domingo, 2 de julho de 2017

Reflexões à luz do Espiritismo





Por que sofrem os animais?

Há pessoas que não concordam com o conceito espírita de que animais sofrem para evoluir, embora não resgatem débitos como os seres humanos, visto que não são dotados de livre-arbítrio.
O tema já foi por nós examinado em inúmeras oportunidades, mas vale a pena, dada a importância do assunto, recordar o que escrevemos.
Preliminarmente, lembremos o que nos é dito na principal obra espírita – O Livro dos Espíritos – nas questões adiante reproduzidas:

599. A alma dos animais pode escolher a espécie em que prefira encarnar-se? “Não; ela não tem o livre-arbítrio.”
849. Qual é, no homem em estado selvagem, a faculdade dominante: o instinto ou o livre-arbítrio? “O instinto, o que não o impede de agir com inteira liberdade em certas coisas. Mas, como a criança, ele aplica essa liberdade às suas necessidades e ela se desenvolve com a inteligência. Por conseguinte, tu, que és mais esclarecido que um selvagem, és também mais responsável que ele pelo que fazes.”

No tocante aos animais, a informação é categórica: não são dotados de livre-arbítrio. E curiosamente, mesmo em se tratando do homem, quando no início do seu desenvolvimento espiritual, é o instinto, não o livre-arbítrio, a faculdade dominante.
Lemos no cap. 19 do livro Ação e Reação, de André Luiz, obra psicografada pelo médium Chico Xavier, que se identificam na experiência terrestre três tipos de dores: a dor-evolução, a dor-expiação e a dor-auxílio. Dessas, apenas a dor-expiação diz respeito aos erros cometidos no pretérito, seja na atual existência, seja em existência passada. A dor-auxílio e a dor-evolução existem na vida em decorrência de outras razões e finalidades.
A dor-evolução, cujo objetivo notório é o aprimoramento do ser, nada tem que ver com atos do passado. É o que ocorre com os animais, não apenas os que vivem em nosso meio, como os cães, vítimas de tantas enfermidades e problemas, mas sobretudo com os que vivem em plena selva. Alguém consegue imaginar o sofrimento de uma presa abatida por seu predador e estraçalhada antes mesmo de ocorrer sua morte corpórea?
Referindo-se diretamente ao caso dos animais, o instrutor Druso afirma:

"A dor é ingrediente dos mais importantes na economia da vida em expansão. O ferro sob o malho, a semente na cova, o animal em sacrifício, tanto quanto a criança chorando, irresponsável ou semiconsciente, para desenvolver os próprios órgãos, sofrem a dor-evolução, que atua de fora para dentro, aprimorando o ser, sem a qual não existiria progresso”. (Ação e Reação, cap. 19.)

Em entrevista publicada pela Revista Cristã de Espiritismo, edição 29, de 2004, o saudoso confrade Marcel Benedeti, médico veterinário desencarnado em fevereiro de 2010, autor de importante obra sobre os animais e seu destino espiritual, afirmou ao analisar o tema eutanásia no caso de animais em sofrimento:

“O ser humano tem o carma, o animal não. O animal tem consciência, mas muito mais restrita, em relação ao ser humano. Ele segue muito mais os seus instintos. Então, como não tem carma, a eutanásia deve ser o último recurso utilizado; o veterinário deve fazer todo o possível para salvá-lo. Se o animal estiver sofrendo muito e não existir outra maneira, o plano espiritual não condena, porque é um aprendizado tanto para o animal quanto para o dono que precisa tomar a decisão”.

Perguntaram certa vez a Chico Xavier como devemos encarar a questão da existência de deformidades congênitas no seio dos animais. Por que nascem animais cegos ou deformados, se eles não têm o livre-arbítrio?
O saudoso médium respondeu:

“Nossos benfeitores espirituais nos esclarecem que é preciso que todos nós consideremos que os animais diversos, a nos rodearem a existência de seres humanos em evolução no planeta Terra, são nossos irmãos menores, desenvolvendo em si mesmos o próprio princípio inteligente. Se nós, seres humanos, já alcançamos os domínios da inteligência, desenvolvendo agora as potências intuitivas, eles, os animais, estão aperfeiçoando paulatinamente seus instintos na busca da inteligência.
Da mesma maneira que nós humanos aspiramos alcançar algum dia a angelitude na Vida Maior, personificada em nosso mestre e senhor Jesus, eles, os animais, aspiram a ser no futuro distante homens e mulheres inteligentes e livres. Assim sendo, nós podemos nos considerar como irmãos mais velhos e mais experimentados dos animais.
Ora, nós já sabemos que a Lei Divina institui a solidariedade entre os seres, e, por isso, podemos facilmente concluir que a nós, seres humanos, Deus outorgou a condução e a proteção de nossos irmãos mais novos, os animais. E o que é que nós estamos fazendo com esta responsabilidade santa de proteger e guiar o reino animal? Como é que esta humanidade terrestre tem agido em relação aos animais, nos inúmeros séculos de nossa história? Porventura nós, os homens, não temos nos convertido em algozes impiedosos dos animais ao invés de seus protetores fiéis? Quem ignora que a vaca sofre imensamente a caminho do matadouro? Quem desconhece que minutos antes do golpe fatal os bovinos derramam lágrimas de angústia? Não temos treinado determinadas raças de cães exaustivamente para o morticínio e o ataque? Que dizermos das caçadas impiedosas de aves e animais silvestres, unicamente por prazer esportivo? Que dizermos das devastações inconsequentes ao meio ambiente? Tudo isto se resume em graves responsabilidades para os seres humanos!
A angústia, o medo e o ódio que provocamos nos animais lhes alteram o equilíbrio natural de seus princípios espirituais, determinando ajustamento em posteriores existências, a se configurarem por deformidades congênitas. A responsabilidade maior recairá sempre nos desvios de nós mesmos, os seres humanos, que não soubemos guiar os animais na senda do amor e do progresso, segundo a vontade de Deus.
Agora, vejamos, se determinado cão é treinado para o ataque e a morte com requintes de crueldade, se ele é programado para o mal, pode ocorrer que em determinado momento de superexcitação este mesmo cão, treinado para atacar os estranhos, ataque as crianças de sua própria casa ou os próprios donos. Aí teremos um desajuste induzido pela irresponsabilidade humana. Ora, este mesmo cão aspira crescer espiritualmente para a inteligência e o livre-arbítrio. Mas, para isso, ele precisará experimentar o sofrimento que lhe reajuste o campo emotivo, aprendendo pouco e pouco a Lei de Ação e Reação. Assim, ele provavelmente renascerá com sérias inibições congênitas. A responsabilidade de tudo isto, no entanto, dever-se-á à maldade humana.” (Do livro Lições de Sabedoria, de Marlene Rossi Severino Nobre.)

Esperamos que as informações acima nos ajudem a entender as nuanças da questão levantada pelos que discordam da explicação que os autores espíritas dão para o tema sob análise.



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