No ano passado, a nação acompanhou,
incrédula, os desdobramentos do desastre aéreo ocorrido em Santos (SP) na manhã
do dia 13 agosto, no qual sete pessoas ocupantes da aeronave acidentada pereceram,
dentre elas o ex-governador Eduardo Campos, de Pernambuco, então candidato a
presidente da República.
Há menos de três semanas, mais
precisamente no dia 24 de março, outro desastre aéreo comoveu o mundo.
Referimo-nos à queda de um Airbus A320 da companhia aérea Germanwings,
controlada pela Lufthansa, que saíra de Barcelona com destino a Düsseldorf, na
Alemanha. As 150 pessoas que estavam a bordo não resistiram ao acidente.
As mortes coletivas sempre causam grande
comoção e suscitam em todas as pessoas reflexões inúmeras, como, por exemplo, a
fragilidade da vida humana e esse que é para muitos verdadeiro mistério, que
faz com que pessoas tão jovens deixem o nosso plano, enquanto idosos chumbados
a um leito de hospital, sem nenhuma esperança de cura, continuam por aqui.
Esse episódio levantou, como o anterior,
uma velha questão que acabou chegando até nós:
– Que existe na literatura espírita a
respeito das causas das mortes coletivas?
Quem primeiro tratou do assunto, pelo
que nos consta, foi Emmanuel em uma obra escrita em 1940 e publicada no ano
seguinte pela Editora da FEB. Eis a questão que lhe foi proposta e sua
resposta:
250. Como se
processa a provação coletiva? – Na provação coletiva verifica-se a convocação dos Espíritos
encarnados, participantes do mesmo débito, com referência ao passado delituoso
e obscuro. O mecanismo da justiça, na lei das compensações, funciona então espontaneamente,
através dos prepostos do Cristo, que convocam os comparsas na dívida do
pretérito para os resgates em comum, razão por que, muitas vezes, intitulais
“doloroso acaso” as circunstâncias que reúnem as criaturas mais díspares no
mesmo acidente, que lhes ocasiona a morte do corpo físico ou as mais variadas
mutilações, no quadro dos seus compromissos individuais. (O Consolador, obra psicografada pelo médium Francisco
Cândido Xavier.)
Em 1957, no cap. 18 do livro Ação e Reação, também psicografado por
Francisco Cândido Xavier, André Luiz reportou-se ao tema. No livro é relatado o
caso Ascânio e Lucas, acerca dos quais o instrutor Druso disse o seguinte:
"Há trinta anos,
desfrutei o convívio de dois benfeitores, a cuja abnegação muito devo neste
pouso de luz. Ascânio e Lucas, Assistentes respeitados na Esfera Superior,
integravam-nos a equipe de mentores valorosos e amigos... Quando os conheci em
pessoa, já haviam despendido vários lustros no amparo aos irmãos transviados e
sofredores. Cultos e enobrecidos, eram companheiros infatigáveis em nossas
melhores realizações. Acontece, porém, que depois de largos decênios de luta,
nos prélios da fraternidade santificante, suspirando pelo ingresso nas esferas
mais elevadas, para que se lhes expandissem os ideais de santidade e beleza,
não demonstravam a necessária condição específica para o voo anelado.
Totalmente absortos no entusiasmo de ensinar o caminho do bem aos semelhantes,
não cogitavam de qualquer mergulho no pretérito, por isso que, muitas vezes,
quando nos fascinamos pelo esplendor dos cimos, nem sempre nos sobra disposição
para qualquer vistoria aos nevoeiros do vale... Dessa forma, passaram a desejar
ardentemente a ascensão, sentindo-se algo desencantados pela ausência de apoio
das autoridades que lhes não reconheciam o mérito imprescindível.” (Ação e Reação, obra psicografada pelo médium Francisco
Cândido Xavier.)
Druso disse então que, chamados ambos a
exame devido, técnicos do Plano Superior lhes reconduziram a memória a períodos
mais recuados no tempo. Diversas fichas de observação foram extraídas, então,
do campo mnemônico, à maneira das radioscopias dos atuais serviços médicos no
mundo e, através delas, importantes conclusões surgiram à tona.
Ascânio e Lucas possuíam, de fato, créditos
extensos, adquiridos em quase cinco séculos sucessivos; no entanto, quando a
gradativa auscultação alcançou o século XV, algo surgiu que lhes impôs dolorosa
meditação: "Arrebatadas ao arquivo da memória e a doer-lhes profundamente
no espírito, depois da operação magnética a que nos referimos, reapareceram nas
fichas mencionadas as cenas de ominoso delito por ambos cometido, em 1429, logo
após a libertação de Orleães, quando formavam no exército de Joana d'Arc.
Famintos de influência junto aos irmãos de armas, não hesitaram em assassinar
dois companheiros, precipitando-os do alto de uma fortaleza no território de Gâtinais, sobre fossos
imundos, embriagando-se nas honrarias que lhes valeram, mais tarde, torturantes
remorsos além do sepulcro".
Nesse ponto, inquiridos se desejavam
prosseguir na sondagem singular, responderam negativamente, preferindo liquidar
a dívida, antes de novas imersões no passado. Ascânio e Lucas suplicaram,
assim, o retorno ao campo dos homens, no qual resgatariam o débito aludido. Como
podiam escolher o gênero de provação, em vista dos recursos morais amealhados
no mundo íntimo, optaram por tarefas no campo da aeronáutica, a cuja evolução
ofereceram as suas vidas.
Fazia dois meses – informou Druso – que
os dois amigos haviam desencarnado, em virtude de um acidente aviatório, tendo
sofrido, desse modo, a pedido deles, a mesma queda mortal que infligiram aos
companheiros de luta no século XV.
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