Um doce
CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
E
tentando aparentar algo que talvez desejasse ou outro motivo, Marie calçou
sapatos de salto alto, maquiou-se sem discrição e vestiu uma roupa chique. Não
tinha nenhum compromisso, se quisesse poderia ficar à tarde em casa como em
tantas tardes fazia. Ela poderia ter sido influenciada pelas séries
estrangeiras a que assistia ou quem sabe era realmente um desejo seu.
Marie
também colocou os óculos escuros de grau. Fechou a porta e foi até a garagem.
Desativou o alarme e entrou em seu carro recém-tirado da concessionária perto
de sua casa. Saiu devagar. Seguiu pela rua que levava à saída do condomínio.
Esta tarde, ela parecia querer completar algum vazio.
E
seguiu.
À
primeira vista, Marie sentiu-se conquistadora, altiva; a música do rádio também
cooperava para essa sensação.
E foi.
Seguiu
para o caminho a nenhum lugar.
Estava
muito elegante, sem dúvida, chamaria atenção aonde chegasse, mas Marie não
tinha lugar algum para ir, nem ninguém para encontrar ou tomar um café, um chá
numa cafeteria ou casa de chá. Ela não tinha ninguém.
O tempo
foi passando e o vazio quase prevalecendo. Ela passava pelas ruas sem notar e
talvez sem ser notada. E a ilusão deu uma gargalhada e Marie começou a chorar.
“O que estou fazendo?”, ela se questionou.
Suas
lágrimas escorriam. Ela parou no semáforo de uma avenida importante. Foi a
primeira da fila. Abaixou o vidro tentando buscar ar puro, também precisava
desaguar os olhos, as lágrimas impossibilitavam a visão. Secou as lágrimas com
um lencinho.
E
observando, bem ao lado de Marie, uma jovenzinha, com chinelos de dedo, roupa
surrada e uma bandejinha de doces para vender, falou com tranquilidade:
− Se a
senhora aceitar, posso lhe dar um doce.
Marie se
assustou com a luz que a simples verdade é capaz de apaziguar e iluminar.
O
semáforo abriu e Marie, com o doce na mão, olhou mais uma vez para a jovenzinha
de sorriso terno.
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