quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Ninguém se elevará ao Céu sem plena quitação com a Terra



Um leitor pergunta-nos qual é a explicação espírita das chamadas expiações coletivas, que atingem grupos de pessoas, às vezes uma família inteira, uma cidade, uma etnia, sem distinção entre bons e maus, inocentes e culpados.
Segundo a doutrina espírita, as faltas dos indivíduos, de uma família, ou de uma nação, qualquer que seja o seu caráter, se expiam em virtude da mesma lei. O criminoso revê sua vítima, seja no plano espiritual, seja vivendo em contato com ela numa ou em várias existências sucessivas, até a reparação de todo o mal cometido. Dá-se o mesmo quando se trata de crimes cometidos solidariamente, por um certo número de pessoas. As expiações são, então, solidárias, o que não aniquila a expiação simultânea das faltas individuais.
Lembra-nos Kardec que em todo homem há três caracteres: o do indivíduo, do ser em si mesmo, o de membro de família, e, enfim, o de cidadão. Sob cada uma dessas três faces pode ele ser criminoso ou virtuoso, quer dizer, pode ser virtuoso como pai de família, ao mesmo tempo que criminoso como cidadão, e reciprocamente. Disso derivam as situações especiais em que ele irá se encontrar em suas existências sucessivas.
Salvo as naturais exceções, pode-se admitir como regra geral que todos aqueles que têm uma tarefa comum, reunidos numa existência, já viveram juntos para trabalharem pelo mesmo resultado, e se acharão reunidos ainda no futuro, até que tenham alcançado o objetivo, quer dizer, expiado o passado ou cumprido a missão aceita.
Graças ao Espiritismo, compreendemos a justiça das aflições ou vicissitudes que não resultam de atos da vida presente, porque sabemos que se trata da quitação de dívidas perante a Lei contraídas no passado. Por que não ocorreria o mesmo com as dívidas coletivas?
Diz-se, comumente, que as infelicidades gerais atingem o inocente como o culpado; mas pode ser que o inocente de hoje tenha sido o culpado de ontem. Tenha ele sido atingido individualmente ou coletivamente, certamente é que assim mereceu. Ademais, há faltas do indivíduo e do cidadão. A expiação de umas não livra a pessoa da expiação das outras, porque é necessário que toda dívida seja quitada até o último centavo.
As virtudes da vida privada não são as da vida pública. Um indivíduo que seja excelente cidadão pode ser um mau pai de família, e outro, que é bom pai de família, probo e honesto em seus negócios, pode ser um péssimo cidadão e haver soprado o fogo da discórdia, oprimido o fraco, manchado as mãos em crimes de lesa-sociedade. São essas faltas coletivas que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais se reencontram para sofrerem juntos a pena de talião ou terem a ocasião de reparar o mal que fizeram, provando o seu devotamento à coisa pública, socorrendo e assistindo aqueles que outrora maltrataram.
Um expressivo exemplo de expiações coletivas nos é mostrado por André Luiz no cap. 18 do livro Ação e Reação, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, no qual é descrita a ocorrência de um desastre de avião e relatadas as providências tomadas pelos benfeitores espirituais com o objetivo de socorrer as vítimas.
Em face desse caso e de outros semelhantes, Hilário, amigo de André, perguntou ao instrutor Druso se a dor dos pais das pessoas que perecem nas lutas expiatórias coletivas é considerada pelos poderes que controlam a vida.
A resposta, além de elucidativa, é profundamente consoladora, porque comprova que a nave Terra não se encontra à deriva e tem, portanto, alguém no seu comando.
Respondeu-lhe o instrutor Druso: "Como não? as entidades que necessitam de tais lutas expiatórias são encaminhadas aos corações que se acumpliciaram com elas em delitos lamentáveis, no pretérito distante ou recente, ou, ainda, aos pais que faliram junto dos filhos, em outras épocas, a fim de que aprendam na saudade cruel e na angústia inominável o respeito e o devotamento, a honorabilidade e o carinho que todos devemos na Terra ao instituto da família. A dor coletiva é o remédio que nos corrige as falhas mútuas". (Ação e Reação, capítulo 18, pp. 249 a 251.)
Ninguém se elevará a pleno Céu, sem plena quitação com a Terra. "Quanto mais céu interior na alma, através da sublimação da vida, mais ampla incursão da alma nos céus exteriores, até que se realize a suprema comunhão dela com Deus, Nosso Pai", asseverou o instrutor espiritual.



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