Revista Espírita de 1867
Allan Kardec
Parte 2
Damos
prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1867, periódico editado e dirigido por
Allan Kardec. O estudo será baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho
publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1867 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do estudo,
que será apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Que sente o Espírito
de uma pessoa que morre subitamente, de forma inesperada?
B. Satã é um
ser real?
C. Como
explicar a precocidade de certas crianças?
Texto para leitura
14. Morto
subitamente de um ataque de apoplexia fulminante, Charles-Julien Leclerc, que
havia aprendido no Brasil as primeiras noções de Espiritismo, manifestou-se na
Sociedade de Paris na primeira sessão que se seguiu ao seu sepultamento. Da
comunicação de Leclerc, que integrava a equipe presidida por Kardec, destacamos
as informações seguintes: I) Leclerc ficou muito surpreso com sua morte, que
acabou lhe causando profundo choque porque, em absoluto, não a esperava. II) No
momento em que a morte o feriu, ele a recebeu como que uma cacetada na cabeça:
um peso esmagador o derrubou, mas, de repente, sentiu-se aliviado. III) Seu
Espírito planou então acima do seu cadáver e viu com espanto as lágrimas dos
familiares, dando-se conta do que havia sucedido. No fim da mensagem, Leclerc
disse estar muito feliz, ao lado de amigos que o precederam na vida espiritual,
como Sanson, Jobard, Costeau, a sra. Dozon e tantos outros. (Págs. 27 a 29.)
15. A Revista
anuncia para o mês de janeiro o lançamento de uma coletânea de poesias
mediúnicas recebidas pelo Sr. Vavasseur, bem como a impressão de um desenho
feito pelo Sr. Bertrand, médium escrevente integrante da Sociedade Espírita de
Paris, que retratou Allan Kardec. Esse desenho foi posto à venda no escritório
da Revista, fato que levou o Codificador a publicar uma nota dizendo-se
“completamente estranho a essa publicação, como a de retratos editados por
vários fotógrafos”. (Pág. 30.)
16. Três
notícias fecham o número de janeiro de 1867: I) O retorno à circulação da Union
Spirite, de Bordeaux, redigida pelo Sr. A. Bez, a qual havia sido
interrompida por causa de grave moléstia que acometeu seu diretor. II) A
suspensão da publicação do jornal espírita italiano Voce di Dio, em
razão das devastações causadas pelo cólera na cidade de Catânia. III) A
divulgação de um erro cometido na publicação da obra de J. B. Roustaing, cuja
retificação este pede que os leitores façam à margem da página III do 3º volume.
(Págs. 31 e 32.)
17. Na abertura
do número de fevereiro, Kardec complementa artigo publicado em janeiro acerca
do livre pensamento e da livre consciência. Segundo ele, os livres pensadores
podiam ser divididos em duas classes distintas: os incrédulos e os crentes.
Esmiuçando o assunto, Kardec diz que, se for feita a estatística de todos os
que perdem a razão, se verá que o maior número está precisamente do lado dos
que não creem no futuro, ou dele duvidam, e isto pela razão bem simples que a
grande maioria dos casos de loucura é produzida pelo desespero e pela falta de
coragem moral, coragem que faz suportar as misérias da vida, ao passo que a
certeza do futuro torna menos amargas as vicissitudes do presente. (Págs. 33 e
34.)
18. Kardec
relaciona, em seguida, alguns erros clamorosos cometidos por homens ligados à
Ciência, o que prova que esta não pode ser tida como infalível em todas as suas
afirmativas, visto que os homens podem enganar-se, como se enganaram, por
exemplo, ao rejeitarem o sistema de Fulton. Os que negam a existência de Deus
porque não o vemos, nem podemos demonstrá-lo por uma equação algébrica, se
esquecem de que a força de gravitação também não se pode ver e, no entanto,
todos a aceitam por causa dos seus efeitos. (Págs. 35 e 36.)
19. Desses
efeitos deduziu-se a causa, e mais: calculando a força dos efeitos, calculou-se
a força da causa, que jamais foi vista. Dá-se o mesmo com o Criador e a vida
espiritual, que se julgam por seus efeitos, segundo o axioma: “Todo efeito tem
uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. A força da causa
inteligente está na razão da grandeza do efeito”. Crer em Deus e na vida
espiritual não constitui, pois, uma crença gratuita, mas um resultado da
observação, tão positivo quanto o que nos faz crer na força da gravidade. (Pág.
36.)
20. O Espiritismo
não é, como pensam alguns, uma nova fé cega, que veio substituir outra fé cega,
porque estabelece como princípio que antes de crer é preciso compreender, e
para compreender é preciso raciocinar. A Doutrina Espírita não repousa em
nenhuma teoria preconcebida ou hipotética, mas na experiência e na observação
dos fatos. “Era urgente – observa Kardec – estabelecer, desde o princípio, o
Espiritismo no seu verdadeiro terreno. A teoria baseada na experiência foi o
freio que impediu a credulidade supersticiosa tanto quanto a malevolência de o
desviar de sua rota.” (Págs. 39 e 40.)
21. Com o
título de As três filhas da Bíblia o Sr. Hippolyte Rodrigues publicou
uma obra em que prevê a fusão das três grandes religiões saídas da Bíblia: a
judia, a católica e a maometana. Comentando artigo sobre referido livro
inserido no jornal Le Pays, Kardec critica esta frase escrita pelo autor
da matéria: “quando se raciocina não se crê mais”. O Espiritismo prega
exatamente o contrário: quando se raciocina crê-se mais firmemente, porque se
compreende. Foi isso que levou o codificador a escrever que não há fé
inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas
da Humanidade. (Pág. 41.)
22. A Revista
transcreve parte de uma carta dirigida pelo padre Lacordaire à sra. Swetchine,
datada de 29 de junho de 1853, na qual o notável sacerdote se refere às mesas
girantes e afirma que em todos os tempos houve modos mais ou menos bizarros
para se comunicar com os Espíritos; apenas se fazia mistério desses processos.
“Hoje, graças à liberdade dos cultos e à publicidade universal, o que era um
segredo tornou-se uma fórmula popular”, escreveu Lacordaire. (Págs. 43 e 44.)
23. O Monsenhor
Freyssinous, bispo de Hermópolis, em suas Conferences sur la religion,
publicadas em 1825, também entendia, como Kardec, que “um demônio que procura
destruir o reino do vício para estabelecer o da virtude, seria um demônio
estranho”. É por isso – escreveu o bispo – que Jesus, para repelir a absurda
acusação que os judeus lhe fizeram, lhes dizia: “Se opero prodígios em nome do
demônio, então o demônio está dividido consigo mesmo; então procura
destruir-se”. Os espíritas dizem a mesma coisa aos que tacham as práticas e as
curas espíritas de envolvimento com o demônio. (Pág. 45.)
24. A doutrina
espírita, explica Kardec, não admite poder rival ao de Deus e menos, ainda,
pode admitir que um ser decaído tenha recuperado bastante poder para
contrabalançar os desígnios do Pai. Para o Espiritismo, Satã é apenas a
personificação alegórica do mal, como entre os pagãos Saturno era a
personificação do tempo, Marte a personificação da guerra e Vênus a
personificação da beleza. (Pág. 46.)
25. Vários
jornais franceses reproduziram notícia publicada em a Sentinelle Toulonnaise,
de Toulon, sobre uma menina de dois anos e onze meses, chamada Eugénie Colombe,
que sabia ler e escrever perfeitamente e tinha, ainda, conhecimentos sobre
religião cristã, gramática francesa, geografia, história e as quatro operações
de aritmética. Um correspondente da Revista, oficial da Marinha em Toulon,
confirmou a veracidade do fato, que recebeu de Kardec as explicações que se
seguem: I) A precocidade de certas crianças para as línguas, a música e as
ciências em geral não passam de lembranças. II) A faculdade de recordar é uma
aptidão inerente ao estado psicológico, isto é, ao mais fácil desprendimento da
alma em certos indivíduos do que em outros. III) O passado é como um sonho do
qual a gente se lembra mais ou menos exatamente, ou do qual se perdeu
totalmente a lembrança. (Págs. 47 a 49.)
26. Concluindo
o relato pertinente à menina Eugénie, a Revista transcreve parte de uma carta
enviada por um correspondente da Argélia que de passagem por Toulon também teve
contato com a criança e sua mãe. “Esta criança – diz a carta – certamente é um
Espírito muito adiantado, porque se vê que responde e cita sem o menor esforço
de memória. Sua mãe me disse que desde os 12 ou 15 meses ela sonha à noite e
parece conversar, mas numa língua que não permite compreender. É caridosa por
instinto; atrai sempre a atenção de sua mãe, quando avista um pobre; não
suporta que batam nos cães, nos gatos, nem em qualquer animal.” (Pág. 49.)
(1) Apoplexia significa afecção cerebral que se
manifesta imprevistamente, acompanhada de privação dos sentidos e do movimento,
determinada por lesão vascular cerebral aguda (hemorragia, embolia, trombose),
bem como qualquer das afecções resultantes da formação rápida de um derrame
sanguíneo.
Respostas às questões propostas
A. Que sente o
Espírito de uma pessoa que morre subitamente, de forma inesperada?
Foi o que
ocorreu com Charles-Julien Leclerc, espírita e membro da Sociedade Espírita de
Paris, morto subitamente, em seguida a um ataque de apoplexia fulminante. Em
comunicação dada na Sociedade, Leclerc disse ter ficado muito surpreso com sua
morte, que acabou causando-lhe profundo choque porque, em absoluto, não a
esperava. No momento em que a morte o feriu, ele a recebeu como que uma
cacetada na cabeça: um peso esmagador o derrubou, mas, de repente, sentiu-se
aliviado. Seu Espírito planou então acima do seu cadáver e viu com espanto as
lágrimas dos familiares, dando-se conta do que havia sucedido. (Revista Espírita
de 1867, pp. 27 a 29.)
B. Satã é um
ser real?
Não. A doutrina
espírita não admite poder rival ao de Deus e menos, ainda, que um ser decaído
tenha recuperado bastante poder para contrabalançar os desígnios do Pai. Para o
Espiritismo, Satã é apenas a personificação alegórica do mal, como entre os
pagãos Saturno era a personificação do tempo, Marte a personificação da guerra
e Vênus a personificação da beleza. (Obra citada, pp. 45 e 46.)
C. Como
explicar a precocidade de certas crianças?
Referindo-se ao
caso Eugénie Colombe, uma menina de dois anos e onze meses que sabia ler e
escrever perfeitamente e tinha, ainda, conhecimentos sobre religião cristã,
gramática francesa, geografia, história e as quatro operações de aritmética,
Kardec escreveu na Revista o seguinte: 1) A precocidade de certas crianças para
as línguas, a música e as ciências em geral não passa de lembranças. 2) A
faculdade de recordar é uma aptidão inerente ao estado psicológico, isto é, ao
mais fácil desprendimento da alma em certos indivíduos do que em outros. 3) O
passado é como um sonho do qual a gente se lembra mais ou menos exatamente, ou
do qual se perdeu totalmente a lembrança. (Obra citada, pp. 47 a 49.)
Observação:
Para
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