Roteiro
Emmanuel
2
No
Plano Carnal
A esfera sensorial funciona, para ele,
à maneira de câmara abafadora.
Visão, audição, tato, padecem enormes
restrições.
O
cérebro físico é um gabinete escuro, proporcionando-lhe ensejo de recapitular e
reaprender.
Conhecimentos
adquiridos e hábitos profundamente arraigados nos séculos aí jazem na forma
estática de intuições e tendências.
Forças
inexploradas e infinitos recursos nele dormem, aguardando a alavanca da vontade
para se externarem no rumo da superconsciência.
No
templo miraculoso da carne, em que as células são tijolos vivos na construção
da forma, nossa alma permanece provisoriamente encerrada, em temporário olvido,
mas não absoluto, porque, se transporta consigo mais vasto patrimônio de
experiência, é torturada por indefiníveis anseios de retorno à espiritualidade
superior, demorando-se, enquanto no mundo opaco, em singulares e reiterados
desajustes.
Dentro
da grade dos sentidos fisiológicos, porém, o Espírito recebe gloriosas
oportunidades de trabalho no labor de autossuperação.
Sob
as constrições naturais do Plano físico, é obrigado a lapidar-se por dentro, a
consolidar qualidades que o santificam e, sobretudo, a estender-se e a
dilatar-se em influência, pavimentando o caminho da própria elevação.
Aprisionado
no castelo corpóreo, os sentidos são exíguas frestas de luz, possibilitando-lhe
observações convenientemente dosadas, a fim de que valorize, no máximo, os seus
recursos no espaço e no tempo.
Na
existência carnal, encontra multiplicados meios de exercício e luta para a
aquisição e fixação dos dons de que necessita para respirar em mais altos
climas. [1]
Pela
necessidade, o verme se arrasta das profundezas para a luz.
Pela
necessidade, a abelha se transporta a enormes distâncias, à procura de flores
que lhe garantam o fabrico do mel.
Assim
também, pela necessidade de sublimação, o Espírito atravessa extensos túneis de
sombra, na Terra, de modo a estender os poderes que lhe são peculiares.
Sofrendo
limitações, improvisa novos meios para a subida aos cimos da luz, marcando a
própria senda com sinais de uma compreensão mais nobre do quadro em que sonha e
se agita.
Torturado
pela sede de Infinito, cresce com a dor que o repreende e com o trabalho que o
santifica.
As
faculdades sensoriais são insignificantes réstias de claridade descerrando-lhe
leves notícias do prodigioso reino da luz.
E
quando sabe utilizar as sombras do palácio corporal que o aprisiona
temporariamente, no desenvolvimento de suas faculdades divinas, meditando e
agindo no bem, pouco a pouco tece as asas de amor e sabedoria com que, mais
tarde, desferirá venturosamente os voos sublimes e supremos, na direção da
Eternidade.
[1]
O Livro dos Espíritos, 132,133.
Nota:
O livro Roteiro, psicografado pelo médium Chico Xavier, foi publicado
inicialmente pela editora da FEB em 1952.
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