domingo, 16 de novembro de 2014

Por que orar faz bem?



Existem pessoas que não creem na validade da prece e assim procedem durante toda a sua existência, até que a provação, surgida sob a forma de enfermidade irreversível ou da ruína nos negócios, abata seu orgulho e as leve à meditação em Deus.
Certo amigo, que nas horas vagas colaborava com assiduidade num dos hospitais da cidade, relatou-nos oportunamente como era o comportamento de determinadas criaturas de vida abastada quando, internadas naquele hospital, tomavam conhecimento da gravidade de sua enfermidade.
Ciente de antemão do estado do enfermo, nosso amigo lhe sugeria, em particular, a presença de um sacerdote para – quem sabe? – o necessário desabafo. A resposta era, porém, inicialmente, desanimadora:
– Não preciso de padre nem de religião nenhuma!
Com o passar dos dias, a doença insidiosa mostrava os sinais de sua dureza e determinação. A família passava a rodear o enfermo, parentes chegavam de todos os cantos, e, evidentemente, o resultado não se fazia esperar. O enfermo acabava enviando ao nosso amigo o esperado recado:
– Se o senhor quiser trazê-lo, não me importo com a vinda do padre.
O fato ilustra uma conhecida verdade, a saber, quando a ciência se revela impotente e o dinheiro nada mais pode, só resta recorrer à religião, como último recurso na busca de melhores dias.
Com as pessoas de vida mais singela o fato se dá de forma diferente. A escassez de recursos e a simplicidade da vida fazem com que esses irmãos sintam, geralmente, na prece um elemento importante em sua vida e, talvez, o único recurso diante das vicissitudes.
O convívio com famílias que vivem na periferia da cidade comprova isso. Essas pessoas, não raro, acompanham a oração com seriedade e gosto. Sim, com gosto, alegria, interesse, compreensão. É que a prece sincera transforma nosso estado d´alma e, quando fervorosa, traz-nos uma paz indefinida, assentando por alguns momentos uma vida nova em nosso campo mental.
Por que a prece conforta tanto?
Que mistério profundo encerra essa comunhão que os povos mais antigos já cultuavam?
O Espiritismo trata do tema com respeito e carinho, ao definir a prece como sendo um ato de adoração a Deus e, ao mesmo tempo, uma conversa com o Criador ou seus prepostos.
Sendo um ato de adoração, ela agrada ao Senhor e nos torna melhores, não requerendo para isso uma forma exterior determinada ou uma dissertação alongada. Seu conteúdo é que vale, a atitude de quem ora é que importa, cientes todos nós de que a prece deve ser espontânea, objetiva e plena de sentimentos elevados.
Do mesmo modo como Jesus ensinou, propõe-nos o Espiritismo que devemos orar em secreto, visto que, tratando-se de uma invocação e uma conversa íntima, ela requer os mesmos cuidados que temos quando desenvolvemos com alguém um entendimento particular.
Ensina Emmanuel: “A prece deve ser cultivada no íntimo, como a luz que se acende para o caminho tenebroso ou como o alimento indispensável na jornada longa e difícil, porque a oração sincera estabelece a vigilância e constitui o maior fator de resistência moral no centro das provações mais escabrosas e mais rudes” (O Consolador, pergunta 245).
Há, como sabemos, vários modelos de prece. O Pai Nosso, a prece de Cáritas, a oração de São Francisco de Assis, todas são peças de altíssimo valor literário e sentimental. O essencial, contudo, não é o que elas dizem, mas como as dizemos, que sentimos ao dizê-las, a maneira, enfim, como as vivenciamos, sobretudo no momento de pô-las em execução.



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