Hoje é, como sabemos, Dia do Trabalho e, por isso, com este texto, queremos
deixar registrada nossa modestíssima homenagem aos trabalhadores do mundo todo,
lembrando o que na doutrina espírita aprendemos a respeito do trabalho e de sua
importância para todos nós.
“Por que o trabalho se impõe ao homem?”. A esta pergunta, os imortais
responderam: “Por ser uma consequência da sua natureza corpórea. É expiação e,
ao mesmo tempo, meio de aperfeiçoamento da sua inteligência. Sem o trabalho, o
homem permaneceria sempre na infância, quanto à inteligência. Por isso é que
seu alimento, sua segurança e seu bem-estar dependem do seu trabalho e da sua
atividade.” (O Livro dos Espíritos, questão
676 e seguintes.)
Genericamente, o trabalho pode ser definido como “ocupação em alguma
obra ou ministério; exercício material ou intelectual para fazer ou conseguir
alguma coisa”. É pelo trabalho que o homem forja o próprio progresso,
desenvolve as possibilidades do meio ambiente em que se situa e amplia os
recursos de preservação da vida.
O trabalho não se restringe, porém, aos esforços de ordem física e
material, visto que abrange também a atividade intelectual que objetiva as
manifestações da cultura, do conhecimento, da arte e da ciência.
Há em nosso mundo o trabalho remunerado e o trabalho-abnegação. Com o
primeiro, o homem modifica o meio, transforma o habitat, cria as condições de
conforto. Com o segundo, do qual não decorre pagamento nem permuta alguma, ele
se modifica a si mesmo e cresce no sentido moral e espiritual.
O trabalho é, ao lado da oração, o mais eficiente antídoto contra o
mal, porque faculta àquele que trabalha a conquista de valores incalculáveis
com que a pessoa corrige suas imperfeições e disciplina a vontade.
O momento perigoso para o homem é, segundo o Espiritismo, o momento do
ócio, não o do sofrimento nem o da luta áspera. Se na ociosidade pode surgir e
crescer o mal, na dor e na tarefa fulguram a luz da oração e a chama da fé.
A doutrina
espírita considera trabalho toda ocupação útil e ensina que ele constitui fator
indispensável ao progresso das criaturas e da comunidade em que vivemos, um
meio de elevação e de expiação de que necessitamos para resgatar os abusos e os
erros cometidos no passado. “O homem quintessencia o espírito pelo trabalho e
só mediante o trabalho do corpo o Espírito adquire conhecimentos”, afirmaram os
imortais. (O Livro dos Espíritos,
Prolegômenos.)
A finalidade e a importância do trabalho em nossa vida são enfatizadas
pelo Espiritismo em inúmeras obras, e não apenas em O Livro dos Espíritos, como mostram os textos
seguintes:
·
A ciência é obra do gênio e só pelo trabalho
deve ser adquirida, pois só pelo trabalho é que o homem se adianta no seu
caminho. (O Livro dos Médiuns, item 294,
28a questão.)
·
O progresso nos Espíritos é o fruto do próprio
trabalho. (O Céu e o Inferno, 1a
Parte, cap. III, item 7.)
·
A encarnação é necessária ao duplo progresso
moral e intelectual do Espírito: ao progresso intelectual pela atividade
obrigatória do trabalho; ao progresso moral pela necessidade recíproca do
contato dos homens entre si. (O Céu e o
Inferno, 1a Parte, cap. III, item 8.)
·
As almas ou Espíritos são criados simples e
ignorantes, isto é, sem conhecimentos nem consciência do bem e do mal, porém
aptos para adquirir o que lhes falta. O trabalho é o meio de aquisição, e o fim
— que é a perfeição — é para todos o mesmo. (O
Céu e o Inferno, cap. VIII, item 12.)
·
A máxima:
Buscai e achareis, análoga a esta outra: Ajuda-te a ti mesmo, que o céu
te ajudará, é o princípio da lei do
trabalho e, por conseguinte, da lei do progresso, porquanto o progresso é filho do trabalho. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap.
XXV, item 2.)
·
Se Deus houvesse isentado do trabalho do corpo o
homem, seus membros se teriam atrofiado; se o houvesse isentado do trabalho da
inteligência, seu Espírito teria permanecido na infância, no estado de instinto
animal. (E.S.E., cap. XXV, item 3.)
·
Quando experimentarmos qualquer pesar, devemos
resistir e fazer todo esforço para não nos abandonarmos à tristeza, lembrando
que nada se obtém sem trabalho. (Revista
Espírita de 1860, p. 21.)
·
A prece mais agradável a Deus é o trabalho útil,
seja qual for. "Não vos contenteis em pedir a Deus que vos ajude:
ajudai-vos vós mesmos, pois assim provareis a sinceridade de vossa prece."
(Revista Espírita de 1860, p. 67.)
·
Segundo o Espírito de Verdade, felizes são os
que tiverem trabalhado no campo do Senhor com desinteresse e sem outro móvel
senão a caridade, porque seus dias de trabalho serão pagos ao cêntuplo do que
esperam. (Revista Espírita de 1862, pp.
88 e 89.)
·
A depuração do Espírito só é alcançada pelo
trabalho. É por isso que as encarnações escolhidas lhe são mais penosas, porque
- depois de haver dado supremacia à matéria e a seus fluidos - deve constrangê-la,
lutar com ela e dominá-la. (Revista
Espírita de 1864, pp. 50 a
52.)
·
“Se bastasse formular palavras para se dirigir a
Deus, os inoperantes apenas teriam que tomar um livro de preces para satisfazer
a obrigação de orar. O trabalho, a atividade da alma são a única boa prece que
a purifica e a faz crescer.” (Revista
Espírita de 1865, pp. 28 a
31.)
·
Nos Espíritos o progresso é fruto do próprio
trabalho. São eles, pois, os artífices de sua situação, feliz ou infeliz,
conforme o ensinamento do Cristo: “A cada um segundo as suas obras”. (Revista Espírita de 1865, p. 67.)
·
A verdadeira vida, tanto do animal, quanto do
homem, não está no envoltório corporal; está no princípio inteligente que
sobrevive ao corpo. Esse princípio inteligente necessita do corpo para se
desenvolver pelo trabalho que deve realizar sobre a matéria bruta. O corpo se
gasta nesse trabalho, mas a alma, não; ao contrário, dele sai mais forte, mais
lúcida e mais capaz. (Revista Espírita de
1865, p. 95.)
Apesar da importância do trabalho, a lei natural fixou um limite ao seu
exercício, que é, segundo a doutrina espírita, o limite das forças, fato que
deixa claro que, sendo fonte de equilíbrio físico e moral, o trabalho deve ser
exercido por tanto tempo quanto nos mantenhamos válidos. Ninguém ignora que o
avançar da idade debilita o corpo físico e mesmo as faculdades intelectuais,
embora a história registre casos de homens em idade avançada que muito contribuíram
para o mundo em que vivemos, como Benjamim Franklin, que aos 81 anos colaborou
na elaboração da Constituição americana; Miguel Ângelo, que aos 89 anos de
idade ainda produzia obras de rara beleza, e marechal Cândido Rondon, que aos
92 anos ainda trabalhava intensamente nas matas do Brasil.
O momento do repouso é também fundamental. Todo o homem que trabalha
tem direito a ele, para refazimento de suas forças e manutenção do seu ritmo de
produtividade. O repouso nada mais é que um prêmio pelo esforço despendido, uma
pausa necessária à continuidade das tarefas que assumimos. Foi por isso que o
Decálogo consagrou a santificação do dia do sábado, em que é clara a
preocupação em proteger a saúde das pessoas, inclusive dos escravos, dos
estrangeiros e até mesmo dos animais de serviço. “Seis dias trabalharás e farás
toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás
nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a
tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro”, diz
o cap. 20, versículos 9 e 10, de Êxodo.
É indispensável, pois, reservemos um dia para o descanso do corpo, após
uma semana de trabalho, mas devemos consagrá-lo de modo especial a Deus,
santificando-o mais do que os demais dias, com a prática de obras que atestem o
nosso amor pelo próximo e por nosso Pai Celestial. Foi com esse propósito que
Jesus, em dia de sábado, alimentou, pregou e curou a obsessão que uma mulher
trazia “havia dezoito anos” e a mão ressequida de um homem, entre tantos
benefícios que ele realizou, mostrando que todo dia é dia para a prática do
bem, sem exceção de nenhum deles.
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