terça-feira, 16 de setembro de 2014

Uma carta enviada pelo sentimento


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR

Já se contavam muitas folhas amassadas e jogadas no lixo. E a impaciência de ainda não conseguir escrever uma carta para o seu grande amor começava a ser bastante evidente no olhar de Gabrielle.
Fazia um tempo considerado que não conviviam de corpo e alma, no entanto, as inúmeras lembranças eram vivas, retomadas, reais, até o toque das mãos, Gabrielle podia sentir, o cheiro do nobre ausente, o sorriso, o olhar, as palavras ditas com calma, característica nata de Leone, a calma.
Finalmente a mão ainda delicada da mulher segurando a caneta começou a formar as letras... palavras... frases... orações... períodos... sempre com a essência do mais profundo sentimento: o amor. E quanto se amaram e se amavam.
E a página começou a ser preenchida por uma felicidade plena direcionando-se à eternidade.
Assim, esta carta começou a ser formada:

“Amor dos meus dias.
Quanta emoção poder escrever-te estas palavras, embora tão selecionadas, ainda muito incapazes de iniciar sequer a abordagem do tão eterno e imensurável amor por ti.
Todo este tempo, distantes, só serviu para emancipar meu sentimento e te amar com o mais pleno amor que meu coração já pôde vivenciar.
Lembro-me da doçura do pôr do sol a teu lado; da brisa suave refrescando nosso olhar... olhar do amor pleno e restaurado a cada amanhecer pela convivência, dias tão intensos de felicidade.
Como te amo, amor meu.
Como te aguardo no nosso tempo.
Sei que por ti, descobri amor intenso e verdadeiro.
Ah... dias inconsoláveis... derradeiros dias.
Mas o amparo me chega e peço por ti também, que me é parte minha por tanto amor por ti sentir.
Face com olhos tão familiarizados e bons, olha-me nestes meus olhos que tanta saudade têm de te olhar.
Meu amor, dá-me tuas mãos para que eu possa me segurar e tê-las entre as minhas carinhosamente.
Ah, quanta saudade... quanta saudade!
Quero mais uma vez repousar em teu peito e tão segura e amada me sentir.
Oh... amor dos meus dias!”

Com as lágrimas escorrendo no rosto já vivido por uns aproximados setenta anos, a senhora Gabrielle adormeceu em sua cadeira de leitura de tantos anos atrás. Como se estivesse junto de seu Leone, deixou a mão estendida querendo sentir a mão dada de seu amor.
Recebeu as energias benfazejas de amigos sutis e, adormecida, continuou. Quanta emoção sentira.
E Leone, ainda mais emocionado, aproximou-se. Tocou o cabelo gris da companheira de tantas jornadas e o amor o tomou por inteiro.
Tanto a acariciou na face, nas mãos... sentiu o calor de seu corpo que há muito não sentia.
E bem baixinho, falou à companheira:
– “Oh, minha vida! Quanta saudade de ti. Quantas estações vividas com essa ausência, no entanto, agora estamos aqui de mãos entrelaçadas. Oh, amor dos meus dias.”
Assim ficaram, Leone, desperto, consciente, e Gabrielle, em sono profundo, corpo descansado na poltrona, na qual tantos livros, ela já havia lido.
Tudo a seu tempo.
Embora estivessem em mundos distintos, o sentimento amoroso os unia. O pensamento, energia instantânea, alcança o destino imediatamente. E o amor os ligava como um feixe luminoso.
Leone já tinha completado há alguns anos mais um cumprimento de seu dever no campo terreno e estava agora na eternidade dos dias. Entretanto, Gabrielle havia de continuar no plano ainda onde se encontrava até o momento necessário do acordo firmado na última estada na erraticidade.
Reencontrar-se-iam, o que é tão natural, mas enquanto isso, mesmo com a separação efêmera, continuariam ligados pelo mais nobre sentimento: o amor de puro coração; amor que alcança o mais recôndito ser em tempo e espaço, liberta as algemas da consciência e traz o renascimento para os campos floridos de luz, paz e felicidade.

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