quarta-feira, 31 de outubro de 2018




O elogio do operário

Humberto de Campos (espírito)

Às portas do Céu bateram, um dia, um político, um soldado e um operário. Mas Gabriel, o anjo que na ocasião velava pela tranquilidade do paraíso, não quis atender-lhes as rogativas sem previamente consultar o Senhor sobre aquelas três criaturas recém-chegadas da Terra.
Depois de inquiri-las quanto às suas atividades na superfície do mundo, procurou o Mestre, a quem falou humildemente:
— Senhor, um político, um soldado e um operário, vindos da Terra longínqua, desejam receber vossas divinas graças, ansiosos de gozar das felicidades celestes.
— Gabriel — disse o Salvador —, que habilitações trazem do mundo essas almas, para viverem na paz da Casa de Deus? Bem sabes que cada homem edifica, com a sua vida, o seu inferno, ou o seu paraíso… Mas, vamos ao que nos interessa: Que fez o político lá na Terra?
O anjo, bem impressionado com a figura do diplomata, que impetrara os seus bons ofícios, exclamou com algum entusiasmo:
— Trata-se de um homem de elevado nível cultural. Suas informações revelaram-me um espírito de gosto refinado no trato da civilização e das leis. Foi um preclaro estadista, cuja existência decorreu nos bastidores da administração pública e nos torneios eleitorais onde consumiu todas as suas energias. Em troca de seus labores, os homens lhe tributaram as mais subidas honras nas suas exéquias. Seu cadáver, embalsamado num ataúde de vidro, percorreu duzentas léguas para ficar guardado nos mármores preciosos do Panteão Nacional.
— Mas… — objetou entristecido o Mestre — esse homem teria cumprido as leis que ditava para os outros? Teria observado a prática do bem, a única condição para entrar no paraíso, absorvido, como se achava, na enganosa volúpia das grandezas terrenas?
— A luta política, Senhor, tomava-lhe todo o tempo — respondeu solícito o anjo —; os tratados jurídicos, as tabelas orçamentárias, as fontes históricas, as questões diplomáticas, os compêndios de ciências sociais, não davam lugar a que ele se integrasse no conhecimento da vossa palavra…
— Entretanto, o meu Evangelho deveria ser a bússola de quantos se colocam na direção da humanidade…
E, como se intimamente lastimasse a situação do infeliz, O Mestre rematou:
— Aqui não há lugar para ele. Não se conquistam as venturas celestes com a riqueza de teorias da Terra. Dir-lhe-ás que retorne ao mundo, a fim de voltar mais tarde ao paraíso, pela porta do bem, da caridade e do amor.
E o soldado, que serviços apresenta em favor da sua pretensão?
— Esse — replicou Gabriel — foi um herói na terra em que nasceu. Seus atos de valor e de bravura deram causa a que fosse promovido pelos superiores hierárquicos à posição de chefe das forças militares em operações, na última guerra. Tem o peito coberto de medalhas e de insígnias valiosas, das ordens patrióticas e das legiões de honra; seu nome é lembrado no mundo com carinhoso respeito. Aos seus funerais compareceram representações de vários países do mundo e inúmeras coletividades acompanharam-lhe as cinzas ilustres, que, envolvidas na bandeira da sua pátria, foram guardadas num majestoso monumento de soberbo carrara.
— Infelizmente — exclamou amargurado o Senhor —, o Céu está fechado para os homens dessa natureza. É inacreditável que sejam glorificados no orbe terrestre aqueles que matam a pretexto de patriotismo. Nunca pus no verbo dos meus enviados, no planeta, outra lei que não fosse aquela do — “amai a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a vós mesmos”. Nunca houve uma determinação divina para que os homens se separassem entre pátrias e bandeiras. De sul a norte, do oriente ao ocidente, todos os Espíritos encarnados são filhos de Deus, e qualquer deles pode ser meu discípulo. Os homens que semeiam a ruína e a destruição não podem participar da tranquilidade do paraíso.
E o operário, que fatos lhe justificam a presença nas portas do Céu?
— Esse — elucidou Gabriel — quase nada tem a contar dos seus amargurados dias terrestres. Os sopros frios da adversidade, em toda a existência perseguiram-no através das estradas do destino, e a fé em vossa complacência e misericórdia lhe foi sempre a única âncora de salvação, no oceano de suas lágrimas por onde passava o barco miserável da sua vida. Trabalhou com o esforço poderoso das máquinas e foi colaborador desconhecido do bem-estar dos afortunados da Terra. Nunca recebeu compensação digna do seu trabalho, e consumiu-se no holocausto à coletividade e à família… Entretanto, Senhor, ninguém conheceu as tempestades de lágrimas do seu coração afetuoso e sensível, nem as dificuldades dolorosas dos seus dias atormentados, no mundo. Viveu com a fé, morreu com a esperança e o seu corpo foi recolhido pela caridade de mãos piedosas e compassivas que o abrigaram na sepultura anônima dos desgraçados…
— O Céu pertence a esse herói, Gabriel — disse o Mestre alegremente. — Suas esperanças colocadas no meu amor são sementes benditas que frutificarão na percentagem de mil por um. Se os homens o ignoram, o Céu deve conhecer os seus heroísmos obscuros e os seus sacrifícios nobilitantes. Enquanto o político organizava leis que não cumpria, ele se imolava no desempenho dos deveres santificadores. Enquanto o soldado destruía irmãos, seus braços faziam o milagre do progresso e do bem-estar da Humanidade. Enquanto os despojos dos primeiros foram encerrados nos mármores frios e imponentes das falsas homenagens da Terra, seu corpo de lutador se dissolveu no solo, acentuando o perfumes na Natureza e enriquecendo o grão que alimenta as aves alegres, na mesma harmonia eterna e doce que regeu os sentimentos do seu coração e os atos do seu Espírito. Esse, Gabriel, faz parte dos heróis do Céu, que a Terra nunca quis conhecer.
E, enquanto o político e o soldado voltavam ao caminho das reencarnações dolorosas da Terra, o operário de Deus se cobria com as claridades do Infinito, buscando outras possibilidades de trabalho para o seu amor e para o seu devotamento.

Do livro Crônicas de Além-Túmulo, obra psicografada pelo médium Chico Xavier.




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terça-feira, 30 de outubro de 2018




O livro do comportamento

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

Ah, se nos empenhássemos tanto para a vida transcendental quanto nos empenhamos na efêmera vida material com boa parte em realização de confusões, desequilíbrios, inferiores sentimentos! O tempo real e verdadeira vida enormemente se diferem do atropelo e ignorância que geramos aqui em nossos dias. Tanto tempo perdido, tanta ociosidade para o progresso e os débitos são registrados no livro do comportamento.
Ninguém é capaz de ludibriar os olhos que tudo veem, o coração que tudo sabe, o amor infinito que nos abraça até a eternidade. Até o mais momentâneo pensamento já é observado e colocado nos pertences do próprio espírito. Espero que a luz do esclarecimento em breve ocasião faça nascer a diferença do que é notável para nós e do que atrasa a nossa caminhada.
Na história sempre houve passagens que muito mudaram o andamento, ora por direitos, ora por renovação de quando os atos antigos não mais surtem o efeito necessário, ora pelo fortalecimento dos verdadeiros valores que perduram o tempo. Sempre estamos por alguma luta, no entanto, são poucas as vezes que nos desgastamos por objetivos nobres, infelizmente, ainda vamos atrás do que é mais individual, egocêntrico, inferior em vez de grandes causas coletivas.
Porém, a ocasião é sempre propícia para a retomada dos passos mais sensatos, bondosos e com mais amor do que qualquer outro oponente. Embora a atitude arbitrária aparente, de imediato, um resultado mais satisfatório, será sempre equivocada, pois ainda que seja atrativa para muitos seres, todos, indistintamente, sabem o que é o bem e o mal. E como tudo é registrado no eterno livro do comportamento, ninguém poderá reclamar dos resultados, já que a cada um será dado de acordo com as suas obras.
Lembremo-nos mais dos pássaros que calmamente se soltam nas correntes naturais dos ventos, e só podem fazer isso porque estão com suas consciências mais leves e o amor, de forma linda, preenche a maior parte de seus corações.
   
Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/




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segunda-feira, 29 de outubro de 2018




Da lista de erros corriqueiros que ocorrem aqui e ali no tocante ao uso do idioma que falamos, eis mais cinco casos:
1 - Entrar dentro.
O correto: Entrar em.
Explicação: utilizar o vocábulo “dentro” em seguida ao verbo entrar constitui lamentável redundância, semelhante a “sair para fora”, “elo de ligação”, “monopólio exclusivo”, “ganhar grátis”.
2 - Venda à prazo.
O correto: Venda a prazo.
Explicação: não existe crase antes de palavra masculina, como nestes exemplos: a salvo, a bordo, a pé, a esmo, a cavalo, a caráter. A exceção se dá se houver subentendida na frase a palavra “moda”: salto à Luís XV (salto à moda de Luís XV).
3 - Assistir o jogo.
O correto: Assistir ao jogo.
Explicação: o verbo assistir exige, em casos assim, a preposição “a”. Quem assiste, assiste a alguma coisa: assistir à missa, assistir à sessão, assistir à apresentação.
4 - Ele preferia ir do que ficar.
O correto: Ele preferia ir a ficar.
Explicação: prefere-se sempre uma coisa a outra: João preferiu lutar a morrer escondido. Prefiro arroz doce a doce de feijão.
5 - Quebrei o óculos.
O correto: Quebrei os óculos.
Explicação: existem palavras que se usam sempre no plural: meus óculos, meus parabéns, meus pêsames, nossas férias, felizes núpcias.




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domingo, 28 de outubro de 2018




A fatalidade e suas nuanças

O tema fatalidade continua sendo uma incógnita para muitas pessoas, mesmo no seio dos espiritistas.
Afinal, há ou não há fatalidade nos acontecimentos da vida? Os fatos de nossa existência estão ou não previamente marcados?
Ambas as perguntas foram objeto de explicações dadas com clareza na primeira obra de Allan Kardec, considerada por muitos como a mais importante do Espiritismo, ou seja, O Livro dos Espíritos.
No tocante à fatalidade, dois aspectos devem ser considerados.
Se a imaginarmos como sendo a decisão prévia e irrevogável dos sucessos da vida, a resposta é não. Essa decisão prévia – que as pessoas associam à palavra fatalidade – não existe.
Com efeito, se tal fosse a ordem das coisas, os homens não passariam de máquinas, que, como sabemos, não têm vontade própria. De que lhes serviria a inteligência, desde que houvessem de estar invariavelmente presos, em todos os seus atos, à força do destino?
Semelhante doutrina, se verdadeira, equivaleria à destruição de toda liberdade moral. Não haveria para o homem responsabilidade e, por conseguinte, nem mérito ou demérito naquilo que fizesse.
Se, contudo, entendermos a fatalidade como sendo um plano geral definido pela própria pessoa antes de reencarnar, uma resultante do gênero de vida que escolheu, como prova, expiação ou missão, aí então pode-se dizer que a fatalidade não é uma palavra vã, porquanto a pessoa sofrerá, no decurso da existência corporal, todas as vicissitudes que ela mesma escolheu e todas as tendências boas ou más que lhe são inerentes.
Cessam, porém, aí os efeitos da fatalidade, como fruto da chamada programação reencarnatória, porque depende do indivíduo – e somente dele – ceder ou resistir às mencionadas tendências e influências.
Quanto aos pormenores dos acontecimentos, ficam eles subordinados às circunstâncias que a própria pessoa cria por meio de seus atos. Só para exemplificar: - Se o indivíduo opta pela via do crime, terá de sofrer todos os percalços decorrentes disso; se se entrega à bebida e se torna um alcoólatra, enfrentará os dissabores e as enfermidades decorrentes desse vício.
Resumidamente, podemos então afirmar que há fatalidade, sim, nos acontecimentos que se apresentam, por serem estes consequência da escolha que o Espírito fez de sua existência como homem, mas pode deixar de haver fatalidade no resultado de tais acontecimentos, visto ser possível a ele, por sua prudência, modificar-lhes o curso. Jamais, contudo, haverá fatalidade nos atos da vida moral, ou seja, o crime, o suicídio, o abandono da prole, a traição, o adultério e tudo o que diz respeito à conduta da pessoa não têm nada que ver com a escolha feita por ela antes da imersão na carne.
Finalizando, lembremos que, segundo o Espiritismo, fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é. Chegado esse momento, de uma forma ou doutra, a ele não podemos furtar-nos.
É, portanto, aí que o homem se acha submetido, em absoluto, à inexorável lei da fatalidade, uma vez que não pode escapar à sentença que lhe marca o termo da existência nem ao gênero de morte que haja de cortar a esta o fio. Os casos de moratória constituem, é fácil compreender, meras exceções a essa regra.




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sábado, 27 de outubro de 2018




Senhor angélico da Terra

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, como enorme exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície terrena e, qual estrelas cadentes, vêm clarear os caminhos e curar os cegos.
Em verdade, Eu lhes digo que os tempos do restabelecimento de todas as coisas, de forma clara, são chegados, para acabar com as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos.
As grandes vozes celestes soam como trombetas, e o cântico dos anjos junta-se a elas. Nós convidamos a Humanidade ao Divino Concerto. Tomem a lira. Que suas  vozes  vibrem num só canto universal.
Estamos juntos de todos vocês, a quem estimamos como irmãos. Amem-se também e digam, com toda emoção, fazendo a Vontade de Nosso Pai Celestial: Senhor! Senhor! e poderão entrar no Reino de Deus.
                                         Espírito da Verdade

Em novo encontro com Emmanuel, perguntamos-lhe qual é o sentido das seguintes palavras de João: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade” (João, 1:14).
Em resposta, o ex-guia espiritual de Chico Xavier disse isto:
— Jesus é o Enviado de Deus. Não pode, portanto, ser considerado mais um filósofo, e muito menos pode ser classificado entre os valores propriamente humanos, em virtude dos atributos divinos de sua hierarquia espiritual, na direção das coletividades terrestres.
Fizemos-lhe, então, outra pergunta:
— Quem foi o Messias, entre nós?
— O Mestre foi a representação de Deus na Terra. Veio salvar da ignorância seus irmãos transgressores, que somos nós, das leis divinas de amor e sabedoria. Sua tutela foi-lhe dada pelo Pai nas sagradas ordenações da vida eterna.
Por fim, fizemos-lhe esta pergunta:
— É por isso que a resposta à questão 625 d’O Livro dos Espíritos nos informa ser Jesus o ser mais perfeito que Deus nos ofereceu como guia e modelo?
— Sim, Jesus é o anjo diretor da Terra que não recusou a permanência direta entre os tutelados míseros e ignorantes que somos nós, seus irmãos inferiores.
— Muitíssimo inferiores! concluímos.
O nobre Emmanuel despediu-se com estas palavras:
— Entretanto, o Cristo não nos disse ser impossível alcançar o seu estado evolutivo. Lembrem-se destas suas palavras e esforcem-se para colocá-las em prática, onde quer que estejam, nessa eterna e maravilhosa viagem rumo à perfeição: “Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim fará as obras que faço e ainda fará maiores do que elas, porque vou para o Pai” (João: 14:12).

Referências:

BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2004.
KARDEC, Allan. Imitation L’Évangile selon le Spiritisme. Paris: Les Éditeurs du Livre des Esprits, 1864.
______. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed., 4. impr. Brasília: FEB, 2017.
______. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. Brasília: FEB, 2017.
XAVIER, Francisco Cândido. O Evangelho de Emmanuel: comentários ao evangelho segundo João. Coordenação de Saulo César Ribeiro da Silva. Brasília: FEB, 2015, p. 32- 33.






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sexta-feira, 26 de outubro de 2018




O Grande Enigma

Léon Denis

Parte 4

Damos continuidade ao estudo do clássico O Grande Enigma, de Léon Denis, conforme o texto da 7ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira. O estudo ora iniciado será aqui apresentado em 10 partes.
Nossa expectativa é que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

Questões preliminares

A. Existe o mal?
B. Que disse Léon Denis sobre a ideia de fazermos do Espiritismo somente uma ciência positiva, experimental?
C. Qual é o poder da prece?

Texto para leitura

54. Aprendemos que nenhum esforço é perdido e que nenhum sofrimento é inútil. O dever não é palavra vã e o Bem reina sem partilha acima de tudo. Cada um constrói dia por dia, hora por hora, muitas vezes sem o saber, seu próprio futuro. A sorte que nos cabe na vida atual foi preparada por nossas ações anteriores, e do mesmo modo edificamos no presente as condições da existência futura. (P. 79)
55. Quando tais ideias houverem penetrado no ensino e, daí, nos espíritos e nas consciências, compreender-se-á que o espírito de justiça não é mais do que o instrumento admirável pelo qual o Criador leva tudo à ordem e à harmonia. Sentir-se-á, então, que a ideia de Deus é indispensável às sociedades modernas, que se abatem e perecem moralmente, porque, não compreendendo Deus, não se podem regenerar. (P. 80)
56. Deus nos fala por todas as vozes do Infinito, e fala, não em uma Bíblia escrita há séculos, mas em uma bíblia que se escreve todos os dias, com esses característicos majestosos que designamos por oceanos, montanhas e astros. (P. 82)
57. Não existem dois princípios no mundo – o Bem e o Mal. O Mal é feito de contraste, qual a noite o é do dia. Não tem existência própria. O Mal é o estado de inferioridade e de ignorância do ser a caminho da evolução. (P. 83)
58. O Mal é a ausência do Bem. O Bem é indefinível por si mesmo. Defini-lo seria minorá-lo. É preciso considerá-lo, não em sua natureza, mas em suas manifestações. (P. 84)
59. A missão real do Espiritismo não é somente esclarecer as inteligências por um conhecimento mais preciso e mais completo das leis físicas do mundo. Levantar os caracteres e fortificar as consciências, tal é o papel do Espiritismo. (P. 88)
60. Eis a nossa convicção: não é fazendo do Espiritismo somente uma ciência positiva, experimental; não é eliminando nele o que há de elevado, o que atrai o pensamento acima dos horizontes estreitos, a ideia de Deus, o uso da prece, que se facilitará sua missão. Isso, ao contrário, concorreria para torná-lo estéril, sem ação sobre o progresso das massas. (P. 88)
61. Ninguém mais do que nós admira as conquistas da Ciência, mas a Ciência não é tudo. Sem dúvida, ela tem contribuído para esclarecer a Humanidade; entretanto, tem-se mostrado impotente para a tornar mais feliz e melhor. A grandeza do espírito humano não consiste somente no conhecimento; está também no ideal elevado. (PP. 88 e 89)
62. Os que lidam com a experimentação espírita devem lembrar que em torno de nosso planeta flutua uma vida poderosa, invisível, onde dominam os Espíritos levianos e motejadores, com os quais se misturam Espíritos perversos e malfazejos. Existem ali muitos apaixonados, cheios de vícios, criminosos, que deixaram a Terra com a alma repleta de ódio. É desse meio que nos vêm as mistificações, os embustes e as manobras pérfidas que podem conduzir os médiuns à obsessão, à possessão e à perda das mais belas faculdades. (P. 90)
63. Felizmente, ao lado do mal está o remédio: a prece. (P. 91)
64. A prece, quando é ardente, improvisada, e não recitação monótona, tem um poder dinâmico e magnético considerável. Ela atrai os Espíritos elevados e nos assegura a sua proteção. Quando em uma reunião espírita todos os pensamentos e vontades se unem em um transporte poderoso, em uma convicção profunda; quando sobem para Deus pela prece, jamais falha o socorro. (PP. 91 e 92)
65. Para entrar em relação com as Potências superiores, com os Espíritos esclarecidos, é preciso a vontade e a fé, o desinteresse absoluto e a elevação dos pensamentos. Fora destas condições, o experimentador torna-se joguete dos Espíritos levianos. (PP. 92 e 93)
66. O Espiritismo foi dado ao homem como meio de se esclarecer, de se melhorar, de adquirir qualidades indispensáveis à sua evolução. Se se destruíssem nas almas ou apenas se desprezassem a ideia de Deus e as aspirações elevadas, o Espiritismo poderia tornar-se coisa perigosa. Eis por que não hesitamos em dizer que entregar-se às práticas espíritas, sem purificar os pensamentos e sem se fortificar pela fé, seria executar obra funesta. (P. 93)
67. O Espiritismo exclusivamente experimental não teria mais autoridade nem força moral necessárias para ligar as almas. Há quem suponha ver no afastamento da ideia de Deus uma medida aproveitável ao Espiritismo. Eis aí um equívoco. A ideia de Deus liga-se estreitamente à ideia de Lei, e assim à de dever, de sacrifício, de ordem, de harmonia, de elevação dos seres e das sociedades. É por isso que, logo que a ideia de Deus se enfraquece, essas noções se debilitam e dão lugar ao personalismo, à presunção, ao ódio por toda autoridade, por toda direção, por toda lei superior. (PP. 94 e 95)
68. Deus, foco de inteligência e de amor, é tão indispensável à vida interior, quanto o Sol à vida física! Deus é o sol das almas. É dele que emana essa força, às vezes energia, pensamento, luz, que anima e vivifica todos os seres. (P. 97)
69. A prece nos põe em contato com o Criador. Ela é a forma, a expressão mais potente da comunhão universal, mas não é o que tantas pessoas supõem: uma recitação frívola, exercício monótono e muitas vezes repetido. Não! Pela verdadeira prece, a prece improvisada, aquela que não comporta fórmulas, a alma se transporta às regiões superiores e aí haure forças, luzes, e encontra apoio que não podem conhecer nem compreender os que desconhecem Deus. (PP. 97 e 98)
70. O homem que desconhece Deus e não quer saber que forças, que recursos, que socorros dele promanam, esse é comparável a um indigente que habita ao lado de palácios, cheios de tesouros, e se arrisca a morrer de miséria diante da porta que lhe está aberta e pela qual tudo o convida a entrar. (P. 98)
71. Quanto mais nos desenvolvemos em inteligência e em moral, mais a nossa personalidade se afirma. Podemos estender-nos e irradiar, crescer em percepções, em sensações, em sabedoria, em amor, sem deixarmos de ser nós próprios. (P. 100)

Respostas às questões preliminares

A. Existe o mal?
Não. O mal é feito de contraste, qual a noite o é do dia; não tem existência própria. O mal é o estado de inferioridade e de ignorância do ser a caminho da evolução; o mal é a ausência do bem e este é indefinível por si mesmo. Defini-lo seria minorá-lo. (O Grande Enigma, pp. 83 e 84.)
B. Que disse Léon Denis sobre a ideia de fazermos do Espiritismo somente uma ciência positiva, experimental?
Léon Denis entendia que eliminar no Espiritismo o que há de elevado, a ideia de Deus, o uso da prece, em vez de facilitar sua missão, concorrerá para torná-lo estéril, sem ação sobre o progresso das massas. O Espiritismo exclusivamente experimental não terá mais autoridade nem força moral necessárias para ligar as almas. É, segundo ele, um equívoco ver no afastamento da ideia de Deus uma medida aproveitável ao Espiritismo. A ideia de Deus liga-se estreitamente à ideia de Lei, e assim à de dever, de sacrifício, de ordem, de harmonia, de elevação dos seres e das sociedades. Quando a ideia de Deus se enfraquece, essas noções se debilitam e dão lugar ao personalismo, à presunção, ao ódio por toda autoridade, por toda direção, por toda lei superior. (Obra citada, pp. 88, 94 e 95.)
C. Qual é o poder da prece?
A prece, quando é ardente, improvisada, e não recitação monótona, tem um poder dinâmico e magnético considerável. Ela atrai os Espíritos elevados e nos assegura a sua proteção. Quando em uma reunião espírita, todos os pensamentos e vontades se unem em um transporte poderoso, em uma convicção profunda e sobem para Deus pela prece, jamais falha o socorro. (Obra citada, pp. 91 e 92.)


Observação:
Eis os links que remetem aos últimos textos:




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quinta-feira, 25 de outubro de 2018




Como avaliar e identificar os espíritos comunicantes

Este é o módulo 103 de uma série que esperamos sirva aos neófitos como iniciação ao estudo da doutrina espírita. Cada módulo compõe-se de duas partes: 1) questões para debate; 2) texto para leitura.
As respostas correspondentes às questões apresentadas encontram-se no final do texto sugerido para leitura. 

Questões para debate

1. Identificar os espíritos que se comunicam é uma questão importante na prática espírita?
2. Quando a identidade do espírito comunicante se torna mais fácil?
3. Que critério devemos utilizar para julgarmos a qualidade dos espíritos comunicantes?
4. Que conselho nos dá Kardec a respeito da análise das comunicações espíritas?
5. É possível distinguir os bons e os maus espíritos pelas impressões que nos causam?

Texto para leitura

A identidade mais difícil de conseguir é a dos espíritos de personalidades antigas
1. A questão da identidade dos espíritos é uma das mais controvertidas, porque os espíritos não nos podem apresentar documento de identidade e alguns deles tomam nomes que nunca lhes pertenceram. Por essa razão, esta é, depois da obsessão, uma das maiores dificuldades do Espiritismo prático, embora constitua, em muitos casos, uma questão secundária e sem real importância. 
2. Coisa bem diferente é aquilatar o valor dos espíritos que se comunicam conosco e, para isso, não há outro critério, senão o bom senso. Os espíritos superiores usam constantemente uma linguagem nobre, digna, repassada da mais alta moralidade, enquanto que a linguagem dos espíritos inferiores é inconsequente, amiúde trivial e até grosseira. O Espiritismo ensina que os espíritos comunicantes devem ser identificados por suas ideias e pela essência espiritual de suas palavras, tanto quanto pelos sentimentos que inspiram e pelos conselhos que dão.
3. Quando se manifesta o espírito de alguém que conhecemos pessoalmente, de um parente ou de um amigo, sucede geralmente que sua linguagem se revele de acordo com o caráter que ele tinha aos nossos olhos, quando encarnado, o que constitui indício importante de identificação.
4. A identidade dos espíritos de personalidades antigas é mais difícil de conseguir, e às vezes torna-se impossível, pelo que ficamos adstritos a uma apreciação puramente moral, contrariamente ao que se dá quando se trata de espíritos contemporâneos, cujos caracteres e hábitos são conhecidos.

Devemos submeter as comunicações a uma análise escrupulosa
5. As provas mais completas de identidade são muitas vezes fornecidas por espíritos desconhecidos do médium e dos assistentes, os quais indicam elementos de identificação que um exame posterior comprova serem exatos.
6. O codificador do Espiritismo dedicou o cap. XXIV, 2ª parte, itens 255 a 268, d' O Livro dos Médiuns, ao trato da identidade dos espíritos. Eis um resumo do que ele escreveu sobre o assunto:
a) depois da obsessão, a questão da identidade dos espíritos é uma das maiores dificuldades do Espiritismo prático;
b) muitos espíritos superiores que se podem comunicar não possuem um nome para nós;
c) a identidade se torna mais fácil quando se trata de espíritos contemporâneos;
d) as provas da identidade surgem naturalmente;
e) a semelhança da caligrafia e da assinatura é uma prova relativa;
f) a melhor prova de identidade está na linguagem e nas circunstâncias, mas não na forma da linguagem e sim no seu conteúdo, pois jamais a ignorância imitará o verdadeiro saber e jamais o vício imitará a verdadeira virtude: sempre em algum lugar aparecerá o sinal da impostura;
g) a identidade dos espíritos pode ser considerada uma questão acessória, mas a distinção entre bons e maus espíritos não o é;
h) julgamos os espíritos pelo conteúdo de sua linguagem: tudo o que, na sua linguagem, revela falta de bondade ou benevolência não pode vir de um bom espírito;
i) inteligência não é sinal certo de superioridade, porque a inteligência e o moral nem sempre caminham juntas;
j) os sinais dos espíritos elevados são a superioridade de suas ideias e de sua linguagem.
7. Kardec recomenda-nos que devemos submeter todas as comunicações a uma análise escrupulosa, examinando atentamente o pensamento e as expressões e rejeitando, sem hesitar, tudo o que peca contra a lógica e o bom senso, tudo o que desminta o caráter do espírito que se pretende passar por uma entidade elevada. Afirma o codificador: "Repetimos que este meio é o único, porém é infalível, porque não existe uma comunicação má que possa resistir a uma crítica rigorosa" (O Livro dos Médiuns, cap. XXIV, item 266). 
8. No cap. XXIV, item 267, da mesma obra, Kardec arrola 26 princípios fundamentais para se reconhecer a qualidade dos espíritos comunicantes, princípios esses que médiuns e dirigentes de grupos mediúnicos deveriam ter sempre presentes em seus estudos. 

É possível reconhecer os bons espíritos pela impressão que nos causam
9. É preciso entender que nem sempre é importante identificar os espíritos que se comunicam nas sessões. Quando estamos em uma reunião de desobsessão ou de esclarecimento aos desencarnados, não há, quase sempre, necessidade de levantar-se a identidade do espírito sofredor, que, na maioria das vezes, encontra-se em estado de grande perturbação espiritual, sendo por isso reprovável em tais casos a prática de se pedir a eles o nome, tanto quanto outros pormenores para a sua identificação.
10. As entidades espirituais que habitualmente se comunicam conosco acabam por tornar-se conhecidas e queridas, a ponto de serem consideradas membros da equipe. Quando se manifestam, são reconhecidas pelo seu modo de falar, pelo estilo e pelo conteúdo da mensagem. 
11. Se se comunicam por outros médiuns, podem sofrer a influência do clima mental do intermediário. A interferência do médium na comunicação é muito grande. A filtragem mediúnica pode processar-se, dependendo do médium, com maior ou menor autenticidade, tendo em vista a diversidade de aptidões e recursos que os médiuns apresentam.
12. De um modo geral podemos distinguir, através da sensibilidade mediúnica, o grau de evolução das entidades desencarnadas, que nos passam sensações agradáveis ou desagradáveis. Ensina Kardec: "Muitos médiuns reconhecem os bons e os maus espíritos pela impressão agradável ou penosa que experimentam à sua aproximação". Quando o espírito é feliz, seu estado é tranquilo, leve, calmo; quando é infeliz, é agitado, febril, e esta agitação passa naturalmente para o sistema nervoso do médium. Se a visita do espírito ao grupo se repete, isso nos dá condições de, com o tempo e a prática, identificá-lo pelas sensações que causa à sua aproximação.

Respostas às questões propostas

1. Identificar os espíritos que se comunicam é uma questão importante na prática espírita?
Não. Embora constitua, depois da obsessão, uma das maiores dificuldades do Espiritismo prático, identificar os espíritos comunicantes é, em muitos casos, uma questão secundária e sem real importância. 
2. Quando a identidade do espírito comunicante se torna mais fácil?
A identidade dos espíritos de personalidades antigas é mais difícil de conseguir, e às vezes torna-se impossível, contrariamente ao que se dá quando se trata de espíritos contemporâneos, cujos caracteres e hábitos são conhecidos, o que torna sua identificação mais fácil. 
3. Que critério devemos utilizar para julgamos a qualidade dos espíritos comunicantes?
Para aquilatar o valor dos espíritos não há outro critério, senão o bom senso. Os espíritos superiores usam constantemente uma linguagem nobre, digna, repassada da mais alta moralidade, enquanto que a linguagem dos espíritos inferiores é inconsequente, amiúde trivial e até grosseira. Os espíritos comunicantes devem, pois, ser identificados por suas ideias e pela essência espiritual de suas palavras, tanto quanto pelos sentimentos que inspiram e pelos conselhos que dão.
4. Que conselho nos dá Kardec a respeito da análise das comunicações espíritas?
Kardec recomenda-nos que devemos submeter todas as comunicações a uma análise escrupulosa, examinando atentamente o pensamento e as expressões e rejeitando, sem hesitar, tudo o que peca contra a lógica e o bom senso, tudo o que desminta o caráter do espírito que se pretende passar por uma entidade elevada. 
5. É possível distinguir os bons e os maus espíritos pelas impressões que nos causam?
Sim. De um modo geral podemos distinguir, através da sensibilidade mediúnica, o grau de evolução das entidades desencarnadas, que nos passam sensações agradáveis ou desagradáveis. Quando o espírito é feliz, seu estado é tranquilo, leve, calmo; quando é infeliz, é agitado, febril, e esta agitação passa naturalmente para o sistema nervoso do médium. 

Bibliografia:
O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, itens 255, 257, 262, 263, 265, 267 e 268.
O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, Introdução, itens VI e XII.
Como desenvolver a mediunidade, de Paul Bodier, item 8.
No Invisível, de Léon Denis, p. 314.
O Consolador, de Emmanuel, obra psicografada por Chico Xavier, questão 379.


Observação:
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