A essência não é deste mundo
CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
A ansiedade moderna
dispara o coração e acelera o corpo, o tempo, a mente e com essa ânsia de obter
algo que nem se denomina e de chegar a um lugar sem direção exata, pois,
perdido, desnorteado no turbilhão ilusório da esfera material, o espírito, que
não é matéria, mas eternidade, tenta continuar. Ah! Entretanto, ele precisa
compreender sua essência, precisa relembrar que é espírito, centelha divina,
energia, luz, universo, vida e, só assim, começará a sentir-se com mais
harmonia e menos desolação.
E os dias seguem; os
laços afetivos se afrouxam; os olhos nem se lembram de observar a lua; as
flores nascem e caem; as estações se repetem; os amigos desaparecem; a família
passa a ser um grupo de pessoas que simplesmente mora no mesmo lugar, mas não
se conhece e nem se quer conhecer, pois, de fato, não é um lar. E por quê? E
para quê? A vida não é isso. A vida é a nobreza para o desenvolvimento de tudo
o que foi criado pelo seu Criador.
Há tantas
maravilhas, temos tanto a nosso alcance. O que precisamos é aprender a usufruir
cada delicado presente. Deus já nos presenteou com o ar, a água, os raios
solares e lunares, os campos coloridos de flores, os animais, as plantações
douradas de trigo, os peixes nos rios e nos mares, as cores do arco-íris, a
brisa fresca, o sorriso das crianças, as montanhas, os prados e campinas, as
estrelas feito diamantes no azul escuro céu, o abraço de um amigo, a esperança
do amanhecer, reconfortantes palavras, a ternura do amado olhar, a liberdade de
pensamento, a oportunidade de recomeço, a certeza de que para sempre estaremos
vivos. Temos tanto. A partir de agora, o tempo possível, deveremos cuidar mais
do que é real e não valorizar tanto o que é efêmero. O que passou já possui
outro tempo e espaço, mas o hoje e, consequentemente, o futuro podem ser
vividos com bem mais sabedoria e amor. E com essa observação conferida, as
tardes, as noites e os amanheceres poderão ser mais harmoniosos e felizes.
A gratidão renascerá
e saudará cada célula, órgão, pequenina parte do corpo; cada pássaro colorido
animando o céu; cada refeição; cada copo d'água; cada dia de trabalho; cada dia
vivido; cada abraço doado... recebido; cada momento especial; cada difícil
momento, pois valerá como aprendizado; cada assimilação por meio de leitura,
conversa, seminário; cada vez que sentir o vento no rosto; cada segundo pelo
qual o pensamento poderá nos levar aonde mais desejarmos... liberdade, pura,
liberdade; a gratidão saudará a vida que pulsa no espírito.
Então, que tal
vivermos o agora com calma e valor? Temos tanto e não há motivo para
incessantemente buscarmos o que não nos completa. A fuga dos dias presentes
está assolando parte enorme da humanidade, ou seja, de espíritos que só por
enquanto estão encarnados, pois a verdade desses espíritos, já se sabe, é a
eternidade.
E quando a calma se
expande até podemos nos apresentar à centelha que existe em nós, e podemos
conhecê-la melhor e sabermos realmente o que a fará feliz e do que ela
necessita. Quando nos acalmarmos poderemos viver conosco e em paz, apreciar a
infinidade de formas, cores, imagens, sentimentos e teremos condições de
agradecer imensamente ao Senhor e não apenas pedir e pedir sem noção do que
realmente precisar.
E os beija-flores
continuam a visitar as flores, e a água cristalina desce pela cachoeira, os
dias chegam para as noites descansarem e a vida continua para, como agora, nos
apresentar um novo tempo com plenas condições de compreensão, amor, paz e
valorização do que é de fato a nossa verdade, com menos preocupação material e
mais nobreza de sentimento.
Somos eternidade e
aprenderemos que somos também amor.
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