JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Amiga leitora e amigo leitor, nossa história de
hoje foi-nos contada por Joteli. É uma espécie de Memorial de Aires às avessas,
ocorrida não no tempo de um final de vida, mas, sim, no tempo de apenas um dia
de uma existência que se acha no seu outono e outras que ainda estão na
primavera. Vamos à narrativa!
Terça-feira, 9 de setembro de 2014.
13h30: Joteli retorna a seu apartamento após ter
deixado o netinho M., de 6 anos, com quem jogara dama e xadrez!, na noite
anterior, na casa deste. Antes disso, ao se despedir da filha e do outro
netinho, J., de ano e nove meses, que almoçava com a auxiliar do lar, percebeu
que este ficara sério e não lhe acenara em despedida, como costuma fazer, mesmo
sendo incentivado, insistentemente pela mãe:
— Dá tchau, para o vovô... Deixa para lá, vovô,
ele está com sono...
15h: O vovô levou a vovó à casa da C., sua outra
filha, que precisava de ajuda para cuidar do L., seu filho recém-nascido. A avó
ficou e o avô voltou a sua casa.
18h: A vovó ligou para o vovô... Estava agora na
casa da outra filha, F., a mais velha, e os outros dois netos, onde o marido os
deixara no início da tarde:
— Meu
amor, já são 18h e a F. pediu para eu ficar com o J. (1 ano e 9 meses) e o M.,
até o pai deles chegar, pois ela tem que despachar com o chefe e vai chegar
mais tarde em casa. A
auxiliar do lar só trabalha até as 17 horas e já foi embora. Além disso, o J.
não para de lhe chamar: "vovô... vovô... vovô...". Então você fica
conosco aqui até nosso genro chegar e depois nós vamos embora. Antes, você me
deixa na ...
— Está bem, querida, já estou indo. Acatou
Joteli, que agora continua a narrativa...
18h30: Cheguei, toquei a campainha e esperei. Lá
dentro, as crianças gritavam felizes:
— Vovô chegou, vovô chegou... — Vovô... vovô...
vovô...
Entretanto, algo imprevisto acontecia dentro da
casa e era ouvido por mim, fora dela:
— Cadê a chave da sala? – perguntava a vovó lá
de dentro...
— Papai levou, respondeu-lhe o neto M. do
interior do lar.
— E a outra chave da sala? — Voltou a
perguntar-lhe a avó, preocupada...
— Mamãe levou.
— Vamos então à cozinha – disse ela. Cadê a
chave da cozinha?
— A auxiliar levou, vovó.
— Então, Joteli - gritou a avó para mim, de
dentro para fora -, você vai ter que esperar meia horinha aí até o pai deles
chegar... Em seguida, disse ao neto mais velho:
— M., vê se você acha um livro de história e
passa por debaixo da porta para o vovô ler.
Ouvindo isso, falei, de fora para dentro:
— Não, M., não precisa fazer nada disso, pois
daqui a pouco seu pai vai chegar e abrir a porta para nós entrarmos.
Mas M. teve outra brilhante ideia. Daí a pouco,
as notas de 500.000 a
1 real do "banco imobiliário" começaram a passar por debaixo da porta
enquanto ele dizia:
— Vovô, vai brincando com essas notas enquanto
eu procuro outras coisas para você brincar...
E tome de notas de 500.000; 200.000; 100.000;
50.000; 20.000; 10.000; 5.000; 1000; 500; 200; 100; 50; 20; 10; 5 e 1 às
centenas, todas misturadas, que M. empurrava por baixo da porta e o vovô ia
pegando, separando e montando em seu "banco imobiliário" do lado de
fora.
Nesse meio tempo, figurinhas aos montes eram
também passadas por debaixo da porta, além de folhas coloridas de papel A4, um
lápis etc. De dentro da sala, as vozes incansáveis dos netinhos eram ouvidas
claramente cá fora:
— Vovô, você pegou as notas? Estou passando o
livro...
— Sim, M., estou pegando, mas não passa o livro
de histórias infantis agora não, pois estou arrumando as notas no "banco
imobiliário..."
— Vovô... vovô...
— Oi, J., vovô está aqui fora, mas logo seu
papai chega e a gente se vê...
— Vovô, vovô...
— Sim, J.zinho, já, já o papai chega...
— Tááá...
— Vovô, agora vão umas figurinhas, está bem?
— Está bem, M., muito obrigado. Mas ainda estou
organizando as notas do banco imobiliário.
— Vovô, agora vai o livro.
— Obrigado, M., essa história infantil vai
deixar o vovô muito feliz.
— Vovô, vovô...
— Fala, J.zinho... Tudo bem com você?
— Tááá...
19h30: O pai chegou, viu-me sentado, do lado de
fora da casa, junto de montes de "notas" arrumadas, anotando a
quantidade de cada uma, e mais folhas coloridas, figurinhas, rosto formado por
barbantes colados em folha de papel, e preocupado em informar ao neto mais
velho para continuar contando as demais "notas" e anotar tudo no cartãozinho...
Ao ver o pai, M. correu para seus braços e
J.zinho, que já estava com saudades do vovô, desde cedo, abraçava e beijava o
vovô, dizendo a coisa que mais ama dizer e que tanto encanta e emociona o avô:
— Vovô... vovô... vovô...
Na próxima
crônica, falar-vos-ei de "Chica da Silva", mas não é quem vocês estão
pensando. Aguardem!
Leia,
quando puder, o blog
www.jojorgeleite.blogspot.com
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