Será o amor
materno um mito?
Tendo por título L' Amour En Plus, causou grande perplexidade quando publicado pela
primeira vez, na cidade de Paris, um livro escrito pela professora francesa
Elisabeth Badinter, que, depois de efetuar extensa pesquisa, lançou a ideia de
que o instinto materno é um mito e não existe uma conduta materna universal e
necessária.
Na obra, a autora constata a extrema
variabilidade desse sentimento, segundo a cultura, as ambições ou as
frustrações da mãe, e conclui, por fim, que o amor materno é apenas um
sentimento humano como outro qualquer e, como tal, incerto, frágil e
imperfeito.
No Brasil, publicado pela Nova Fronteira, o livro recebeu o título
de Um Amor Conquistado: o Mito do Amor
Materno, em tradução de Waltensir Dutra.
Um episódio recente mostrado várias
vezes pela TV brasileira, em que uma mãe caminha até um depósito de lixo e
deixa ali o seu bebê recém-nascido, parece dar razão a Elisabeth Badinter,
porque, de fato, como ela menciona em seu livro, há mães que não revelam nenhum
sentimento de amor por seus filhos, a ponto de até mesmo impedirem que nasçam,
como ocorre nos milhões de abortamentos que se registram anualmente no mundo,
incluindo nessa estatística o Brasil – um país em que a maioria esmagadora da
população se diz cristã.
Será o amor materno um mito?
A doutrina espírita diz-nos que não e,
quando trata do assunto, ensina-nos coisa diferente.
Vejamos o que diz a questão 890 d´O Livro dos Espíritos:
– Será uma
virtude o amor materno, ou um sentimento instintivo, comum aos homens e aos
animais?
“Uma e outra coisa. A Natureza deu à mãe o amor a seus
filhos no interesse da conservação deles. No animal, porém, esse amor se limita
às necessidades materiais; cessa quando desnecessário se tornam os cuidados. No
homem, persiste pela vida inteira e comporta um devotamento e uma abnegação que
são virtudes. Sobrevive mesmo à morte e acompanha o filho até no além-túmulo.
Bem vedes que há nele coisa diversa do que há no amor do animal.”
A experiência humana oferece-nos
muitos exemplos da propriedade e do acerto dessa resposta e isso fica ainda
mais nítido para os que atuam nas sessões espíritas de assistência aos
desencarnados. Invariavelmente, muito embora estejam desencarnadas, são as mães
que na maioria dos casos socorrem as criaturas que sofrem e pedem socorro
depois de haverem deixado o plano em que vivemos.
Como explicar então os casos que
subsidiaram as pesquisas de Elisabeth Badinter e o episódio recente que vimos
na TV?
Essa questão não foi ignorada por
Allan Kardec. Veja o que nos diz a questão 891 da principal obra da doutrina
espírita:
– Estando em a
Natureza o amor materno, como é que há mães que odeiam os filhos e, não raro,
desde a infância destes?
“Às vezes, é uma prova que o Espírito do filho escolheu, ou
uma expiação, se aconteceu ter sido mau pai, ou mãe perversa, ou mau filho,
noutra existência. Em todos os casos, a mãe má é uma pessoa animada por um mau
Espírito que procura criar embaraços ao filho, a fim de que sucumba na prova
que buscou. Mas essa violação das leis da Natureza não ficará impune e o
Espírito do filho será recompensado pelos obstáculos de que haja triunfado.”
Verifica-se que os casos apurados por
Elisabeth Badinter constituem somente uma exceção à regra geral em que o amor
maternal encontra-se geralmente presente. Trata-se de uma ocorrência excepcional
por exigência de uma das leis que regem a vida – a lei de causa e efeito –,
expressa nos textos evangélicos em uma frase singela e conhecida: “A semeadura
é livre, mas a colheita é compulsória”.
Que estas considerações sejam
recebidas por todas as mães que nos leem como uma modesta homenagem a essas
criaturas admiráveis a quem Deus confia os seus filhos por acreditar que elas
darão conta do recado.
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