terça-feira, 25 de julho de 2017

Contos e crônicas





Uma tarde com bolinhos de chuva

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

A chuva, àquela tarde, foi mais do que a água abundante e cristalina, foi especialmente uma saudade carinhosa para o meu coração. Até o momento, era um dia comum com os afazeres. Depois do almoço, o tempo mudou e a chuva logo começou. Terminei o que precisava em casa ‒ aquele dia estava de folga do trabalho ‒ e fui para a varanda lateral observar a aguinha caindo do céu e animando as plantas; até alguns passarinhos brincavam de voar na chuva.
Sentei-me na cadeira branca, na varanda, e fiquei olhando o comportamento da natureza, sempre belo e sábio. Ao lado, há uma mesinha redonda e também branca na qual deixo o romance que estou lendo e normalmente uma xícara com chá de camomila. Agora só estava o livro. Fiquei mais um pouco olhando tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. A chuva tornou-se mais calma, e continuava.
De repente, parece que senti o cheiro de bolinho de chuva. Tentei esquecer. Quem estaria fritando esses bolinhos? Ninguém. Mas o cheiro persistiu e comecei a ficar com muita vontade, vontade de criança que não esquece. Não me restou outra saída, fui fazer. Minha avó materna havia me ensinado. E como amava os seus bolinhos. Lembro-me de quando eu era criança e passava parte das férias na casa de minha avó que fazia muitos bolinhos de chuva, guardava numa lata grande e tínhamos aquela delícia por muitos dias. Era para o café da manhã e o da tarde, mas como “vó é vó” eu podia comer quantos quisesse também durante o dia.
Peguei os poucos ingredientes e a tigela e coloquei-os na pia. Comecei a arte da culinária do delicioso bolinho. E lembrei-me de que minha avó falava: “A massa deve ficar mais consistente do que a de bolo”. E foi assim que ficou. Esquentei bem o óleo na panela e pegava a massa com colher e a colocava no óleo quente. Logo terminei. Esquentei água para o chá.
Sentei-me. Na mesa da cozinha estavam o prato com os bolinhos e a xícara de chá de camomila. E, de fato, os bolinhos estavam deliciosos. Enquanto fazia e quando comia, meu pensamento reavivou inúmeras lembranças de minha tão querida avó. Uma saudade tranquila e cheia de ternura tomou meu coração. E falei em voz alta: “Ah, vó, que saudade!”.
Peguei mais um bolinho e neste momento senti um carinho no meu dedo mindinho. A surpresa foi grande com um frio no estômago. Meus olhos se encheram. Lembrei-me tão ternamente destas palavras: “Minha querida, seja feliz!”. Eram as palavras que minha avó sempre me dizia e acarinhava com leveza o dedo mindinho de minha mão direita. Senti com calma e gratidão esse momento.
Depois de um tempinho, secando o rosto, pensei: “Verdade, o amor que existe não se perde, mas fica no sentimento sem diferença de dimensão”.

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Um comentário:

  1. Cínthia, parabéns pelo texto. Aproveito para dizer a você e a quem nos ler que, infelizmente para mim, não conheci meus avós e minha mãe desencarnou quando eu tinha 5 anos de idade. Mas adoro o tal bolinho de chuva que nos dias chuvosos sempre foi uma atração aqui em casa, não na casa do meu pai, onde nem lembro se um dia comemos tal iguaria.

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