quarta-feira, 27 de novembro de 2024

 


Revista Espírita de 1867

 

Allan Kardec

 

Parte 2

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1867, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo será baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1867 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que será apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. Que sente o Espírito de uma pessoa que morre subitamente, de forma inesperada?

B. Satã é um ser real?

C. Como explicar a precocidade de certas crianças?

 

Texto para leitura

 

14. Morto subitamente de um ataque de apoplexia fulminante, Charles-Julien Leclerc, que havia aprendido no Brasil as primeiras noções de Espiritismo, manifestou-se na Sociedade de Paris na primeira sessão que se seguiu ao seu sepultamento. Da comunicação de Leclerc, que integrava a equipe presidida por Kardec, destacamos as informações seguintes: I) Leclerc ficou muito surpreso com sua morte, que acabou lhe causando profundo choque porque, em absoluto, não a esperava. II) No momento em que a morte o feriu, ele a recebeu como que uma cacetada na cabeça: um peso esmagador o derrubou, mas, de repente, sentiu-se aliviado. III) Seu Espírito planou então acima do seu cadáver e viu com espanto as lágrimas dos familiares, dando-se conta do que havia sucedido. No fim da mensagem, Leclerc disse estar muito feliz, ao lado de amigos que o precederam na vida espiritual, como Sanson, Jobard, Costeau, a sra. Dozon e tantos outros. (Págs. 27 a 29.)

15. A Revista anuncia para o mês de janeiro o lançamento de uma coletânea de poesias mediúnicas recebidas pelo Sr. Vavasseur, bem como a impressão de um desenho feito pelo Sr. Bertrand, médium escrevente integrante da Sociedade Espírita de Paris, que retratou Allan Kardec. Esse desenho foi posto à venda no escritório da Revista, fato que levou o Codificador a publicar uma nota dizendo-se “completamente estranho a essa publicação, como a de retratos editados por vários fotógrafos”. (Pág. 30.)

16. Três notícias fecham o número de janeiro de 1867: I) O retorno à circulação da Union Spirite, de Bordeaux, redigida pelo Sr. A. Bez, a qual havia sido interrompida por causa de grave moléstia que acometeu seu diretor. II) A suspensão da publicação do jornal espírita italiano Voce di Dio, em razão das devastações causadas pelo cólera na cidade de Catânia. III) A divulgação de um erro cometido na publicação da obra de J. B. Roustaing, cuja retificação este pede que os leitores façam à margem da página III do 3º volume. (Págs. 31 e 32.)

17. Na abertura do número de fevereiro, Kardec complementa artigo publicado em janeiro acerca do livre pensamento e da livre consciência. Segundo ele, os livres pensadores podiam ser divididos em duas classes distintas: os incrédulos e os crentes. Esmiuçando o assunto, Kardec diz que, se for feita a estatística de todos os que perdem a razão, se verá que o maior número está precisamente do lado dos que não creem no futuro, ou dele duvidam, e isto pela razão bem simples que a grande maioria dos casos de loucura é produzida pelo desespero e pela falta de coragem moral, coragem que faz suportar as misérias da vida, ao passo que a certeza do futuro torna menos amargas as vicissitudes do presente. (Págs. 33 e 34.)

18. Kardec relaciona, em seguida, alguns erros clamorosos cometidos por homens ligados à Ciência, o que prova que esta não pode ser tida como infalível em todas as suas afirmativas, visto que os homens podem enganar-se, como se enganaram, por exemplo, ao rejeitarem o sistema de Fulton. Os que negam a existência de Deus porque não o vemos, nem podemos demonstrá-lo por uma equação algébrica, se esquecem de que a força de gravitação também não se pode ver e, no entanto, todos a aceitam por causa dos seus efeitos. (Págs. 35 e 36.)

19. Desses efeitos deduziu-se a causa, e mais: calculando a força dos efeitos, calculou-se a força da causa, que jamais foi vista. Dá-se o mesmo com o Criador e a vida espiritual, que se julgam por seus efeitos, segundo o axioma: “Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. A força da causa inteligente está na razão da grandeza do efeito”. Crer em Deus e na vida espiritual não constitui, pois, uma crença gratuita, mas um resultado da observação, tão positivo quanto o que nos faz crer na força da gravidade. (Pág. 36.)

20. O Espiritismo não é, como pensam alguns, uma nova fé cega, que veio substituir outra fé cega, porque estabelece como princípio que antes de crer é preciso compreender, e para compreender é preciso raciocinar. A Doutrina Espírita não repousa em nenhuma teoria preconcebida ou hipotética, mas na experiência e na observação dos fatos. “Era urgente – observa Kardec – estabelecer, desde o princípio, o Espiritismo no seu verdadeiro terreno. A teoria baseada na experiência foi o freio que impediu a credulidade supersticiosa tanto quanto a malevolência de o desviar de sua rota.” (Págs. 39 e 40.)

21. Com o título de As três filhas da Bíblia o Sr. Hippolyte Rodrigues publicou uma obra em que prevê a fusão das três grandes religiões saídas da Bíblia: a judia, a católica e a maometana. Comentando artigo sobre referido livro inserido no jornal Le Pays, Kardec critica esta frase escrita pelo autor da matéria: “quando se raciocina não se crê mais”. O Espiritismo prega exatamente o contrário: quando se raciocina crê-se mais firmemente, porque se compreende. Foi isso que levou o codificador a escrever que não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade. (Pág. 41.)

22. A Revista transcreve parte de uma carta dirigida pelo padre Lacordaire à sra. Swetchine, datada de 29 de junho de 1853, na qual o notável sacerdote se refere às mesas girantes e afirma que em todos os tempos houve modos mais ou menos bizarros para se comunicar com os Espíritos; apenas se fazia mistério desses processos. “Hoje, graças à liberdade dos cultos e à publicidade universal, o que era um segredo tornou-se uma fórmula popular”, escreveu Lacordaire. (Págs. 43 e 44.)

23. O Monsenhor Freyssinous, bispo de Hermópolis, em suas Conferences sur la religion, publicadas em 1825, também entendia, como Kardec, que “um demônio que procura destruir o reino do vício para estabelecer o da virtude, seria um demônio estranho”. É por isso – escreveu o bispo – que Jesus, para repelir a absurda acusação que os judeus lhe fizeram, lhes dizia: “Se opero prodígios em nome do demônio, então o demônio está dividido consigo mesmo; então procura destruir-se”. Os espíritas dizem a mesma coisa aos que tacham as práticas e as curas espíritas de envolvimento com o demônio. (Pág. 45.)

24. A doutrina espírita, explica Kardec, não admite poder rival ao de Deus e menos, ainda, pode admitir que um ser decaído tenha recuperado bastante poder para contrabalançar os desígnios do Pai. Para o Espiritismo, Satã é apenas a personificação alegórica do mal, como entre os pagãos Saturno era a personificação do tempo, Marte a personificação da guerra e Vênus a personificação da beleza. (Pág. 46.)

25. Vários jornais franceses reproduziram notícia publicada em a Sentinelle Toulonnaise, de Toulon, sobre uma menina de dois anos e onze meses, chamada Eugénie Colombe, que sabia ler e escrever perfeitamente e tinha, ainda, conhecimentos sobre religião cristã, gramática francesa, geografia, história e as quatro operações de aritmética. Um correspondente da Revista, oficial da Marinha em Toulon, confirmou a veracidade do fato, que recebeu de Kardec as explicações que se seguem: I) A precocidade de certas crianças para as línguas, a música e as ciências em geral não passam de lembranças. II) A faculdade de recordar é uma aptidão inerente ao estado psicológico, isto é, ao mais fácil desprendimento da alma em certos indivíduos do que em outros. III) O passado é como um sonho do qual a gente se lembra mais ou menos exatamente, ou do qual se perdeu totalmente a lembrança. (Págs. 47 a 49.)

26. Concluindo o relato pertinente à menina Eugénie, a Revista transcreve parte de uma carta enviada por um correspondente da Argélia que de passagem por Toulon também teve contato com a criança e sua mãe. “Esta criança – diz a carta – certamente é um Espírito muito adiantado, porque se vê que responde e cita sem o menor esforço de memória. Sua mãe me disse que desde os 12 ou 15 meses ela sonha à noite e parece conversar, mas numa língua que não permite compreender. É caridosa por instinto; atrai sempre a atenção de sua mãe, quando avista um pobre; não suporta que batam nos cães, nos gatos, nem em qualquer animal.” (Pág. 49.)

 

(1)  Apoplexia significa afecção cerebral que se manifesta imprevistamente, acompanhada de privação dos sentidos e do movimento, determinada por lesão vascular cerebral aguda (hemorragia, embolia, trombose), bem como qualquer das afecções resultantes da formação rápida de um derrame sanguíneo.

 

Respostas às questões propostas

 

A. Que sente o Espírito de uma pessoa que morre subitamente, de forma inesperada?

Foi o que ocorreu com Charles-Julien Leclerc, espírita e membro da Sociedade Espírita de Paris, morto subitamente, em seguida a um ataque de apoplexia fulminante. Em comunicação dada na Sociedade, Leclerc disse ter ficado muito surpreso com sua morte, que acabou causando-lhe profundo choque porque, em absoluto, não a esperava. No momento em que a morte o feriu, ele a recebeu como que uma cacetada na cabeça: um peso esmagador o derrubou, mas, de repente, sentiu-se aliviado. Seu Espírito planou então acima do seu cadáver e viu com espanto as lágrimas dos familiares, dando-se conta do que havia sucedido. (Revista Espírita de 1867, pp. 27 a 29.)

B. Satã é um ser real?

Não. A doutrina espírita não admite poder rival ao de Deus e menos, ainda, que um ser decaído tenha recuperado bastante poder para contrabalançar os desígnios do Pai. Para o Espiritismo, Satã é apenas a personificação alegórica do mal, como entre os pagãos Saturno era a personificação do tempo, Marte a personificação da guerra e Vênus a personificação da beleza. (Obra citada, pp. 45 e 46.)

C. Como explicar a precocidade de certas crianças?

Referindo-se ao caso Eugénie Colombe, uma menina de dois anos e onze meses que sabia ler e escrever perfeitamente e tinha, ainda, conhecimentos sobre religião cristã, gramática francesa, geografia, história e as quatro operações de aritmética, Kardec escreveu na Revista o seguinte: 1) A precocidade de certas crianças para as línguas, a música e as ciências em geral não passa de lembranças. 2) A faculdade de recordar é uma aptidão inerente ao estado psicológico, isto é, ao mais fácil desprendimento da alma em certos indivíduos do que em outros. 3) O passado é como um sonho do qual a gente se lembra mais ou menos exatamente, ou do qual se perdeu totalmente a lembrança. (Obra citada, pp. 47 a 49.) 

 

 

Observação:

Para acessar a 1ª Parte deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/11/revista-espirita-de-1867-allan-kardec.html


 

 

 

 

 

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