Roteiro
Emmanuel
4
Na
senda evolutiva
O corpo é para o
homem santuário real de manifestação, obra-prima do trabalho seletivo de todos
os reinos em que a vida planetária se subdivide.
Quanto tempo despenderá, desse modo, a Sabedoria Celeste
na estruturação do organismo da alma?
Da sensação à irritabilidade, da irritabilidade ao
instinto, do instinto à inteligência e da inteligência ao discernimento,
séculos e séculos correram incessantes.
A evolução é fruto do tempo infinito.
A morte da forma somática não modifica, de imediato, o
Espírito que lhe usufruiu a colaboração. Berço e túmulo são simples marcos de
uma condição para outra. Assim é que, para as consciências primárias, a
desencarnação é como se fora a entrada em certo período de hibernação. Aves sem
asas, não se elevam à altura. Aguardam o momento de novo regresso ao ninho
carnal para a obtenção de recursos que as habilitem para os grandes voos. Crisálidas
espirituais, imobilizam-se na feição exterior com que se apresentam, mas no
íntimo conservam as imagens de todas as experiências que armazenaram nos
recessos do ser, revivendo-as em forma de pesadelos e sonhos, imprimindo na
mente as necessidades de educação ou reparação, com que devem comparecer no cenário
da carne, em momento oportuno.
Para semelhantes inteligências, a morte é como que a
parada compulsória, por algum tempo, diante de mais altos degraus da escada
evolutiva que ainda não se acham aptas a transpor. Sem os instrumentos de
exteriorização, que lhes cabe desenvolver e consolidar, essas mentes, quando
desencarnadas, sofrem consideráveis alterações da memória. Quase sempre,
demoram-se nos acontecimentos que viveram e, de alguma sorte, perdem,
temporariamente, a noção do tempo. Cristalizam-se, dessa maneira, em paixões e
realizações do passado que lhes é próprio, para renascerem, na arena da luta
material, com as características do quadro moral em que se colocam,
desintegrando erros e corrigindo falhas, edificando, pouco a pouco, as qualidades
sublimes com que se transportarão às Esferas Mais Altas.
Em razão disso, os Espíritos delinquentes ressurgem nas
correntes da vida física, reproduzindo no patrimônio congenial as deficiências
que adquiriram à face da Lei.
O malfeitor conservará consigo longo remorso por haver
desequilibrado o curso do bem, impondo lamentável retardamento ao avanço
espiritual que lhe diz respeito e, com essa perturbação, represará na própria
alma grande número de imagens que, na zona mental dele mesmo, se digladiarão
mutuamente, inibindo, por tempo indeterminável, o acesso de elementos
renovadores ao campo do próprio “eu”.
Purificado o vaso íntimo do sentimento, renascerá na
paisagem das formas, com o defeito adquirido através do longo convívio com o
desespero, com o arrependimento ou com a desilusão, reajustando o corpo
perispirítico, por intermédio de laborioso esforço regenerativo na Esfera
carnal.
Os aleijões de nascença e as moléstias indefiníveis
constituem transitórios resultados dos prejuízos que, individualmente, causamos
à corrente harmoniosa da evolução.
De átomo a átomo, organizam-se os corpos astronômicos dos
mundos e de pequenina experiência em pequenina experiência, infinitamente
repetidas, alarga-se-nos o poder da mente e sublimam-se-nos as manifestações da
alma que, no escoar das eras imensuráveis, cresce no conhecimento e aprimora-se
na virtude, estruturando, pacientemente, no seio do espaço e do tempo, o
veículo glorioso com que escalaremos, um dia, os impérios deslumbrantes da
Beleza Imortal.
[1] A Gênese, 10:26-30.
Nota: O livro Roteiro, psicografado pelo médium
Chico Xavier, foi publicado inicialmente pela editora da FEB em 1952.
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