terça-feira, 18 de dezembro de 2018




O presépio da praça italiana

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

Era uma tradição a montagem do presépio na praça central de uma pequena cidade italiana. Mesmo o frio não era impedimento para a senhora Extra Luiza ajudar com a arte natalina italianíssima.
A sua família era a responsável pela montagem do presépio há mais de um século, pois o amor e a seriedade com esta arte já existiam há várias gerações.
E mais uma vez o presépio estava montado. As imagens tinham o tamanho de pessoas reais e tornava-se indistinguível a realidade da ficção. A senhora Extra Luiza, com seu avental inseparável e com os olhos lacrimejados, falou baixinho:
− Grazie, mio Dio.
Já era tarde da noite, a senhora e a família foram para casa. O descanso seria um merecido presente para o corpo, pois o espírito estava leve como as pombas da praça antiga da Itália.
Na manhã seguinte, a senhora, que morava na mesma casa próxima à praça desde quando se casou há várias décadas, foi verificar como havia ficado o presépio, embora fossem as mesmas peças há tantos anos, Extra Luiza sempre dizia que cada ano o presépio ficava diferente. Quando a senhora chegou à praça, já foi observando o presépio, ela olhava os detalhes, as posições das imagens, se José estava com o doce olhar sobre Maria, se a Virgem estava próxima de “nosso menino Jesus”, a senhora sempre se referia ao “nosso menino Jesus”. Ela acariciava o rosto de José e o da Virgem Maria com tanto amor. Extra Luiza até limpava a mão em seu avental para tocar o pequeno Jesus.
Sim, estava tudo bem.
A senhora voltou para casa, mais à tardezinha voltaria para estar com o carpinteiro, a Virgem e o nosso menino Jesus mais um pouquinho.
Esta rotina se manteve durante os sequentes dias e Extra Luiza e sua família sempre sorriam quando olhavam para o antigo presépio. As pessoas abraçavam com o olhar toda a arte milagrosa na praça; havia os olhares mais críticos artísticos, porém até mesmo os que não confessavam buscavam a verdadeira arte do amor admirando a família santa rodeada pelos puros e companheiros animaizinhos.
Os dias próximos do Natal ficaram muito frios e a visitação diminuiu na praça, no entanto a senhora e seus familiares também sentiam o frio, mas isso não os impedia de estarem com a santa família. E iam durante o dia e muitas vezes à noite. E a senhora se encantava com o amor entre o pai, a mãe e o Menino.
Na noite de 24 de dezembro, o frio era severo e a neve caía do céu como “bênçãos”, foi a constatação da senhora.
Extra Luiza se aproximou do presépio, somente ela estava por ali, até mesmo os mendigos da praça haviam se refugiado em algum lugar mais quente. E a senhora começou uma prece em agradecimento, porém começou a ouvir um chorinho leve de criança. Abriu os olhos e pensou que estava ouvindo demais, era somente ela por ali. Mais uma vez ouviu. E agora viu algo se mexer no bercinho de Jesus. Arregalou os olhos e aproximou-se; seus olhos, com muitas lágrimas, não podiam acreditar. Passou as mãos nos olhos tentando limpá-los da lágrima e viu o que ali estava.
− Dio mio!
Já dentro do presépio, Extra Luiza ficou bem perto do bebê que choramingava em sua pureza e fragilidade. Observou que a imagem de cerâmica do menino Jesus estava ao lado para dar lugar ao bebê supostamente abandonado. Ele fora coberto com a própria manta que envolvia o nosso menino Jesus no presépio.
A senhora, sem entender muito bem o que estava acontecendo, não perdeu tempo e pegou o bebê em seus braços para aquecê-lo. Beijou-o na testa e o enrolou bem naquela coberta. Deixou-o em cima de uma palha enquanto, com muito cuidado, colocava o menino Jesus do presépio em seu lugar acariciando o seu rostinho.
A neve caía como bênçãos do céu. Extra Luiza, com o menino, quando atravessava a praça em direção à sua casa, lembrou-se das palavras do Senhor Jesus:
 “Em verdade eu vos digo: tudo o que fizestes a um destes pequeninos é a mim que fizestes.”
E uma luz do alto iluminava a senhora com o bebê em seus braços.

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