domingo, 18 de dezembro de 2016

Reflexões à luz do Espiritismo



Intolerância religiosa... até quando?

Quem conhece as Escrituras certamente se recorda de um expressivo ensinamento saído da fala de Jesus e registrado pelos evangelistas Lucas e Marcos.
Ei-lo:

E, respondendo, João disse: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava os demônios, e lho proibimos, porque não te segue conosco. E Jesus lhe disse: Não o proibais, porque quem não é contra nós é por nós. (Lucas, 9:49,50.)
E João lhe respondeu, dizendo: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue. Jesus, porém, disse: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e possa logo falar mal de mim. Porque quem não é contra nós é por nós. (Marcos, 9:38-40.)

No cap. XIII do livro Uma estrela em forma de flor, Arthur Bernardes de Oliveira, reportando-se às perseguições sofridas pelos espíritas do Porto de Santo Antônio (hoje Astolfo Dutra), localidade situada na Zona da Mata de Minas Gerais, disse o seguinte:

“Por isso deixo de dizer as inúmeras vezes em que procissões incalculáveis paravam diante de nossa casa, para cantar hinos e emitir provocações, na mais infame de todas as humilhações. Eu era pequeno, mas não me esqueço de uma em que, levados por minha mãe, fomos para a varanda, a fim de receber na face os apodos e os achincalhes.
Minha mãe, tranquila como o céu, serena como um lago, pura como um lírio, a olhar aquela multidão enfurecida, e olhos para o Alto, pedindo a Deus perdão para aqueles infelizes.
Nem direi que por causa de campanha clerical ficaram os espíritas sem patrões para quem trabalhar, e alimentos de quem comprar, ou para quem vender.
Fechou-se o ciclo do bloqueio econômico. A miséria se agravava, mas a fé se robustecia. E como ‘nada é impossível àquele que crê’, vencemos aquela parada. Sabem Deus e os antigos moradores de Astolfo Dutra com que lágrimas e com que dores.
Certa vez, um italiano de lá, Sr. Próspero, anunciou que invadiria com o seu caminhão o nosso centro na hora de reuniões. A cidade se alarmou. Todos iam ver o ‘divino massacre’. Sr. Próspero conquistaria o céu com a beleza daquele gesto vandálico. A data foi marcada. E aos que o aconselhavam para não ir ao centro, devido à sua paralisia, o velho Abel Gomes deu esta admirável lição de fé e de coragem:
– Hoje ninguém me segura. Poderia faltar a todas as reuniões. Mas a esta de hoje, jamais eu me permitiria isso. Tenho que ir e quero ficar na porta. As rodas do caminhão hão de apanhar-me primeiro. Depois morrerão vocês. Mas o primeiro hei de ser eu.
Dessa atitude, ninguém conseguiu demovê-lo. E às sete horas em ponto, com o caminhão descendo e subindo as ruas da cidade, para aumentar ainda mais o interesse pelo espetáculo, lá estava no meio da porta aquele vulto extraordinário com os cabelos branquinhos, pronto a morrer pela Causa.
Devemos a essa decisão do velho Abel Gomes todas as vitórias que vieram depois. Não se tivesse comportado dessa maneira e talvez estivesse morta para sempre, em Astolfo Dutra, a semente esplendorosa do Espiritismo.” (Uma estrela em forma de flor, cap. XIII, obra publicada em 28 de julho de 2014 pela EVOC – Editora Virtual O Consolador.) 

Muitos anos se passaram e chegamos ao século 21, mas a perseguição, a violência, o ódio continuam. No ano passado, precisamente no dia 28 de julho, conforme divulgado amplamente pela imprensa local e nacional, a sede da Associação Espírita A Caminho da Luz, com sede no Jardim Vila Rica, em Rondonópolis (MT), a 218 km da capital Cuiabá, foi arrombada e incendiada.(1) 
Segundo a presidente da instituição, Elcha Brito, os criminosos destruíram tudo: paredes, fiação elétrica, cadeiras, móveis, quadro-negro e o material pedagógico que era usado em atividades de evangelização para crianças e jovens dos bairros vizinhos. A Associação Espírita realizava ainda tratamentos espirituais e fazia a distribuição de sopa. Antes do ato de vandalismo, a instituição havia sido “visitada” em três outras ocasiões, mas a polícia de Mato Grosso não conseguiu localizar os responsáveis.
“Não dá para saber se foi uma espécie de retaliação ou crime de ódio religioso”, ressaltou a presidente da instituição. Mas a intolerância religiosa neste País tem crescido tanto, que somente os ingênuos hão de descartar a possibilidade de que por trás do ato de vandalismo estejam pessoas que, ao dizer-se adeptas do Cristianismo, ignoram solenemente que Jesus afirmou que “quem não é contra nós é por nós”.






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