JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
— Fiquei lisonjeada por você ter vindo
prestigiar este desfile comigo. É bom que esta data fique na memória do povo: 7
de setembro de 2015.
— Indubitavelmente, amiga Ratuína.
Convoquei todos os ratos para prestigiarem este inolvidável evento... Hummm...
hummm... hummm... Acabo de ter uma ideia genial. A partir deste dia, a
burguesia será substituída, no controle da nação, não pelos proletários, como
sonhou Marx, mas sim pelos ratos.
— Eu sempre disse que a verdadeira
revolução não seria a do proletariado e, sim, a dos ratos. Não há um esgoto,
nesta cidade, em que não estejamos presentes, com nossa numerosa família. Somos
capazes de subir, pela tubulação de esgotos, dezenas de andares dos mais altos
edifícios do mundo. E já se disse que, se houver uma guerra nuclear mundial, só
escapam os ratos e os espíritos de porcos. Nem baratas sobreviverão...
— C’est
vrai... Por isso é importante ser rato e porco. O sangue de barata é
próprio de puxa-sacos pagos pelo regime e dos omissos, por ora úteis...
— Companheiro Ratón, nosso regime não
admite fraquezas nem pieguices...
— Então, tomemos-lhes as riquezas, a
flora e a fauna... Extingamos a raça humana, que se autodevora nas guerras
fratricidas, ó Ratuína, e o mundo será nosso!
— Sim, amigo Ratón... Para começar,
impinjamos o ateísmo ao povo, que, em nada crendo, além do que vê, sente,
cheira, ouve ou degusta, acaba por crer só no que o Estado deseja que se creia.
— E nós somos o Estado, Ratuína.
Inventamos o voto eletrônico, único no mundo, que manteve no poder todos os
companheiros que nos apoiam, nomeados para postos-chave nas milhares de
repartições públicas; criamos as bolsas famílias, que iludem os pobretões, além
de garantir aportes financeiros aos nossos municípios e milhões de votos;
superfaturamos milhares de obras...
— Isso é muito mais seguro e prático do
que investir em educação... Tudo pelo poder!
— Mudando de assunto... Você notou, Ratuína,
como é feio o estádio de futebol de Brasília? É raro ver ali as multidões, parece imensa boca de fogão. Não vai além de
duzentos milhões ... mas dizem que custou mais de um bilhão... Rimou!
— É mesmo? Ainda bem que, logo, logo,
vai começar a dar lucro, companheiro...
— Já deu, com seu superfaturamento,
Ratuína. Agora disputa a série D...
— E os discursos religiosos, dom Ratón,
você não acha que são um atraso de vida?
— Com certeza, companheira. O povo
precisa é de “pão e circo”, como Nero já o dissera há dois mil anos.
— Depois, quando o circo pegar fogo, nós
assamos os cristãos ali e comemos torradinhos! Não é mesmo, dom?... Podemos
aproveitar o estádio como boca de forno.
— C’est
vrai... Afinal, não creem que vão para o céu? Em Cuba, por exemplo, o
paraíso terreno só foi alcançado após terem sido mortos mais de 17.000 crentes,
que se opunham ao regime socialista do companheiro Fidel... Que a terra nos
seja leve!
— O que sugere em prol do nosso eterno
controle desta nação, dom Ratón?
— Precisamos da ajuda dos amigos de um
porco, vilmente assassinado, de uma anta e de um sapo, além de milhões de
cupins, que faremos invadir terras produtivas, empresas multinacionais de
pesquisa, etc. Então, substituiremos a “consciência individual” pela do
“politicamente correto”. Por fim,
implantaremos o “relativismo moral” nesta terra prometida aos ratos, porque “o
fim justifica os meios”...
Ouviu-se, então, de dentro da cerca de
alumínio, onde estavam Ratuína e Ratón, um só grito de seus asseclas, patrocinados
pelo BNDES:
— Salve, 7 de setembro, dia da desordem
e do retrocesso!
Amiga leitora: “Entendeu, ou quer que eu
desenhe?”
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