A difícil vida de escritor
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Tanto isso é verdade que meu amigo Joteli, de 71 anos,
ficou em terceiro lugar, em sua faixa etária, numa competição matinal de tênis
de mesa há poucos dias. Porém, no mesmo dia, à tarde, foi desclassificado
noutra competição, quando perdeu para uma menina de cerca de 10 anos e para um
jovem de 30...
O detalhe é que esses já treinam há alguns anos, e aquele
há alguns meses. Por isso, o “velhinho” não desiste do esporte que, em sua
idade, segundo informação do diretor de tênis de mesa do clube, auxilia na
prevenção e combate ao Alzheimer.
Meu amigo ficou muito entusiasmado com as duas vitórias
matutinas, que lhe deram o terceiro lugar dentre quatro competidores. Por isso,
nem ligou para as duas derrotas vespertinas. Já se inscreveu para novo desafio,
no próximo sábado, noutro clube de Brasília.
Como se diz no Japão: “O importante é competir”. Mas que
nosso maior adversário sejamos nós mesmos e tenhamos todo o respeito ao
oponente. Para sair-se vitorioso, em qualquer torneio, além do talento, é
preciso muito treino.
E nas letras, como se dá o sucesso? Machado de Assis
recomendava aos jovens que jamais fossem açodados na difusão a outrem daquilo
que escreviam. A pressa não nos assegura bons textos, afirmava o Bruxo do
Cosme Velho. Daí a necessidade de ler muito sobre um assunto, antes de
escrever sobre ele e, na produção textual, ler, reler, cortar, acrescer, inovar
quanto puder e, se possível, contar com um bom revisor, como o que eu tenho: o
amigo Astolfo.
Inda hoje li interessante frase dum bloguista. Ele
afirmou ter ouvido dizer que somente após sua morte os escritores ganham fama
na publicação de seus livros. Será verdade? Nem sempre. Entretanto, alguns
escritores só ganharam fama post mortem. Exemplos:
Anne Frank, jovem judia, escreveu a famosa obra
intitulada O Diário de Anne Frank, que só foi conhecida no mundo após
sua morte num campo de concentração. Seu relato foi escrito entre 1942 e 1944,
quando estava escondida dos alemães nos fundos dum prédio, em Amsterdã, na
Holanda. Ela morreu de tifo e inanição no campo de concentração nazista dessa
cidade. Consta que a obra, antes de ser publicada, foi rejeitada por 15
editoras. Depois de publicada, foi traduzida em mais de 70 idiomas e vendeu
mais de 35 milhões de livros.
Emily Dickinson, poetisa americana do século XIX, embora
tenha escrito milhares de poemas, em vida, somente doze haviam sido publicados.
É considerada uma das mais destacadas poetisas dos Estados Unidos. Além da
influência bíblica, Shakespeare a influenciou...
Franz Kafka, também escritor judeu, é considerado um dos
grandes pensadores do século vinte. Entregou sua obra literária, antes de
morrer, ao amigo Max Brod, ao qual pediu que a destruísse, mas Brod publicou-a
sob o título de Metamorfose, que imortalizou Kafka como grande escritor.
Lima Barreto, um dos romancistas mais conhecidos hoje, no
meio escolar e acadêmico, sofreu rejeição em vida e mal pôde pagar para
publicar sua obra enquanto viveu.
Tudo isso vem à baila no momento em que meu amigo Joteli,
o mesatenista citado, que pouco faz questão de divulgar suas obras literárias,
constata quão difícil é o reconhecimento popular de seu trabalho. Depois de ter
escrito cerca de 600 crônicas, resolveu publicar 60, dez por cento delas, a
convite de uma editora acadêmica. Para tal, fez algumas modificações e
classificações temáticas, melhorou o que já havia sido aprovado, mudou algo e
publicou o livro, depois de pagar por sua edição.
Dois meses depois de publicada, conferiu a venda de sua
obra, em aplicativo fornecido pela editora, que não comercializa o livro em
livrarias e só imprime o que lhe é pedido: três livros seus foram vendidos: um
comprado por um amigo e dois por uma filha.
Força, meu amigo. Quem sabe se, após sua desencarnação,
sua obra não seja reconhecida? Enquanto isso não ocorre, continue praticando
tênis de mesa...
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