JORGE LEITE DE
OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Algo
de muito grave está ocorrendo naquela republiqueta: a tesoureira mor do partido
dominante foi condenada a 30 anos de prisão. Mais de milhão de assinaturas
pedem o impeachment do presidente, o que deixou em polvorosa a cúpula
governamental, e, em conclusão da operação “leva jeito”, o STF aceitou a
denúncia do MP contra o desvio de bilhões para as contas de dezenas de
políticos e seus cúmplices, de todos os partidos, entre os quais: Dirce Joseph,
Sincero Soares, Edu do Cunho, Alfonsinho Hanneman, João das Vaccas, Iuri Selfie
e Jerônimo, o herói do sertão, este, o mais perigoso.
Nessa
operação foram desviados vinte vezes mais dinheiro que o existente em todo o
meu Rio de Janeiro.
Dizem
que tudo foi planejado na casa do civil Jerônimo...
Na
maior cidade da republiqueta está sendo realizado um show de rock, e aqui está
a notícia bomba: não há rock e sim um barulho infernal de um milhão de vozes
que gritam mais do que os roqueiros, dia e noite, noite e dia:
—
Nosso país está desgovernado,
esses
políticos que aqui estão
roubaram
muito mais que o mensalão,
fora
governo desavergonhado!
E
a multidão repete o refrão:
—
Fora governo desavergonhado! Fora governo desavergonhado!
Ouvi
dizer que Jerônimo, o herói do sertão, saiu a campo e articula o governo para
que tudo vire pizza. Uma de suas frases preferidas é a seguinte: “Jamais na
história desta republiqueta houve um governo tão popular como o meu”.
Há
controvérsias, porém. Nos EUA, estão pedindo 40 milhões para libertar um
ex-presidente da CBF. Já na republiqueta, um dos condenados que desviou 40
milhões foi multado em 400 mil... E isso não é nada popular.
—
Minha conclusão, Machado, é que o problema não é o criminoso, mas sim o
crime... Ou será o contrário? Estou tão confuso...
—
Deixemos essa dúvida filosófica para lá e vamos ao que nos interessa. Em razão
dos graves acontecimentos atuais da dita nação, também Lampião tem acionado
seus jagunços para criar mais confusão. Logicamente, ele não se furtou em
convidar Maria Bonita para trabalharem juntos nessa barafunda que se tornou a
república Boêmia. Quanto mais confusa ficar a população, mais tempo se ganha e
mais dinheiro se rouba, com o louvável intuito de melhorar a vida política
dessa desnaturalizada nação.
— Alguém mais foi convidado, ó Machado?
—
Antônio Conselheiro... mas seus conselhos não estão sendo levados muito a
sério, pois sua ideia maluca é a de que “o sertão virou mar e o mar virou
sertão”.
—
Bem... se pensarmos na má gestão da Cantareira em São Paulo, é provável que...
—
Calma aí, Joteli, estamos falando da republiqueta Boêmia. Não mude de assunto!
—
Ok, amigo. Mas diga-me uma coisa: esse tal Jerônimo não é de Pernambuco?
—
Mais exatamente de Garanhuns. E, embora tenha doze irmãos, um deles, ao ser
perguntado se todos são vivos, respondeu que só um é vivo: Jerônimo, o herói do
sertão. Os outros são normais...
—
É, Machado, estás ficando velho... Já não consegues distinguir a ficção com a
realidade. Afinal, quem é que mudou de assunto, eu ou você?
—
Sei lá... Agora me aparece Nélson Rodrigues, trazendo pelo braço Nélson
Gonçalves, que canta A volta do boêmio,
pode?
—
Pode. Clique aqui, leitor amigo, e ouça a bela interpretação do barítono Nélson
Gonçalves: http://letras.mus.br/nelson-goncalves/47650/.
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