Ramos que alegram
CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
No
distante lugar onde Anne morava, o espírito de Natal começava a sentir-se mesmo
faltando alguns dias. Em sua casa bem simples como as demais do povoado, sua
mãe fazia os poucos enfeites aproveitando os raminhos secos caídos ao chão de
uns pinheiros comuns que havia na entrada da floresta próxima.
Chegara
o dia de buscarem os ramos. Anne e a mãe levaram um pano para embrulharem os
raminhos colhidos. As duas se divertiam com a colheita e quando se davam conta,
o pano tornava-se pequeno para abraçar os muitos ramos secos. Normalmente iam
no fim de tarde e os raios do sol entre as árvores deixavam aquela floresta
como uma árvore gigante de Natal com a luz dourada.
A mãe
abraçava a trouxa do que se transformaria nos aguardados enfeites para a
chegada do lindo menino Jesus. Anne sempre aguardava e, como das outras vezes,
no dia 25 a emoção seria muito grande em seu coraçãozinho agora com nove anos.
As duas chegaram a casa, mas a filha bem sabia o motivo do exagerado número de
ramos que colhiam. Na verdade, sua mãe sempre fazia um enfeite também para cada
casa do povoado. Depois de prontos, as duas passavam pelas casas para
presentearem as famílias. Neste ano não seria diferente.
A mãe
colocou todos os ramos no chão da entrada da cozinha; depois do jantar as duas
começariam a confeccionar os enfeites. Estava noitinha. As duas comeram um
pouco de polenta rala, mas estavam felizes, ainda assim havia o que comer.
Organizaram a louça e a pequenina cozinha estava arrumada. Então, mãe e filha
puxaram os muitos ramos para perto da mesa e a mãe começou a separá-los.
Anne
confeccionava a parte mais simples, porém não menos importante; e a mãe criava
as figuras dando a elas o delicado acabamento e as duas iam noite adentro
criando os enfeites.
O
trabalho duraria entre duas ou três noites, pois começava após a mãe chegar da
lavoura de café onde trabalhava como catadora e também depois de Anne chegar da
escola do povoado. Ou melhor, depois ainda de comerem alguma coisa.
Mas
finalmente chegou ao fim. Todo o trabalho estava pronto. Todas as casas
receberiam um enfeite.
No dia
seguinte, mãe e filha entregariam os enfeites, mas, desta vez, como Anne
conseguira finalmente aprender a escrever, a pequena escreveu uma mensagem, no
decorrer dos últimos dias, que seria entregue junto com o presente para cada
família. Eram estas palavras:
“O
menino Jesus nasce no dia 25 de dezembro, mas em todos os dias podemos sentir a
sua visita em nosso coração, como um sorriso a quem está triste, um amparo a
quem está fraco e mais e mais amor pela vida em toda a sua cor e forma. Jesus
cresceu e agora é o nosso irmão mais velho que nos cuida, nos ama e fica muito
feliz quando fazemos outro irmão sorrir. Todos podem doar.”
Feliz
Natal!
Anne
saiu com sua mãe para a entrega dos presentes e deixou no cantinho da mesa o
livro de onde copiara a mensagem. A luz fraca iluminava as letras douradas na
capa do livro com o título: “Singelos espíritos que melhoram o mundo”.
E
durante as entregas, o sorriso de quem presenteava e era presenteado iluminava
aquela noite de dezembro e continuaria pelas outras noites do ano.
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