano parece girar dentro de um círculo, perpetuando-se as mesmas ideias através dos tempos e apresentando-se sob formas rejuvenescidas às inteligências de elite que têm procurado sondar este problema”.

655. Muitos sábios modernos foram levados, por suas pesquisas, à conclusão de que se deve admitir a unidade da matéria. Examinando, com efeito, as relações que existem entre as diferentes famílias químicas dos corpos, seremos obrigados a aplicar-lhes, por analogia, as mesmas leis transformistas das famílias naturais dos animais. É que temos, em nossa época, uma invencível tendência para a síntese e para a simplificação. Tanto quanto os antigos multiplicavam as causas, nós temos hoje o cuidado de eliminá-las. Mas não basta supor, é preciso ter provas.

656. Uma das mais fortes que se podem fornecer é a que se chama, em química, estados alotrópicos. Certas substâncias podem ter propriedades inteiramente diferentes, sem mudar de natureza, quimicamente falando. Assim, o fósforo pode apresentar aspecto vermelho, branco ou preto, conforme a maneira de prepará-lo. O que há de mais notável é que o fósforo vermelho e o fósforo ordinário apresentam tais diferenças que seríamos tentados a considerá-los distintos; analisados, entretanto, pelos mais precisos métodos, não apresentam diferença alguma: são sempre fósforo. A transformação se opera expondo-se no vazio barométrico o fósforo branco à ação dos raios do Sol; cremos que nenhum caso melhor demonstraria que as propriedades dos corpos são devidas apenas ao arranjo dos átomos que os estruturam. O ozônio é também uma modificação alotrópica do oxigênio. O carbono mostra tão múltiplos aspectos, propriedades tão diferentes nos alotrópicos que forma, que só é reconhecido pela sua infusibilidade e pela propriedade de produzir ácido carbônico, queimando no oxigênio. Ele se apresenta, a princípio, cristalizado, é o diamante; depois sob a forma de grafite, antracite, coque, pó de sapato, carvão... Todos esses corpos têm composição idêntica, mas apresentam propriedades diferentes, segundo o modo de reunião de seus átomos. Somos, pois, induzidos a crer que só existe uma única matéria, revestindo, entretanto, aspectos diferentes. Eis uma observação que demonstra estarmos com a verdade.

657. Tratando da análise espectral, Zoborowski refere as seguintes experiências: Com o fim de determinar as temperaturas das diversas partes do Sol, tomaram-se fotografias dos espectros dessas diferentes partes. Cada corpo em combustão assinala, como se sabe, sua presença, na luz decomposta em seus elementos ou espectral, por raias particulares. Demonstrou-se que “o alargamento das raias da platina é correlativo à elevação da temperatura”. Foi, assim, possível tirarem-se, com proveito, fotografias dos espectros de grande número de estrelas. E, de conformidade com a hipótese de Laplace, verificou-se que esses astros estão em diferentes estados de condensação. As estrelas brancas, mais ardentes, contêm hidrogênio em abundância e em alta pressão; as estrelas brilhantes se aproximam da constituição do nosso Sol; as estrelas avermelhadas são muito menos quentes. Apagando-se, passam ao estado dos planetas obscuros. Nasceram das nebulosas. É pelo menos a grande hipótese clássica desde Laplace. Essa hipótese, porém, só será verificável porque a fotografia, permitindo que se apanhem e conservem as imagens das nebulosas em diversas épocas, através dos séculos, dar-nos-á os meios de seguir as transformações destas matérias cósmicas, espécie de protoplasma que gera os mundos.

658. Com um fim um pouco diferente, Lockyer (1879) e Huggins (1882) fotografaram os espectros de uma série de nebulosas, das mais densas às mais rarefeitas; chegaram a reconhecer que o número dos corpos simples diminui à medida que se passa das primeiras às segundas. Os espectros fotográficos dos mais rarefeitos só revelam hidrogênio e fósforo. É verdadeiramente a confirmação das vistas expostas mais acima sobre a unidade da matéria. A correlação assinalada por Faraday, entre o estado cada vez mais rarefeito da matéria e a perda conexa das principais propriedades que a caracterizavam, dá-nos o direito de dizer que existe um estado radiante da matéria que forma o fluido universal. É desse meio que é tirado o perispírito.

 

Respostas às questões preliminares

 

A. O Espírito de Katie King, quando materializado, apresentava batimentos cardíacos?

Sim. Diz Crookes que apoiando o ouvido ao peito de Katie King (espírito) pôde escutar um coração bater no interior e suas pulsações eram mais regulares que as do coração de Miss Cook (médium), quando, depois da sessão, ela lhe permitiu a mesma experiência. Examinados, do mesmo modo, os pulmões de Katie se mostraram mais sãos que os da médium, porque, no momento, Miss Cook seguia um tratamento médico, em virtude de forte resfriado. (O Espiritismo perante a Ciência, Quarta Parte, Cap. III – O perispírito durante a desencarnação – Sua composição.)

B. Que idade tinha a médium Florence Cook à época das experiências com Katie King?

Miss Cook era, segundo Crookes, uma inocente colegial de quinze anos, fato que não impediu que ela se submetesse durante 3 anos às experiências conduzidas pelo notável sábio. (Obra citada, Quarta Parte, Cap. III – O perispírito durante a desencarnação – Sua composição.)

C. Que diferença existe entre o conceito de fluido dado pela Física e o conceito que o Espiritismo dá a essa palavra?

Em Física, fluidos são os corpos líquidos e gasosos, mas o Espiritismo dá a essa palavra uma significação especial, ou seja, chamamos fluidos aos estados da matéria em que ela é mais rarefeita do que no estado conhecido sob o nome de gás. (Obra citada, Quarta Parte, Cap. III – O perispírito durante a desencarnação – Sua composição.)

 

 

Observação:

Para acessar a parte 27 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/09/o-espiritismo-perante-ciencia-gabriel_18.html

 

 

 

 

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